Depois daquele dia, volta e meia ele me deixava bilhetes, sempre com o número 654 e uma hora qualquer. Uma vez era na porta do meu quarto, outra na Betsy, e a minha favorita: nas costas do Pedro.

A maioria das vezes eu ia, outras o Pedro não deixava, falava que eu tinha que trabalhar, ou, infelizmente, fingir de neta pra mãe dele, pra ela não pensar que ele é um fracassado. Ele é, mas essa não é a questão. Enfim, é por isso que ele precisa de mim.

Foi numa quarta feira, e eu soube assim que abri a porta do meu quarto de manhã e dei de cara com Pedro sorrindo pra mim e segurando um vestido tão brega, mas tão brega, que ele devia me agradecer por não vomitar em cima dele. Eu só suspirei, peguei o vestido e dei meia volta pro meu quarto.

Ele ficava ainda pior em mim do que no cabide, se é que era possível aquele trapo piorar. Ele era listrado, azul e branco, ia até em baixo do joelho, tinha mangas bufantes e uma gola cinza. Até perguntei pro Pedro se eu não podia fazer alguma no vestido, mas ele disse que seu fizesse qualquer coisa, o preço do trapo seria descontado do meu salário. Como em poucas ocasiões, me dei por vencida.

Saí do meu quarto e esbarrei no Edward. Duas semanas atrás eu morreria de vergonha se ele me visse naquele vestido, mas agora essas coisas não importavam mais.

- Nenhuma palavra. - avisei.

- Indo pras suas aulas de teatro, "prima"?

- Elas estão mais pra aulas de tortura. Três horas tomando chá com a arrogante da senhora Barbossa.

- Eu sei que você consegue.

- Tá, mas se eu não voltar depois do almoço manda uma equipe de resgate?

- Pode deixar.

- Ah, e quando eu voltar a gente podia fazer alguma coisa! O Pedro sempre me concede três desejos depois que eu passo um tempo com a mãe dele...

- Combinado. E já que eu vou ter a manhã toda pra fazer absolutamente nada, eu posso planejar alguma coisa especial.

- Especial como?

- Surpresa - cochichou ele.