Nunca Fui Beijada escrita por Allyyyne


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/219191/chapter/1

Nunca fui beijada

O calendário avisa-me que hoje é o pior dia da minha vida. Meu Aniversário.

Não posso acreditar que tenho 18 anos. Juliette, minha melhor amiga, me dá um “pedala Robinho” todas as vezes que eu dizia que quando ela fosse até meu prédio me desejar muitos anos de vida e forrar o estômago com o melhor pão de queijo da zona sul, preparado por Dona Sarah, minha mãe, eu estaria morta. Passei um ano inteiro planejando a minha morte. Pensando na cara de horror de mamãe e de Juliette cantando aquela música de terrível de parabéns da Xuxa como todos os anos ambas faziam. A morte me pouparia isso também. Quando eu chegasse ao céu e Deus me perguntasse o que eu estava fazendo ali, eu diria que não aguentava mais minha mãe e minha melhor amiga cantando “Parabéns/hoje é seu dia/que dia mais feliz”, contudo Deus era sempre Deus e ele saberia que eu estava blefando.

Mas estou viva. Acordo ao som daquela música e fito o teto cheio de estrelas. Eu tinha esperanças que aos 18 já teria beijado algum garoto legal, sabe. Como assim? Isso não entra na minha mente como uma garota como eu nunca beijou na vida?! Não sou feia. Não sou burra. Sou até divertida. Qual.é.o.meu. problema? Já tentei de tudo conversar com o padre, com o psicólogo, pela fé, já tentei deixar isso pra lá, já tentei pensar: “Deus não vai fazer isso comigo”.  Até mesmo quando fui dormir ontem e ainda tinha 17 anos, tinha esperanças de que algum anjo viesse e me fizesse essa caridade. Ontem eu tinha 17, era uma adolescente. Hoje tenho 18, isso muda tudo.

“Parabéns, Sofia. Já é uma mulher” minha mãe solta. Uma mulher BV, estou em extinção!

“Sofiaaaaaaaa, Feliz Aniversário. Duas festas. Aniversário e São João...”.

“Bom, meninas vou deixa-las a sós” mamãe a interrompe.

“Sério, Sofia, pelo menos finge que está feliz. Quantas pessoas fazem 18 anos hoje em dia? Eu no seu lugar até emagreceria”.

Juliette era minha melhor amiga desde a infância. Ela era mais nova que eu só um ano, mas fazia questão de deixar claro que eu era a ‘velha’ de nós duas. Para os padrões estéticos Juliette era gordinha. Não era do tipo “Adele” era mais. Bem mais. Mas July conseguia todos os caras que queria, e já quis compartilhar uns comigo, mas eu nunca aceitei.

“Com toda a honestidade você precisa de agito. Hoje vai ter arraial na praça..”

Antes que ela pudesse concluir disse que não iria.

“-Veremos se não vai. Ás 7 horas te pego”.

Pensei a tarde toda pensando nessa situação. Não queria beijar apenas pelo resultado.  Eu queria amar. Sentir meu corpo todo palpitar só de saber que iria me encontrar com ele. Eu sabia que eu não teria argumentos para dissuadir Juliette. Ela sempre vence.

A praça outrora abandonada estava agora com balões, bandeirinhas, músicas juninas e muitas barracas de comida. Juliette começou o ataque. Ás vezes tinha vontade de coloca-la numa camisa de força.

“Vem cá, Sofia” ela me puxou quase arrancando meu braço.

“Oi, gato. Vem sempre aqui?” July joga todo o seu charme.

Detesto quando July chama os garotos de ‘gato’. Isso é péssimo.

“Se eu soubesse que aqui teria tantas garotas bonitas, teria vindo antes.”

“Qual o seu signo?” July pergunta.

O garoto e eu franzimos o cenho sem entender nada.

“É... Câncer e o seu?” Retóricamente ele pergunta.

“E quanto você calça?” Agora Juliette não tem mais vergonha.

“38” o garoto riu.

“A gente se vê por aí” July o despacha.

Além de July me fazer passar vergonha diariamente, ela, agora se interessava pelos instrumentos dos garotos.

“Qual é Sofia. Não sou igual a você. Não espero pelo príncipe encantado.”

Dei de ombros. Havia uma barraca lá atrás que estava me chamando, não tirava os olhos de lá. – “Barraca do Beijo”

Por R$1,00 eu poderia tirar meu BV. Eu pagaria por algo que eu teria de graça. Eu teria? Quando?

Logo eu estaria lá. A fila da garota estava enorme. Já a do garoto tinha apenas três meninas. Ele deve ser feio ou ter bafo. A notícia já se espalhou e ninguém quer beijá-lo quase desisto de tentar, mas fui em frente. Olhei por cima dos ombros das outras, porém não deu direito para vê-lo. A próxima garota o chama pelo nome. Conrado.

Conrado era nome de garoto bonito. Ele era bonito

Ele não parecia estar contente de estar ali, na verdade, ele parecia estar odiando! Ele não sorria para nenhuma. Chegou a minha vez. Chegou a minha vez. O garoto que sem saber ia tirar meu Boca Virgem sorriu pela 1ª vez. Sorriu para mim.

