Witch escrita por MFreeak


Capítulo 1
Prefácio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



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Naquele dia, sentia uma brisa pesada no ar, o vento oeste me avisava que não seria um dia bom para mim. Havia acordado na fria e cálida manhã de outubro, onde tudo estava como sempre, a pouca luz da manhã entrando pela janela, minha cama desarrumada e um copo de água cheio no meu criado mudo. Sentia um cheiro que disfarçava minha ansiedade por esse novo dia, cheiro de ovos e pães com manteiga, estava faminta.

Estes últimos anos nós não podíamos fazer nada, não podíamos sair na rua, não podíamos conversar com as pessoas, não podíamos fazer nada.

Desde que e época de caça ás bruxas foi declarada, qualquer atitude pode ser suspeita, nossa casa já havia sido revistada 3 vezes nesses últimos meses. Estava exausta de toda essa perseguição. Mas sabia que hoje não seria um dia comum, alguma coisa ia acontecer, eu sentia.

Fui até meu armário de madeira velha para pegar meu vestido branco, era um vestido simples, feito de pano e rasgado na parte perto dos tornozelos, minha irmã mais velha Abigail fez para mim. Coloquei - o, e rapidamente desci das escadas e fui escovar meus dentes, durante o caminho até o banheiro, tentei notar algo diferente nas coisas, para saber o que havia de errado. Mas nada estava fora do lugar. As escadas com o seu mesmo rangido e cor marrom, a poeira em todos os cantos da casa, a pequena aranha que morava no buraco perto da porta da sala, estava parada, talvez finalmente morrido, que pena, nem havia acabado de tecer sua teia.

Abri a porta dos fundos da casa para pegar água do poço para meu banho, e fui surpreendida por um vento frio e devastador do lado de fora, o vento vinha do oeste, isso não era um bom sinal. Andei pela grama morta até o poço atrás da casa, ao meu redor havia algumas casas destruídas pelos militares e padres do rei, pobres almas, a rua estava tão deserta que eu mesma podia ouvir o som da minha respiração, não havia um sinal de vida naquele lugar.

Peguei o balde e o desci pela corda até o fundo do poço, estava assustada, logo de manhã. O céu estava com uma coloração azul marinha, o sol estava escondido atrás de algumas nuvens, do outro lado do céu a majestosa lua estava se pondo, esta noite seria noite de lua cheia, ou seja, os padres e militares iriam nos fazer outra visita, será que isso foi o significado daquele vento tão morto e frio do oeste, ou não?

Puxei o balde cheio de água para fora do poço, o desamarrei da corda e andando rapidamente, o levei comigo para dentro da casa. Por fora a casa estava destruída em alguns pontos, quando chovia, ficávamos encharcados, já que entrava tudo pelos buracos. á alguns meses levaram outra ''bruxa'' para o enforcamento, a pobrezinha não teve chance nem de se explicar, por que faziam isso? Nunca fizemos mal a ninguém.

Nossa casa estava com a coloração negra, alguma parte dos telhados haviam caído e baratas nos atacavam quase todas as semanas.

Quando entrei pela porta dos fundos me deparei com uma cena que sempre me deixava feliz, minhas irmãs: Ann, Elizabeth e Maria, estavam comendo o café da manhã que Abigail tinha nos feito, Maria gritava pelo café estar muito quente enquanto Elizabeth sonhava acordada com o jovem militar que havia nos revistado. Podia ouvir de longe Ann e seus murmúrios revoltados sobre a atual situação, mas ela estava certa.

Fui pro banheiro e peguei uma caneca perto das escovas de dente, me despi e coloquei o vestido pendurado na maçaneta da porta. Joguei água no meu corpo, aquilo me limpava por completo, a água fria escorrendo pelo meu corpo era ótima. Dava uma sensação incrível.

Me enxuguei com o pano se cor vermelha pendurado no prego torto da parede. Peguei a escova de cabelo na primeira gaveta da pequena estante pregada na parede, onde nela se encontrava também as escovas de dente e alguns espelhos. Penteei meus longos cabelo negros como a noite, que iam até meu quadris, a baixa luminosidade do local realçava ainda mais meu olhos azuis.Quando ajeitei meu cabelo, andei em direção a porta e coloquei meu vestido de pano branco.

Quando toquei a maçaneta da porta de novo, senti um frio me bater, havia um silêncio mortal me rodeando, podia sentir meu coração batendo cada vez mais forte, e meu estomago sendo arranhado por tanta fome. Esperei calmamente algum sinal de vida lá fora, mas não ouvi nada. Girei a maçanete bem devagar, pela minha surpresa, não havia ninguém, era como se todo mundo tivesse desaparecido. A comida estava lá, remexida e revirada mas as minhas irmãs não estavam lá.

— AAAAAAAAAAA, por favor parem não fizemos nada eu juro.
Fui surpreendida por uma voz fina e desesperada, conheceria essa voz em qualquer lugar, Maria.

