– Então, você já teve mais aulas de culinária? - perguntei, tentando epurrar um pouco o assunto que com certeza acabaria com a noite. Nós tínhamos comprado uns crepes e estávamos andando pela cidade.

– Não, ainda não. Até agora, eu só sei fazer omelete. - eu ri, e ele olhou pra mim indignado.

– O quê? Não consego ficar séria quando você fala de cozinha. Realmente nunca imaginei que você ia querer cozinhar.

– Eu já disse, minha mãe me obrigou.

– É, porque isso torna tudo muito mais másculo. - disse, brincando.

– Ok, mudando de assunto. Como que estão as coisas na fábrica?

Droga. Tão cedo? Queria poder conversar mais com ele, antes anunciar que virei uma sem-teto. Depois de gaguejar um pouco, respirei fundo e perguntei:

– Você falou com o Pedro, alguma hora, hoje?

– Não, por quê?

– Eu... Saí da fábrica. Me demiti. Eu acho.

Fiquei esperando uma reação. Uma cara triste, algumas palavras de consolo, talvez.

Não, nem perto disso.

Ele abriu o maior sorriso e me abraçou.

– Olha, essa seria uma reação normal pra quem conseguiu um emprego, não saiu dele.

Ele me soltou e ficou olhando pra mim, ainda sorrindo.

– Eu já te disse! Aquele trabalho não era bom pra você! A gente falou sobre isso ontem à noite, lembra? Eu não pensei que você fosse sair tão cedo! Nossa, eu sou ótimo em convencer as pessoas.

– Ei, peraí! Não teve nada a ver com você! Eu saí porque seu tio é o maior...

– Eu sei, eu sei. Desculpa se você esperava que eu ficasse triste, mas essa é a melhor coisa que já aconteceu pra você. - E ele me abraçou de novo. - Você pode ficar no quarto de hóspedes, você vai adorar, tem uma janela bem do lado da cama.

E agora foi a minha vez de sorrir.