Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 14
XIV - Decisão




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Lorrayne estava sem ação. Nunca passara por tantas emoções juntas na vida. O que responderia? Inconscientemente, respondeu:

_ Eu amaria!

_ Que ótimo! – Martha abraçou Lorrayne mais uma vez, despertando-a de seu estado absorto.

Preocupada, lembrou:

_ Bom... Mas... E Catharina? Na verdade tenho que falar com ela... Pelo menos avisá-la... Eu não sei...

_ Não se preocupe, querida, nós duas falaremos com ela! Não se preocupe!

Layane perguntou:

_ Mãe, e nós? Você não perguntou o que achamos a respeito de Lorrayne morar aqui.

_ Desculpe-me, minha querida! Mas, o que você acha?

Layane caminhou até Lorrayne. Abraçou-a e disse:

_ Bem-vinda à família, irmãzinha!

Lorrayne também a abraçou e disse:

_ Obrigada, Layane! Você sempre foi tão boa comigo! Vou gostar muito de ser sua irmã!

Martha também perguntou aos meninos, Renan prontamente respondeu:

_ Vai ser muito legal!

E Eduardo:

_ Espero que não seja tão pentelha quanto Layane. – dizendo isso, se retirou da sala.

Martha voltou-se para Lorrayne e disse:

_ Você só vai ter problemas com esse aí, mas é normal... É só não dar atenção!

_ Não se preocupe!

Martha pegou Lorrayne pela mão e disse:

_ Agora vamos falar com Catharina, não vejo a hora de tê-la bem pertinho de mim! Vamos lá?

_ Claro! – respondeu Lorrayne.

_ Layane, Renan, vocês vêm?

_ Não, mamãe. Isso é muito particular.

_ Concordo com a Layane, tia.

_ Certo. Beijos.

Martha entrou no carro junto com Lorrayne. No caminho Lorrayne contava tudo o que lembrava sobre sua vida. Todas suas lembranças, experiências... Assim que chegaram, encontraram Catharina na sala. Catharina levantou-se de onde estava sentada, e perguntou ao ver Martha junto à sua filha:

_ Lorrayne? Martha? O que houve? Como você está, Lorrayne, meu amor?

_ Precisando falar com você. – respondeu Lorrayne.

_ Claro, meu amor! Pode falar!

Lorrayne sentou-se e fez sinal para que Catharina também sentasse. A mulher sentou-se. Lorrayne começou:

_ Eu agradeço por tudo que fez por mim durante esses quinze anos... Mas agora... Quero viver minha verdadeira vida... Vou morar com minha mãe...

Catharina cobriu a boca com a mão. Fazia o possível para segurar o nó na garganta que subia cada vez mais. Levantou-se, andou de um lado a outro, e perguntou:

_ Você está agradecida por tudo que fiz? Está agradecida por eu ter passado noites e mais noites em claro durante seu primeiro ano de vida? Está agradecida por eu ter trabalhado feito louca para te dar do bom e do melhor? Está agradecida por todos os conselhos e carinhos que te dei? Está agradecida? Por que? Porque você acha que eu fiz um favor? Não, não foi somente isso! Eu fiz porque te amei desde o primeiro dia que te vi! E você está agradecida! Fico feliz que esteja agradecida, mas você pode retribuir! E você quer viver sua verdadeira vida? Então tudo o que vivemos juntas foi uma mentira? Não passou de uma ilusão? Só porque não sou sua verdadeira mãe? Lorrayne, o que você está fazendo comigo?

_ Olha, eu realmente sinto muito, mas eu tenho esse direito! O direito de viver com minha verdadeira mãe!

_ Lorrayne, é fácil para você deixar essa casa e todas as lembranças que nela contém? Como você consegue? Lorrayne, você está tirando o que há de mais importante na minha vida!

Catharina caminhou até Martha. Soluçando, disse:

_ Martha, se você ia fazer isso, era melhor nem tê-la entregue! Você me prometeu que não faria isso! Você prometeu!!!

_ Catharina, eu só disse que gostaria que ela viesse morar conosco, e ela amou a idéia! Não posso fazer nada!

_ Martha, se você realmente me amasse como irmã, jamais teria feito isso. Isso é pior que a morte. Eu estarei vivendo morta. Morta, sem minha vida, que é Lorrayne! Por que você fez isso? Por que?

