Incondicional escrita por Manu Dantas


Capítulo 5
Revelações da Cristal - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Agora a história começa a ficar boa de verdade!
A primeira parte do cap está morna, mas já temos algumas revelações importantes aqui.
Então,
Aproveitem! xD



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Eu praticamente não tinha “pregado” os olhos a noite inteira. Quando a Dag me pediu para ir acompanhar o Luan em uma sessão de fotos ela tinha “simplesmente” esquecido de mencionar que ele também iria gravar o clipe da sua nova música de trabalho. Ou seja, teríamos um longo dia pela frente. Um longo dia que eu passaria ao lado do Luan... E eu tentava, mas eu não conseguia entender porque a simples ideia de passar um dia inteiro com o Luan me deixava tão apavorada.

Cheguei em casa naquela noite disposta a me concentrar para fazer tudo certo no dia seguinte. Eu não ia deixar aquele “frio na barriga” me atrapalhar. Eu já tinha feito uma “baita” besteira no primeiro dia que tinha encontrado o Luan. Essa era a minha chance de mostrar para ele que eu era uma boa pessoa e uma excelente profissional.

***

Acordei com o despertador tocando. Seis horas da manhã. Puts, será que a Dag não poderia ter marcado essa sessão de fotos só para um pouco mais tarde?

Levantar da cama foi um esforço tremendo. O que eu não fazia pelo meu trabalho? Praticamente me arrastei até o banheiro para tomar um banho. Coloquei a água na temperatura mais quente possível. Só a água fervente seria capaz de tirar todo o meu sono.

Enquanto a água caía pelo meu corpo eu ia passando mentalmente na minha cabeça tudo o que eu iria fazer naquele dia: Ser cordial com o Luan, ajudá-lo em todos os momentos que ele precisasse, ser prestativa e eficiente e uma ótima assistente. Respirei fundo.  Aquele dia não seria tão ruim quanto eu estava achando que seria. Algo me dizia que alguma coisa boa aconteceria, e a minha intuição era algo que não falhava!

Relaxei embaixo da água enquanto tirava o xampú do meu cabelo. Eu estava começando a acreditar que aquele até poderia ser um dia legal e divertido quando ouvi um barulho estranho no chuveiro. Antes que eu pudesse entender qual era o problema, todo o box ficou cheio de fumaça e um cheiro de queimado tomou conta do lugar.

Legal, o chuveiro tinha queimado! Tive que terminar de me lavar com água fria às 6h30 da manhã. Seria que aquele era um mal sinal?

Terminei meu banho rapidamente e corri para o meu quarto. Antes de dormir eu já tinha deixado uma roupa separada, então não precisei me preocupar com essa parte. Escolhi um vestido preto, nem muito social nem muito esporte e, principalmente, bem comportado. Ele era liso, somente com alguns detalhes bordados bem discretos. Por cima coloquei um “bolerinho” para espantar o frio da manhã e um scarpin também preto para fechar o visual.

Voltei para o banheiro, agora já com mais condições de uso. O cheiro de queimado tinha quase desaparecido e a fumaça já tinha ido embora.

Peguei o meu kit de maquiagem na gaveta e fiz um “look” bem básico para combinar com o visual. Olhei no espelho. Apesar do problema com o chuveiro, até agora tudo estava dando certo. O vestido estava elegante e a maquiagem tinha ficado discreta sem deixar de destacar os meus olhos. No espelho eu via uma menina de 24 anos, não muito alta, pele alva, com cabelos castanhos ondulados e grandes olhos esverdeados. A aparência era de uma de uma menina delicada e frágil, por isso minha mãe me batizou de Cristal. Mas como dizia meu pai, cristais na verdade são pedras, e pedras são sempre muito fortes. E depois de tudo o que eu tinha passado no último ano, eu poderia dizer que o meu nome estava mais ligado à força e à resistência das rochas do que a delicadeza dos cristais.

Ainda pensando no assunto abri a gaveta e peguei o meu secador e cabelo que estava guardado ali. Eu gostava do meu cabelo ondulado, mas os fios lisos me deixavam com uma expressão mais séria e centrada. Por isso eu era adepta da escova já há alguns anos.

Coloquei o secador na tomada e já ia me preparando para começar a fazer a escova quando percebi que o aparelho também não estava funcionando. Quando olhei no secador, eu quase não acreditei: Ele estava ligado no 110 volts e a minha casa era 220! Na hora me lembrei: A faxineira que limpava o meu apartamento tinha pedido o secador emprestado. Ela levou para a casa dela e trocou chave de energia de lugar sem me avisar disso. Agora eu tinha um secador quebrado e menos de 15 minutos para dar um jeito no meu cabelo. Não era possível, aquilo só poderia ser um sinal de que o dia não seria bom...

***

Terminei de me arrumar com dez minutos de atraso. Pelo Nextel o “seu” João, motorista do escritório, já tinha avisado que estava na frente do meu prédio me esperando.

Dei uma última olhada no espelho antes de pegar a bolsa e sair correndo pela porta. Até que o cabelo tinha ficado bom considerando que o arrumei no improviso.

