Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 18
XVIII - A verdadeira face




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Lorrayne fechou o diário e constatou que Layane havia subido e não passara em seu quarto.

_ Não que eu queira que ela sempre venha ao meu quarto, mas ela sempre vem... Acho que é hora de eu ir ao dela! Certo, lá vamos nós! – murmurou a garota consigo mesma.

Parou em frente à porta com o nome “LAYANE”, e bateu. Layane perguntou:

_ Quem é?

_ Lorrayne.

_ Tô indo.

A garota abriu a porta e a convidou para entrar. Perguntou:

_ A que devo o ar da sua graça?

_ Nada. Vim te visitar, como você sempre faz comigo.

_ Legal. É legal receber a visita de alguém que vem de fora! Ou melhor, de fora do quarto!

Lorrayne riu. Conversaram até tarde da noite quando cada uma foi para sua cama e caíram no sono.

Mais um dia Lorrayne não foi à escola e passou o dia explorando seu quarto. Na sexta pôde finalmente voltar aos estudos. Como havia pedido, nem Yshara ou Marco a procuraram. Sua vida parecia finalmente ter melhorado. Nem Caroline ou suas amigas lhe enchiam a paciência.

E chegou o primeiro final de semana com sua nova família. Foram a um clube, com exceção de Eduardo, que preferiu sair com uma penca de amigos.

E mais uma semana se passou. Até sua relação com Eduardo havia melhorado. O rapaz ainda não falava com Lorrayne, mas já não olhava com tanta indiferença quanto olhava para Layane.

Uma vez até assistiram TV juntos. Em silêncio, na imensa sala de estar. Lorrayne às vezes fazia algum comentário, que era ignorado de propósito. Tomando coragem, perguntou:

_ Eduardo, você me despreza?

_ Não. - respondeu sem desgrudar os olhos da tela.

_ É por causa de Layane, não é? Por que vocês brigam tanto?

_ Não e não sei. Agora vou indo. Tenho que encontrar um amigo.

_ Ah... Sei... Um amigo...

Mais uma vez, Eduardo ignorou a brincadeira de Lorrayne. Mas ela não ligava, ele pelo menos já respondia suas perguntas.

E seus planos corriam como planejado. Até uma sexta-feira, quando assistia TV na sala. Layane, Renan e Eduardo estavam em seus quartos, ou coisa parecida. Layane e Lorrayne já não estavam tão unidas como antes. Talvez o encanto houvesse acabado e a realidade de uma fraternidade pairava sobre as duas.

Lorrayne estranhava o fato de Layane e Eduardo estarem no mesmo andar por tanto tempo sem gritarias. Acompanhando seu pensamento, o início de mais uma batalha.

Seria melhor acalmá-los? Não, Renan estava lá. Mas até Renan gritava. Era necessário subir a estabelecer uma paz temporária.

Correu escada acima. Conseguiu ver Renan puxando Layane para seu quarto, enquanto quase trombava com Eduardo, que já descia as escadas. Não sabia para que lado devia ir. Renan já consolava Layane, era melhor falar com Eduardo. Desceu as escadas correndo. Viu a porta da frente batendo, abriu-a e correu atrás do primo, enquanto gritava:

_ Ei! Eduardo! Espera! Ei! Dá pra parar? Me espera!!!

E mesmo com tanta gritaria, Eduardo se fazia indiferente. Segurou-o pelo punho, mas o garoto se soltou. Sem seguí-lo mais, perguntou:

_ Mas o que aconteceu? Por que você não quer falar comigo?

O jovem se deteve e virou-se. Perguntou:

_ Não acha engraçado perguntar o que aconteceu? Mais uma vez sua irmãzinha mimada não conteve o desejo de me tirar a rara tranqüilidade que é possível encontrar nessa casa...

_ Espera aí! Por que você está falando nesse tom comigo? Não fui eu quem esteve no seu quarto gritando! Pára de me tratar como se eu fosse a Layane!

Ficaram uns instantes em silêncio. Lorrayne aproximou-se perguntando:

_ Então quer dizer que você foge toda vez que ela te diz algumas besteiras... Mas o que é isso?! – perguntou apontando para o rosto do garoto.

_ Dessa vez ela não apenas me disse besteiras.

_ Layane te bateu? Nossa, não sabia que as brigas de vocês eram tão violentas...

