D.N.A escrita por G_bookreader


Capítulo 2
Alícia




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Era, definitivamente, uma noite especial. Daquelas que todos aqueles que sonham em ser alguém no mundo da música esperam. Para Alícia, guitarrista e vocalista da banda de garagem – ou, como gostava de dizer, famosa banda de garagem – a que chamavam de Rebel Riff. Ela achava o nome ridículo, mas todos os nomes legais já haviam sido usados, então não tinha muita escolha. Hoje eles iriam abrir o show de uma banda mais ou menos famosa no cenário nacional. É a chance que ela vinha esperando desde que aprendera o primeiro acorde com a guitarra barata comprada por seus pais quando ainda tinha apenas oito anos de idade.

Nove anos se passaram e ela só queria que eles pudessem vê-la agora.

O problema é que sua vida não era o paraíso que costumava ser anos atrás, quando seu pai entrou com a guitarra em casa para ela. Dois anos depois, ambos morreram em um terrível acidente de carro. O motorista do outro carro estava bêbado e parou direto em um cruzamento, acertando o carro de seus pais em cheio. Foi fatal. Ela também estava no carro e foi a única sobrevivente do acidente, sem um arranhão. Pelo menos era o que contavam, ela não se lembrava de nada disso. Desde então vivia com a irmã anos mais velha, mas não era a mesma coisa.

Olhou o relógio na parede, já estava quase na hora. Deu uma última checada no espelho, conferindo se estava tudo certo. Possuía uma pele muito clara, que contrastava perfeitamente com os cabelos muito negros e ligeiramente cacheados. Os olhos, envoltos por uma maquiagem escura, especial para a ocasião, eram de um verde muito claro e raro. Estava vestida com um vestido negro, que ia até os joelhos e deixava os braços livres, mas cobria muito bem seu corpo que não era magérrimo, mas não era grande. Os pés estavam cobertos por uma bota também preta que ia até os joelhos, encontrando-se com o vestido. Estava satisfeita com a própria aparência.

Respirou fundo e saiu do cubículo que tinham dado a ela, com a guitarra dentro da capa. Pior deveriam estar os meninos, que teriam que ficar no mesmo cubículo. Quando três garotos ficam presos em um mesmo espaço pequeno, o caos costumava se instalar.

Roberto, ou só Rob, era o outro guitarrista, de dezenove anos, cabelos castanhos escuros e ligeiramente bagunçados, alto e com uma cicatriz acima da sobrancelha esquerda, marcando o rosto anguloso. Conheceram-se havia cerca de quatro anos, ele era uma espécie de melhor amigo. Além dele havia o Fred, baixista, um cara calado, de altura mediana, cabelos loiros, cortados muito rentes, dezoito anos e um pouco acima do peso. Se conheciam fazia alguns meses, mas Alícia não conhecia ninguém que tocasse baixo como ele. O baterista era o Esqueleto, ganhou o apelido por ser muito magro. Tinha os cabelos escuros também, e bizarramente cacheados e largados, o que o tornava parecido com o Slash, só que, ao invés de guitarra, carregava baquetas. Ainda mais quando insistia em usar um óculos igual ao do guitarrista, o que, para todo o resto do mundo, ficava ridículo, mas não tinha como convence-lo. Tinha a mesma idade de Alícia e era, de todos, o mais bem humorado, sempre pronto para uma piada de última hora, ou qualquer coisa idiotamente engraçada de última hora. 

Quando chegou na parte de trás do palco, os três já estavam lá, vestidos todos perfeitamente. Rob terminava de checar a guitarra, Fred alisava o cabo do baixo nervosamente e Esqueleto girava uma baqueta entre os dedos. Mal perceberam que ela se aproximou.

-Então, meninos, prontos? – Perguntou enquanto abria a capa e retirava a guitarra.

-Se Fred não tiver um ataque, acho que sim. – Esqueleto disse, era o mais tranqüilo de todos. Claro, ficava escondido atrás de um monte de tambor.

-Preparada? – Rob perguntou, pondo o apoio da guitarra ao redor do corpo.

-Eu já nasci pronta. – Ela sorriu e fez o mesmo com sua guitarra.

