Todos olham para mim estarrecidos, e então pulam em cima de mim me parabenizando. Apenas Lucca e Andre continuam sentados. Shyell e Jackell e minha equipe de preparação estão vibrando e comemorando.

Andre me lança um olhar cheio de ódio, mais do que o normal, e então sai furioso para seu quarto.

Quando eles saem de cima de mim, Lucca me lança um sorriso e segura minhas mãos.

“Eu nunca vi um tributo tirar um doze, em todos os meus anos de vida. Estou orgulhoso de você. Mas eu preciso que me diga: O que você fez na sessão?”

Eu olhei em seus olhos. Igualdade. Igualdade. Não! Eles não estão em igualdade! Não com você!

“E- eu atirei algumas flechas.”

“Você não pode ter feito só isso!” Shyell fala ainda maravilhada. “Você teria tirado 8 com flechas. Isso se você for boa!”

Dou de ombros. “Eu sou boa!”

Lucca me olha desconfiado. “Andre disse que não viu você no treinamento nenhum dos dias. Disse que você sumia e só aparecia no final. Como você pode ser boa com arcos se nem ao menos treinou?”

“Eu e meu pai tínhamos pouco para viver. Eu aprendi a caçar com sete anos. Algumas pessoas precisam disso para sobreviver!”

Seu olhar não se abalou. Ele continuou com seu olhar firme sobre o meu e então acenou.

“Tudo bem! Estou realmente feliz por sua nota. Embora eu pense que você está escondendo algo de mim!”

Dou de ombros. “Eu não sei do que está falando!” Doía mentir para Lucca, mas eu tinha impressão de que eu não deveria contar o que eu sabia. Não porque ele não deveria saber. Mas eu tinha que manter meu segredo.

Como se minha vida, ou a de Matt, dependesse disso!

Se eu contar para Lucca ele vai querer dizer a Andre, e Andre é do grupo dos Carreiristas. Então, se o brutamonte do Andre sabe, todos saberão.

Igualdade! Não com você!

Jackell, para minha salvação, se levantou e me tirou do meu assento. “Vamos lá mocinha! Você tem que dormir, e amanhã temos um maravilhoso visual para você.”

“Sim, e temos o treinamento individual. Você começa com Lucca, e logo depois eu assumirei!” Shyell me dá um boa noite e sai toda pomposa para seu quarto.

“O que vocês vão me ensinar exatamente?” eu indago, mas ela já está longe. Lucca me dá um abraço e diz que é bom eu descansar, pois amanha o dia será longo.

Deitada em minha cama, eu fico repassando mentalmente as notas dos tributos. As notas tomarão um padrão totalmente diferente do costumeiro. Nos jogos anteriores, os carreiristas sempre ficavam com as maiores notas.

Mas nesse estava tudo de pernas pro ar.

Os tributos do 5, Allan e Poyse tiraram 6 e 7. Os do 6, Richye e Dominique ficaram com 4 e 8.

Patrick e Laise, do 8, tiraram 6.

Logan e Sheyla, do 9: notas 8 e 9.

E então, para confundir ainda mais a minha mente, vieram as notas do distrito 10.

Nesse ponto, todos estavam indignados com as notas baixas dos carreiristas e nenhuma nota 10 ou 11, em nenhum distrito, exceto a minha, que foi a maior nota que um tributo poderia alcançar: 12.

E houve uma maior comoção quando, abismado, Caesar anunciou as notas do Distrito 10:

Lime Huth: 9

Matt living: 12

 Eu me lembro do olhar estranho que Lucca cravou em mim. Sim, ele sabia que eu estava escondendo algo, mas graças a Deus ele nunca havia me visto junto do Matt.

Matt...

O que nós fizemos para tirar essa nota? Se minhas suposições fossem corretas, os Idealizadores também fizeram uma pergunta a ele, a mesma que fizeram para mim. E se tiramos 12 é porque respondemos corretamente.

Mas porque os outros tributos não tiveram que responder a mesma pergunta? Não Andre pelo que sei.

E também, porque diabos as nossas respostas foram corretas quando o objetivo do reality show, os Jogos Vorazes, era a morte?

Digo, na arena se você tivesse que escolher entre matar ou morrer, a opção que os agradaria seria MATAR.

Alguma coisa estava acontecendo!

Alguma coisa importante!

Afundada em tantas perguntas eu adormeci, apenas para acordar ainda mais confusa, e totalmente cansada!

Andre não olhou para mim durante o café da manhã. Ele parecia querer esmagar tudo e todos. Eu pensei que ele fosse matar Shyell quando ela disse que era hora de começar.

