- E ai “miss light” vai comer tudo isso? Não é a toa que você ta desse jeito, light e esbelta. Há há há há há cuidado com as calorias heim?!  – escuto a Carminha dizendo isso , quando me vejo sentada em uma cadeira num palanque desses improvisados e na minha frente há uma mesa com uma tigela enorme de sorvete de morango com maracujá. E de repente eu vejo uma multidão na minha frente com sorrisos maliciosos gritando:

- Miss light, miss light, miss light!!!

- Então, vai comer ou amarelar? Há há há há há há. Esqueceu sua “calda de leite condensado”... há há há há há há há há há.

Acordei com o meu coração palpitando rápido e assustada. Era apenas um pesadelo mas prometi a mim mesma não tomar mais sorvete de morango com maracujá até o próximo fim de semana, porque já era segunda e minhas aulas começavam. Me olhei no espelho e me senti triste porque a Carminha tava certa. Eu sou gorda! Vivo comendo e nunca me exercito, a não ser dançar no meu quarto como louca. E isso me deixa triste porque sofro muito preconceito por causa disso.

Me levantei, tomei um banho e esqueci desse pesadelo quando vi a mesa do café da manhã lindo que minha mãe havia preparado. Bolo de cenoura com cobertura de chocolate, pão de queijo quentinho e café com leite. Além de uma cesta de frutas em que peguei algumas maçãs para o lanche da escola. Não gosto de lanchar na escola aqueles salgados gordurosos, mesmo que eu goste muito. Quando saía de casa me deparei com a Magali e a Monica me esperando. Como elas são fofas.

Andamos pouco até encontrarmos com o Cebola e outro garoto, moreno e alto, com o corpo atlético e muito moderno.

- E ai “senhor segurança noturna” tudo bem? – todos estranharam o apelido, que só o Cebola e eu sabíamos.

- Tudo bem Isa, senhora “ não me diga que eu não te alertei”.

-  E eu estou certa porque...

- Nada não. – disse o Cebola fugindo do assunto.

- Alguém pode me explicar essa historia de “ senhor e senhora não sei o que”? - perguntou a Monica, impaciente. - Eu estou curiosa.

- É que quando vocês duas saíram e eu fiquei na pracinha e ...

- E... eu conheci ela e ... aí eu a levei pla casa e.. convelsamos e eu... -  o Cebola me interrompeu muito sem graça, e eu percebi que ele não queria que a Monica soubesse que ele tinha me agradecido por tê-la defendido.

- Nós nos conhecemos de noite e ele me levou em casa e a gente ficou discutindo se a noite é segura para homens e não para mulheres. Eu disse a ele que era machismo e agora quero saber se aconteceu algo de “perigoso” quando ele foi embora, já que ele ta fugindo do assunto.

- Bem, eu... – de repente o garoto moreno começou a falar, sem deixar o Cebola terminar a frase – Ah, ele deve ta com vergonha de dizer que o cachorro do vizinho saiu correndo atrás dele tentando morder sua...

- Ok Cascão, nós já entendemos... hi hi hi hi hi -  Disse a Magali, tentando não rir da situação.

- Bom, vocês fizeram esse mistério todo por causa de nada e perdemos tempo á toa. Vamos pra aula logo antes que o inspetor dê bronca por chegarmos atrasados. – disse a Monica irritada, e eu percebi que ela olhava pra mim de um jeito diferente, com desconfiança.

* Na aula

- Bom dia a todos, para que não me conhece eu sou o professor Licurgo e hoje parece que temos uma nova integrante à turma. Garota se apresente a todos por favor.

- Olá a todos, meu nome é Isadora mas prefiro que me chamem de Isa, me mudei de Minas tem umas duas semanas e estou adorando viver nesse bairro lindo e tranqüilo, que me lembra muito minha cidade. Eu já...

- Ai, não acredito que a “fofinha” veio justo pra nossa sala! – Disse a garota de cabelos lisos e pretos, amiga da Carminha.

- Maria, deixa a garota se apresentar. – repreendeu um garoto de cabelos loiros e lindo em uma cadeira de rodas. - quando você chegou à escola ninguém te interrompeu.

- Mas é claro gato, a Maria Melo não é como a Isa. – falou a ruiva de maria chiquinha.

- A é Denise, e como a Isa é? - Monica entrando na conversa com aquele tom de voz não era boa coisa.

- Chega todos vocês, eu não quero saber como a Isa é ou deixa de ser, contanto que ela tire boas notas na minha aula e não atrapalhe já está ótimo.

