Os Segredos De Hugo. escrita por Ingrid Fonseca


Capítulo 3
Paciente Fantasma.




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Logo quando acordei coloquei aquele quadro na parede – o único quadro preso na minha parede. Tirei meus queridos quadros da caixa e os deixei encostada na parede. Quando o relógio deu dez horas, alguém bateu na porta.

- Quem é?  – Gritei andando para porta.

                - Sou eu Kevin.

                - Kevin? – Perguntei alegremente e abrir a porta.

                Ele estava com uma camiseta V verde e uma bermuda jeans segurando dois copos de cafés grandes e um saco.

                - Espero que goste de rosquinhas e café – Ele disse sorrindo.

                - Sorte minha! Gosto sim... Entre e não repare na bagunça, acabei de me mudar...

                Ele entrou meio tímido.

                - Você irá morar em aqui?

                - Não, só ficarei um mês.

                - Ah... – Gemeu.

                - Então, fuce ai e escolha um quadro – Disse tomando o café.

                Ele ficou por dez minutos vendo os quadros, os detalhes de cada um e não conseguiu escolher nenhum.

                - Todos são muitos bons... Você vende muitos quadros?

                - Depende do que é vender muitos.

                Ele riu.

                - Quanto custou o quadro mais caro que vendeu?

                - Onze mil – Disse tomando mais um gole de café.

                - Onze mil?!

                - É... Eu dei o nome de O Homem Sem Rosto. Esse quadro foi um acidente, eu fiz errado o rosto e o borrei com raiva. Mas não  joguei fora e levei para uma exposição e uma moça rica comprou.

                - Nossa! Então você é conhecida?

                - Sou desconhecida, mais invencível que o normal.

                - Não parece ser nada...

                Então ficamos conversando e debatendo sobre artes e compradores de arte. Contei para ele que eu pretendia fazer faculdade de artes em Paris e ele me contou como começou com a carreira de fotografo. 

                - Ficará aqui até resolver tudo?

                - Sim, acho que passarei meu aniversario aqui.

                - Quantos anos fará? – Ele perguntou sorrindo.

                - 19 anos.

                - 19 anos?! Perai, você tem 18? Está me zoando né?

                - Eu tenho 18 anos... Por que achou que eu tinha quantos?

                - Você tem uma cara de menina de 18, mas tem o jeito de mulher de 23 pra cima.

                Eu dei uma risada.

                - Vou levar isso como um elogio.

                Ele abriu um sorriso e olhou para o relógio de pulso.

                - Eita, preciso ir...

                - Levará que quadro?

                - Ainda não sei.

                - Que tal assim: Eu faço um quadro especial pra você?

                - Sério?

                - É.

                - Ok, então...    

                Nós despedimos informalmente. Quando Kevin saiu eu peguei a tela e as pintas, mas minha mente travou. Fiquei fitando aquela tela por alguns minutos. Frustrada por ter a mente travado,me joguei na cama e peguei o diário do Hugo.

                O folhei por algum tempo e dentro do diário caiu um recibo de um hotel. Lá estava escrito que pagou um quarto por uma semana inteira e foi em um hotel de estrada bem próximo a BH.

                Isso não fazia nenhum sentido. Hugo tinha uma casa aqui e um hospício... Então por que dormiu em um hotel de quinta?

                Folhei mais algumas páginas. Tudo que estava escrito estava rabiscado, mas pelo menos eu conseguia entender algumas coisas. Em um texto enorme a única coisa que conseguir entender foi:

                Catarina está livre

                Guardei o diário e fui até a sala, puxei as cortinhas e deixei o sol entrar no apartamento. Algumas pessoas passavam pela rua e um homem de sobretudo olhava para minha direção, o fitei por alguns segundos até ele sair e começar a caminhar.

                Olhei para o relógio e eram 15 pro meio-dia. Fui para a cozinha preparar algo pra comer, fiz macarrão instantâneo – o famoso miojo – e comi vendo Two And Half Men.