Corri para a porta dos fundos ignorando a fome e o medo. Vi minhas quatro irmãs sendo puxadas por cordas por militares rudes e fortes. O homem que Elizabeth estava apaixonada estava na frente da carroça, com a cabeça baixa e olhos fechados com seus cabelos caindo por cima das sobrancelhas, parecia estar muito triste e arrependido.

— Nããããão, parem com isso por favor deixem - nas. Gritei correndo em direção a elas, o padre e os militares, até mesmo aquele que estava de cabeça baixa, me olharam assustados e com medo. Realmente não sabiam que havia mais uma pessoa na casa.

— Peguem - na, é uma bruxa. O padre ordenou apontando o dedo trêmulo para mim.

Os militares obedeceram, pegaram cordas e correram em minha direção.

— Corra Sarah - Abigail gritou amarrada dentro da cela da carroça - Eles vão lhe pegar. Fuja.

Não sabia o que fazer, mas antes de me decidir me vi correndo em reação oposta da carroça, mas foi inútil, eles me pegaram. E tropecei no chão e eles amarraram brutalmente minhas mãos.

— Por que faz isso com as filhas de Deus Satanás? O padre peguntou assustado com o crucifixo em minha direção. Enquanto me debatia os militares me arrastavam para a carroça.

— Por favor - gritei assustada - não fizemos nada, por favor nos deixem sair somos inocentes.

— Fique quieta Bruxa - Um militar moreno de olhos castanhos escuros e cabelo negro, que não devia ter menos de 25 anos trancava a cela da carroça. Mas ele estava com mais medo do que nós.

Senti o chicote sendo estalado nos cavalos, e eu juro que o senti em mim mesma, a carroça tremia enquanto os cidadãos saíram de suas casas e nos viram na carroça.

Vi uma mulher se benzendo, e outra fechando os olhos de sua filha que parecia ter 5 anos com a mão. Vi homens nos olhando com medo, assustados, por coisas que não eram verdade.

Mas então, eu vi um menino.

Devia ter a minha idade eu era a mais nova das minhas irmãs então tinha 19 anos, usava um casaco de couro, camiseta de colarinho aberto branca, este me olhou diferente, não me olhou com medo, não me olhou com desprezo, me olhou triste, como se quisesse falar ou fazer alguma coisa, seus olhos eram azuis, como a manhã clara de primavera. Me sentia diferente ao olhar dele, meu coração batia mais forte, meu olhos se enchiam de água e como se eu apenas conseguisse enxergá - lo. Mas me senti tão envergonhada, por estar naquela jaula, o que ele poderia estar achando de mim agora.

Ao chegar na verdadeira prisão de salém, eu e minhas irmãs fomos para uma cela feita de madeira e cadeado de aço, dentro parecia um caixote, e por fora também, havia uma janela com grades de aço, que dava pra ver pouca parte do céu, não havia nem ao menos uma cama. Tiraram as cordas de nossas mãos, Maria começou a chorar e se sentou no canto, Elizabeth foi consola - la, enquanto Ann se sentou no outro lado da cela abraçando os joelhos e chorando, mas não queria parecer ser fraca, se conhecia bem a Ann, estava com medo, mas não queria mostrar. Abigail foi em minha direção.

— Por que veio nos procurar - Ela perguntou com a voz meio rouca e triste - poderia ter escapado. Ela perguntou com as sobrancelhas franzidas, mas sua expressão era de tristeza, mas por dentro ela estava orgulhosa.

— Não podia deixar vocês irem - disse com os olhos lacrimejando - Vocês são minhas irmãs, vamos morrer na mesma hora, no mesmo dia, e no mesmo minuto. Abracei - a bem forte, pois sabia que era a última vez que a veria.
Abracei cada uma das minhas irmãs, quando cheguei em Ann, ela estava vermelha de tanto chorar, ela me abraçou forte.

— Eu estou com medo Sarah - a voz dela estava abafada - estou com muito medo.

— Eu também Ann, mas calma vai ser rápido. Tentei acalmá - la.

— Espero que estes brutos sofram o mesmo que cada alma morta - Ela olhou pra mim com os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Ei - disse com voz rouca - não deseje o mal a ninguém, isso só deixa as coisas piores.

— Mas isso é muita injustiça - ela retrucou revoltada - eles matam e nada acontece com eles. - Ela franziu as sobrancelhas zangada.

— Também estou com raiva, medo e revoltada - expliquei a ela com voz calma e tranquilizante - Mas tudo voltará multiplicado para eles se lembra? Por essa injustiça, mas não devemos desejar mal a ninguém está bem?

— Está bem - ela deu um sorriso fraco - você lembra a mamãe, sempre nos ajudando a lidar com as situações difíceis.

Dei um sorriso em agradecimento, me senti lisonjeada, sentia realmente saudade de nossa mãe, nosso pai entregou minha mãe por bruxaria, e nos escondeu no porão de casa. Conseguimos sobreviver sozinhas desde pequenas. Ann tinha 20 anos, era a mais velha e sempre a mais forte, não deixava se levar por poucas coisas e raramente chorava, Elizabeth tinha 18 anos, era a que sempre se apaixonava por qualquer rapaz que se mostrava na rua, ela era muito tímida e calma, Maria era a mais nova de nossas irmãs, de 16 anos, chorava por tudo, era muito emotiva e preocupada e Abigail, estava mais para um dona de casa, tinha 20 anos também, e uma ótima cozinheira, e eu era a que sempre tranquilizava as outras.

