Violência Nem Sempre É A Solução escrita por Lise Muniz


Capítulo 33
Capítulo 33 - Irmãos


Notas iniciais do capítulo

To escrevendo esse cap dsdo ano passado! KKKKKKKKKK



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Quando minha consciência retornou, percebi que estava deitada em uma cama, no que parecia ser o quarto da Cléo. As paredes eram lilás e estavam cheias de símbolos místicos desenhados, alguns até parecidos com os que eu havia visto no quarto da Gwen. Camila estava jogada em uma poltrona roxa no canto do quarto, o rosto vermelho e as mãos apertando com força os braços da poltrona. Cléo estava na frente da cama, de costas para mim, abraçada ao Oliver, que penteava seus cabelos com os dedos. Sam estava de braços cruzados e olhava para as gotas de chuva que escorriam pelo vidro da janela, parecendo muito interessada. Alice estava sentada na cama, encarando-me com seus olhos azuis penetrantes e inchados. Com um pouco de dificuldade, sentei-me na cama e pensei no que poderia ter acontecido.

    - A Sra. Nichols, ela... – comecei sentindo certo pesar e não consegui completar a frase

    - Está nos Elíseos. – Camila disse com a voz fraca e os olhos fechados, tentando conter as lágrimas – Está com o Sr. Nichols agora.

    - Mas e a flor? Os deuses não disseram que a curaria?

    - Não. – Oliver disse me fitando – Sam pediu algo que ajudasse sua mãe, não que a curasse. Ela estava sofrendo de depressão, como nossa avó.

Eu sentia as lágrimas escorrendo por meu rosto. Era tão injusto aquilo tudo! Mas Oliver se referindo a Sophia Shane como “nossa avó”, pareceu me tranquilizar um pouco. Era a primeira vez que ele me reconhecia como uma pessoa da família.

    - O único jeito de fazê-la ficar em paz era a flor. – Oliver continuou – Ela faz com que a dor da depressão seja mais intenso o que consequentemente acelera o falecimento da pessoa, mas graças a você, Lana, o efeito da flor não provocou nenhuma dor angustiante nela. Seus poderes serviram como uma anestesia.

Eu ia dizer que tudo aquilo era inacreditável e amaldiçoaria os deuses, mas me surpreendi ao me ouvir perguntando:

    - O que ela disse? Qual foram suas últimas palavras?

    - Antes de dar seu último suspiro, ela voltou a ficar consciente. – Camila murmurou – Ela deu a benção dela a Sam e a Cléo e agradeceu por nós a ajudarmos.

    - Servos de Atena e de Ares, apesar de durões, sabem amar. – Oliver disse – Nós fazemos de tudo para manter nossas paixões e amores a salvo, não importando a circunstância. E se a pessoa a quem amamos vir a falecer, nós morremos logo em seguida, pois a dor da falta dela é quase insuportável.

Cléo se soltou dos braços dele e olhou em seus olhos acinzentados. Ele era alguns centímetros mais alto que ela, e por isso ela teve de levantar um pouco a cabeça.

    - Por isso você sempre me salva? – ela perguntou com a voz tão fraca que pareceu apenas um sussurro – Por que me ama?

Oliver riu e pegou a mão dela com delicadeza.

    - E você ainda duvida disso? – ele perguntou com um sorriso nos lábios – Eu te amo como nunca amei ninguém antes, minha princesinha.

Com isso, é óbvio que eles se beijaram. Alice e Camila sorriram e pareceram um tanto satisfeitas ao ver aquela cena, mas Sam continuava a admirar as gotas de chuva na janela.

    - Sam? – chamei

Ela respirou fundo e virou-se com o rosto vermelho. À passos largos, ela saiu do quarto, ignorando-nos e falando:

    - Temos de preparar a mortalha da mamãe, Cléo. A chuva resolveu dar uma trégua e precisamos resolver logo isso.

Fiz menção de ir atrás dela, mas Camila levantou-se da cama, pôs a mão no meu braço e fez que não com a cabeça. Olhei para Alice pronta para perguntar quanto tempo eu tinha ficado apagada e o que exatamente havia acontecido com Sam, mas ela pareceu ler minha mente.