- Vixi, o professor começou com seus ataques de loucura. – escutei alguém cochichando.

- E eu não sou louco.

 Eu estava cansada daquelas aulas porque eram revisão de tudo o que tinha aprendido no ano anterior então ficávamos a Monica, Magali, Marina e Cascuda conversando através de bilhetinhos durante toda a aula.

Na saída do colégio ficamos conversando um pouco, mas a Monica disse que tinha que comprar umas coisas para a mãe dela e o Cebola e o Cascão foram de bike, então sobramos só a Magali e eu. Aproveitei a chance para tirar uma dúvida com ela.

- Magali, você acha que a Monica ta chateada comigo?

- Por que está me perguntando isso? É claro que não Isa.

- Quando entramos no colégio ela ficou séria e durante todo dia ela tá assim quando tento conversar com ela, você acha que e ciúmes do Cebola?

- O quê? Há há há há há há ... Que piada Isa. Eles são só amigos.

- Vai me dizer que não rola um clima entre eles?! Eu vi quando a Monica ficou encarando ele na sorveteria e o Cebola veio me agradecer por ter defendido ela da Carminha, além dos olhos deles brilharem quando um escuta o nome do outro. E o nervosismo do Cebola é meio difícil de se esconder. He He He He He He.

- Como assim o Cebola veio te agradecer de ter defendido a Monica da Carminha naquele dia?

- Ops... não era pra eu ter contado. Olha Magali eu percebi que ele não queria que eu contasse pra vocês como nos conhecemos porque ele ficou sem jeito hoje de manhã, acho que não queria que soubessem que ele gostou de ver a Monica sendo defendida. Por isso eu acho que o Cebola gosta muito da Monica. Então não conta nada pra ela não,ta bom? Por favorzinho. O segredo é mais do Cebola do que meu.

- Tudo bem, Isa. Pra falar a verdade, eu sempre desconfiei que eles se gostam, mas a Mô é orgulhosa demais para admitir e o Cebola não consegue deixar de babar pelas outras garotas. Por isso que é meio difícil eles ficarem juntos. Além do fato da Monica brigar sempre com ele. Sabe, eles eram como cão e gato quando crianças. O Cê vivia provocando ela, e a Mô batia nele todos os dias com o Sansão. – Imaginei a Monica correndo atrás do Cebola com um coelhinho azul que ela me mostrou. -Acho que você quer saber mais sobre nossas confusões de criança né? Por que não vai lá em casa mais tarde pra eu te contar algumas historias.

- Acho ótimo. E quem sabe não fazemos um plano pra tentar juntar os dois?

- Se for como os planos infalíveis do Cebolinha vamos ter muito trabalho, e não quero acabar em coelhadas.

- Como?

- Eu te explico depois. Há há há há há .

* Na casa da Magali

Depois de muito papo sobre as aventuras dos meus amigos, regado á suco natural e pipoca light (essa mania da Magali de viver saudável, ela já é tão magrinha) tentamos inventar um plano que faça os dois ficarem juntos, quando a Monica entra no quarto.

- Então resolveram fazer festinha e não me chamam? Que belas amigas vocês são.

- Ai Mô, deixa disso, a gente só tava conversando um pouco sobre nossa infância. Sabia que a Isa tem uma fazenda lá em Minas?

- Na verdade ela é do meu pai e dos irmãos dele. Todo mundo vai pra lá nas férias e minha avó faz cada coisa gostosa... nham... deu saudade.

- Sei... e o que mais vocês conversaram? – Notei que a Monica conversava comigo, mas mantendo uma certa frieza, bem diferente de como ela me tratava. Parecia que ela conversava com a Carminha, e não comigo.

- Ah, a Magá estava me contando sobre como o Cê e o Cascão aprontavam.

- Cê? Que estranho você chamá-lo assim, já que mal se conhecem.

- Ah Mô deixa de ser boba, todo mundo chama ele assim. A Marina disse que viria pra cá com a Cascuda e a Aninha, vão trazer aquele filme romântico que você queria tanto ver. - disse Magali mudando de assunto, ainda bem.

- Hum, hoje eu tô mais afim de assistir filme de policial, sabe, aqueles com serial killer. -quando ela disse isso fiquei muito sem graça, já que estava olhando para mim.

- E aí meninas, vamos assistir o filme? A Cascuda já trouxe os refrigerantes e a Aninha me ligou, disse que já ta chegando. Nossa que cara é essa Mô? - disse Marina.

- Nada. Vamos ver o filme.

Durante toda a sessão de cinema a Monica não parava de me lançar olhares furiosos e me ignorava completamente.