_ Catharina, se acalme! Você poderá visitá-la quantas vezes quiser, e eu a trarei aqui quantas vezes ela quiser!

_ Você sabe que não será a mesma coisa, você sabe!

_ Minha irmã, não fique assim, por favor, por mim... Olha, eu vou embora, venho buscar Lorrayne amanhã. Quero que conversem e se entendam... E você tem que entender, Catharina, eu também mereço isso. Vivi esses quinze anos esperando esse momento... Tenho que ir... Amanhã à tarde eu volto... Tchau... Lorrayne, querida, se cuide, e tome conta de Catharina...

Martha deixou a casa. Em seu interior, sentia-se fugindo. Havia sofrido por longos quinze anos, agora sua irmã teria de suportar algumas horas. Sentia que aquilo era justo, mas sabia que não era.

Catharina desabou sobre o sofá, com o rosto entre as mãos, soluçando silenciosamente. Lorrayne aproximou-se, colocou uma mão sobre seu ombro. Pediu:

_ Por favor, não chore.

_ Lorrayne, como você pode pedir isso? Lorrayne, não consigo acreditar que você esteja fazendo isso... Durante esses quinze anos, que dei meu sangue por você, você não cultivou nenhuma espécie de amor por mim? Nem carinho? Pena?

Lorrayne logo retirou sua mão do ombro de Catharina. Afastou-se e disse:

_ Você tem que entender... Passei todo esse tempo pensando que vivia com a minha mãe... É doloroso saber que vivi uma mentira... Eu amo você... Mas preciso de um tempo... De um tempo com minha mãe.

_ Você quer morar com sua mãe? Aquela que te entregou quando ainda tinha poucos dias?

_ Ela estava com problemas... Foi uma necessidade... Você sabe!

_ Eu jamais faria algo assim, por nenhuma necessidade...

_ Pára com isso! Não é me envenenando contra minha mãe, que você vai me fazer mudar de idéia! Eu vou! Eu vou e pronto!

Catharina permaneceu calada. Suspirou profundamente até acalmar-se. Enxugou o rosto e levantou-se:

_ Tudo bem, Lorrayne. Não vou me impor contra sua vontade. Só espero que saiba o que está fazendo.

Deixou a garota sozinha e subiu para seu quarto. Dessa vez, foi Lorrayne quem se largou sobre o sofá. Havia vivido muitas emoções em um único dia. Naquele instante só queria descansar, sem mais surpresas ou decisões a serem tomadas. Um pensamento atravessou-lhe a mente. Havia descoberto de quem era a culpa de tudo aquilo... Quem mais senão seu pai? Um nojento que engravida uma mulher apaixonada e a troca por sua irmã! Que tipo de homem faria aquilo? É claro! Martha não tinha escolha. Estava tomada pela raiva, e pelo sofrimento. Enquanto Davi divertia-se com Catharina, sua própria irmã! Que canalha... Havia colocado todas aquelas pessoas em conflito, e agora “descansava em paz”...

_ Literalmente... – disse Lorrayne, completando seu raciocínio, enquanto levantava.

Também subiu para seu quarto. Ainda pensou se deveria falar com Catharina, saber se estava bem, mas aquela atitude talvez piorasse seu estado.

Passou o resto do dia trancada em seu quarto, arrumando suas coisas. Recusou a janta, que havia sido anunciada com muita frieza por Catharina. E vagarosamente a noite chegou. Abriu seu diário e escreveu:

Diário...

Caramba, tanta coisa aconteceu... Dá para numerar:

1. Martha falou a verdade

2. Layane já sabe

3. Os primos dela também

4. Martha, ou melhor, minha mãe me convidou para morar lá, com ela, com minha irmã, e com meus primos!

5. Eu aceitei!

Ta certo que Catharina está muito chateada e não quer que eu vá, mas ela não tem o direito de impedir, e ela sabe disso. Eu quero conhecer minha verdadeira família! E vou conhecer! Estou ansiosa pelo dia de amanhã. Meu primeiro dia na minha família. Será que vai ser legal? Será que eu vou gostar? Será que gostarão de mim? Layane me parece tão legal! O primo Renan também! Minha mãe então... É um amor! A única pessoa que me preocupa é o Eduardo. Um outro primo. Mas se ele folgar comigo vai ouvir! Vou tratá-lo como Layane trata! Ali! Bom, tirando isso, sei que será muito bom!  Espero que seja muito bom! É isso. Tenho que terminar de arrumar minhas coisas...  Até Breve.

