Intrigada, Lorrayne seguiu a mulher, que abriu uma porta ao lado do quadro negro e a conduziu para dentro. Era o laboratório de química. Carmem pediu a Lorrayne que se sentasse e lhe entregou a prova. A garota não podia acreditar naquilo. Perguntou:
_ Professora, o que significa isso?
A mulher olhou no relógio e disse:
_ Significa que você já perdeu quinze minutos de prova.
_ Mas a culpa não foi minha, professora...
_ Está dizendo que foi minha?
_ Mas a senhora estava conversando com as meninas na sua mesa...
_ Chega! Mais uma falta como essa, e a levo novamente para o diretor Vigário!
_ Por que tenho que fazer a prova separada dos outros?
_ A senhorita acha que não vi sua conversinha com Yshara e Marco Aurélio?
_ Mas, professora, estávamos estudando! – Lorrayne apertou o estojo mais forte.
_ Essa é velha. Comece logo seu teste, antes que eu o suspenda!
Lorrayne sentou-se e antes de encostar a caneta na folha, perguntou:
_ A senhora não tem medo de que os vinte e nove alunos restantes colem?
_ Eu os conheço há anos.
_ E nunca colaram?
_ Faça o teste!
Lorrayne balançou a cabeça indignada e começou a prova. De vez em quando Carmem dava uma olhada através da porta, para conferir o que ocorria na sala com os 29 alunos. Lorrayne respondeu oito questões e parou para pensar nas duas que sobraram. Pena que não podia dar uma espiada na tabela... Carmem deu uma olhada em seu teste e disse:
_ Estudando! Esses seus dois amigos também vão perder alguns pontos.
_ Professora, do que a senhora está falando? Só estou tentando resolver minha prova...
_ É o que parece... Deixe-me ver seu estojo.
Lorrayne paralisou. Perguntou:
_ A senhora está achando que eu tenho cola aqui?
_ Só vou descobrir olhando! Deixe-me vê-lo!
Lorrayne o segurou. Abriu-o e escondeu a mini tabela entre os dedos. Remexeu suas canetas com a outra mão enquanto falava:
_ Não tem nada, viu? Nada além de canetas, lápis...
_ E na sua mão?
_ Nada.
Lorrayne mostrou a mão do estojo, mas não contava que Carmem fosse agarrar a outra. A professora segurou firmemente a mão da garota e ordenou:
_ Abra a mão!
_ Professora, tá me machucando...
_ Abra a mão, e eu te solto!
_ Professora, me solta, posso denunciá-la, sabia?
_ E eu posso argumentar muitas coisas, sabia? E você também sabe que tenho minhas testemunhas, não sabe?
_ Como a senhora é suja! Eu também tenho minhas testemunhas!
_ Quantas? Duas? Eu tenho muito mais.
_ A professora Geni vai ficar do meu lado!
_ Quem vai acreditar naquela charlatã?
_ Eu tenho minha mãe e os pais dos meus... Dos meus amigos!
_ Nenhum deles está aqui!
_ Professora, me solta, está me machucando de verdade!
_ Se você não abrir a mão, terei que levá-la arrastada ao diretor Vigário!
_ Não vai não!
_ Vou sim!
Carmem conseguiu abrir a mão de Lorrayne e pegou a mini tabela periódica. Disse para Lorrayne que massageava a mão dolorida:
_ Arrá! Eu sabia que você estava escondendo algo!
Olhou para Lorrayne, que continuava impassível. Perguntou:
_ Muito bem, qual dos dois te deu isso?
_ Ninguém me deu.
_ Muito bem, se não vai falar, advertência para os dois também!
Levantando-se, Lorrayne exclamou:
_ A senhora não pode fazer isso!
_ Posso sim, e posso muito mais!
_ Você é asquerosa!
Carmem calou-se. Olhou furiosamente para Lorrayne. Pausadamente falou:
_ Não vou te levar ao Vigário... Mas sim ao diretor... Isso pode te custar até uma expulsão...
Lorrayne não sabia o que fazer. Seus olhos marejaram. Tanto de raiva, como de medo. Nunca havia chegado a tal ponto na escola. Carmem disse:
_ Garota, agora você tem problemas. Venha comigo.
Carmem pegou a prova de Lorrayne, e saíram da sala. Todos olharam para a dupla que atravessava a sala. Antes de sair, Carmem pediu a Caroline que anotasse os nomes dos indisciplinados. Yshara e Marco se entreolharam, mas sem coragem para trocar qualquer palavra.
Na sala do diretor, Carmem contou sua versão, que foi aceita mesmo com a contradição de Lorrayne. No fim, Lorrayne levou uma suspensão de três dias. Carmem voltou à sala, mas Lorrayne ficou, não suportaria uma aula dela. Não naquele instante. Também não entrou na de história. Ficou sentada numa escada embutida, que já nem era mais usada. E resolveu não entrar na de matemática também. Não teria paciência para a estupidez do professor. Quando o sinal tocou, Lorrayne sentou-se mais uns degraus acima, não queria ver ninguém. Nem queria que ninguém a visse.
Ainda faltavam quinze minutos para o intervalo terminar, quando Yshara a encontrou. Sentou-se ao seu lado e perguntou:
_ Lorrayne! Estávamos preocupados te procurando! O que aconteceu?