Os batimentos cardíacos aumentaram, borboletas quicavam no meu estômago, minhas mãos estavam geladas e eu pensava: “Não vou conseguir”.

“Qual o seu nome?” Conrado com sua voz grave disse. Ele deveria ter uns 20 anos

“É... Sofia...” gaguejei.

“Lindo nome” elogia-me

Eu fico sem palavras com tamanha gentileza de Conrado. A mão dele passeia entre minhas têmporas, seus dedos longos emaranham-se nos meus cabelos e ele me puxa para mais perto e me beija. As luzes da praça apagam, um refletor está sobre nós, ouço “Love story”. Mas tudo desaparece tudo cessa.

“Próxima” Conrado depois de ser o próprio Michael Moscovitz me esnoba

Próxima?!

Vou saindo desolada e então ouço aquela voz me chamar – “Sofia, Me espere”.

Ele me chamou. Ele me chamou. “Você está com alguém?” pergunta-me.

“Como... assim?” ele queria perguntar se estava desacompanhada ou se estava namorando?!

“Estou perguntando se está sozinha”

“Sim! Estou” eu mais que depressa respondi. “Onde você mora?” ele curiosamente pergunta.

“Na rua de trás” eu digo. “Que ótimo. Eu também. Somos vizinhos. Quer companhia? Sugiro que aceite, pois, está tarde” ele oferece-me ajuda e a mão.

Aquele silêncio estava me deixando mais nervosa. Eu queria puxar conversa, mas eu nunca conseguia me socializar com garotos bonitos gentis. Ele olhava para o infinito, e seu rosto não tinha nenhuma expressão.

“Aqui é a minha casa” eu anunciei

“Bom, está entregue. Você parece que não sai muito né?”

“é, eu... sou mais caseira”.

“Quer sair comigo amanhã á noite?”

Não acredito. Hoje acordei sem nenhuma esperança de tirar meu BV no meu aniversário. Não só tirei como o carinha quis me acompanhar até em casa e pra completar está me convidando para sair.

“Sim, eu posso...”.

Ontem eu teria dito “Tenho que falar com os meus pais”, mas agora eu tenho 18 anos e faço o que quiser. Estou começando a gostar.

“Ok, te pego ás 9 da noite. Você vai gostar. Vou te mostrar minhas amigas, vai se dar bem com elas.” Enquanto ele concluindo a frase ia se afastando.

“Ah, meu nome é Conrado e gostei de te conhecer” Ele gritou.

Meu nome é Sofia e estou apaixonada por você.

Eu estava me sentindo um anjo voando por entre as nuvens. Ai Meu Deusssssssssss. Mas espere, eu não vim com July. Eu larguei minha best lá. Ela vai me matar! Já estou até vendo: “Na primeira oportunidade que você tem com um garoto você me abandona! Relações cortadas”. OMG! NÃO SOU NADA SEM JULY

De repente, meu telefone vibra insistentemente. Eu poderia ouvir o grito de July.

“Sofiaaaa, amiga. Sei que quer me matar. É que eu encontrei uma garoto divo e. não posso contar por que meus pais estão perto. Sofia? Sofiiia?”

Eu não ia contar. Já que ela tinha me abandonado e não eu.

“Sem problemas, July. Tenho que te contar uma coisa. Eu beijei. Bom, foi 1,00, mas foi bom”.

Quase desligo o telefone. De medo. Juliette ficou louca. Literalmente.

“Te deixo uns minutinhos sozinha e olha o que você apronta! Bom, Sofis já estava na hora! Parabéns. Tem gosto de quê?”

“Não tem gosto de maria mole” July riu enlouquecidamente com este meu comentário.

Ás nove em ponto ele passou na minha casa e meu coração descompassou. “Oi... Você está linda. Vai arrasar. Vamos?”

Vai arrasar?! Que conversa é essa? Era pra ele dizer que eu estava linda e só

“Sofia, olha, acho que não é o tipo de garota que costumo ser amigo. Por isso não se assuste, logo se acostuma” ele preveniu-me.

“Não se preocupe. Tenho 18 anos”.

Ele assentiu. Que lugar era este que ele estava me levando? Eu não estava vendo aquilo, não, eu estava louca. Completamente.

Nós estávamos indo a uma boate gay.

Ele era tão cabeça aberta. *suspiro*

“Vou te mostrar meu bofe”

O.. QUÊ???????”

O quê? Bofe? Ele era... gay? Não... Não... NÃAAAAAAO

“Você nunca percebeu? Eu não curto garotas. Se gostasse namorava fácil com você. Eu sou gay algum problema?

“Não. Nenhum. Sempre quis ter um amigo gay” eu menti.

Enquanto atravessávamos a rua, o rosto de Conrado se desfez em raiva e choro. Eu quase perguntei o que estava acontecendo quando vi. O bofe dele estava se pegando com outro ou... Outra.