-Alícia, vem aqui. – Uma voz a chamou lá de trás. Era Abreu, o mais próximo de agente que eles tinham conseguido.

Ela foi até ele rapidamente, sabia que faltava pouco tempo para entrar. No princípio não confiava muito em Abreu, um homem alto e corpulento, totalmente careca e com uma barbicha ridícula. Mas ele havia conseguido algumas coisas para eles ultimamente, não deveria ser tão ruim assim.

-O que foi? – Ela perguntou assim que chegou.

-Tome isso. – Ele estendeu uma pílula azul pequena. – Vai melhorar a sua voz.

-Eu não posso tomar qualquer remédio, você sabe disso. Alergia. – Ela disse, desconfiada.

-Não é qualquer remédio, eu tenho certeza que não te fará mal. É feito em homeopatia, é como se fosse um chá com mel para a sua garganta. Não fará mal, eu prometo. – Ele disse, estendendo novamente a pílula. Ela o encarou por um tempo, ele parecia estar falando a verdade.

-Vamos, Ali, já está quase na hora! – Esqueleto gritou, olhando o relógio.

-Já estou indo! – Ela gritou de volta, voltando-se para Abreu. – Me dá isso logo. Espero que não me cause problemas.

-Não irá.

Ela engoliu a pílula no seco e voltou para o grupo. Permitiram que subissem ao palco, que estava escuro ainda. Posicionaram-se conforme ensaiaram e se prepararam. Alícia respirou fundo, sentindo a adrenalina do momento. Podia ouvir cochichos desligados da platéia, das pessoas que não haviam notado sua presença ainda. Faltavam alguns segundos. Ouviu a baqueta de Esqueleto bater três vezes e, quase que automaticamente, as luzes se acenderam e os instrumentos começaram a tocar em um tempo perfeito. As pessoas aplaudiram e Alicia levou sua boca ao microfone. Sua voz invadiu a casa de show, especialmente afinada aquela noite. Parecia que tudo estava dando certo. A platéia se animou, começou a pular. E olha que eles nem eram o show principal.

Tocaram uma música, duas, na terceira as coisas começaram a ficar estranhas. Primeiro ela sentiu como se estivesse, por um momento, embriagada, mas nada que a atrapalhasse. Então começou a se sentir leve, como se flutuasse. Bem na hora do solo da música, que ela nunca executou tão bem. Estava se sentindo incrível.

Até que algo deu errado.

Começou a ficar tonta e muito, muito enjoada. Achou que fosse vomitar no palco, mas conseguiu segurar a onda. Porém, começou a sentir como se seu coração fosse explodir peito afora, perdeu a noção de respiração. Ouviu um som desagradável de quando a palheta bateu agressiva na guitarra sem um acorde pronto. As pernas bambearam e ela perdeu o equilíbrio, caindo de costas no palco. Sentiu seu corpo convulsionar, ao mesmo tempo que alguém tirava a guitarra dela. A última coisa que viu foi o rosto assustado de Rob antes que perdesse a consciência.

Era uma bela noite, calorosa e feliz. Alícia vinha no banco de trás do carro, olhando pela janela. Os pais vinham em silêncio no banco da frente, atentos às músicas que tocavam. Não era do mesmo tipo que ela gostava, mas achava legal o gosto deles pelo maior tipo de música. Ela sempre fora mais seletiva, mas eles ouviam tudo que fosse minimamente aculturado.

Voltavam de uma festa de aniversário que ela havia sido convidada. Foi uma festa divertida, e ela estava cansada. Pararam em um sinal de trânsito e a mãe se virou para trás, sorridente. Era uma mulher bonita, porém discreta. Aíicia era quase que uma cópia dela, exceto pelos belos olhos do pai e os traços do rosto delicados e ligeiramente arredondados da avó materna. Fora isso, era igual à mãe. Duda, sua irmã oito anos mais velha que não quis ir com eles, era exatamente o contrário, parecida com o pai. Assim era bom, dividia.

-Está cansada, meu amor? – Sua mãe perguntou, sua voz doce e suave como sempre. O som de sua voz era o som preferido da menina.

-Um pouco, mas estou bem. – Ela respondeu.

-E com fome?

-Nenhuma.

