Acordei com o barulho da porta da sala batendo com força, e os resmungos de minha mãe, Kate, enquanto subia a escada para entrar em seu quarto. Ela trabalhava seis dias por semana, e quando finalmente chegava em casa, saia para beber e encher a cara com alguns amigos gordos e carecas do seu tempo de escola. Resultado, chegava bêbada em casa, todo o santo domingo.
Ouvindo minha mãe arrastar os pés pelo quarto ao lado, me levantei já prevendo a grande, e injusta, bronca que iria levar por querer ajudá-la. Mas simplesmente não podia deixar a mãe ali naquele estado, xingando Deus e o mundo por que não achava um misero pijama.

Empurrei a porta delicadamente ainda prendendo meu cabelo num coque no alto da cabeça, logo entrei e a coloquei sentada na cama, ela me olhou como se quisesse me morder, ou coisa do tipo, e já começou com sua gritaria tipíca.

– VOCÊ ACHA QUE EU SOU UMA BURRA? ACHA QUE EU NÃO POSSO FAZER ISSO? POR QUE NÃO VAI CUIDAR DA SUA VIDINHA DE MERDA E ME DEIXA EM PAZ? - Gritava, enquanto eu lutava para enfiar a camisola pela cabeça dela.

– Mãe... a senhora está bêbada...

– BÊBADA? SÓ POR QUE EU ESTOU FALANDO AS VERDADES NÃO SIGNIFICA QUE EU ESTOU BÊBADA! VÁ PARA O INFERNO, VADIAZINHA! VOCÊ PODIA MUITO BEM TER MORRIDO COM SEU PAI, AQUELE INUTIL.

Lágrimas brotaram em meus olhos e eu levei minha mão a eles rapidamente, tentando tirá-las dali, minha mãe não podia descobrir meu ponto fraco, ou iria me atromentar com aquilo a vida toda. Após terminar de vestir, e ajeitar Kate. Segui para o meu quarto, agora com todos os meus pensamentos voltados a meu pai, a vida era bem melhor quando ele ainda estava vivo, muito melhor. Entrei no banheiro, já com as lágrimas transbordando, procurando loucamente sua lâmina, meu Deus, eu iria fazer aquilo de novo. Toquei em algo afiado, e a puxei, minha lâmina brilhava contra a luz forte do banheiro, sentei do chão a encarando, ainda chorando e soluçando pelas palavras de minha mãe, e pelo meu pai. Então eu o fiz.

Cortei, cortei, cortei, com raiva. Até meu braço ficar totalmente arrebentado e dilacerado, a sensação de dor era boa comparada ao que estava em minha cabeça, após me tocar do que fiz, o chão estava com uma poça de sangue, que eu fiquei encarando até adormecer.