_ Ela está sempre se superando. Tive de segura-la, antes que ela fizesse pior, e ela começou a gritar como louca, então Renan chegou e você deve imaginar o que ele pensou. E é exatamente isso que ela vai contar para a tia Martha quando ela chegar.

_ Que conte! Eu vou ser testemunha que Layane estava te agredindo.

_ Lorrayne, acorda! Você acha que ela vai acreditar?

_ Vai. Minha mãe gosta muito de mim. E eu tenho meus meios. Então. Deixa comigo. Agora vou falar com Layane, saber o que ela me diz.

_ E com certeza você vai cair na dela.

_ Ihhh... Você não me conhece mesmo. Não sou tão fácil.

Lorrayne correu para o quarto de Layane. A garota tomava um copo de água trazido por Renan. Lorrayne entrou já perguntando:

_ Layane, o que aconteceu para você se superar desse jeito?

Renan interveio:

_ Lorrayne, Layane está nervosa, Eduardo a machucou!

_ Porque ela bateu nele, não foi Layane? Ele tinha de se defender, e só estava te segurando!

Layane colocou o copo sobre a mesa de cabeceira e levantou-se. Aproximou-se da irmã e disse:

_ Ele encheu sua cabeça contra mim, não foi?

_ Não, Layane! Ele só me disse a verdade, que você sabe que está contra você, não é?

_ Lorrayne você vai deixar de acreditar em mim, que sou sua irmã?

Lorrayne virou-se para Renan e disse:

_ Renan não acredita no irmão.

E o garoto se defendeu:

_ Eu o conheço há dezesseis anos.

_ E eu conheço Layane há dois meses, por que deveria acreditar nela?

_ E conhece Eduardo há menos ainda! – explodiu Layane, continuou – Então, como pode acreditar nele que nem tem seu sangue?

_ Ele é meu primo! Claro que tem meu sangue! E se fosse assim, Renan acredita em você, e também não o teria!

_ Renan é meu amigo.

_ E Eduardo é meu amigo.

Layane ficou muda por um instante, mas logo se recuperou:

_ Ah, então agora Eduardo é seu amigo?

_ É. É meu amigo sim.

_ Lorrayne, estou te avisando, nosso primo não é flor que se cheire! Ele só quer usar você, para que o defenda para nossa mãe.

_ Não, Layane. Eu acho que a falsa aqui é você.

_ O que?!

_ Isso. Você. Faz de tudo para que sua mãe repreenda Eduardo. Até inventa mentiras cabulosas!

_ Não invento mentiras!

_ Claro que inventa! E aquela de “atos libertinos” do Eduardo aqui em casa?

_ Mas ele os pratica aqui em casa, você mesmo me disse!

_ Olha! Outra mentira! Eu disse que tinha visto ele beijar uma garota! E quer saber de uma coisa? Concordo com ele que você pratica atos libertinos na escola! Se para você um beijo é um ato libertino, você com certeza os pratica na escola! Vai me dizer que não?

_ Lorrayne, não estou te reconhecendo...

_ É que estou falando tudo o que estava entalado na minha garganta. E se preparem, daqui pra frente vai ser assim. Porque se tem uma coisa que não suporto, é injustiça.

_ Muito bem, Lorrayne. Foi você quem quis. Você quer mesmo saber o que é injustiça? A partir de hoje, mamãe vai passar a tratá-la como Eduardo. E eu vou tratar pessoalmente para que isso aconteça. Você vai aprender a me tratar direito.

_ O que você vai fazer? Contar umas mentirinhas? Cai na real Layane! Você acha mesmo que ela vai acreditar em você? Nossa mãe gosta muito de mim, e faria qualquer coisa para me manter aqui. E vou jogar seu jogo, vou usar isso para te manter na linha!

Layane ficou calada. Lorrayne perguntou:

_ Entramos num acordo? Você pára com essas mentiras, e eu te deixo em paz.

_ Não irmãzinha. Não temos acordo nenhum. Você não vai conseguir.

_ Você é quem sabe. Você conta pra ela que Eduardo te machucou, e eu faço sua caveira!

_ Lorrayne, você não vai me superar com a mãe. Melhor nem tentar.

_ Você está blefando. Agora vou indo. Mas pense no nosso acorda, beleza?

