Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 24
XXIV - Saudade de Catharina




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Marco se juntou a dupla e mais uma vez conseguiu convencê-las com muito esforço de que não havia ficado com Caroline. E o colocaram a par dos acontecimentos.

Durante a aula vaga de Geografia, trocaram telefones, pois Lorrayne precisaria de gente sã para conversar nas férias, de acordo com sua explicação. E o professor Marcos os encontrou e entregou o tão desejado carvão.

No fim da aula, Martha veio buscá-los. Lorrayne não perguntou nada. Esperou Martha falar por conta:

_ O médico disse que deve ser apenas uma virose. Não precisam se preocupar.

“Virose!” Pensou Lorrayne. E Martha continuou:

_ Ele continua indisposto, mas vai melhorar. Ah! Lorrayne, depois preciso falar seriamente com você.

_ É? Que coincidência. Eu também.

_ Ótimo.

Martha não pôde ficar para o almoço, já havia perdido a manhã de serviço. Antes de se juntar a Layane e Renan para o almoço, Lorrayne correu para o quarto de Eduardo. O garoto continuava deitado, com os olhos fechados. Lorrayne ajoelhou-se ao lado da cama e chamou:

_ Eduardo? Está acordado?

O garoto abriu os olhos. Lorrayne mostrou-lhe o vidro com o pó. Disse:

_ Consegui isso com meu professor de biologia. Melhor você tomar.

Lorrayne despejou o conteúdo num copo com água e ajudou Eduardo a tomar. Brincou:

_ Quero ver se essa virose não vai passar!

O garoto sorriu vagamente.

_ Agora vou descer para almoçar. Quer comer alguma coisa?

Eduardo balançou a cabeça negativamente.

_ Tudo bem. Então eu vou, senão eles podem acabar trazendo a bazuca aqui pra cima, né? Até daqui a pouco.

Lorrayne levantou-se e desceu para almoçar. Ao terminarem, Layane perguntou:

_ E aí, Lorrayne? Como está nosso dodóizinho? Já empacotou?

_ Deixa de ser repulsiva Layane! Você não tem peso na consciência?

_ Hum... Não. Será que a dose foi muito pequena?

_ Não vou ficar aqui para ouvir suas brincadeiras estúpidas. Nem para admirar a cara de tonto do seu primo.

Renan sentindo-se ofendido perguntou:

_ Ei, qual o problema?

_ Tentar matar seu irmão é pouco? – perguntou Lorrayne enquanto se levantava.

_ Não tentei matar meu irmão! – defendeu-se o garoto.

Lorrayne aproximou-se dele e disse:

_ Então tentou me matar. Bom saber.

E subiu. Foi novamente ao quarto de Eduardo. Ajoelhou-se no mesmo lugar. Chamou:

_ Eduardo? Você está melhor?

Sem mesmo abrir os olhos, o garoto respondeu positivamente. Lorrayne colocou a mão em sua testa. Disse:

_ Parece que não. Você ainda está com febre. O medico te deu algum medicamento?

Mais uma vez Eduardo confirmou. Lorrayne pensou alto:

_ Será que pode fazer mal? Será que estou complicando as coisas? Eduardo seja sincero, você se sente melhor ou pior?

_ Igual.

_ Então, por favor, se tiver alguma mudança, me avisa! Se der algo errado, estamos perdidos! Eu talvez telefone para a escola e consiga falar com o professor... Sei lá! Você me ouviu? Me avisa!

O telefone tocou. Layane atendeu junto com Lorrayne na extensão do quarto de Eduardo. Era uma garota. Perguntou:

_ O Eduardo está?

Layane rapidamente respondeu:

_ Não. Ele não está. Saiu logo cedo...

_ Sim, ele está. Quem gostaria? – interrompeu Lorrayne.

_ É a Fernanda. Posso falar com ele?

Layane desligou o telefone. Lorrayne pediu:

_ Espera um pouco.

Virou-se para Eduardo e estendendo o telefone, perguntou:

_ Vai atender a Fernanda?

Esforçando-se, mas sem se mover, perguntou:

_ Você acha... Você acha que estou em condições de atender um telefonema da Fernanda?