Finalizando, fechou o diário e continuou a arrumar os poucos objetos que faltavam. Terminando isso também, foi dormir. Ansiava pelo dia seguinte.

Na terça-feira acordou antes de Catharina. Andou sem parar pela casa inteira tamanho era seu nervosismo. Catharina estava atrasada. Ainda não havia acordado. À uma hora daquelas já devia estar tomando café... Temendo o pior, Lorrayne correu escada acima e bateu na porta do quarto:

_ Você está bem? Está atrasada! Tudo bem com você?

Para sua surpresa, Catharina abriu a porta. Parecia bem, apesar da feição cansada e indiferente. Sem nenhuma palavra passou por Lorrayne, que disse:

_ Você está um pouco atrasada...

_ Não, não estou. Hoje não vou trabalhar. Liguei para lá e pedi o dia de folga.

_ Ah... Legal... E... Você... Você pretende me ajudar com... Com a mudança?

_ Pode ser... Mas não era esse meu objetivo principal. Também me mudarei. Não ficarei nessa casa. Não sem você. Vou tratar da venda dela, procurar um apartamento, e arrumar minhas coisas.

_ E... Pra onde você vai?

_ Ainda não sei. Não sei como será daqui para frente. Bom, mas acho melhor se apressar, senão você é que vai se atrasar, não?

_ É... É verdade. Ah! Não! Não estou atrasada. Bom, na confusão de ontem, acabei esquecendo de dizer... Estou suspensa... Por três dias...

Sem nem mesmo olhar para Lorrayne, Catharina disse:

_ Tenho que ir até a imobiliária, tratar da venda da casa, e da compra de um apartamento.

_ Mas... E a bronca? A lição de moral?

_ Lorrayne, creio que você já tem juízo para saber se você fez certo ou errado, e pode pensar sozinha sobre isso.

_ Aí está meu castigo? Quer que eu fique em meu quarto pensando no que fiz?

_ Não. Não quero nada. Faça como quiser. Estou indo. Até logo.

Catharina desceu as escadas e saiu. Lorrayne estava começando a detestar aquilo. Ela era a única que devia ser hostil ali. Ela sempre foi a única.

O pensamento de se mudar a confortava muito.

Quando Catharina voltou, concentrou-se em arrumar suas coisas. Foi melhor para Lorrayne, assim pode conversar tranqüilamente com Layane no telefone:

_ Alô?

_ Alô! Lorrayne?

_ Sou eu.

_ É a Layane!

_ Ah! Oi! Tudo bem?

_ Muito! Mas... O que aconteceu? Por que não foi à escola?

_ Bem... Fico até sem-graça... Não te disse que estou suspensa?

_ Uau! Não! Você não me disse! O que aconteceu?

_ Discuti com uma professora. A chamei de asquerosa.

_ Sério? Que louco! E quem foi?

_ A Carmem. De Química.

_ Lorrayne, serei para sempre sua fã! É muito bom saber que você é minha irmã!

_ Nossa... Obrigada.

_ Mas está tudo bem com você? Ou você está de castigo?

_ Não, não. Catharina não quer mais nem falar comigo...

_ Ela está te tratando mal?

_ Não. Não está tratando. Tudo bem. Ela não fala comigo, e eu não falo com ela. É um acordo justo.

_ Pois é... E você já está preparada?

_ Mais que isso! Estou ansiosa!

_ Fico feliz. Bom, minha mãe está saindo daqui de casa. Ela mal vê a hora de ter você morando conosco. Ficou super preocupada porque você não apareceu na escola.

_ Mas está tudo bem comigo. Estou esperando.

_ Tá bem! Então vou desligar. O Renan já está me enchendo a paciência! Nos vemos daqui a pouco.

_ Certo. Até daqui a pouco.

E desligaram. Lorrayne voltou para checar suas coisas. Nunca esteve tão ansiosa. Foi até o quarto de Catharina, que ainda arrumava suas roupas. Disse:

_ Ela já está vindo.

Continua


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