Lorrayne saiu do quarto. Layane fechou a porta com violência. Renan perguntou:

_ Com certeza a tia Martha vai acreditar nela.

_ Renan, tenho uma idéia. É perigosa, mas vai funcionar. É só termos cuidado. Você ainda tem contato com aquela seu amigo Gabriel?

_ Tenho.

_ Mas vocês são amigos mesmo? Podemos confiar nele?

_ Sem problemas!

_ Ele ainda trabalha naquela drogaria?

_ Trabalha... Layane, você está pensando em envenenar Lorrayne?

_ Não. Não vou envenenar Lorrayne. Nem fazer nada contra ela. Não fisicamente falando.

_ Então?

_ Ainda vou pensar se vai dar certo, depois te conto.

_ Vai envenenar Eduardo?

_ Não! Não vou envenenar ninguém! Agora sai do meu quarto. Quero descansar e pensar um pouco.

O garoto deixou a prima com suas idéias fervilhando na cabeça.

Todos ficaram em alerta quando Martha chegou. Cumprimentaram a mulher e jantaram. Lorrayne estava preparada para qualquer tipo de ataque. Mas nada de anormal ocorreu, a não ser o fato do jantar ter sido numa paz que nunca vira antes.

Estranhando, Martha perguntou:

_ Mas o que está acontecendo com essa família? Estão todos tão quietos! O que andaram aprontando?

_ Nada, mãe. Credo, já está imaginando que fizemos algo errado! – comentou Layane.

Surpresa, a mulher continuou:

_ Difícil acreditar, mas... Então quer dizer que Lorrayne está mesmo fazendo bem a essa família?

As duas garotas se entreolharam. Lorrayne com olhar de vitória, e Layane com olhar de desprezo, mas disfarçou seu sentimento, quando disse sorridente para a mãe:

_ Pois é mãe, Lorrayne têm mudado essa casa!

E voltaram a jantar.

No fim de semana Martha levou a todos para almoçar fora, e o mesmo silêncio pairou na mesa. Mas Layane resolveu quebrá-lo, conversando com Renan.

E mais uma semana passou.

Lorrayne estava sempre atenta para uma possível investida da irmã. Numa quinta-feira, estava agradecida por Eduardo estar na aula de guitarra e zerar a possibilidade de atritos quando o telefone tocou. Layane não o atendeu, então Lorrayne resolveu fazê-lo.

_ Alô?

_ Lorrayne?

_ Catharina...

_ Olha, eu não pude passar aí, mas liguei para avisar que estou indo embora. A empresa tem uma filial em São Paulo, e estou indo para lá.

_ Ah... Tá... Tudo bem...

_ E Martha? Está?

_ Não. Quando você vai?

_ Estou esperando o táxi.

_ Você vendeu a casa?

_ Já.

_ E... – baixando a voz, Lorrayne perguntou -... Eu posso te visitar?

Catharina ficou em silêncio, Lorrayne voltou ao tom normal de voz:

_ Claro, eu vou entender se você não quiser...

_ Não, tudo bem. Você anota o endereço, e vê o que vai fazer...

_ Sim... É. Depois eu vejo o que vou fazer.

Lorrayne anotou o endereço que Catharina ditou, e desligou o telefone. Sarcástica Layane descia as escadas gargalhando. Parou próxima à irmã e disse:

_ Oh... Que dó! A mamãe vai abandoná-la!

_ Você estava na extensão?

_ Eu??? O que a faz pensar isso?

_ Não sabia que além de maldosa você era enxerida! Catharina não é minha mãe, e nem vai me abandonar. Ela só vai se mudar, mas eu tenho o endereço. E caso você queira sumir com ele, eu tenho o celular dela.

_ Ah, Lorrayne... Você não devia ter se metido comigo...

_ Não tenho medo do que você possa fazer. A mãe vai acreditar em mim.

_ Você que pensa.

Layane foi até a escada e gritou:

_ Renan! Anda logo! Vamos nos atrasar!

Diante da expressão intrigada de Lorrayne, Layane disse:

_ Eu e meu priminho vamos dar uma volta. Quer vir?

Irritada, Lorrayne ignorou Layane e subiu para seu quarto. Aquela situação estava ficando incômoda. Como Layane podia ser tão má? E como podia conviver naquela situação com sua própria irmã?

Continua


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