_ Ah! Não é simplesmente Fernanda. É a Fernanda! Certo.

Lorrayne pegou o telefone e disse:

_ Fernanda, ele está dormindo.

_ Sei... E... Você é a...

_ Prima dele.

_ Prima?

_ Isso. Prima.

_ Ele está mesmo dormindo?

_ Está. Não se preocupe, você ainda não foi premiada.

_ E por que ele não foi pra escola, heim?

_ Ele está gripado. Por isso está dormindo.

_ Mas ele vem pra escola mesmo morrendo. Ele detesta essa casa.

_ Ah! Depois que cheguei aqui as coisas mudaram muito!

_ Faz pouco tempo que você chegou aí?

_ Faz.

_ Mas isso não significa que você seja especial para o Edu, né?

_ Pelo amor de Deus! Somos primos. Assim como a insuportável da Layane.

_ Ah, você também não gosta dela?

_ Ninguém gosta. Bom, só quem ela paga de alguma forma... Se é que você me entende...

_ Claro!

E gargalharam. Eduardo resmungou alguma coisa. Lorrayne tapou o fone e perguntou:

_ O quê?

_ Desliga já esse telefone! – sussurrou o garoto.

Contrariada Lorrayne voltou ao telefone e disse:

_ Bom, Fernanda, foi bom falar com você, agora tenho que ir! Qualquer dia a gente envenena a Layane, beleza?

_ Beleza. Tchauzinho!

_ Tchauzinho! – Lorrayne desligou o telefone e o colocou de volta na base.

Perguntou:

_ Olha só... Já está em outra! E por que você não quer que eu converse com ela? Eu não ia contar seus podres...

_ Eu... Não converso com seus amigos...

_ Mas pode conversar. Eu deixo. Eles são o máximo. E olha que eu os detestava. Assim como todo mundo daquela escola. Ainda tem muita gente que eu detesto lá... Tem uma professora que adora me dar advertência. E suspensão. Um dia ela quase quebrou minha mão para pegar uma cola que o Marco tinha me dado.

Eduardo abriu os olhos e ficou ouvindo os causos de Lorrayne:

_ Foi nesse dia que ela me deu a suspensão. É que eu a xinguei de asquerosa. Mas ela queria dar advertência para meus dois únicos amigos que tinham me ajudado com o estudo! O pior não é isso! Tem um grupo de quatro amigas, que me detestam. Não passam por mim sem me humilharem, e agora Layane se juntou a elas. Caroline, Laís, Ariane e Paula. Ah! E essa nojentinha da Carolina é afinzona do meu amigo Marco, mas ele disse que não quer nada com ela, porque ela é muito metida. Mas logo ele cai na dela. Você acha que homem dispensa mulher por ela ser metida? Eles não dispensam nem se ela é chata! Fora esses, acho que não tem muita gente que me odeia. Bom, tem os professores, mas esses são com todo mundo. Mas tem professores que são gente boa. Por exemplo, o professor Marcos. Foi ele que me arranjou esse pozinho. Mas eu tive que inventar a maior história... Não podia dizer que minha irmã estava envenenando meu primo! Pois é... Mas eu ainda acho que a escola é bem melhor que essa casa. E hoje minha mãe quer ter uma conversa séria comigo. Tudo bem. Eu também quero falar sério com ela. Quero que ela me leve para minha verdadeira mãe. Que é a Catharina. E quando eu reencontrá-la, vou pedir mil perdões, e implorar que ela me aceite de volta, pois, falando sério, não suporto mais essa família!

_ Lorrayne... Tia Martha nunca mais permitirá... Que você veja a tia Catharina.

_ Ela tem que permitir. E se ela não permitir, eu vou sozinha.

_ Onde ela está?

_ Foi pra São Paulo. Não muito longe.

_ Por que você não pede para Catharina... Vir te buscar?

_ Não. Antes eu tenho que falar com ela, longe daqui. Não quero dar trabalho antes mesmo de me desculpar. E também, se minha mãe não quiser me levar, duvido muito que permita que ela entre aqui.

_ É...

_ E então Eduardo? Sentiu alguma mudança?

_ Não.

