- Posso acompanhar você até em casa? Quer dizer, até a fábrica? Quer dizer...

- Claro. - respondi.

- É muito estranho? Ter que chamar a fábrica de casa? - perguntou ele, no caminho.

- Eu nunca chamei ela de casa. E nunca vou chamar.

- Eu entendo. - disse ele, depois de um tempo sem falarmos nada. - Mas você nunca pensou em fazer nada no seu quarto? Pra talvez... Fazer ele parecer um quarto?

- Eu sei que se eu falar qualquer coisa você vai correndo comprar, então não. Se bem que posso te falar uma coisa que você nunca conseguiria comprar. Uma janela.

- Uma janela?

- Uma janela. Vai. Pode rir agora.

- Eu não ia rir. Mas se você quisesse eu poderia pedir pra fazerem uma janela no seu quarto...

- Boa sorte com isso. A minha parede dá pra um depósito. Não seria uma vista muito agradável.

Depois que eu disse isso, nós já tínhamos chegado na fábrica.

- Só esquece, não é nada demais. Nada que eu fizer no meu quarto faria muita diferença, mesmo. Quando conseguir dinheiro suficiente, eu vou embora daqui.

- Da cidade?

- Talvez. Por que? Você sentiria minha falta? - falei, brincando.

- Sim.

Ele pareceu sério quando respondeu. Parecia que ele sentiria mesmo minha falta. Eu fiquei sem ar por um segundo, mas logo voltei ao normal.

- Eu... Tenho que ir. Boa noite.

- Boa noite.

Entrei na fábrica e fui direto pro meu quarto. Quando eu fechei a porta, percebi que eu não queria ter ido, eu queria ter ficado lá, conversando com ele, até o sol nascer.