-Esse é o lado bom dessas festinhas. – Brincou o pai, sorridente.

O sinal abriu e ele arrancou com o carro, normalmente. Ambos haviam começado a cantarolar Yesterday, dos Beatles, uma que Alícia gostava bastante. Porém, o som agradável foi cortado por um freio alto e agressivo e o som de lataria batendo com lataria.

Então, tudo estava escuro novamente. Ela sabia que havia alguma coisa errada, mas não conseguia se lembrar o que. Tudo que conseguia captar era Yesterday tocando macabramente ao fundo.

Abriu os olhos, assustada, mas logo os fechou quando uma luz forte os fez doerem. Abriu-os devagar, aos poucos se acostumando com o local. Suas sensações começaram a voltar e percebeu que estava em uma cama não muito macia e havia um som irritante de aparelhos de hospital. Sua cabeça pesava quilos, mas ela fez esforço para levantá-la. Estava em um quarto de hospital, recebendo soro e se sentindo um lixo. Uma máquina marcava seus batimentos, mas o som parecia tocar um sino gigantesco dentro de sua cabeça a cada batida. Sentia-se um verdadeiro lixo, para falar a verdade. Ficou lá, de olhos fechados, passando mal, até que ouviu a porta se abrir. Deveria ser uma enfermeira, ou qualquer coisa do tipo, então nem se deu ao trabalho de se manifestar. Até ouvir aquele suspiro preocupado e, ao mesmo tempo, reprovativo.

Abriu os olhos para encarar os olhos cor de mel da irmã mais velha. Ninguém nunca diria, de primeira, que eram irmãs. Maria Eduarda tinha a pele cor de bronze como o pai, cabelos claros como o ele e os olhos da mãe. As duas eram como Sol e Lua, dia e noite. Não só na aparência, mas no temperamento.

E o temperamento paciente da irmã parecia estar sendo especialmente testado aquele dia.

-Como está se sentindo? – Perguntou antes de mais nada.

-Um lixo. – Respondeu com a voz grogue, recostando-se no travesseiro.

-Não é para menos. Onde você estava com a cabeça? – Ela iria começar um sermão, mas dessa vez iria ser com classe. Não queria gritar, estavam em um hospital.

-Não sei, nem sei o que aconteceu, me dá um tempo. – Alícia respondeu, apertando os olhos.

-Tem certeza que não sabe? – Ela perguntou, com uma sobrancelha levantada de forma cínica.

-Eu já disse que não sei. – Respondeu seca. Ela não podia chegar logo no ponto.

-O que te fez pensar que tomar Ecstasy te faria bem? Você sabe que substâncias químicas fortes te fazem mal, Alícia!

Alícia a olhou com estranheza. Do que ela estava falando?

-Ecstasy? Está maluca? – Tentou se defender, não sabia do que a outra falava.

-Não minta para mim. Os médicos já contaram tudo, encontraram a substância no seu sangue. – Ela falou, o rosto duro como pedra.

Alicia a olhou com perplexidade. Ela não havia tomado nada. Nada, exceto...

Abreu.

Aquele marginal frustrado havia lhe dado uma droga. Era a única explicação. Ele queria o que, matá-la? Por que ela confiara nele, quando nunca havia feito isso antes? Sentiu-se tão idiota por um momento que teve raiva de si mesma. Queria quebrar alguma coisa dura na cabeça dele, o mais rápido o possível. Era nisso que dava confiar nas pessoas. Já havia aprendido que isso não dava certo, não entendia por que havia caído no mesmo erro.

Mas, por fora, estava tão chocada que não conseguiu esboçar metade da raiva que sentira. Virou a cara para o outro lado, envergonhada demais para encarar a irmã.

-Eu não sabia o que era. – Falou, quase que sem ser possível ouvir. Duda respirou fundo e se acalmou, dentro do possível.

-E tomou assim mesmo? – Agora a sua voz era quase que suave. Alícia sabia que era apenas um sinal de que ela desistia aos poucos de tentar entender.

-Disseram que era natural, homeopatia. Que ajudaria minha voz.

-Quem disse? Aqueles marginais? – Duda disse, o tom de irritação retornando. Se pudesse colocar o gosto dela pelos meninos da bando em uma escada de zero à dez, a nota seria menos cinco.

