O Filho Do Vitorioso (Jogos Vorazes) escrita por Cíntia


Capítulo 26
Final


Notas iniciais do capítulo

Esse é o final, gente.
Muito obrigada a todos que leram e estão acompanhando. Meu agradecimento especial para Julia Zanini e Math Dragneel que comentaram no capítulo anterior. Vocês sempre me animam. Espero que gostem, e me digam o que acharam.



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– Então é aqui que você está filho do Vitorioso. Você se aliou a essa garota? – Star disse ao me avistar.

Ela me olhava com fúria, e eu fiquei parado sem saber o que fazer. A vida de Tuly estava em suas mãos e eu não consegui nem mesmo falar. Cruiser continuava segurando Tulip com firmeza e sua expressão era fria, mas não tinha a crueldade que via nos olhos de Star. Tulip me olhava apavorada, respirava com dificuldade. O nosso plano tinha falhado e nós estávamos encurralados:

– Tenho que admitir, até que você soube jogar, fugiu quando estávamos prestes a nos livrar de você, e ficou vivo esse tempo todo – ela continuou – Mas vamos deixar de conversa e acabar com tudo, né?

No momento em que ela falou, eu não entendi direito o que ela queria dizer com aquilo. Mas não ficou muito tempo assim. Star foi rápida e cortou a garganta de Tuly, enquanto ela caía morta, uma dor profunda tomou conta de mim e gritei com fúria e horror:

– Nãaaaaaaooooo!

Não sei o que deu em mim, mas eu despertei. Larguei as coisas que carregava, peguei minha lança e a joguei, ela atingiu Cruiser. Eu corri em direção a Star, e ela parecia assustada com tudo, sua espada não estava erguida, estava tombava em direção ao chão.

Eu arranquei a espada da sua mão. E dei um golpe em seu pescoço, na minha segunda tentativa, decepei a sua cabeça. Ouvi três tiros de canhão, seguido pela trombeta da vitória, era o fim, eu havia ganhado os jogos, mas de que valia isso?

Eu chorava alto e fui em direção ao corpo de Tuly, minha Tuly! Me sentei no chão e a coloquei no meu colo. Não conseguia parar de chorar e gritar. Não! Não, aquilo. Um aerodeslizador chegou para me levar. Ficou planando. Provavelmente queriam que eu largasse Tulip, mas eu não iria soltá-la. Ela não seria colocada na mesma nave que Cruiser e Star. Ela era diferente. Não iria com eles! Ficaria comigo!

Outro aerodeslizador chegou, e coletou os corpos de Cruiser e Star. O que toda crueldade deles tinha adiantado? Agora eles também estavam mortos. Um gancho se aproximou de mim. Eles queriam arrancar Tuly do meu colo! Mas eu não deixei, segurei firme. Não a largaria! Gritava:

– Eu não vou soltá-la!

Passou um tempo e parece que eles desistiram, a nave com os corpos dos carreiristas foi embora. A outra nave diminui sua altura e vi uma escada saindo dela. Então, eu subi carregando minha Tuly em meus braços. Ela tinha morrido, mas entraria no aerodeslizador do vitorioso comigo.

...

Acordo e vou abrindo os olhos, vejo uma luz forte que me cega momentaneamente. Mas com o tempo minha visão vai se acostumando e vejo meu pai ao meu lado. Ele segura minha mão e sorri.

Viro o rosto e olho em volta. Estou em cima de uma espécie de cama. As paredes são brancas, os lençóis abaixo de mim também. Começo a mexer e percebo que meus ferimentos sumiram, não há nem cicatriz, meu corpo não dói nada, e minha complexão está igual a quando entrei na arena. Eu havia perdido alguns quilos lá, mas eles tinham voltado. Deveria fazer algum tempo que os jogos acabaram, meu pai percebe a minha reação e diz:

– Você ficou em recuperação durante um tempo. Eles curaram todas as suas feridas, retiraram suas cicatrizes, eu só pedi que deixassem a do rosto. Achei que você ia querer ficar com ela.

