Esta é história de quem eu sou, ou de quem eu já fui um dia. É a história de como eu me tornei a pessoa que sou, e de quem eu machuquei e pisoteei para ficar assim.

Meu nome é Fiona Mendes, e tenho quinze anos. Acho que minha história começou quando eu tinha sete anos de idade. Eu morava com minha mãe e meu pai em um dos bairros nobres da cidade.

Era um dia normal de Sábado. Eu, minha mãe, Jéssica, meu pai, Fernando e meu irmão Guilherme, havíamos ido almoçar em um restaurante na beira da praia.

Havíamos acabado de sair do restaurante quando eu o vi. Um garoto de mais ou menos dez anos andando na calçada oposta à nossa, sozinho.

Era um garoto peculiar aquele. Cabelos pretos e lisos que por insistência sempre haviam de cobrir-lhe os olhos. Andava vestido inteiramente de preto. Apesar do calor que fazia, vestia uma jaqueta de couro preta e calças jeans furadas e largadas. Era uma mini versão do estereótipo de um rebelde.

O que mais lhe chamava a atenção, porém, era o modo de que andava pelo meio da multidão. Cabeça erguida, e costas eretas. Olhar decidido. Feroz. Chegava a assustar.

O garoto, apesar de demonstrar confiança, possuía olhos hipnotizantes. Não era a cor que chamava a atenção. Era o olhar de desespero que vinha do fundo dos seus olhos que o fazia tão atraente. Que te puxava, arrastava até ele, como uma mariposa é atraída para a luz antes de morrer queimada.

– O que está olhando, garota? Você ficou colada no chão ou alguma coisa assim sua idiota? – Disse minha mãe tão delicada com um sorriso de deboche no rosto - Vamos indo, ainda temos que ir comprar os presentes de suas primas, aquelas duas pestinhas irritantes iguais á você, Maria e Lúcia, lembra? Ou você esqueceu como sempre? - Eu, atônita demais para falar alguma coisa, deixei-me levar por suas mãos macias e fortes. Observei o garoto até que ele sumisse de minha vista.

E aquela foi a primeira vez que o vi.