-Eles não têm culpa de nada, nem sabiam. – Ela os defendeu, ainda olhando para o outro lado da sala. – Foi Abreu.

-Claro, pior ainda! Por que você ainda anda com essa gente?

-Eles são meus amigos. Menos Abreu. Nunca gostei dele.

-E mesmo assim aceitou uma pílula que ele te deu? E, para piorar a situação, era um tipo raro, segundo os médicos. Os tipos comuns só funcionam meia hora depois de ingerir. Você sabe que não pode tomar remédios, por que caiu nessa?

Isso era verdade. Desde criança, nunca pode tomar remédio. Toda vez que isso aconteceu, foi parar no hospital com uma crise grave de alergia. O organismo simplesmente rejeitava a maioria das substâncias, exceto quando vinha de fontes naturais, como alguns comprimidos de homeopatia e remédios à base de plantas medicinais. A sua sorte era que nunca ficava doente. Uma gripe hoje, outra daqui há uns três anos. Cortes eram mais raros ainda. Ela dificilmente caía, e quando acontecia, dificilmente algo a cortava. Tinha que admitir, era uma pessoa de sorte por chegar aos dezessete anos sem uma cicatriz sequer para contar história.

A única coisa inconveniente era a dor de cabeça que acontecia de vez em quando, normalmente quando acordava pela manhã. Havia uma certa proporcionalidade com o tipo de sonho que tinha. Quando mais real e complexo, maior era a dor de cabeça. Nunca entendeu o porquê, talvez fosse psicológico.

-Há quanto tempo estou aqui? – Alícia perguntou, mudando de assunto.

-Três dias. Fizeram uma lavagem gástrica em você. Vai ficar bem.

-Quanto tempo para poder sair daqui? – Perguntou, tomando coragem para encarar os olhos da irmã.

-Devem te dar alta logo. Em breve vamos para casa.

-Vamos? – Alícia levantou uma sobrancelha.

-Eu não fui para casa direito desde que você chegou aqui. Tenho dormido aqui.

Foi então que ela pode reparar as olheiras debaixo dos olhos da irmã e o olhar cansado. Odiou-se ainda mais um pouco por isso. Duda podia ser controladora e um tanto estressada, mas era sua irmã e a única família que tinha lhe restado. Não era justo que a fizesse passar por essas coisas, mesmo que fosse sem querer.

-Desculpa. – Ela murmurou, desviando novamente os olhos.

Duda se inclinou e beijou sua fronte, protetoramente. Elas brigavam e tudo mais, mas só tinham uma a outra, e isso tornava o vínculo das duas muito forte. Então Duda saiu, sem falar nada, deixando a mais nova com seus pensamentos.

Alícia fechou os olhos, era mais confortável assim. Pensou ter cochilado um pouco, mas não teve certeza. Sua cabeça estava confusa com muitas coisas. Queria ir para casa, deitar em uma cama confortável, em seu quarto, com os seus CDs e esquecer que o mundo existia.

A porta abriu-se de novo e ela olhou quem vinha. Era Rob, com um buquê de flores.

-O que isso está fazendo na sua mão? – Ela perguntou, mal humorada.

-As pessoas levam flores para os doentes. – Ele se defendeu, pondo elas em cima do sofá.

-Para os mortos também. – Resmungou, fechando os olhos novamente.

Rob revirou os olhos e se aproximou da cama. Sabia que ela não estava muito fácil de se lidar.

-Como está se sentindo? – Perguntou.

-Péssima. O que aconteceu exatamente?

-Você estava tocando e cantando como há muito tempo não tocava. Aí começou a errar e ficar estranha, então caiu. Você teve uma convulsão. Você me deu um susto e tanto, Ali.

-Foi Abreu. Ele quase me matou.

-Eu sabia que ele estava envolvido nisso! – Rob disse, baixo, porém obviamente com raiva. Alícia abriu os olhos e o viu apertando as grades de proteção da maca. – Não vamos mais trabalhar com ele, está decidido. E, assim que você sair daqui, vamos até a primeira delegacia que aparecer na nossa frente.

