Ventrí-louco escrita por PokerFace
Notas iniciais do capítulo
Leiam, não leiam, mas se lerem deixem um review =)
X.o.X.o
Não sou Gepeto, mas poderia jurar que às vezes via minhas marionetes se mexendo. Trabalhava como ventríloquo para um famoso circo. Rodava o mundo com meus bonecos e quando dormia tinha certa impressão de que eles conversavam entre si.
– Sou mais especial que você. – Disse o boneco ao qual eu dera o nome de Frank.
– Não, eu é quem sou mais especial. O publico me adora e se pensar bem, sou melhor ator que você. – Retrucou o outro boneco de nome Gerard.
– Não é coisa alguma você é apenas um pedaço de madeira mal esculpida.
– Ora se não é senhor o cedrinho.
– Minha madeira é muito melhor que a sua.
As marionetes discutiram por dias e dias a mesma coisa e uma delas havia se cansado dessa rotina.
– Eu sou...
– Chega, chega! – Frank a marionete falou sério.
– O que é?
– Confesso você é mais especial do que eu... – Deu-se por vencido.
– Viu só?! Até você sabe disso.
– Fique quieto, eu não acabei. – Se marionetes pudessem suspirar, ele o teria feito. – Você é mais especial, pois o publico te ama mais do que a mim e eu... Eu te amo mais do que a mim mesmo.
A outra marionete ficou boquiaberta e aproximou-se da outra.
– Se eu pudesse chorar agora, choraria. Se eu pudesse te abraçar, abraçaria. Se eu pudesse te beijar, beijaria. Mas sou uma marionete e não consigo chorar, sou uma marionete e não sentirei um abraço, sou uma marionete feita de madeira e não possuo lábios. – Gerard concluiu enquanto fitava o chão.
– Eu sou uma marionete, mas estou apaixonado. Isso significa que sou de madeira, mas tenho coração.
– Então eu também tenho um?
– Se houver um motivo pelo qual você mereça um, então acho que você tem um.
– Amar você me faz ter um coração.
– Sim, queria poder aquecê-lo com seus toques.
Certa manhã acordei e olhei para duas de minhas marionetes. Lembrei-me que noite passada elas estavam penduradas, mas agora as via ali no chão, parecendo estarem abraçadas. Peguei-as do chão com cuidado e depois as coloquei no balcão, desenrolei os fios e as pendurei novamente. Peguei minhas chaves e fui para fora de casa.
– Frank ele já foi.
– E de que adianta? Sairmos do lugar pra ele nos olhar assustado e depois ficarmos apenas nos encarando. Não gosto mais de ter um coração.
– Às vezes só queria ser um humano.
Seu desejo é uma ordem.
– Gerard, o que é isso no seu rosto?
– Isso o quê?
– Parece uma lagrima.
– Estou me sentido estranho.
Talvez eu tenha lido muito Pinóquio ou talvez eu esteja louco, mas minhas marionetes haviam se tornado garotos.
– Gerard você é um humano.
– Frank você também.
Os dois estavam chorando e talvez até um pouco assustados, mas a sensação de estar vivo era realmente intrigante.
– É tão bom poder chorar. – Frank chorava de felicidade.
– Melhor ainda é o que eu quero fazer.
– O quê?
Gerard prensou-o na parede e tomou seus lábios. Doces, macios e com um sabor. Ele jamais havia sentido sabor algum, mas agora o sabor que invadia sua boca era o sabor do beijo com o qual havia sonhado, mas afinal marionetes podem sonhar?
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