Eu levei a minha mão até o rosto,e percebi a cicatriz. Tulip tinha razão. Ficou uma cicatriz, queria que ela a visse... Aí lembrei dela morta... Minha Tuly havia ido embora, lembrei de quando eu carreguei o corpo dela:

– Pai ... Tuly... - balbuciei

– Eles tiveram bastante trabalho para tirar o corpo dela de você, mas conseguiram, eles a levaram para o distrito 11, e a entregaram a sua família. Sinto muito por ela, filho. Ela era uma ótima garota.

Meu pai e eu ficamos um pouco em silêncio. Mas depois ele continuou:

– Os jogos são devastadores, Diamond. Eu te disse que se você voltasse, não seria mais o mesmo. Os médicos podem curar as nossas feridas do corpo, mas há certas feridas que eles não conseguem curar.

Meu pai me abraçou e nós choramos um pouco.

– Eu fui um covarde lá, matei crianças, fugi, agi de forma inconseqüente – eu falei

– Não, você foi muito corajoso, inteligente, mostrou que tinha coração. Nunca senti tanto orgulho antes, ver a sua forma de agir, só me tornou mais orgulhoso por ser seu pai.

Eu já estava bem, então o próximo passo seria participar de todas as cerimônias do fim dos jogos. Tive que falar sobre tudo, os momentos na arena, os carreiristas, as mortes, e Tulip. Eles me perguntaram bastante sobre ela. Foi então que eu percebi que os espectadores gostaram do nosso envolvimento, talvez torcessem pela gente,o entrevistador me olhava com certa tristeza e parte do público também. Mas eu não queria a pena deles, agora não adiantava nada. Todos os horrores na arena já haviam passado, não adiantava ficar triste agora.

Tive que ver um vídeo especial dos jogos. Todas as mortes. Os assassinatos que eu cometi, e que me assombravam. O pequeno Kinsey e eu enfiando a lança nele. Tuly atacando Cammis foi algo realmente impressionante. Mais mortes. Vi a morte de Jurgen, quando Tammy mostrou sua verdadeira face. Cairo! Star apertando o cordão no meu pescoço, minha fuga sem rumo. Meu encontro com Tulip, nossa parceria. Nosso envolvimento, nosso romance. Outras mortes.Tammy e Fox. O ataque de Alexander, nossa noite juntos. Juno morrendo no ataque a Hercules. A neve tomando conta da arena. Eu eTulip em dificuldades. E o fim, Cruiser capturando Tuly, e depois mais coisas que não queria lembrar. Pude ver todas as mortes na arena, até as que não tinha presenciado. Teve gente que morreu envenenada, em armadilhas, outros foram mortos pelos carreiristas em suas caçadas.

Quando cheguei em casa, finalmente pude me afastar um pouco das coisas. Eu só queria ficar parado sem ninguém me perturbar, dormir e ter pesadelos com as coisas da arena, as mortes, com Tulip. Ficar em um canto e ser assombrado pela culpa, os assassinatos que cometi, o amor que perdi. No fim eu fora o responsável direto por 6 mortes. Fora o tributo com mais mortes nas costas.

Os responsáveis pelos jogos não gostaram muito da minha atitude final, era considerado uma rebeldia eu não deixar que levassem o corpo de Tuly. Eles fizeram ameaças veladas em relação a isso. Eu tinha que me manter na linha ou meus irmãos e mãe sofreriam as conseqüências.

Às vezes, eu me reúno com meu pai de madrugada, quando nós não conseguimos dormir ou somos acordados por pesadelos. Bebemos, conversamos fazemos conspirações contra o governo, contra os jogos, mas nossa revolta dificilmente virá à tona. Eles ainda têm a nossa família para nos chantagear, e nos controlam assim. Mas agora, pelo menos eu o compreendo melhor e ele a mim. E de certa forma sofremos juntos.