-Não. – Ela o cortou. – Não vamos nos envolver com esse cara em nenhum sentido. Ele dever ser barra pesada.

-Mais um motivo. Ele quase te matou, tem que pagar.

-Ele me enganou para que eu me drogasse, eu sei. Mas eu deveria ter ficado esperta também.

-Você não pode estar defendendo ele! – Ele disse, cruzando os braços.

-Não estou. Só estou dizendo que eu fui tão tapada quanto ele foi errado. – Rob ficou em silêncio olhando para ela. Era hora de mudar de assunto de novo. – E os garotos?

-Estão lá fora no saguão, encarando a cara feia da sua irmã. – Ele relaxou um pouco, descruzando os braços. – Esqueleto disse que se eu demorasse muito, quando voltasse ia encontrar eles amarrados e torturados sadicamente.

Alícia acabou sorrindo com isso. Quase podia ver o rosto de Esqueleto quando disse isso. Ele sempre a fazia sorrir, mesmo que a piada fosse sem graça. Ele era engraçado.

-Estraguei tudo, não foi? – Perguntou, ficando séria de novo.

-Não. Vamos ter outras chances, ainda mais se você tocar que nem naquela noite. Você foi incrível. – Ele disse, sorrindo.

-Não fiz aquilo sozinha. Fred mandou tão bem que eu arrepio só de lembrar. – Ela disse, de uma hora para outra empolgada. Como Rob conseguia fazer isso? – E você fez um solo incrível também! Naquela hora que... – Levantou a cabeça para falar e o enjôo ficou forte de novo, a obrigando a recostar a cabeça de novo e fechar os olhos.

-Vai com calma aí, campeã. – Ele disse, rindo. – Vou deixar você descansar em paz. E convencer Fred de que você está bem.

-Boa sorte com isso.

-Para você também. – Ela olhou para o sofá, onde as flores estavam apoiadas. – Você vai levar isso embora, não vai?

-Não. – Respondeu enquanto abria a porta.

-Ah, droga.

Ele saiu em silêncio, deixando-a sozinha novamente. Era um tédio total e absoluto, então ela preferiu dormir. Torcia para que, dessa vez, fosse um sono sem sonhos. Descansava melhor quando era assim. Porém sua cabeça estava tão cheia que não conseguiu. Queria ficar sozinha ao mesmo tempo que queria ter alguém para conversar. Não Duda, não Rob, mas alguém que a entendesse, realmente. Sabia que essa pessoa não existia.

Alícia...

Abriu os olhos em um sobressalto, olhando ao redor. Não havia ninguém. Deveria ter caído no sono sem perceber e ter começado a sonhar. É, era isso.

Alícia...

Droga, agora nem de olhos fechados ela estava. Devia ser efeito de algum remédio. Não, ela não podia tomar remédio. Será que tinha ficado maluca de vez? O som não vinha de lado nenhum, parecia vir de sua cabeça.

Venha até nós...

Não era uma voz só. Eram mais de uma voz em coro perfeito. Levou a mão até o botão e chamou a enfermeira, a mão tremia.

Venha até nós. Alícia. Venha até nós. Alícia. Alícia. Venha. Venha até nós. Venha. Alícia. Alícia. Alícia. Alícia.

A enfermeira abriu a porta e, como se vazassem, os sons sumiram. Poucas vezes Alícia havia se sentido tão feliz em ver um rosto desconhecido.

-O que houve, querida? – Perguntou suavemente a senhora baixinha vestida com um jaleco branco e com um coque alinhado.

-Eu, eu... – O que iria responder? Que tinham vozes chamando seu nome? Isso era uma passagem direta para a área psiquiátrica. – Estou com um pouco de sede.

A enfermeira a olhou com uma discreta desconfiança e saiu. Alícia quis gritar para que ela voltasse, mas em alguns instantes a mulher estava de volta. Ajudou-a a beber água, a ajeitou na cama e saiu, apagando a luz.

Alícia se sentiu encolhendo na cama. Parecia agora que cada mínima sombra no quarto parecia um bicho de sete cabeças. Sentiu-se como uma criança de cinco anos e fechou os olhos tentando relaxar.

As vozes não voltaram e ela cochilou.


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