    - Duas horas. – ela respondeu – Ela está muito abalada pela morte da mãe. Acha que é culpa dela tê-la perdido por ter pedido a coisa errada aos deuses. Estou tentando consolá-la há uma hora, mais pelo que você pode ver, não deu resultado. E se for perguntar por Camila, ela foi atrás da Sam.

                                                  ...

    - VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUE EU ESTOU SENTINDO! – ouvimos Sam gritar e quando chegamos à sala de estar, vimos que ela estava chorando.

Camila novamente tentava se segurar para não chorar. Todos nós sabíamos que ela sabia sim.

    - Não? – ela perguntou elevando um pouco sua voz – Sam, eu perdi meus pais também, esqueceu? Eu nem pude lhes dar um funeral apropriado. Não pude ouvir suas últimas palavras e nem pude ajudá-los, mas pude sentir tudo o que sentiram. – nesse momento ela deu uma pausa e deixou que algumas lágrimas molhassem suas bochechas e escorressem até o queixo – Sou serva de Hades, esqueceu? Sinto mais dor que qualquer um quando alguém próximo morre. Quando meus pais morreram, eu imediatamente soube, sem ninguém ter de me contar. Eu perdi os dois ao mesmo tempo, e a culpa foi toda minha. Se eu não tivesse desafiado Psyphon, eles ainda estariam vivos. Eu sofro com essa dor há quase três anos, então nunca mais diga que eu não sei o que você está sentindo, entendeu?

Antes que qualquer um pudesse fazer qualquer coisa, Camila desapareceu na sombra da mesinha de centro, que havia sido produzida pelo fogo que queimava na lareira. Sam olhava-nos assustada e eu entendia exatamente o porquê. Nenhum de nós jamais havia visto Camila daquele jeito. Ela sempre fora tão calma e controlada!

    - Por que você fez aquilo? – Cléo perguntou irritada – Nossa mãe sempre foi uma segunda mãe para ela e você sabia muito bem disso, Sam!

    - E-eu perdi o controle. – Sam gaguejou rouca – E-ela só estava t-tentando me ajudar, mas eu queria ficar sozinha. C-Cléo, onde ela está?

Cléo fechou os olhos por um momento e quando os abriu, disse aterrorizada:

    - Ela está no Mundo Inferior!

    - Ah, tudo bem. – Alice falou calma – Ela vai para lá quando quer ver os pais, ou quando quer ficar sozinha.

    - Não! Não está tudo bem! – Cléo gritou, o que fez todos nós levarmos um susto – Camila está desmaiada! Ela não tinha energia suficiente para fazer o que fez e se manter consciente!

                                                     ...

    - Vlacas, vlacas, vlacas! – Sam murmurava batendo na própria testa diversas vezes enquanto dava voltas e mais voltas pelo meu quarto – Ah meus deuses! Por que eu tinha que falar aquilo para a Camila?

Já havíamos queimado a mortalha da Sra. Nichols e fazia quase uma hora que havíamos voltado para o palácio e nos reunido no meu quarto para discutir o que fazer.

Alice e eu estávamos tentando produzir um arco-íris para ver se conseguíamos falar com Nico, mas até agora, não havíamos tido sucesso. Enquanto isso, Cléo estava meditando no meio do quarto e Oliver fazia movimentos circulares na própria têmpora, tentando ter uma ideia para nos ajudar. Então ouvimos gritos do andar de baixo e o tilintar de armas dos guardas. Curiosos, todos nós corremos para baixo. Alice e Sam estavam logo a frente e eu era a última, pois minha perna ainda estava engessada e retardava meus movimentos.

    - O que está acontecendo aqui? – meu tio gritou assim que chegamos ao andar de baixo – Que algazarra é essa aqui no meio do meu palácio?

    - É isso o que a gente também está tentando saber. – Oliver murmurou

    - Senhor! – Aquiles gritou enquanto corria até nós – Tem um cão infernal na frente do palácio! Quais são as ordens?

    - Como assim quais são as ordens? Mande que os outros...

    - Abaixem as armas e voltem para os seus postos. – eu disse olhando para Alice, que pareceu ter pensado no mesmo que eu. Meu tio me olhou com aquela cara de “O que? Como ousa desafiar minha autoridade?”. – Calma tio, eu sei o que estou fazendo. Vamos galera.