Desci as escadas correndo, gritei um “oi” apressado para o porteiro e corri para o carro preto, estilo sedan, que me esperava em frente ao portão do prédio.

- Bom dia “seu” João. Desculpe-me o atraso, mas o meu dia já começou terrível – Falei séria enquanto fechava a porta do carro e me ajeitava no banco do passageiro.

- Eita, mas que mal humor todo é esse, menina? – O motorista me perguntou enquanto dava partida no carro.

- É que ela não me viu ainda “Jão”!

Ouvi uma voz no banco de trás do carro. Não, não poderia ser... Olhei para trás apenas para confirmar quem era o dono daquela voz.

- Luan? Mas o combinado não era me pegar primeiro e depois te buscar no hotel? – O que o “patrãozinho” fazia no banco de trás do carro? E o pior, eu o tinha feito esperar por 10 minutos! Definitivamente o meu plano para fazer tudo dar certo já não tinha começado bem.

- Calma “muié”, até parece que não gostou de me ver! O “Jão” passou lá no hotel primeiro para me pegar porque aqui já é o caminho para o hotel onde a gente vai gravar hoje. Aí ficava mais fácil, da sua casa a gente já pode seguir direto, entendeu? – O Luan me explicou a mudança de planos – Não precisa ficar brava não, tá? – Ele completou zombando da minha cara.

- Ah Luan, mas a Cristal é brava mesmo. Você sabia que ela bateu no ex-namorado dela e o chamou de covarde, cachorro e tudo mais? – Ai meu Deus! Eu tinha contado essa história para a D. Martha, que por sua vez contou para o seu marido, o “seu” João. E agora ele estava prestes a contar aquele “mico” para o Luan.

- “Seu” João, imagina só o que o Luan vai pensar de mim com o senhor falando essas coisas! E nem foi tudo isso, foi apenas uma briga normal de um casal que estava se separando – Tentei amenizar a situação.

- Conta aí “Jão”! Quem foi o cara que a Cristal bateu? – O Luan entrou no clima e ficou todo interessado na história. E depois dizem que mulher é que gosta de fofocar!

- A nossa Cristal aqui antes de trabalhar com a gente botou um cara “metido a besta” para correr. O ex dela pisou na bola  e os dois terminaram, sabe Luan? Aí depois o “carinha” veio com uma “historinha” pra cima da Cristal, dizendo que se eles não voltassem a namorar ele iria dar um jeito de estragar com a vida dela, dá para acreditar nisso? – O João contava a história enquanto dirigia pelas ruas de São Paulo. No banco de trás, o Luan acompanhava atentamente ao relato do motorista. Enquanto isso eu cogitava a hipótese de me jogar da janela. O dia, definitivamente, não estava bom para mim.

- Mas que “rapá” mais sem noção! Ainda bem que você terminou com ele, Cristal – O Luan opinou.

- Pois é, a Cristal não é de levar desaforo para casa, você sabe né Luan? – Disse o motorista.

- Ah sei, ela é bem brava! – O “patrãozinho” respondeu.

- Então, aí ela virou para esse cara e disse que ele era um covarde e um incompetente por nem saber a maneira correta de conquistar uma dama! E depois ainda deu um tapa na cara dele – O João terminou de contar a minha “emocionante” história. Eu estava vermelha, mal sabia o que fazer.

- Caramba Cristal, isso é verdade? – O Luan perguntou

- É verdade sim, mas o “seu” João enfeitou um pouco a história. Na realidade, depois que eu terminei o namoro eu me mudei para uma casa nova, onde eu moro agora. Aí esse meu “ex” descobriu onde eu morava e veio até aqui me pedir para voltar – Eu falava em um tom sério. Lembrar-me daquela história não era fácil para mim – Aí depois de muita conversa e dele quase implorar para a gente reatar, eu pedi para ele ir embora. Foi quando ele me ameaçou dizendo que estragaria a minha vida se eu não voltasse para ele. Quando ele disse isso eu fiquei com raiva e “joguei na cara” dele tudo isso que o “seu” João falou: que ele era um covarde por me ameaçar e que ele não era um homem de verdade, pois um cavalheiro saberia conquistar uma mulher – Eu me lembrava desse dia com todos os detalhes. A discussão na porta, os gritos, as ameaças do Diogo, ele me dizendo que tudo o que eu tinha eu devia a ele, eu dizendo que nada lhe dava o direito de fazer o que ele tinha feito comigo, mais discussão, e o momento que eu finalmente perdi a linha...

– Bom, depois nós falamos mais umas coisas um para o outro, eu perdi a linha e dei um tapa na cara dele. – Terminei a história me esforçando para manter um tom casual. Por dentro eu sentia o meu coração sangrar.

- Mas, e depois? O que ele fez com você? – O Luan estava interessadíssimo na história.

- O porteiro apareceu e o colocou para fora – Respondi.