_ Ai meu Deus! E agora? Bom, olha, eu vou fazer meu trabalho de química, pra pagar a prova que não fiz, e logo volto. Mas se mudar alguma coisa você me avisa, tá bom?

Eduardo balançou a cabeça positivamente. Lorrayne saiu do quarto e foi para o seu fazer sua pesquisa.

Quando finalmente terminou o trabalho, Martha chegou. E subiu para seu quarto antes mesmo do jantar. Bateu e entrou perguntando se podia entrar.

Sentou-se ao lado de Lorrayne na cama e perguntou:

_ Tudo bem?

_ É.

_ O Eduardo melhorou?

_ Não.

_ Logo vai melhorar. Era sobre isso que eu queria falar. Lorrayne, não sei o que vou fazer com vocês dois...

_ Por que?!

_ O Eduardo sempre me deu problemas, agora ele está te envolvendo nessas loucuras... Fiquei muito chateada com o que você falou hoje de manhã.

_ Bom... Mãe... Ontem eu e Layane brigamos...

_ E você ainda não a desculpou? Depois daquele gesto tão bonito dela?

_ Desculpei! Claro que desculpei, mas, sabe, com todo o nervosismo, acabei tendo um pesadelo, em que ela o envenenava, e acordei com Eduardo gripado... Eu ainda estava meio sonâmbula, sei lá... Não ligue para isso!

_ Melhor assim. Mas de qualquer forma, quero que você esteja mais presente na vida de sua irmã que te ama tanto, do que na vida de seu primo que só causa problemas.

_ Mãe, vou fazer o que achar certo. Não se preocupe.

_ Mas, Lorrayne, como você vai saber o que é certo e o que é errado? É para isso que existem os pais... E eu estou aqui para isso. Não troque Layane por Eduardo.

_ Foi ela que mandou você me falar isso?

_ O quê?

_ Não, nada, talvez ela esteja achando isso, mas não é!

_ É o que eu espero.

_ Certo. Então, agora, é minha vez de falar sério...

_ Sou toda ouvidos.

_ Mãe, sabe, sinto saudades de Catharina.

_ Ah! Sei.

_ Ela me ligou. Foi pra São Paulo. E eu queria que a senhora me levasse para visitá-la.

Martha levantou-se. Virou-se e disse:

_ Bom, Lorrayne... Sabe... Catharina passou quinze anos com você, agora que eu posso finalmente tê-la comigo, você quer voltar para ela?

_ Não! Só quero visitá-la! Estou com saudades. Ela continua sendo minha família. Ela é minha tia.

_ Lorrayne, você não acha que se ela mudou de cidade, significa que quer distância de você?

_ Não. Senão ela não tinha me telefonado nem me dado seu endereço. Por favor...

Martha aproximou-se de Lorrayne. Colocou a mão no seu rosto. Disse:

_ Lorrayne, eu sou sua mãe. E ninguém mais. E não vou permitir que Catharina me tire isso novamente.

_ Mas eu quero ver ela! Estou com saudades!

Martha afastou-se:

_ Então lute contra essa saudade, e tente entender que Catharina saiu de nossas vidas. Ela é passado.

_ Não pra mim!

A mulher saiu do quarto. Lorrayne saiu no corredor ainda pedindo:

_ Eu quero vê-la! A senhora não pode fazer isso! Eu tenho sentimentos, e ainda tenho muitos por ela!

_ Lorrayne, por favor, não insista!

_ Certo. Se a senhora não me levar, vou sozinha. Tenho o endereço.

Martha deteve-se. Voltou até Lorrayne. Avisou:

_ Se você for, eu a denuncio. Vou acusa-la de assédio e perseguição.

Lorrayne sentiu um nó na garganta. Tentou impedir, mas as lágrimas correram pelo seu rosto. Disse:

_ Não acredito que a senhora está fazendo isso!

Martha abraçou-a. Falou:

_ É para o seu bem. Eu te amo, minha filha.

Lorrayne não compartilhava do abraço. Tentou se proteger. Não queria desfrutar daquele sentimento doentio. Desvencilhou-se dos braços da mãe e trancou-se em seu quarto. Não desceu para o jantar e Martha entendeu que a garota precisava de tempo para pensar.

Continua


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