Minha cabeça doía e aqueles cheiros me davam náuseas. Abrir meus olhos lentamente tentando me acostumar com as luzes florescentes.  Virei minha cabeça e vi Kevin dormindo na poltrona ao lado, ele resmungou um pouco e abriu os olhos lentamente. Levantou em um pulo quando viu que eu estava acordada.

                - Gabi, você está bem? – Ele perguntou segurando meu rosto e se inclinado para me beijar.

                Eu recuei ignorando o beijo. Ainda estava com raiva dele, mas bem lá no fundo, feliz por ele está aqui e te ficado ao meu lado – mesmo enquanto eu dormia.

                Olhei em volta, eu já estive naquele lugar, naquele hospital junto com Karina. Tive um breve flashback. Kevin que me desligou do trans.

                - Ainda está com raiva de mim? – Ele disse se afastando e cruzando os braços.

                - Eu ainda não quero vê-lo – Mentir.

                - Seus olhos não conseguem mentir, eu sei que está feliz por eu está aqui.

                - Você é tão convencido! Por que não volta para a sua noivinha modelo?

                Ele revirou os olhos.

                - Gabi, não contar sobre a Mona foi um erro...

                - Foi um dos grandes!

                - Poupe-me Gabi... Você também esconde segredos... Por que aquele homem disse que você o mataria do mesmo jeito que matou Hugo? Quem é Hugo?

                Meu corpo gelou.

                - Hein? Gabriella, quem é aquele homem? Por que ele a atacou?

                - Eu não sei – Sussurrei.

                - Você o que?

                - Eu não sei! Mas isso não diminui o que você fez.

                - Gabriella, foi um erro não lhe contar sobre a Mona... Mas... – Ele respirou fundo – Eu estou apaixonada por você...

                Eu paralisei.

                Ele estava APAIXONADO por mim e estava dizendo com as próprias palavras.

                -... Me apaixonei desde do dia que te vi na praça – Ele começou a andar pelo quarto – Quando vi seu sorriso e me apaixono a cada dia mais... Só que eu já estava noivo da Mona e ela estava em Porto Alegre e chegou ontem... Por você eu terminaria tudo... No entanto, você mesma me disse que ficaria apenas um mês aqui. Então eu decidi ficar no anonimato, o que adiantaria acabar o meu noivado se você iria embora? E eu nem sabia se você me correspondia... - Ele parou de andar e olhou para mim – Se eu te magoei, me desculpe... Não foi a minha intenção. Desculpe-me... Por favor, desculpe – Ele disse com os olhos cheios de lágrimas – Por favor... Desculpe, Tyvärr, sorry, Scusa, Triste, Désolé.

                - O que você está dizendo?

                - Desculpe nas línguas que sei.

                Nós dois sorrimos.

                - Eu te perdoou sim – Murmurei.

                Ele veio para perto de mim e quando íamos nós beijar, uma presença nós atrapalhou.

                - Senhorita França? – Um policial perguntou.

                - Sou eu...

                - Precisamos conversar.

                O policia Bruno e eu ficamos conversando por meia-hora. Pelo que ele me disse, o homem que me atacou não tinha nenhuma ficha criminal, eles não encontraram nenhuma digital que batia com a dele, nenhum vídeo, nenhum arquivo ou lugares que trabalhou. Era como um fantasma. E o homem não falaria de jeito algum quem ele era, apenas se eu estivesse lá. Ele queria conversar comigo e em troca responderia todas as perguntas.

                - Então, senhorita França decidiu? – O policia perguntou.

Kevin me fitava com um olhar de “recuse!” . Ignorei o olhar de Kevin.

                - Só preciso de um minuto para trocar de roupa.

                - Gabriella! – Kevin disse furioso.

                - Eu preciso saber quem ele é.

                Tirei aquela ridícula roupa azul e coloquei um vestido, uma bota e um sobretudo preto – Kevin que havia escolhido. Ele tinha um ótimo gosto.

                Kevin, eu e o policial Bruno fomos até a delegacia onde o delegado Sampaio estava nos esperando.  Chegando na delegacia, que estava deserta, o delegado nos atendeu, fez algumas perguntas e deu algumas dicas. Quase uma hora depois, eu finalmente fiquei cara a cara com o homem de sobretudo.

                Ficamos em uma sala fechada com um enorme espelho – que na verdade era uma janela. Que os policias, Kevin e o delegado estavam observando. O homem estava com a cabeça baixa sussurrando algumas coisas. Quando sentei-me ele levantou a cabeça e sorriu maliciosamente. Ele era velho e com algumas rugas em volta dos olhos, tinha a boca seca e era careca. Tinha um rosto que demonstrava raiva.

                - Finalmente, nós conhecemos formalmente.

                - Por acaso eu te conheço informalmente? – Murmurei.

                - Talvez... Mas eu te conheço, Gabriella França... Muito mais que imagina.

                Meu corpo todo se arrepiou, mas eu tinha que ser forte. Eu tinha que ser uma artista, atuar. Felizmente eu era uma boa atriz e poderia fingir algumas coisas, poderia segurar as emoções por algum tempo.

                - Me conhece de onde? – Coloquei o cotovelo na mesa e apoiei minha cabeça.

                - Machucou seu lindo rostinho! Oh Deus! Bem que Hugo me disse que você era linda.

                - Hugo...? Então você o conheceu?

                - O conheci muito bem... Mas do que você, é claro... Ele deve ter falado de mim.

                - Não falou não... Acho que eu me lembraria se ele tivesse dito sobre você.

                - Bem a cara daquele cretino! – Ele colocou as mãos na mesa e eu tirei a minha – Então acho que devo me apresentar?!  Meu nome é Catarina – Ele esticou a mão para me cumprimentar.

                - Ca... Catarina? – Gaguejei.

                - Catarina, não Ca... Catarina – Ele zombou – Então você ouviu falar de mim?

                - Na verdade, eu estou te procurando.

                - Me procurando? Por que você estava me procurando?

                - Preciso de respostas!