Olhei a minha volta. Todos tinham o mesmo olhar assustado. 

"Você é louca! Por que ainda treina? Não haverá mais jogos!"

"Essa garota, desperdiçando sua energia em algo que nem irá mais precisar..."

Vocês estavam errados. Vocês realmente acreditaram que tinha tudo acabado? Eu realmente não sei como as pessoas foram tão estúpidas. Era meio óbvio que a Capital não iria se render e ser derrotada tão facilmente. E era hora de sentirmos novamente a vingança. E eu realmente temia que essa vingança fosse ainda pior do que a primeira.

Olhei para as garotas do meu distrito. A maioria um bando de patricinhas que nem aguentariam levantar uma espada. Os garotos apenas uns caras que se acham os maiorais, mas que devem morrer no primeiro banho de sangue.

Mas isso não quer dizer que eu sou a melhor. Só que talvez eu aguentaria mais tempo.

Só acho que se fosse para um de nós irmos, deveria ser eu. É distrito 2, lá se foi seus tempos de glória. Lá se foram os tempos em que participar dessa droga era um motivo de comemoração e orgulho.

Uma mulher de aparência exuberante com um certo exagero de pó compacto e com cílios postiços prateados de uns 5cm subiu ao palco. Após um filme para nos mostrar o que já sabíamos, ela anunciou quem seriam os "sortudos".

-Primeiro as damas-Ela disse puxando um papelzinho de dentro que uma urna em forma de esfera transparente.

-Lucinda Nightshade.

Senti um frio na minha espinha. Talvez eu não estivesse tão preparada assim. Mas eu não posso demonstrar. Tento andar até a frente da forma mais confiante o possível, eu realmente não posso demonstrar nervosismo. Subo as escadas e recebo um cumprimento da mulher. Olho para frente e tento esquecer aqueles olhos vidrados em mim.

-Hora dos meninos!- Ela revira um monte de papéis até finalmente pegar um.

-Joseph Tigerish- Olhei para a fileira dos garotos de 17 anos. Eu e Joseph deveríamos ter trocado no máximo uma meia dúzia de palavras em todos esses anos desde que nos conhecemos, apesar de eu vê-lo praticamente todos os dias treinando. Devo admitir, ele era meio intimidador. Sua altura era praticamente o dobro da minha, seus cabelos castanhos claro eram levemente espetados com um topete, seus olhos eram verdes e ele tinha uma cicatriz perto do olho, E apesar dos músculos e da sua incrível habilidade em lutas corpo a corpo e espadas, não era uma pessoa que eu deveria me preocupar. Poderíamos formar uma aliança e no final eu o mataria e me tornaria a campeã.  Ele era um daqueles que se dizem invencíveis e na verdade são uns bebezões. A mulher pediu que nos cumprimentássemos e anunciou no microfone o início dos Jogos Vorazes falando a famosa frase: “E que a sorte esteja sempre ao seu lado” Como soava patético.

Nos levaram até duas salas separadas onde cada um teria alguns minutos com suas famílias.

Meus pais estavam tão felizes!  Estavam cheios de “isso é um orgulho para nossa família!” “Uma filha nossa nos Jogos!”

Mas eu podia sentir que estavam com pena de mim por ter que participar disso. Eu podia ver em seus olhos.

Os olhos da minha mãe estavam cheios de lágrimas. A abracei e falei em seu ouvido “Eu vou ficar bem mamãe”

Me pai colocou a mão em meu ombro e falou que torceria por mim que eu iria ganhar aquilo e que seria eu que sairia viva. “Tomara que você esteja certo pai” pensei.

Dei um abraço no meu irmãozinho mais novo.Se reparar bem, ele se parece muito com meu pai(quando ele era mais novo). Tinham o cabelo castanho avermelhado e olhos azuis acinzentados. E assim como meu pai ele era bem alto (o moleque tinha só 11 anos e já era quase da minha altura). “Agora vai poder ter o quarto só para você.” Sussurrei para ele que deu um sorriso. Me despedi de todos e fiquei ali sentada desenhando no ar até que eu fosse para o trem que me levaria a Capital

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Tudo aquilo era muito luxuoso. Cristais, comidas aparentemente deliciosas e coisas bem caras por toda parte. Mas infelizmente eu estava enjoada demais para aproveitar tudo aquilo. E joguei em um sofá e fechei os olhos. Já estava quase adormecendo quando ouço uma voz vinda de trás de mim.

-Você está bem Luce?

-Ahn? Oi Joey. Só um pouco enjoada. Nada demais.

-Joey? Já criamos esse tanto de intimidade? Tem certeza de que está bem?

-Você me chamou de Luce. Eu acho Joey legal, combina com você. Eu só estou enjoada. Já disse.

-Então você me acha legal?- Ele disse rindo. Revirei meus olhos. “Eu te acho um tanto idiota, serve?”- Tem certeza de que não está preocupada? Ou sei lá... Em pânico?

-Eu não entro em pânico.- Ele se sentou ao meu lado  no sofá

-Outras pessoas entrariam.

-Eu sei... Mas foi para isso que treinamos nossa vida inteira certo?

-Acho que sim. Mas você não acha meio injusto? Quantos anos você tem? 13?

-15.

-Sério? Não parece-Revirei os olhos- Não acha que é meio nova pra isso? Pra morrer?

-Nunca se é cedo ou tarde para morrer Joey. E você sabe muito bem que eu sou muito mais capaz que qualquer um. Eu sou tão capaz quanto você.  Talvez até mais. Você sabe disso.

-Vai sonhando baixinha. Eu acabo com você só triscando um dedo-Ele aproximou seu rosto do meu me lançando um olhar “eu vou te matar garota”

-Eu consigo matar muito mais que você. - Ele se afastou e deu uma risada.

-Quer apostar?

-Vem com tudo.

-Ei, será que vocês podem esperar chegarem à arena para se matarem?- Jane nossa treinadora apareceu na porta- Chegamos meus bonequinhos- Ela apontou para a janela. Eu e Joey fomos corremos para a janela parecendo duas criancinhas. Aquilo era tão...Uau. Tudo era muito grande, luxuoso e as pessoas usavam umas roupas estranhas e um tanto quanto... Peculiares.

-Aquela mulher está usando um guaxinim na cabeça?- Joey apontou para uma mulher de cabelo vermelho vivo e um chapéu de guaxinim.

-E então vocês dois, vamos?

Saímos devagar do trem ainda abismados e sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Era completamente surreal. Olhei para Joey que estava fazendo uma arminha com a mão e atirando em mim.

“Sério?” Falei.

Ele apenas sorriu e saiu andando.