Quando cheguei em casa eu me deitei na cama e nem quis almoçar. Só ficava repetindo aquela cena em minha memória a todo momento, lembrando do Cê perto de mim, com aquela voz falando baixinho no meu ouvido... e meu corpo se arrepiando... e as malditas borboletas pulando carnaval no meu estomago...

Na. Isa. Ele gosta é da Monica, e ela dele. Você não deve ter esses sentimentos pelo Cebola. Eu não posso interferir nisso. Mas por que ele me faz sentir essas coisas? Com o Cascão não é assim. Eu preciso esquecer o que estou sentindo. Mas por que o Cebola fala comigo daquele jeito? Como se estivesse afim de mim? Ai que ódio.

” ...aquelas garotas são um saco, e quando querem, conseguem magoar feio.” Essa foi umas das primeiras frases que o Cê disse para mim. Elas querem acabar comigo, me ver pra baixo e sozinha. Mas Por quê? Depois de ficar trancada o dia inteiro no quarto chorando eu fui á cozinha comer qualquer coisa e vi minha mãe séria, e percebi que ela estava triste.

- Mãe, o que você tem? Tá triste.

- Eu sei que está acontecendo algo Isinha. Eu sou sua mãe e te conheço melhor do que ninguém.

- Ai mãe. – e corri para abraçá-la. Realmente minha mãe sabe tudo sobre mim. Eu chorei muito nos braços dela e depois que me acalmei, ela me preparou um chocolate quente. Contei tudo o que tinha acontecido, mas eu não quis dizer a ela que eu estava tendo sentimentos pelo Cebola.

- Filha você tem que conversar com a Monica. Ela acha que vocês a traíram. Mesmo que ela seja orgulhosa ela sente algo pelo Cebola e ela está tentando descobrir o que é. E ele,como você disse, é muito desligado para perceber isso. Mas espere alguns dias para ela se acalmar e colocar a cabeça no lugar, e você também. Agora quanto àquelas garotas que fizeram isso, não quero que você apronte nenhuma confusão com elas. Apenas as ignore e mostre que elas não conseguiram te atingir nem te deixar triste desse jeito.

- Obrigada mãe, a senhora é o máximo, sempre dando os melhores conselhos.

Nos dias que se seguiram, eu tentava me mostrar forte e fingir que não estava triste pelas fofocas. Meus amigos se afastaram de mim, mas a Magali tentava sempre me incluir na turma. Mesmo sabendo do esforço dela, ninguém vinha conversar comigo por conta própria, apenas quando a Magá insistia.

Depois de uma semana sendo ignorada por quase todos, eu estava indo ao anfiteatro ler um livro, já que era o único lugar na escola em que ninguém me incomodava nem lançava olhares de recriminação. Quando eu li nele sobre a amizade dos personagens e que nada destruía aquilo que eles tinham, eu comecei a chorar.

- Por que isso tem que acontecer comigo? - Disse baixinho para mim mesma.

-Inveja, um dos sete pecados capitais. - disse um garoto, mas não conseguia enxergá-lo.

- Quem disse isso?

- Sou eu, Luca. Por que ultimamente você vem se escondendo aqui? - Luca era o garoto que me defendeu no meu primeiro dia de aula, ele usa cadeira de rodas.

- Aqui é o único lugar no colégio inteiro em que eu não recebo olhares de reprovação das pessoas. Mas o que você quis dizer com isso de inveja?

- A Carminha e suas amigas. Elas morrem de inveja por você ser tão popular na sala.

- Há há há há há há. Ai Luca, você deveria investir na carreira de comediante. Quem sabe até fica famoso fazendo stand up comedy.

- É sério, Isa. Eu escutei elas falando sobre acabar com você. Às vezes as pessoas não reparam em mim por que ando em cadeira de rodas, e acabam dizendo coisas que você nunca iria acreditar.

- Oh meu Deus! Luca. Eu tinha esquecido completamente do Cebola. Ele tinha descoberto que foram o “trio das belezas” que espalhou essas fofocas sobre a gente. Inveja de mim... elas são lindas, magras e poderosas enquanto eu...

- Você pode ser gordinha, do interior e comum Isa, mas é muito mais interessante do que todas elas juntas. Eu... eu acho você muito divertida, espontânea, inteligente e uma ótima cozinheira diga-se de passagem. – ele disse isso por causa dos doces que eu levava e que todos acabavam filando.

