654 escrita por Dodi


Capítulo 46
Capítulo 46




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Acordei no dia seguinte bem cedo para ir entregar jornais, e só quando levantei lembrei que estava no quarto de Edward. Vi ele dormindo na cama, seu cobertor caído no chão. Peguei, o estendi e cobri ele. Andei nas pontas dos pés, esgueirando pelos corredores da casa até chegar à porta. Depois de tanto tempo saindo e entrando pela janela, é estranho usar a porta da frente. Entreguei os jornais, andei com os cachorros e fui de volta pra casa. Só percebi que era sábado quando vi Edward sentado na varanda.

– Estava esperando você. Faz tempo que a gente não vai na praça. - ele disse, estedendo o braço para que andássemos de mãos dadas.

Fomos até a praça, tomamos um café e sentamos no banco de madeira. Conversamos por um tempo, e depois demos uma volta na vizinhança. De repente, estávamos passando na porta da fábrica. Desacelerei o passo até parar, e fiquei encarando o portão de ferro.

– Ei. - ele disse, com a mão no meu ombro. Ele se inclinou e me beijou. - Não existe mais. Está bem? Passou.

Talvez ele esteja certo, a fase da minha vida em que eu acordava em uma despensa e trabalhava em um salão de tijolos acabou. Em que eu esperava ansiosa pelos domingos, só para ficar uma hora em um telhado, imaginando a minha vida fora dali. A que eu estou vivendo agora. Mas eu certamente não imaginava que um dia eu moraria com um garoto, que eu seria uma meliante em sua casa, entregando jornais e passeando com cachorros para quitar minha eterna dívida com ele.

Não. Nem passou pela minha cabeça.

Passeamos pelo bairro dele, e ele foi me apontando as casas dos parentes, conhecidos, colegas de escola, e dos maníacos. Estávamos parados na frente da casa de uma senhora que morava a duas casas de distância dele, olhando o gato dela brincar com a cortina da janela. De repente, ela apareceu no parapeito, com metade do cabelo enrolado e metade liso, gritando para sairmos do gramado dela.

Ele pegou minha mão e começamos a correr até em casa, rindo alto. Ele abriu a porta e demos de cara com uma moça em um roupão azul, e cabelos loiros presos em um coque, com olhos arregalados.

– Oi. Mãe.


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