Repressão escrita por Samymara


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Me deu vontade de escrever um drama! Desfrutem!



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Correu até o parque, se certificando de que não seria visto. Não que isso fosse um grande problema para ele, mas o seguro morreu de velho, como diz o ditado.

Os olhos cor de chocolate observaram em volta. Não havia ninguém ali. Também... Quem iria querer visitar o parque em um dia frio como aquele? Desviou sua visão para o céu. Estava acinzentado, como o seu coração. Algumas nuvens carregadas riscavam o céu e, alguns pássaros voavam por ali, emitindo sons que poderiam ser ouvidos de longe.

Abraçou a si mesmo, em uma tentativa patética de aquecer-se. Logo iria chover, e tudo o que ele tinha era um casaco, não muito fino, mas também não grosso o suficiente. Seus lábios tremiam. O que raios ele estaria fazendo aqui? Um flashback com várias lembranças invadiu a sua mente. É claro. Ele estava ali por diversos fatores. Fatores esses que desencadeavam emoções que ele tentava esconder o tempo todo, para manter um pouco de dignidade que lhe restava.

Tristeza.

Inveja.

Amargura.

Raiva.

Raiva? Sim, muita raiva. As memórias dançavam em sua frente, exibindo-se, movimentando-se freneticamente, sem nenhum pudor, sem nenhuma honra.

Porque ele se importava tanto? Ninguém ligava para ele, nem para o que sentia. Também... Porque ligariam? Ele não passava de um secundário e, portanto, insignificante.

Algumas lágrimas brotaram dos olhos do loiro, passaram pelo seu rosto e, o inevitável aconteceu. O gosto salgado das horas ruins invadiu a sua boca, assendiando ainda mais a sua raiva. Num ato impensado, ele levantou-se e saiu correndo pela rua, sem direção, sem rumo. Não se importava. Na sua cabeça, qualquer lugar era melhor do que aquele.

Algumas gotas de chuva começaram a cair, frias, insensíveis, fazendo contraste com as lágrimas quentes. O gosto salgado adocicou-se um pouco, mas isso não fazia efeito em seu coração.

Nunca se cansavam de zombar, de lembrar o quanto ele era substituível, o quanto sua amizade era desprezada.

Além disso, também havia Denise. A ruiva espalhafatosa por quem ele se apaixonara. Quanto tempo já havia perdido pensando nela? Quantas noites em claro ele já não havia gasto pensando em um modo de se aproximar, um meio de agradá-la?

Ele não se lembrava.

E foi tudo em vão. Ela sempre o humilhou, sempre pisou em cima dele, sempre fez questão de o tratar como um brinquedinho, que você compra e joga fora quando não quer mais usar.

Ele apertou o passo, o vento cortante passou por ele sem dó.

O garoto seria capaz de dar a sua própria vida pelos seus amigos, mas eles não davam nenhum sinal de que fariam o mesmo. Muito pelo contrário: se ele morresse, ninguém iria sentir falta, ninguém iria nem lembrar. E se lembrassem? Ah, claro! Alguém, talvez, um dia, se não estivesse muito ocupado, poderia se lembrar do pobre coitado que nunca ganha nada e fazer uma festa em homenagem a sua morte! Porque não? Até que enfim eles iriam se livrar daquele trambolho, daquele sujeitinho de que para nada servia.

A raiva tomou conta dele. Cerrou os punhos. Sua visão estava turva, seus pensamentos pareciam um enxame de abelhas. O pior, lembrou ele com tristeza, é que não eram só seus amigos que o desprezavam. Também havia seus pais. Não que eles zombassem dele, mas talvez só não fizessem isso por não notarem sua presença.

Ele deu um suspiro, sentindo sua face congelar. Sabia que não deveria ficar tão exposto assim ao frio, mas não se importava mais.

Porque eles tiveram que se separar? Fora por causa dele? Sua mãe sempre negava essa hipótese, mas ele não conseguia pensar em mais nada. Afinal, eles sempre se deram tão bem...

Outro suspiro foi solto.

Xaveco e sua mãe quase não conversavam entre si. Nos finais de semana, ele ia para a casa do pai. Apesar de gostar muito dele, o homem mais velho parecia ser incapaz de compreendê-lo. E quem era? Ele bufou, até que um nome veio a sua mente.

"Xabéu".

Ele diminuiu a velocidade e até conseguiu esboçar um singelo sorriso, tímido.

A sua irmã sempre o ajudava quando a situação apertava, sempre se mostrava carinhosa e cheia de conselhos sábios.

"Porém ela se foi para as estrelas...".

Tal pensamento fez com que a tristeza retornasse e, trouxesse consigo uma nova leva de choro. O frio atingiu seu auge. Aquilo foi demais para ele.

"Será que ninguém liga?". Foi seu último pensamento, antes de tudo escurecer.


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Notas finais do capítulo

Eaí, gostaram? Ficou bom? Ruim? Dramático demais? Sem noção demais?
Tudo isso vocês podem me contar na caixinha abaixo.
Bjs!