- Poxa, mas que sorte Cristal! Esse cara poderia ter te machucado – Olhei surpresa para o Luan. Eu não contava aquela história para muitas pessoas, mas todas aquelas que ouviram sempre terminavam dizendo “Bem feito para esse tal de Diogo!”. Ninguém nunca tinha parado para pensar que ele estava me ameaçando de verdade.

- É, poderia... Mas agora já passou – Na verdade, ele tinha machucado. Mas essa era uma história que eu tinha medo de repetir até para mim mesma.

- E por que vocês terminaram? – O “patrãozinho” era bem curioso.

- Huum.... Por que ele fez uma coisa que não gostei – Falei sem nenhum ânimo. Eu detestava falar naquele assunto, principalmente em um carro com o seu chefe. Olhei para ele com uma expressão de súplica para que ele mudasse de assunto. Ele entendeu o meu recado e assentiu com a cabeça. No instante seguinte ele já estava “puxando” outro papo com o motorista.

- E aí “seu” João, para que lugar é esse que você está nos levando? – Ele quis saber. Olhei para trás e dei um leve sorriso para ele como agradecimento.

- Estamos indo para Atibaia, uma cidade não muito longe de São Paulo. Mais precisamente, estamos indo para um hotel-fazenda entre Atibaia e Jarinú. É lá que você vai fotografar hoje, não é Cristal? – O João me perguntou.

- Isso mesmo. Lá que vamos fazer as fotos para o CD e que vamos gravar a primeira parte do clipe da nova música de trabalho do Luan. A segunda parte parece que vai ser feita lá em São Paulo mesmo, não é Luan? – Passei a bola para ele.

- É sim. Tá vendo como ela já tá por dentro de tudo, “Jão”?  – Ele brincou.

- Opa, a Martha fala que ela é praticamente o “anjo da guarda” da Dag, de tanto que tem ajudado lá no escritório – O “seu” João estava determinado a me deixar sem graça durante aquela viagem. Era bom eu arrumar um jeito de tirar o foco da conversa de mim antes que o João se lembrasse de mais alguma história comprometedora sobre mim.

- Hum, falando em anjo da guarda, será que o senhor pode passar lá em casa depois para olhar o meu chuveiro? Acredita que ele queimou hoje de manhã e que eu tive que tomar banho gelado? – Perguntei. A Martha e o João estavam sendo verdadeiros “pais” para mim desde que eu os conheci. Vira e mexe os dois estavam lá em casa me ajudando com alguma coisa que eu não sabia fazer, como consertar um chuveiro, por exemplo.

- Claro querida. Vou lá hoje se der tempo. Tomar banho frio não é fácil, hein? – Ele comentou.

- Pois é, além disso, o meu secador queimou. Nem deu para fazer escova hoje – Comentei, triste – Comecei o dia completamente sem sorte.

- Mas o cabelo tá bonito assim – O Luan comentou lá de trás. Sério que ele tinha reparado no meu cabelo? Essa era a segunda vez que ele me surpreendia hoje.

- Hããã... Obrigada! – Tentei agradecer meio sem jeito antes de desviar olhar para a estrada. Lá fora a paisagem já tinha mudado completamente. A poluição de São Paulo já tinha ficado para trás e já era possível ver algumas árvores na beira da estrada.

- Nossa gente, o papo está tão bom que até me esqueci de ligar o rádio. Vou colocar uma música para animar – O João comentou. Papo bom só se fosse para ele, pensei.

Link para música (para quem quiser escutar) - http://www.youtube.com/watch?v=0lDtwxCkJFk

Depois de sintonizar uma rádio, o João parou em uma que estava tocando um pagode. Bom, não era o meu ritmo preferido, mas a música tinha uma levada bacana. O som que vinha do rádio encheu o interior do carro. A letra, para variar, falava de uma história de amor. Por que tudo mundo sempre colocava esse sentimento em primeiro lugar? Desde que tinha terminado com o Diogo eu tinha prometido que jamais me apaixonaria novamente, e estava vivendo muito bem desde então.

Enquanto “viajava” em meus pensamentos, um trecho da música me chamou a atenção.

Enquanto eu me arrumava algo me dizia

Você vai encontrar alguém que vai mudar a sua vida inteira da noite para o dia”

Pelo retrovisor do carro eu vi o Luan sentando no banco de trás balançando as mãos no ritmo da música. Imediatamente me lembrei da intuição que tive quando estava me preparando para sair de casa. Eu tinha sentido que uma coisa boa iria acontecer naquele dia, assim como a falava a letra da música.

Ri sozinha ao imaginar que aquele trecho da música poderia ser algum tipo de “sinal”, ou pior, que aquela história da canção poderia ser minha e do Luan.

Olhei mais uma vez para ele. Percebi que ele também me olhava pelo canto do olho. Rapidamente desviei o meu olhar para a estrada de novo.

Histórias de amor não existiam, eu repetia para mim mesma. Eu estava só imaginando coisas demais, era isso. Só poderia ser isso.


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Notas finais do capítulo

Algum palpite sobre o que aconteceu que fez a Cristal terminar com o ex dela? Hum... Façam as suas apostas!
Segunda parte está cheia de emoções também!



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