Violência Nem Sempre É A Solução escrita por Lise Muniz


Capítulo 30
Capítulo 30 - Confissões




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    Acordei assustada. Alguém batia na minha porta insistentemente. Sentei na cama e gritei:

    - Entra! A porta está aberta!

    A porta se abriu devagar e revelou uma garota ruiva de olhos prateados. Sua saia de cintura alta estava em farrapos, assim como a sua blusa de manga comprida. Suas botas de couro estavam completamente enlameadas e seus braços, pernas e rosto estavam cheios de cortes e arranhões. Em suas costas havia uma aljava com apenas três flechas que aparentavam estar quebradas e um arco partido. Um filete de sangue escorria por sua boca e a sua mão direita estava enrolada em ataduras que pareciam um tanto gastas. Seus olhos estavam vermelhos como se ela tivesse acabado de chorar e os seus cabelos antes tão ruivos, agora tinham um tom acinzentado. Ela parecia prestes a desabar de cansaço quando fechou a porta atrás de si.

    - Ah meus deuses! Sam? O que aconteceu com você? – perguntei preocupada – Venha cá! Sente aqui!

    Ao invés disso, ela largou o arco e a aljava no chão e me deu um abraço apertado.

    - Você está bem? – ela disse em um tom sério soltando-me do abraço e me segurando pelos ombros – Onde você estava? O que aconteceu?

    - Eu vi você e o Will e...

    - Eu vou matá-lo! Eu juro que vou! – ela disse socando a cama e vendo o olhar assustado que eu lhe lancei – Ah é! Continua.

    - Eu fiquei muito deprê e resolvi dar uma volta com Bluesky de madrugada. O problema foi que o Victor me encontrou. Ele envenenou algumas maçãs e eu, sem saber, as dei ao Bluesky. Quando eu fui tentar ajudá-lo, uma serva de Deméter me impediu. Ele havia jurado fazer algo contra a família dela se ela não ajudasse. Depois, a mando dele, ela me largou e eu fui tentar correr até o Bluesky, mas eu tropecei e algo muito pesado acertou a minha cabeça e eu apaguei.

    Sam resmungou um xingamento em grego antigo.

    - Deixe-me adivinhar... Ele te aprisionou em algum lugar e você conseguiu fugir?

    - Quase isso. Ele me aprisionou sim, mas quando consegui fugir, uns guardinhas filhos da mãe nos acertaram e eu e o Bluesky rolamos uma colina até bater em uma árvore. Só não morremos porque eu usei o resto da minha energia para salvar o Bluesky e porque o “Cara da Capa Dourada” cuidou de mim.

    - Cara da capa dourada?

    - Era um rapaz que usava uma capa dourada e que me salvou e curou. Se não fosse por ele eu não estaria aqui agora. Eu o chamo assim porque não sei o nome dele e nem vi o seu rosto, só a capa dourada que ele usava.

    - Isso pode ser perigoso, Lana. Pelo amor dos deuses, tome cuidado!

    - Fica tranquila. Acho que não o verei mais. – e olhando para o filete de sangue que escorria pela boca dela, disse – Mas e você? O que aconteceu? Vem cá!

    Ela chegou mais perto de mim e deixou que eu curasse alguns de seus cortes e arranhões.

    - O que você anda fazendo na Floresta Proibida? Eu e as meninas andamos preocupadas com você. O que está acontecendo? – perguntei enquanto curava um corte no braço esquerdo dela.

    - É a minha mãe. – ela disse fitando suas botas enlameadas – Ela está muito doente e a única coisa que pode curá-la é uma flor rara encontrada apenas no centro da Floresta Proibida.

    - Mas o que ela tem? Talvez eu possa ajudá-la!

    - Eu já tentei Lana. Pedi aos deuses ajuda e foram eles que me falaram da flor. É a única maneira.

    - Mas como ela ficou doente assim?

    - É uma longa história...

    - Nós temos tempo! Vamos! Diga!

    Então ela me contou que quando tinha cinco anos, seu pai fora para guerra e sua mãe, esperava ansiosa pelo dia em que ele entraria pela porta da casa delas sã e salvo como sempre fazia todos os dias. Mas dois anos depois, um telegrama chegou à casa delas quando a mãe não estava em casa. Quem recebeu foi a pequena Sam que combinou com sua irmã mais velha, Cléo de que iriam esconder aquele telegrama e nunca o mostrariam a mãe, pois assim ela não entraria em depressão e não adoeceria. Mas segundo a Sam, sua mãe havia achado o esconderijo delas e pegou o telegrama no mês anterior e acabou por entrar em depressão. Ela e Cléo pediram ajuda aos deuses e desde então ambas tem entrado na Floresta Proibida quase todo dia à procura da flor. Mas parece que Cléo tem se dado um pouco melhor que ela lá dentro pelo fato de ter magia.

    - Ontem eu não sei por que motivo o William foi me procurar durante a sua batalha, que eu juro que eu iria assistir se uma horda de dracaenaes não tivessem me atacado. – ela explicou – Enfim... Aquele idiota tava levando uma surra e na tentativa de salvar o babaca, eu acabei levando esse corte profundo na mão. – ela disse mostrando-me a mão direita que estava com ataduras. – O problema é que é com ela que eu armo as flechas no arco.

    - Eu me lembro de ter visto você chorando. – comentei – Por quê?

    - Porque além de a minha mão estar doendo e jorrando sangue, eu estava começando a perder as esperanças de encontrar a flor. Eu nunca havia chorado assim antes. Nunca mesmo. Muito menos na frente de alguém.

    - E o William aproveitou a sua fraqueza para te abordar e te beijar. – completei

    Sam balançou a cabeça afirmativamente e por um minuto achei tê-la visto corar.

    - Eu já gostei do William. – ela confessou – Mas nós éramos apenas duas crianças inocentes. Foi antes de eu descobrir que era serva de Ártemis e antes de ele quase me carbonizar só de raivinha.

    Fiquei em silêncio. Eu definitivamente não tinha resposta para aquilo. Os segundos de silêncio total que se passaram pareceram minutos então eu me lembrei de Alice e Camila.

    - E onde está o resto da galera? – perguntei

    - Camila, Alice, Oliver e Cléo estão lá embaixo na Sala do Trono com o seu tio. – Sam disse – Rick e Lily ainda não voltaram.

    - Lily? Quem é Lily? – perguntei confusa

    - Você não está sabendo?

    - Do quê?

    - O Rick está namorando uma aldeã latina chamada Emily. Ela é serva de Netuno. Começaram há mais ou menos um mês. Achei que você sabia.

    Passos ecoaram de perto e eu ouvi vozes conhecidas no corredor.

    - Lá vem a galera. – Sam comentou


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?



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