    - Esperem aí! – meu tio pediu – Eu vou com vocês.

Olhei para os outros e todos encolheram os ombros. Esperamos Aquiles voltar dizendo que já havia falado com os outros guardas e então fomos para os portões do castelo.

Uma gigantesca cadela negra nos esperava do lado de fora do palácio. Ao seu lado, um garoto pálido, de olhos negros e cabelos despenteados e da mesma cor sorria para nós. Com o canto do olho, vi Alice corar ao meu lado.

    - Desculpe pela confusão, majestade. – Nico disse fazendo uma reverência para meu tio – Eu não queria trazer problema algum para o senhor e nem para os seus guardas. A propósito, eu sou Nicolas Di Ângelo.

    - E o que faz aqui, rapaz? – meu tio perguntou olhando de uma Alice corada para um Nico muito educado.

Ouvimos um gemido baixo e a Sra. O’Leary deu um latido feliz. Então pareceu que ela sentiu o cheiro da Alice, pois veio trotando feliz e se preparou para dar a ela aquela superlambida. Instintivamente, meu tio desembainhou a espada e recuou alguns passos, sem tirar os olhos da grande cadela negra que estava a sua frente.

    - SRA. O’LEARY, SEM LAMBIDA MOCINHA! SENTA! – Alice gritou e a cadela pareceu um tanto chateada – Own, não fica assim minha cachorrinha. Vem cá! Deixe-me coçar suas orelhas.

Quando a cadela baixou a cabeça para deixar que Alice lhe coçasse as orelhas, pude ver que havia uma pessoa aparentemente inconsciente escorregando pelo seu lombo. Nico correu e tirou a pessoa do lombo da cadela com cuidado, como se estivesse desmontando sua namorada do lombo de um cavalo. Olhei para Alice e ela parecia decidir se estava com ciúmes ou agradecida ao percebermos que era Camila que Nico estava apoiando em um dos ombros. Mas ela optou pelo agradecimento, pois assim que seus olhos encontraram os de Camila, ela correu até ele e lhe abraçou.

    - Obrigada, Nico. – ela disse se afastando um pouco depressa, pois deve ter sentido o olhar penetrante que o pai dela lhe jogava.

    - De nada. – ele murmurou envergonhado, esfregando a mão direita pela parte de trás da cabeça.

    - Camila! – Sam gritou correndo até ela e a abraçando – M-me desculpa! E-eu não queria ter dito aquilo! E-eu sinto muito!

Nico pôs a mão no braço de Camila e lhe lançou um olhar preocupado.

    - Está tudo bem, Bi... Quer dizer, Camila? – ele murmurou

Em resposta, ela apenas fez que sim com a cabeça e murmurou um “obrigada, irmão” para ele. Os olhos dele brilharam e um sorriso mais do que alegre se formou nos lábios dele.

    - Bom, agora eu tenho que ir. Vamos Sra. O’Leary. – Nico disse subindo na cadela - Adeus, Alice e como eu sei que você vai me ver de novo, até logo, Camila.

    - Espere rapaz! – meu tio chamou e todos nós olhamos para ele surpresos – Fique um pouco. Coma alguma coisa. Você parece exausto!

Sabe aquele olhar de incredulidade sinistro que as pessoas de filme lançam a alguém quando acham que aquela pessoa morreu e ela aparece vivinha do nada? Pois é. Foi o olhar que lançamos ao meu tio.

    - Fica maninho. – Camila pediu fazendo beicinho – Você me trouxe de volta para casa sã e salva. Merece algo por isso. Além disso, viajar pelas sombras gasta muita energia e você está cansado. Vamos, entre!

    - Mas e a Sra. O’Leary? – Nico perguntou apontando para sua cadela gigante

    - A deixe dormir, ora! – Oliver disse

    - No meio do jardim de vocês?

    - Entra que eu dobro a névoa para o povo não perceber. – Alice disse parecendo um pouco chateada e até irritada com ele.

(N/A.: Não querendo zoar, e já zoando a Alice... A Alice tá com ci-ú-mes! KKKKKKK).


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?



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