Ficamos na sela até o por do sol chegar, já dava para ver a lua cheia aparecendo no céu enquanto a escuridão tomava conta de tudo. Minhas irmãs estavam dormindo, e eu morrendo de fome, olhava fixamente para a grande lua cheia.

— Por favor, nos ajude - Imporei em sussurros - por favor. Abracei minhas pernas e descansei minha cabeça nos meu joelhos.

De repente,o juiz nos chamou para o enforcamento, nos prenderam pelos pulsos a cordas. Enquanto saíamos pela da sela, víamos as outras acusadas de serem bruxas, presas, algumas tinham apenas 10 anos, e a mais velha deveria ter 80 anos. Meus olhos encontraram os de uma menina, de aparência abatida, devia ter uns 18 anos, tinha os cabelos ruivos e olhos castanhos, estava pálida, como se não comesse á dias, mas mesmo assim ela me deu um pequeno sorriso.

— Boa sorte - ela sussurrou bem baixinho, eu dei um sorriso de leve para ela em agradecimento, pobrezinha.

Passamos pela grande porta feita de madeira, enquanto os cidadãos nos jogavam pedras, uma ou duas abatiam no meu rosto e uma na minha coxa.

Aguentei a dor com coragem.

Fomos colocadas com os pescoços amarrados nas forcas, em cima de bancos, um para cada uma de minhas irmãs.

— Ann, Abigail, Sarah, Elizabeth e Maria Mogtogorney. Foram acusadas de bruxaria, testemunhas declaram que foram vistas fazendo diversos rituais e fazendo poções. O que tem a declarar?

O silencio tomou conta do local, havia várias pessoas em pé nos observando, esperando nossa resposta. Nos entreolhamos.

— Os deuses sabem o quão puro são nossos corações, e que nós nunca fizemos nada a ninguém - falei dando as mãos as minhas irmãs.

As pessoas fizeram um gemido de medo e surpresa ao mesmo tempo. O padre ficou nos observando, paralisado de medo.

— Deusa Lilith, rainha da magia mostre a nossos perseguidores o quão puro são nossos corações, mostre - os, o erro que estão cometendo e que por sua ordem a justiça seja feita. Ó grande Deusa mãe, mostre - os o que eles não sabem.

Falamos em conjunto, enquanto os cidadão gritavam e corriam.

—Tirem os...

— Não - o padre foi interrompido por uma voz masculina. Aquele rapaz de olhos azuis interrompeu o padre. A atenção foi toda tomada por ele.

— Quem é você, garoto. O padre perguntou revoltado, e aos cuspes.

— Não lhe interessa - o menino cuspiu as palavras zangado. Os olhos dele encontraram os meus e depois ele balançou a cabeça com um leve sorriso.

Revidei o sorriso com prazer.

— Elas não fizeram nada de mal a ninguém, deixem - nas ir - Ele apontou para nós, e disse calmamente, mas dava para sentir a tristeza em sua voz tremula.

— Como podem matar seus iguais mesmo estando escrito na Bíblia ''Não Matar'', ás vezes, eu acho que não é Deus quem está mandando vocês fazerem isso.

— Ele é um cúmplice das bruxas - Uma voz grossa saiu da platéia.

— Peguem - no. o padre ordenou, e os militares obedeceram, o menino mal se mexeu, esperou que eles o amarrassem.

— Não - Gritei o mais alto que podia - Parem por favor - implorei entre lágrimas. O jovem rapaz de olhos azuis, me olhou com um sorriso tranquilizante.
Eu não aguentei, senti a raiva me preencher por inteira, sentia meu coração bater mais forte, meu sangue mais quente, e as lágrimas enchendo meu olhos.

— Que os deuses o amaldiçoem - Gritei para o padre - Vocês sentirão a nossa ira desgraçados - Nem parecia eu mesma falando, estava de um jeito revoltado que mal eu sabia que existia.

De repente, um vento frio bateu me mim, balançou as árvores mortas, pude ouvir os uivos dos lobos, o céu se escurecendo mais rápido, quando vi uma centelha de fogo na arquibancada, que se encheu de força e queimou os outros bancos, fazendo um incêndio. As pessoas correram em desespero, caiam cinzas do céu, as árvores se remexiam mais rápido, fazendo um som de medo e desgraça. As folhas voavam e remexiam meus cabelos. O fogo pegou nas luvas dos militares.

— Tirem os bancos. Agora! - O padre gritou com a voz mais alta que ecoou nossos ouvidos.

— Nós vamos voltar bastardos - Ann gritou corajosamente.

— Vocês iram pagar - Maria sorriu em deboche, e nós gargalhamos maliciosamente. Quando os bancos foram puxados, não me sentia mais, perdi a respiração, não ouvia meu coração.

E assim, foi minha morte deste mundo... Por enquanto.


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