_ O que você acha que aconteceu?
Yshara levantou-se e desceu os quatro degraus que havia subido. Lorrayne sentiu-se aliviada, achando que estaria indo embora.
Mas se enganou. Yshara apenas fez sinal para que Marco se juntasse às duas. Os dois subiram e sentaram-se um de cada lado. Marco perguntou:
_ Lorrayne, o que Carmem fez para você não voltar para as aulas?
_ Eu só não estava a fim de ver a cara de algumas pessoas. Dessa vez ela me levou ao diretor.
_ Por que? – perguntaram em coro.
_ Ela encontrou a tabela periódica no meu estojo.
Arrependido, Marco disse:
_ Me desculpe, Lorrayne, eu não sabia que ela a encontraria... E agora? O que ela vai fazer comigo? Vou ficar com zero no teste? Ou também vou levar uma advertência?
_ Não levei uma advertência. – esclareceu Lorrayne.
Aliviado, Marco falou:
_ Que bom! Imaginou se você leva uma advertência por minha culpa?
Lorrayne levantou-se. Antes de descer, disse:
_ Levei uma suspensão de três dias.
A garota saiu andando pelo pátio. Yshara e Marco vieram ao seu alcance. Marco perguntou:
_ Então você está mesmo com raiva de mim? Eu só queria ajudar...
Yshara complementou:
_ Mas Lorrayne, como a professora Carmem pode dar uma suspensão de três dias por causa de uma cola?
Andando rápido e sem olhar para nenhum dos dois, Lorrayne explicou:
_ Não foi só por causa da cola. Eu lhe disse que era asquerosa.
Os dois que tentavam seguí-la, olharam-se com espanto. Yshara, cuidadosamente perguntou:
_ Então vocês brigaram? Por causa da cola?
_ Ela queria dar uma advertência para cada um de vocês. Isso não era justo. Discutimos, e levei uma suspensão.
Yshara segurou o pulso de Lorrayne, fazendo-a parar. Disse:
_ Lorrayne, ao mesmo tempo em que você parece ser indelicada com a gente, você se arrisca para nos ajudar. Por que você é assim? Por que não quer ser nossa amiga?
Lorrayne tirou seu pulso das mãos de Yshara e disse:
_ Me deixem sozinha por um tempo.
A garota continuou andando. Yshara e Marco entenderam o pedido e a deixaram sozinha. Lorrayne caminhava pensativa, e Caroline juntamente com Laís se aproximava, mas recuaram quando Layane chegou abruptamente e cumprimentou Lorrayne:
_ Oi! Por onde andava? Queria falar com você!
_ Ah! Oi Layane! Eu estava por aí, escondida.
_ Ah, tá! E aí? Você gostou de ir lá em casa?
_ Muito... Foi realmente muito bom.
_ Falando na minha casa, minha mãe queria que você voltasse lá.
_ Ah... Ah é? Bom... E o que ela quer? Digo, por que ela quer que eu vá lá?
_ Não sei. Ela disse que gostaria de falar com você e com a sua mãe.
_ Minha mãe? Ela quer falar com a minha mãe? E por quê?
_ Xiii... Não faço a mínima idéia! Ela fez mó mistério! Eu fiz um baita dum escândalo pra ela falar, mas não adiantou! Você pode ir lá hoje?
_ Posso, sim, eu posso!
_ E sua mãe?
_ Ela também pode! Tenho certeza.
_ Mas minha mãe disse que queria falar primeiro com você, e depois com a sua mãe...
_ Tudo bem. Eu vou sozinha na sua casa!
_ Lorrayne, tem certeza de que não faz idéia do que ela quer conversar com você e sua mãe?
_ Não, eu não faço.
_ Tudo bem... Mas vai ser muito legal recebê-la de novo em casa! Venha quero te mostrar umas pessoas!
Layane puxou Lorrayne pela escola até encontrar um grupinho. Eram uns amigos seus. Apresentou Lorrayne a todos e voltaram a andar pela escola. Layane falava empolgada:
_ ... Ah! E aquele ali, me pediu em namoro há pouco tempo. Eu não aceitei, pois nem o conhecia direito! Mas, está vendo aquele ali? Ele sim, eu aceitaria sem nem saber o nome! Ele é muito lindo! Ele é uma graça! E você, Lorrayne, com quem você ficaria sem nem saber o nome?
_ Ah... Nem pensei nisso... Tem muita gente bonita nessa escola!
_ Ah! Mas unzinho só você deve achar! Quem? Não precisa nem ser uma pessoa que você gostaria de namorar, mas uma pessoa que você acha bonita!
_ Ah! Uma pessoa bonita... Seu primo! Ele é lindo, vai!
_ Meu primo? O Renan?
_ É. Eu o acho muito bonito.
_ Ah, que interessante... E você o namoraria?
_ Ai, Layane... Não estou pensando nisso agora...
_ Ah, me diz, vai!
_ Não sei! Acho que não.
_ E por que não? Você acabou de dizer que ele é lindo!
_ Mas isso não é suficiente. Não para mim.
_ Tudo bem, me desculpe, só queria vê-la namorando meu primo! Seria muito legal!
_ Seria legal ver você com ele!
_ Sou prima dele.
_ Eu também! – Lorrayne deixou escapar.
Continua