Tinha me esquecido completamente do meu aniversario! Eu iria fazer 17 anos e com toda essa confusão com o Cê eu nem me lembrava que já estávamos no meio de setembro. Fui com as meninas fazer compras no shopping e comprei varias coisas, um sapato lindo, uma saia e uma blusa, um vestido e uma bolsa. Cheguei em casa morta e só queria saber da minha cama.

Meu aniversario era nesse fim de semana mas eu não queria fazer nada, então meus pais me deixaram ficar na casa da Marina assistindo filmes com as meninas e comendo pipoca, brigadeiro e outras porcariazinhas. No fim do dia, elas me fizeram vestir uma das roupas novas que eu havia comprado. Uma saia rodada e uma blusa de renda pretas, com um sapato também preto e uma tiara com plumas. Elas também se arrumaram e queriam me levar pra uma festa, mesmo eu não querendo. Só a Magá ficou sem salto, já que ela tava grávida de uns seis meses.

Fomos á uma boate mais jovem, que não vendiam bebida alcoólica, e curtimos muito. Dançamos e conversamos com muitos garotos, paqueramos, rimos e nos divertimos muito, como há muito tempo não fazíamos esses programas só pra garotas. Estranhamente vários colegas nossos estavam lá, como o Cascão, o Titi, Franja, Jeremias, Nimbus, Xaveco...

– O que os meninos da nossa turma estão fazendo aqui Marina?

– Não sei, Isa. Devem ter combinado de sair no fim de semana como nós.

– O que voces estão aprontando?

– Nada. Relaxa e se divirta amiga.

Eu sabia que elas estavam aprontando alguma, mas continuei dançando. De repente as luzes da boate sumiram e só permanecia a musica. Eu não sabia o que estava acontecendo, não conseguia escutar as meninas nem ver ninguém e de repente e eu fui puxada pra algum lugar por um cara alto e forte, e comecei a gritar, pois tinha certeza de que iria ser seqüestrada.

Quando percebi que ninguém me ajudaria a me soltar desse cara maluco, me desesperei e tentava bater nele, na esperança de fugir. O cara me segurava forte e prendeu meus braços atrás das minhas costas e continuava caminhando me arrastando pra algum lugar. Eu já não tinha forças pra lutar, e comecei a chorar com medo. Eu iria ser devolvida depois do resgate? Ou eu seria levada como escrava? Não veria meus pais, amigos, ninguém, nem o Cebola. Me lembrava do seu rosto, seu cabelo, seu sorriso, até seu cheiro.

– Cebolinha... eu não quero ficar longe de voce. Me.... salva.

De repente o cara me solta sem mais nem menos e a musica para de tocar. Eu abro meus olhos e vejo uma luz forte, não conseguia enxergar nada, até minhas vistas se acostumarem com o que eu via. Uma mesa com um bolo enorme de três andares e todos os meus amigos e outras pessoas que estavam na boate olhando para mim e sorrindo. Até meus pais estavam presentes. Era uma festa surpresa.

– C... como assim? O que está acontecendo?

– Feliz aniversário Isa! – foi o coro que todos diziam pra mim.

– Obrigada pessoal. Monica, preciso ir ao banheiro vem comigo.

– Mas o que – ela não pode terminar a frase pois eu já estava arrastando a coitada pra porta do banheiro feminino.

– O que aconteceu aqui?

– Voce gostou amiga? A Magá teve a idéia. Juntamos todos da turma e decidimos te fazer uma festinha surpresa.

– Em uma boate? Isso deve ter ficado super caro.

– preocupa não moça, o Franja vive consertando o som e a iluminação daqui. Por isso eles fizeram o preço baixo pra gente.

– Mas e o bolo? Não podemos trazer isso pra uma boate.

– Na verdade foi só pra cantar os parabéns. Depois seus pais vão levar pra casa pra gente comer amanha.

– voces são doidos heim?

– Monica, traz a Isa pra fora, temos que cantar os parabéns logo. As outras pessoas da boate estão doidas achando que vão ganhar bolo também.