                Meu celular tocou, era Kaio.

                - Alô papai – Disse brincando.

                - Oi Gabi... Desculpe pela noite passada... Eu só liguei para ver se você está bem ou com raiva de mim.

                - Estou bem sim e não estou com raiva – Disse rindo – Então... Menino ou menina?

                - Um garotão – Ele disse rindo.

                - Qual é o nome dele?

                - É Hugo... A Thamara que escolheu.

                Meu coração parou por um segundo e as lembranças tomaram conta de mim. Desde o momento que conheci Hugo, minha vida mudou, ele era o centro de tudo e mesmo morto ele ainda continuava vendo o centro.  E tudo que me lembrava ele, nem que seja o nome ou as feições dele, tudo me deixava meia assim, morta. Por que ele estava morto e parece que levou uma parte de mim junto.

                - É um belo nome – Disse finalmente – Kaio, eu preciso ir, depois conversamos ok?

                - Está bem... Até mais.

                Eu desliguei o celular e o joguei em cima da cama.

                - Eu tenho que esquecer  - ló – Gritei para mim – Eu tenho... – Disse chorando.

                Peguei o quadro e as tintas e comecei a pintar. Desenhei um rosto masculinho, com feições de um homem velho... Mas logo parei de pintar e fui tomar banho.

                Troquei-me, peguei minha bolsa,  meu celular e sair. Peguei meu carro e liguei o GPS, digitei Clinica Doce Lar... Era no outro lado da cidade. Comecei a dirigir.

                Meu celular tocou, era a Karina. Deixei no viva-voz e atendi.

                - Por que não atendeu minhas ligações? – Ela perguntou furiosa.

                - E bom falar com você também... – Disse sarcasticamente.

                - Engraçadinha! Então conseguiu vender a casa?

                - Conseguimos, por meio milhão.

                - Meio milhão? – Ela perguntou espantada – Mas, eu pensei que valia 200 mil pelo menos.

                - O terreno é muito grande... Ai ficou mais caro.

                - Então você conseguiu o dinheiro e ainda sobrou muito.

                - Sim, mas eu venderei o resto... Não quero ficar com as coisas dele.

                Karina e eu ficamos um bom tempo conversando sobre a faculdade que ela passou, que era a USP. Ela faria Direito – que era o sonho dela. Karina contou-me sobre os apartamentos que queria alugar – ela estava louca para sair da casa dos pais – e contou-me sobre um cara que conheceu no bar que também estudará na USP.

                Enquanto ela dizia as novidades, eu entrava em um bosque. Segundo o GPS, eu já estava perto do Doce Lar. Em menos de dez minutos, um enorme edifício apareceu entre as arvores mortas.

                O edifício era velho e precário, com muros enormes com várias câmeras e grades por cima – uma verdadeira prisão.

                - Karina eu preciso desligar... Mais tarde conversamos.

                - Ok, mas me ligue mesmo.

                - Ligarei.

                Desliguei o celular, dirigi mais um pouco até a segurança.

                Um segurança pálido e gordo estava comendo pão doce, vendo desenhos animados e com as pernas em cima da mesa. Deu uma olhada rápida pra mim e disse arrogantemente:

                - O dia de visitas não é hoje.

                - Eu não vim visitar... Eu sou Gabriella França, dona dessa clinica.

                O segurança quase se engasgou com o pão e arrumou a compostura.

                - Desculpa senhorita França... Eu... Eu não sabia que a senhorita viria hoje.

                - Hum, poderia abrir os portões para mim? E poderia avisar o “Direto” da clinica que quero falar com ele?

                - Sim, senhora.

                Ele abriu os portões rapidamente. Quando estacionei o carro, um homem de meia-idade que usava roupa-social abriu um sorriso amigável.

Sair do carro e o cumprimentei.