Ela levou Andre para uma sala separada e Lucca se sentou comigo em uma espécie de sala circular.

A sala era simples, com duas poltronas confortáveis apenas, no centro. As paredes eram pretas e pareciam feitas de vidro, assim como o piso.

Lucca me indicou a poltrona a sua esquerda e se sentou de frente a mim.

“Essa parte é realmente chata, mas se você colaborar comigo, nó não precisaremos ficar quatro horas aqui. O objetivo é te preparar para a entrevista de hoje a noite. Então eu vou fazer perguntas básicas que Caesar pode fazer para você. Serão três minutos de entrevista para cada tributo, então não há muito o que perguntar. Você se dá bem com pessoas?”

Ergui uma sobrancelha. “Eu pareço me dar bem com as pessoas?”

Ele sorri. “Não, mas você é adorável quando não está dando respostas sarcásticas e tem as maiores notas de todos os setenta e quatro Jogos Vorazes. Então você deve se dar bem com as pessoas. Apenas por três minutos!”

“Ok!”

“Vamos começar!” ele pega um pequeno controle e aperta um botão laranja que está no centro. Eu dou um pulo no meu banco quando um som estranho invade a sala, e as paredes brilham formando uma imagem perfeita de uma multidão de pessoas – pessoas da Capital para ser exata – reunidas ao meu redor. Há também luzes invadindo a sala e se focando em mim e em Lucca.

É exatamente como se nós já estivéssemos no palco.

“Para que tudo isso?” eu pergunto fascinada.

“É um simulador de entrevistas. Serve para treinar os tributos apenas. Eles são uma novidade aqui na capital. Tecnologia de primeira!”

Tecnologia de primeira! Matt falou o mesmo sobre as armas com as quais nós treinamos.

Aquilo me deixava mais incomodada ainda, mas eu apenas sorri.

“Isso é fascinante!”

Lucca sorri e dá inicio a sua entrevista. Ele pergunta coisas como: O que eu estou achando da Capital? Como foi a sensação de ser escolhida para os Jogos? Há alguma comida que eu gostei muito? O que eu mais gostava de fazer?

Eu respondia da melhor maneira que podia, e Lucca acenava quando estava correta a minha elaboração. Algumas vezes ele opinou, mas raramente.

Um momento ele perguntou sobre a minha incrível nota. Em outro ele perguntou sobre minha família. Eu tinha muitos amigos?

Era estranho compartilhar minha vida com outras pessoas. Pessoas que não chorariam com a minha morte.

Mais estranho ainda falar sobre meu pai, a única família que me restou.

Então Lucca chegou a uma pergunta que me deixou com a garganta presa.

“E seu namorado? Você é uma linda mulher Scarllet. Você devia ter muitos garotos querendo conquistar sua atenção. Algum em especial?”

Eu comecei a responder que não, que eu não tinha namorado. Mas então a minha voz falhou.

Eu tentei de novo, mas então lagrimas começam a se formar em meus olhos e escorrem por meu rosto. Lucca desliga todo o simulador e segura as minha mãos.

“Hey... o que aconteceu?”

Eu tentos segurar o coro, mas parece que tudo estava voltando para mim agora.

Lucca me puxa para perto dele e eu enterro minha cabeça em seu ombro. Quando finalmente meus soluços diminuem, ele me força a olhar para ele.

“Havia alguém em especial Scarllet? Você tinha um namorado?”

Eu aceno. “Ele era meu melhor amigo, e nós namoramos por um tempo. Eu nuca gostei dele da mesma forma. Digo, eu nunca amei ele desse modo. Eu ia terminar com ele depois da colheita. Mas eu não tive a oportunidade. Ele vai sofrer quando eu morrer. Ele nunca vai se curar completamente. E eu nunca vou poder dizer a ele para me esquecer e seguir em frente!”

Lucca me olha por um tempo. Eu posso ver que ele esta pensando no que falar.

“Há outra pessoa? Alguém que você possa ter sentido algo a mais? Mais do que sentia com esse amigo?”

“Não, eu acho que-“ Oh Deus! Havia! Havia alguém, mas eu nem ao menos sabia se era verdade.

Diabos, porque esse nome não parava de aparecer na minha mente?

“Não! Não há ninguém!”

“Ok, então faremos o seguinte: se Caesar perguntar por um namorado você faz o que você gostaria de ter feito antes, mas não teve oportunidade.”

“O que eu gostaria de ter feito?”

Lucca respira fundo e desvia o olhar.“Você quebra o coração dele... e manda ele seguir em frente!”