Eu, Jade e ele temos as nossas reuniões. Falamos mal das coisas do governo, da sociedade, conspiramos por assim dizer. E isso é um dos poucos momentos agradáveis que eu tenho. Minha mãe me abraça muito e tenta me agradar, aliviar meu sofrimento, mas na maioria das vezes não consegue. Onyx se afastou um pouco de mim, não tenta ficar sempre perto como antigamente. Acho que ele assustou com minha tristeza e percebeu que os jogos vorazes não se resumem a glórias. Mas às vezes, ele me olha de uma forma compreensiva, ou nós jogamos alguma coisa. Gemma também aparece de vez em quando e me passa um sensação boa, eu, meu pai, ela, tivemos nossas experiência nos jogos e isso nos une de certa forma.

Certas vezes, eu resolvo andar pelo distrito ou sou obrigado a comparecer em compromissos públicos. Tenho medo que eles me obriguem a ser mentor nos jogos, eu sei que não fugirei muito disso, algum dia terei que ser mentor, mas prefiro evitar isso ao máximo. A maioria das pessoas me olha torto, alguns tentam disfarçar, e outros fazem isso descaradamente. Parece que não gostaram da minha forma de agir. Não apoiaram a forma que eu matei Star, essa sim alguém que agia da forma que eles queriam.Entretanto algumas pessoas me olham com pena ou medo. Umas chegam perto, me elogiam, dizem que torceram por mim, e que estão sentidos por causa de Tulip.

Ahhh, minha Tuly... Um dia estava perto de um jardim, e vi flores, lindas flores, tulipas como a minha garota. Parece que o cultivo delas aumentou depois dos jogos. Em minha mente, sempre vejo imagens da garota com nome de flor. É algo triste, mas doce, ao mesmo tempo. E eu não me arrependo de nada que fiz com ela, não me arrependerei jamais, só tenho orgulho.

É difícil distrair e arrumar coisas para fazer. A televisão não me anima mais, sair com o pessoal que conhecia na escola é pior ainda. Comecei ler um pouco. Reparei em como os livros são artificiais em Panem, eles sempre elogiam o governo, falam dos benefícios de ser governado pela capital, em como todos são felizes, e transformam qualquer tipo de rebelião em coisa de demônio. Enfim eles pretendem desincentivar qualquer revolta.

Jade conseguiu uns livros diferentes para mim, ela chama de livros proibidos e eu entendo por que ela os chama assim. São alguns textos políticos, poesias,romances. Eles falam sobre sentimentos, amor, guerra, liberdade, formas de governo , sonhos, utopias, repressão, ditadura, tragédia, drama, mortes e etc.

Certo dia eu estava lendo um texto de um poeta antigo, ele falava sobre a humanidade, bondade, sonhos, e como uma minoria deturpa isso. Mas falava que um dia isso ia mudar, viria um tempo, onde as coisas boas prevaleceriam, mudaríamos tudo e alcançaríamos a liberdade verdadeira. Como eu gostaria que ele estivesse certo, como eu gostaria que esse tempo já tivesse chegado, que nós tivéssemos meios para isso, nos uníssemos e não fôssemos tão covardes. Mas quem sabe esse tempo não está tão longe e talvez em breve alcançássemos aquele ideal tão belo, o que ele dizia era assim:

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!." *


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Notas finais do capítulo

* Essa citação de um poeta antigo é de Charles Chaplin do filme "O grande ditador" que aborda o nazismo, esse é o discurso final do barbeiro judeu, quando é confudido com um ditador. O filme é de 1940, em plena a segunda guerra, é o discurso de Chaplin, um sonho, o amor à humanidade e a paz, e mesmo depois de tantos anos, esse tempo que ele fala não chegou ainda. Mas a esperança não precisa morrer, né?
Eu realmente agradeço a todos que acompanharam a história e espero que tenham gostado (comentem e deêm a sua opinião, tà?). Eu comecei a escrever outra história: https://www.fanfiction.com.br/historia/224828/O_Jogo_Da_Vinganca, se passa em outra edição dos jogos, e a ideia é diferente dessa. Eu adoraria se começassem a acompanhá-la.Eu fiquei bem emocionada com esse final, espero que também tenham ficado. Ahhh, eu pensei em um final alternativo, se alguém quiser que eu escreva, comentem e eu farei isso.



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