- Luca, o... obrigada. Só você e meu ex-namorado acham isso de mim. Eu... eu tenho que procurar o Cebola. Ele disse que ia conversar comigo depois que a Monica nos viu aqui. Ela achou que a gente estava se beijando. – eu respondi, quando vi a cara de interrogação do Luca.

- Ele tá treinando basquete com o Cascão. Daqui a pouco você vai. Por que não me conta como está se sentindo? – percebi que o Luca é um fofo e queria conversar comigo, diferente dos meus outros colegas. Então me sentei e conversamos muito sobre as fofocas, como me sentia e o que eu pretendia fazer para consertar isso. Quando eu conversava com ele, sentia uma paz dentro de mim.

- Nossa Luca já se passou uma hora. O Cê já deve ter ido pra casa. Por que não vamos embora? Acho que vou passar lá depois do almoço.

- Tudo bem. Mas Isa você pode contar comigo pra qualquer coisa tá legal?

- Claro que sim. Agora vamos por que se não o inspetor tranca a gente aqui dentro.

- Não ia ser má idéia...- escutei o Luca falando para si mesmo. Quando ele disse isso me senti envergonhada e viajando... será que ele está afim de mim?

* Na casa do Cebola

- Oi Maria, o Cê tá aí? – perguntei para a irmãzinha do Cebola, muito linda ela.

- Oi Isa, ele tá no quarto, pode entrar lá.

- Cebola, eu esqueci completamente do plano que...

Quando eu entrei no quarto ele estava somente de cueca! Eu quase morri de tanta vergonha. Saí e fechei a porta correndo, me encostando nela. Eu não sabia o que pensar... ver meu melhor amigo trocando de roupa, e ainda por cima só de cueca. Preta. Boxe. Que desenha o corpo maravilhoso dele e sua bunda e... Não acredito que estou pensando nisso. Isadora, ele é seu amigo. Pare de pensar nele dessa forma. Imagina que ele tava usando uma sunga e pronto. Roupas de banho são iguais roupa íntima certo? Roupa de banho... ele todo molhado...

- Isa, que susto você me deu, ainda bem que eu já tinha vestido a cueca hehehehehehehe

- P.. pois é... desculpa Cê. Eu não sabia. A Maria falou que você estava no quarto, mas não me disse que tinha acabado de tomar banho.

- Eu tava treinando com o Cas... é claro que depois eu tinha que tomar banho, mas você não tem culpa. Me fala ai o que queria conversar comigo?

- Você me disse que tinha um plano infalível pra Carminha e pras meninas.

- Eu ainda estou planejando. Meu docinho me desculpe por aquele dia. Eu saí com o Cascão e nem falei mais nada com você. A Monica ficou uma fera. Eu tentei conversar com ela, mas você conhece a Monica. Não sei como ela pode pensar que estamos namorando se ela sabe muito bem que...

- Que você gosta dela! Eu sei. E finalmente vejo que você também sabe. – quando disse isso meus olhos se encheram de lagrimas. Ele me faz sentir coisas como nunca nenhum outro garoto fez, até mesmo meu antigo namorado. Mas não tenho coragem de dizer nada.

- Isa, você ainda tá aí? Parece que se perdeu no mundo do faz de conta ou algo do tipo.

- Foi mal Cê.

- Eu gosto da Monica como amiga Isa, já te disse isso. – o Cebola disse cruzando os braços e emburrado.

- Tá bom! Mas me fala o que você planejou até agora.

O cebola me disse tudo até o momento e ficamos a tarde toda planejando o resto. Aquelas três iriam pagar pelo que fizeram comigo, e ainda por cima magoar os meus amigos.

Depois de alguns dias eu voltei a conversar com o Cas e a Maria Cascuda. Expliquei tudo o que aconteceu e ela perdoou o Cascão e a mim. Contei tudo para a Magali também, e ela prometeu me ajudar a convencer a Monica da verdade. Contei a eles também o plano que o Cebola e eu criamos para desmascarar aquelas fofoqueiras.

A Monica me perdoou pelo mal entendido no anfiteatro e ficou louca quando soube que foram aquelas metidas que fizeram isso.

- Isa, nós vamos acabar com a raça delas. – disse, esmurrando a mesa.

- Calma Mô, se tudo der certo elas vão me deixar em paz. Mas sem violência, não quero ser expulsa do colégio. Hehehehehehe

- Então está combinado.