Reflexões de um psicótico escrita por SerialKiller


Capítulo 2
Dias de chuva




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Dias de chuva sempre começam bem. Você acorda com aquela garoa fina caindo do lado de fora da sua janela... As nuvens bem brancas como plano de fundo... Aí nós ficamos mais um pouco na cama, pois o calor do cobertor é a definição de conforto nessas horas. “Vou fechar os olhos um pouquinho”, pensamos inocentemente, e quando abrimos de novo já são 6:46 e a aula começa as 7:00. Você vai pra escola, chega atrasado, e usa a pequena desculpa do trânsito por causa da chuva - mesmo que esteja só garoando. Você usa aquela roupa confortável que você ama tanto, e fica com os braços cruzados e encolhidos, com a boca tremendo e as pernas se agarrando embaixo da carteira de um jeito que você considera fofinho, mas na verdade parece um deficiente físico e retardado que está sofrendo um espasmo muscular.

As aulas acabam e você vai pro ponto de ônibus esperar o mesmo porque sua mãe arranjou um emprego com um expediente das 8:00 às 25:00. Sobe no primeiro ônibus que vê, encharcado - porque você sempre sabe onde está o seu guarda-chuva nesses momentos. Ele está em casa, feliz, sequinho, rindo da sua cara. "Não fica triste", ele diria, "A gente se vê outro dia. É só me pôr na mochila e me carregar por aí. E nesse dia vai fazer um solzão do caralho, seu otário, estúpido, cretino" (RISADAS MAQUIAVÉLICAS, RISADAS MAQUIAVÉLICAS)

É curioso o que acontece com a distribuição demográfica de um ônibus em dias de chuva. Há uma grande concentração de pessoas em pé no corredor e muitos acentos vazios. Você acha estranho, até que você se dá conta de que todas as partes do banco próximas à janela se encontram no mesmo estado patético que você. Molhadas. Você procura o acento com a menor poça d'água, passa a blusa pra tentar secar um pouco e senta nele. Mal sabia você que 3 segundos depois a velhinha sentada do seu lado ia sair na próxima parada. Puta que pariu. Custava ter avisado que tava de saída? Ficou ali assistindo minha odisseia, impassível. Velha filha da puta. A velha sádica sai de cena e dá lugar à crente com mp3 player e um fone de ouvido rosa pouco chamativo. De pé, virada pra você tem uma mulher alta e bem vestida que tira o celular da bolsa e começa a falar com alguém. É bonita. A moça, não a bolsa. Não que a bolsa seja feia.

Aí você ouve uma voz grossa saindo da boca da moça bonita. Não Zélia Duncan grossa. Apenas grossa. E ela começa a falar com uma amiga sobre os problemas com relacionamentos que ela tem, e você vê que ela partilha dos mesmos problemas de insegurança que o resto das mortais ao seu redor. Pensando bem, é meio Zélia Duncan sim. Não tinha como não rir. Quando a moça entrou no ônibus, toda imponente, toda altiva, jamais pensou que ela fosse tão insegura. E depois a crente com um mp3 player começa a cantar "Deeeus que não é homem pra mentiiir, tudo pode passar, tudo pode mudaaar..." "Tudo bem, deve ser um sinal. Vou parar de escutar a conversa dos outros",você pensa. De repente o ônibus para bem do lado de uma loja chamada “Retarton Roupas”. "Será que isso é outro sinal? Será que eu me visto como um retardado?", outro pensamento super profundo vindo da sua mente limtada. E o ônibus começa a andar de novo. A crente continua cantando. E você dá graças a Deus quando o ônibus chega à parada que você vai sair.

Chegando a casa o que você faz? Dorme. Liga a TV em algum filme triste com um final romântico e melancólico, se enrola no cobertor e dorme. Era pra ser uma inocente e pequena soneca de uma hora, mas aí você acorda e vê seus netos jogando Playstation 23 na sala da sua casa e sua esposa fazendo bolo porque é aniversário de 45 anos do seu filho.



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