– Procurando por alguem? - disse enquanto sentava-se a mesa.

– Huh? - Harry ainda não processara tudo o que acontecia a sua volta, uma vez que ainda procurava pelo menino.

– Meu nome é Claire - disse a menina que sentara ali há pouco.

Harry apenas assentiu com cabeça e continuou brincando com sua comida. Um silêncio constrangedor se instalou. A menina comia, desinteressada e alheia a tudo que estava em sua volta. Harry analisava a menina de cima a baixo, com o cuidado de ser discreto. Era morena. Cabelos ondulados, 4 ou 5 dedos abaixo do ombro. Tinha a pele muito branca e usava batom forte. Vestia uma regata com um cardigã preto por cima, segurando-lhe as mangas entre os dedos.

– Você tem nome? - a voz de Claire interrompeu os pensamentos de Harry.

– Harry. - sorriu forçado, apenas pela educação, e mergulhou em seus pensamentos outra vez.

A menina ainda ficou ali por mais um ou dois minutos e então se retirou sem qualquer aviso ou cerimônia.Os dias passaram e Harry continuava a perseguir o novato. Claire sentava-se com ele para o almoço vez ou outra, mas era um tanto inconstante. Por vezes, Harry ficava dias sem vê-la e então, sem qualquer explicação lógica, surgia novamente para atormenta-lo por mais uns dias.

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Era uma quinta-feira quando Harry recebeu a visita de um médico em seu quarto. Disse que poderia ir para casa ver seus pais se quisesse, mas tinha de voltar até o início da próxima semana. Harry não perdeu tempo e arrumou suas coisas, partindo na sexta tão cedo quanto o sol saiu. Dirigiu calmamente até sua casa e chegou de surpresa, sem qualquer aviso. Chegou e, não muito depois, seus pais chegaram também. Ficaram surpresos ao ver o carro do filho na garagem, mas surpresos de uma forma positiva. Muito embora fossem péssimos pais e sempre fossem distantes, isso não quer dizer que não amavam seu filho, então aproveitaram o momento que teriam com seu filho. O fim de semana correu bem, sem nenhuma tragédia maior que pudesse causar confusões para Harry. Ao amanhecer do domingo o menino mentiu que deveria chegar à clínica no máximo na hora do almoço, e então partiu. Tiraria o domingo para sí. Dirigiu metade do caminho, mais ou menos, quando encostou o carro em um bar na beira da estrada. Desceu e passou a tarde alí, bebendo. Embora não aparentasse, Harry não estava nem um pouco bem. Era só que ele havia treinado para disfarçar seus sentimentos, assim não teria de dar satisfação a ninguém. Já havia escurecido quando o menino saiu do bar, cambaleando e, com muito esforço, pôs o carro em movimento. Sua sorte foi que a estrada não estava movimentada, pois dirigir era a ultima coisa que Harry deveria fazer naquela estado. Chegou de volta a clínica. Precisou de umas duas vagas para conseguir estacionar, mas conseguiu chegar sem nenhum arranhão - nem nele, nem no carro. Correu para seu quarto pra que não fosse visto, mas acabou por esbarrar com Claire no caminho. Ao se deparar com a situação do menino, a morena ajudou-o a encontrar seu quarto e a deitar-se. Harry estava exaustado, mas não conseguia dormir. O alcool fazia com que sua cabeça pensasse sem parar. Cada pensamento era interrompido por um outro que, no momento, seu cérebro julgava mais importante. Custou-lhe uma ou duas horas para pegar no sono, mas enfim o fez. No dia seguinte, foi acordado por um enfermeiro para que atendesse à reunião matinal, mas conseguiu enrolá-lo com uma desculpa de que estava com dor de cabeça. E de fato estava, apenas omitiu a causa da dor que, certamente, era causada pelos vários copos que Harry bebera no dia anterior. Depois de dormir a manhã inteira, criou coragem para ir almoçar. Tentou evitar, mas Claire foi mais rápida e o encontrou, sentando-se com ele. E então não houve alternativa, Harry teve de explicar para a menina o porque de ter chegado naquela situação deplorável na noite anterior.