                - Oi Senhorita França... Eu sou Dr. Gustavo Abreu ao seu dispor – Nós cumprimentamos – O que devemos a essa visita maravilhosa?

                - Bem, eu vim ver como são as coisas por aqui... Pois pretendo vender.

                - Ve- Vender? – Ele gaguejou.

                - Sim... Mas antes eu queria conhecer o lugar... O senhor trabalha aqui á muito tempo?

                - Há anos.

                - Então o senhor conheceu a Família Lima?

                - Sim... Eu era amigo da família.

                - Ah... – Gemi pensativa.

                - Enfim, quer conhecer a clinica?

                - Claro – Disse sorrindo falso.

                Dr. Gustavo me mostrou o refeitório, as quadras esportivas, a sala de jardinagem, a sala de artes – sinceramente, a sala de arte foi o único lugar que me interessou totalmente.  Quando chegamos à parte dos dormitórios, eu finalmente perguntei:

                - Tem algum paciente chamado Catarina?

                Dr. Gustavo Abreu pareceu meio espantado com a minha pergunta, mas logo respondeu naturalmente:

                - Não, não tem nenhum Catarina.

                - Provavelmente ele não deve mais está aqui... Por acaso, tinha algum Catarina em 2010?

                - Hã... Não. Por que a pergunta?

                - Por nada.

                Ele voltou a me mostrar os dormitórios. Algo dentro de mim sabia que Dr. Gustavo estava mentindo, mas a questão era: Por quê? Por que ele mentiria para mim sobre Catarina?

Quando fomos para a sala da diretoria, que todos os arquivos estavam guardados, um homem asiático e baixo chamou Dr. Gustavo.

                - Eu já volto Senhorita – Ele disse e saiu fechando a porta.

                Não me aguentei. Fui para o armário de arquivos e procurei os arquivos de 2010, peguei de fevereiro de 2010. A maçaneta da sala deu a volta. Eu fechei a gaveta rapidamente e coloquei os arquivos por dentro da camisa.

                - Então... Onde paramos?

                - Infelizmente eu preciso ir... Mas amanhã eu volto e falaremos sobre... A clinica.

                Sair dali rapidamente, ignorando o “está bem” de Dr. Gustavo. Entrei no meu carro e coloquei as papeladas no banco de trás.

                - Já vai Senhorita França? – O segurança perguntou arrumando a compostura.

                - Sim... Mas amanhã eu volto.

                Ele abriu o portão para mim e eu sair daquele lugar. Liguei o GPS e o seguir. Minha consciência começou a pesa, alias eu havia roubado a papelada.

                - Gabi, você não roubou... O hospício é seu... Então não foi roubo – Digo a mim mesma. – Quem eu quero engana? Claro que roubei...

                Voltei para apartamento e levei as papeladas para o quarto. As coloquei em cima da cama e li detalhadamente uma por uma. Vários nomes estavam lá, fichas medicinais, fichas de mau comportamento, fichas familiares... Haviam 199 nomes, menos o de Catarina. Encontrei as papeladas de quartos, haviam 200 quartos e só 199 estavam com nomes preenchidos, porém, o quarto 173 estava com o nome rabiscado, impossível de ser ler.

                - Que droga é essa? – Perguntei a mim mesma – Eles não podem censura um documento.

                E nem roubar.

                Por que eles rabiscariam um documento como esse? 

Catarina parecia ser um fantasma! Não havia nada falando sobre ele e a única prova da sua existência era o diário de Hugo, o diário de um “psicopata”.

                Raciocinei por um segundo... Dr. Gustavo parecia conhecer algum Catarina e por que o nome do paciente do quarto 173 estava rabiscado? Seria o quarto de Catarina? Catarina realmente existe ou existiu? Várias perguntas e sem nenhuma resposta, sem ninguém confiável o bastante para me dá algumas respostas. 


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Notas finais do capítulo

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