– Relaxa Magá, voce vai ficar com um andar só pra voce, como combinado. Vamos. – ela me puxou pra fora do banheiro e o pessoal cantou os parabéns. Sabe, não me senti justa com o resto do pessoal da boate e acabei dividindo o bolo ( para o desespero da Magali) mas foi ótimo a festa surpresa. Eu prometi fazer um outro bolo só pra ela no fim de semana seguinte.

Sentia falta do DC, mas Nimbus me disse que ele estava doente. No fim curti muito minha festinha surpresa e fiz amizade com o pessoal da boate e os outros que estavam lá. Cebola estava sempre distante, e andava sempre com os garotos. Me diverti muito na festa e fui embora com a Monica umas quatro da manha. Quando estava me deitando meu celular recebe uma mensagem:

“Isa, se voce puder vir na porta da sua casa, tenho uma surpresa pra voce.”

Era do Cebola. O que ele queria comigo essa hora da manha? Saí silenciosamente e abri a porta. Ele estava no portão com uma cara de cachorro sem dono (aquela carinha que eu amo).

– Cê o que faz aqui?

– É seu aniversário não? Parabéns. – ele me disse, se jogando em cima de mim e me dando aquele abraço que eu sentia tanta falta. Ele claramente havia bebido algo, pois estava mais solto e tinha um cheiro forte na sua camisa.

– O...obrigada.

– Isso é pra voce. – ele estendeu as mãos e tinha uma caixa pequena caixa. Eu a peguei e abri: havia uma corrente de prata com um pingente pequeno, um cupcake.

– Que lindo! Mas não precisava me dar nada Cebolinha.

– Claro que precisava. É seu aniversário.

– Por que não me deu o presente na boate?

– Por que eu queria te falar uma coisa.

– Fala, to esperando.

– Isadora, eu estou ... precisando te dizer isso... faz muito tempo que...

– Cê, tá se sentindo mal?

– O que? É claro que eu estou... BLURG. – eu não acreditei quando vi Cebola vomitando no meu jardim. Ele COM CERTEZA tinha bebido algo a mais naquela noite.

– Voce precisa de um café. E de um bom banho e de comer algo salgado. Não acredito que vomitou nas plantas da minha mãe.

– Isa, desculpa eu...

– Cebola amanha a gente conversa. Vai pra casa e faz isso que e te disse.

– Tudo bem. Mas me fala voce gostou do presente?

– Amei. É lindo. Agora se cuida.

– Espera. O Cas falou que o Luca queria voltar com voce.

– Sim, mas eu não aceitei. Vou trazer um copo d’água pra voce. – entrei bem quietinha e peguei uma jarra e uma torta que minha mãe tinha feito mais cedo. Levei pra ele poder comer algo, já que ele havia sentado na varanda e parecia fraco.

– Qual foi à reação dele quando voce recusou?

– Na verdade, ele não sabe que eu não quero mais ficar com ele. Agora come logo.

– Não quero.

Se voce não comer vai passar mal de novo.

– Obrigada, meu docinho. Só voce pra cuidar de mim.

– Também de onde foi a idéia de beber álcool?

– Era whisky.

– E isso não é muito pior? Voce é doido. Mas tá chega de broncas. Vai logo antes que meus pais acordem.

– Tá bom. Beijo. – ele me abraçou e me deu um beijo no rosto, eu sabia que ele estava bêbado, mas gostei do gesto e da intenção de me dar um presente tão fofo. Quando ele saiu eu vi um pedaço de papel escrito:

E mais uma vez você se foi
Mais uma vez o destino nos afastou
eu temo o medo e as atitudes não pensadas tiraram você de mim
o destino a vida me afastou de você
Mesmo eu te querendo estar cada vez mais perto
vejo você se afastando mais e mais
Sem me deixar dizer o quanto te quero sinto sua falta
o quanto os meus dias são escuros sem o seu cheiro sorriso
sem sua alegria de viver
Espero que um dia eu possa ver olhar em seus olhos e dizer sinto sua falta
Espero que nesse dia possamos ficar juntos como eu sempre quis sonhei.

Era o manuscrito do bilhete que eu tinha recebido. Que lindo ele sempre carregava com ele. Fui dormir relendo cada rabisco de seu bilhete pra mim.