“Vamos, Sofia. Não vou sujar minhas mãos com esse idiota. Vamos para minha casa.”

Todo o caminho foi do mais silêncio. Um silêncio diferente, um silêncio sofrido. O quarto dele era repleto de pôsteres da Madonna, Lady Gaga e Elton John. Eu podia ver que Conrado estava sofrendo por amor e eu o amava. Acabei de conhecê-lo, isso é loucura, eu sei. Ele estava ouvindo “Back to Black” da Amy.

“Você volta pra ela e eu..volto para o luto”. No caso dele, “Você volta para ele”

“Conrado, sei que nos conhecemos há dois dias, mas você é tão fof... é tão legal e preciso dizer. Ele não te merece. Se ouvir músicas deprê vai te fazer bem, então ouça. Faça o que tiver vontade. Mas não venda sua alma para o diabo por causa dele” ele se assustou com a conclusão da frase. Ele agradeceu e disse que ia passar e como sempre preocupado disse que estava tarde.

“Você precisa ir. Sua família está preocupada. Vamos, eu te levo”

Chegando ao portão eu o abracei e disse ao pé de seu ouvido que tudo ia ficar bem, ele assentiu sofrendo e beijou meu rosto. Senti um comichão.

Entrei e vi que July estava na janela do meu quarto espiando com um sorriso malicioso. July quase me derruba escadas a baixo.

“Pode me contar... Vai me contando”.

“Ele é gay” eu dei a triste notícia.

Juliette fez uma cara de espanto que eu nunca vi e depois soltou um gargalhada e disse: “E que comecem os jogos vorazes”.

Existe alguém mais sortuda que eu?! Quem precisa de trevo de quatro folhas quando se tem sorte?!

Fiquei duas semanas sem ver Conrado, ele estava me evitando. Eu não fiz nada de errado. Talvez ele tenha de reconciliado com seu namorado e cansou de garotas. Cansou de mim.

{...}

Ainda estou sofrendo pelo que aquele monstro me fez. Enfrentamos família, sociedade juntos e agora ele me trai. Mas apesar de tudo, a melhor coisa que me aconteceu foi ter conhecido Sofia. Ela é linda, meiga, e não sei por que ela não namora. Ela é perfeita. E é isso que está me matando. Comecei a olhar Sofia com outros olhos e isso é estranho. Nunca gostei de meninas, nunca.

O ciúme me dilacera quando a vejo conversar com outro garoto. Por isso resolvi afastar-me dela, sei que ela está triste. Seus olhos me perguntam o que está acontecendo e eu quero responder. Quero. Quero dizer a ela que estou me apaixonando. Mas não posso. Não posso.

Está tudo pronto, a passagem está comprada. A casa da minha vó será a única saída. Lá, eu poderei esquecê-la.

Há tempos não vejo e nem ouço falar de Conrado. Resolvo ir até lá. A mãe de Conrado me recebe bem mais está com traços tristes.

“Conrado está doente?” pergunto.

“Não. Sofia.... ele... foi embora”.

Não. Ele não pôde ter ido embora. Não... eu choraria em poucos segundos e não queria que a mãe dele olhasse. Não olhei para trás.

Entrei em casa em prantos e não dei chance de minha mãe fazer o interrogatório. Entrei em meu quarto que foi palco de tantas risadas minhas e dele. Bati a porta e deslizei até chão as mãos sobre a testa. Não fui á escola, não saia para comer. Estava vegetando. Estava com pena dos meus pais, eles estavam realmente preocupados, mas eu estava com mais pena de mim.

July ficou do meu lado o tempo todo, durante meses. Só corroborando que era mesmo minha melhor amiga. Ela não disse para eu parar de ser boba ou sair daquela cama. Eu sabia o que era amor, ela não.

Decido que quero ver a luz do sol e vou até a janela; fito o lado de cima da rua. O lado da rua que ele morava. Eu não suportava pronunciar o nome dele.

Vi que um garoto estava correndo desesperadamente rua abaixo. Apertei os olhos para ver quem era. Era ele. Era Conrado. Ele voltou. Voltou pra mim.

Conrado estava chorando, o rosto estava vermelho e suado. Ele parou em frente ao portão e me olhou lá de baixo. Ela estava cansado. Ele correu em disparada para dentro. Eu também desci as escadas na velocidade luz. Chegamos ao mesmo tempo na porta.

“Sofia...” ele ofegou.

“Conrado... eu...”

“Eu te amo” ele me disse

Ele disse que me ama. Fiquei em choque.

“Não fala nada. Só feche os olhos”.

Ele quase deslocou minha vertebra quando me puxou para junto dele e me deu o melhor beijo da zona sul. Eu sabia que tínhamos plateia. Mas e daí?!

Ele se afastou com medo de eu não ter gostado.

Eu também estava ofegante. “Eu amo você. Amo desde primeiro dia em que vi você”.

E nos beijamos de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dedicado a minha BF Millena Portela por que ela me dá uma injeção de ãnimo como ninguém!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nunca Fui Beijada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.