F R A G I L E escrita por Scorpion


Capítulo 27
26. Te esquecer.




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26. Te esquecer.

Via a lua, as estrelas e o sair do sol.

Os astros continuam seu curso sem interrupções, mais uma vez me dou conta de que tudo continua igual... Menos eu. Mas isso não importa para ninguém, e como o sol sai a cada dia eu devo continuar com a rotina que uma vez me protegeu.

Eu o perdoei, então irei esquecê-lo. Porque perdoar é deixar para trás o que transtorna. O que faz mal...

Apesar das frases banais que minha mãe usou para deixar a mostra sua preocupação por mim, eu decidi que voltaria para a livraria. Estava ansioso demais e entediado ao mesmo tempo naquele quarto. Minha entrada no mundo da pintura estava cada minuto mais perto, me fazendo estremecer de ansiedade, mas preso entre quatro paredes pintadas de azul marinho.

Elizabeth se comunicava comigo constantemente, e me visitava sempre que podia. Acertávamos detalhes para a exposição e sorria ao ver meu nervosismo. Mas, como reagir perante o cumprimento de um sonho que deveria ser impossível?

Quando finalmente cheguei ao estabelecimento a dor de cabeça parecia mais intensa, mas não pensava em dar o braço a torcer a Donna para que, aparecendo detrás da porta, me dissesse com um sorriso zombeteiro “Eu te disse”, então, como o bravo que não sou, continuei a abrir a livraria aguentando as pontadas de dor que sentia em minha cabeça.

Comecei limpando estantes e reacomodando livros em ordem alfabética. O lugar estava limpo, dentro do possível, então quando peguei a vassoura foi uma tarefa fácil varrer o pouco de pó acumulado.

Em pouco tempo dei vida ao letreiro, indicando o estado do local como aberto, e comecei minha adorável rotina. Detrás do balcão vi as pessoas passarem através da grande janela e esperando algum cliente que ainda acreditasse no poder dos livros.

Pouco a pouco corpos com rostos desconhecido entraram na livraria. Os olhava bisbilhotas através das estantes, e lentamente os martelos golpeando minha cabeça iam se afastando.

O que em continuação aconteceu foi em câmera lenta.  Ou ao menos assim eu senti quando lhe vi atravessar a porta. Usava jeans azuis desgastados e rasgados no joelho. Uma jaqueta preta com um desenho vermelho no peito. O cabelo perfeitamente bagunçado  e nos olhos amêndoas uma tristeza que julguei ser verdadeira.

Seus lábios estavam tensos, formando uma perfeita linha reta, e suas mãos estavam escondidas dentro dos bolsos da calça. Para trás ficou o orgulho e em seu lugar entrou pela porta, fazendo soar a irritante campainha, um homem decaído e miserável.

Talvez ver meu desgastado calçado o deteve. Seu corpo estava próximo. Tão próximo que o meu permanecia imóvel tentar conter a respiração.

Durante minutos nossos olhos mantiveram batalhas silenciosas, ganhando aquele que tivesse o olhar mais patético. Aquele que se rendesse primeiro, que negava a vista aos seus irmãos melancólicos, seria o perdedor.

E eu voltei a perder.

Não podia olhar o brilho se apagar a cada segundo. Os redondos olhos estavam rodeados por uma grossa capa de cor violeta, e a pele mais branca que o de costume. Por que não fala? Por que não falo?

De que adiantariam agora as palavras?

O silencio era melhor para nós. Melhor para mim.  Fora do alcance de palavras que ferem ou frases mentirosas que só acolhem a esperança. Tinha fé de não voltar a vê-lo, jamais. Ao enfrenta-lo voltava o covarde e patético Gerard de sempre. E não quero ser o estúpido que acredita.

Mas ele está em frente a mim. É ele, o homem, o locutor, e o possuidor do nome que me dá calafrios.

-O que você quer?

Decido dar o primeiro passo. Pela primeira vez.

Pela primeira vez me dirijo a ele da forma mais fria e indiferente que posso.

Pela primeira vez o vejo como se fosse o ser mais insignificante do mundo, e pela primeira vez ele finge ser eu, enquanto ele sofre me olhando em silencio.

-Vim conversar... –Murmura com a voz apagada olhando um ponto ao lado de minha cabeça.

Conversar. Que palavra mais simples e ridícula. Agora deseja conversar?

Sorri com ironia. Agora o cínico serei eu...

-Gerard, eu... –Insiste agora me olhando com insistência. Como se quisesse encontrar o discurso perfeito em meus olhos. Como se pegasse coragem de meu olhar. –Quero me desculpar. Por... Por tudo. Eu sinto muito...

Que dia mais incrível! Frank Iero se desculpando.

Sorri antes de responder. Não sei porquê, mas desejava fazê-lo sofrer. Desejava me vingar e fazê-lo sentir um pouco do mundo que eu sofri.

Talvez seja gratificante fazer as pessoas se sentirem mal quando estas estão vulneráveis.

-Tudo bem. –Digo com falsa segurança. –Te perdoo. De minha parte tudo está esquecido. Você continua com sua vida, e eu continuarei com a minha.

Ficamos em silencio. Frank me olha com uma cara de surpresa que me faz sorrir novamente. Seus olhos completamente abertos e os lábios ligeiramente separados.

-Isso é tudo? –Pergunta incrédulo. Eu assinto com a cabeça. Suspira e fala me olhando fixamente nos olhos. –É o que você quer?

É minha vez de abrir os olhos exageradamente e cortar minha respiração. Não esperava. Mais uma vez meu entendimento chegou a conclusão de que Frank era completamente imprevisível.

-É isso que você quer Gee? –Perguntou com a voz suave se aproximando de mim. –Porque eu...

-Chega. –Minhas mãos tocaram seu peito antes que ele pensasse em fazer algo mais estranho. Tinha que parar seu discurso. Não voltaria a cair cego por suas falsas palavras e suas enganações bobas. Já não mais. –Eu te perdoei. E quero esquecer.

Com essa simples oração meu tato lhe queimou, o obrigando a se afastar de mim. Novamente nossos olhares se encontraram. O meu frio e decidido. O dele furioso e indignado.

-Bem. –Seus lábios se apertam. E tão simples como chegou. Tão imprevisível e em câmera lenta foi sua saída. Sem um adeus, ou um boa sorte.

Simplesmente passos e o som da campainha anunciando sua retirada.

E foi justamente neste momento em que me permiti cair. Derrotado deixei cair meu corpo contra a cadeira de madeira, e permiti que minhas lagrimas lhe homenageassem uma vez mais.

Uma ultima vez...


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Notas finais do capítulo

Sei que é pequeno, mas a proxima parte não dá pra dividir. Whatever. Obrigada para quem apareceu e tal. Até amanha. Lembrando que a fic termina terça.