Um Amor Que Sobreviveu. escrita por skinnysoul


Capítulo 1
E tem como esquecer o primeiro amor?




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"Eu não estou te afastando, Lucas. Eu quero ficar com você para o resto da vida".

Abri meus olhos depois de mais uma noite sem conseguir dormir, sentindo o sol queimar minhas órbitas devido à luz que adentrava o quarto pelas janelas. Peyton recostava a cabeça e os braços ao meu corpo. Fiz questão de levantar calmamente da cama e afastá-la de modo que não a acordasse.

Fui até o quarto de Sawyer para ver como ela passou a noite. Hoje em dia ela está com 3 anos e vendo-a assim, dormindo tão profundamente, com esses cachinhos dourados e pele tão branquinha, o pânico de toda gravidez da Peyton invade meu ser. Sawyer poderia não estar aqui.

Meus anos de casado não foram fáceis. Peyton e eu já havíamos combinado tudo em mente como seria a vida ideal e depois de tantos empecilhos para que ficássemos juntos, parecia que tudo finalmente iria ajeitar-se. Mas não foi o que aconteceu. Os primeiros meses foram tranquilos e recheados de muito amor. Nosso lar era como sonhamos e tínhamos nossa filha que é o retrato esculpido de um anjo.

Com o tempo, nossas conversas e relacionamento em si foram desgastando-se. Passei a chegar tarde do trabalho, Peyton mal para em casa devido à gravadora que abriu na cidade. Bem, ela está trabalhando com o que gostava e eu também. Ter o emprego dos sonhos é uma das partes que constituem uma vida perfeita, certo? Errado.

Há muito tempo eu não consigo mais ter inspiração para escrever e esse bloqueio veio justamente da forma que menos deveria. Na minha mente.

Antigamente era tão fácil ter sobre o que falar, exaltar nossas conquistas, demonstrar o quanto vivemos e vencemos para chegar até onde chegamos... Só que hoje em dia nada mais disso parece fazer sentido.

Minha vida tornou-se monótona. A única parte que alegra meus dias é buscar Sawyer na escola. Toda vez que chego lá e a vejo brincando com as demais crianças, sinto meu coração ficar apertado. Peyton me deu o maior presente que eu poderia ter ganho e por esse motivo serei eternamente grato à ela.

Ao voltar com Sawyer para casa, é curioso o fato como ela tenta falar cada nova palavra que escuta e acaba atropelando-se toda. Minha mão sempre segurando firme na sua, como uma forma protetora de nunca deixá-la fugir de mim.

Brincamos na pracinha sempre que tenho uma folga do trabalho. Levo-a à casa de alguma amiguinha, almoçamos juntos e a noite leio uma história para que ela durma tranquila.

Peyton é uma mãe atenciosa e bastante empenhada em cuidar de Sawyer. Dividimos todas tarefas que temos a fazer para cuidar dela. O que é impossível não notar é o fato de que Peyton não me olha mais como costumava olhar. Não somos mais divertidos juntos e sequer fazemos questão de contar sobre nosso dia assim que chegamos em casa.

Caímos na comodidade, talvez. Fomos empurrando para baixo do tapete cada mínimo detalhe que se faz tão importante em um relacionamento para que ele seja duradouro. Aquele brilho no olhar, o sorriso despretencioso, a paixão que ferve dentro do peito... Nada mais. E o pior era sentir que eu, talvez, tivesse mais culpa do que ela própria.

Durante esses anos nunca parei de pensar em tudo que deixei para trás quando saí de Tree Hill. Haley, Nathan, Skills, Mouth... E principalmente Brooke.

Nos tornamos bons amigos logo depois que nosso namoro não engrenou. Mas era inevitável não relembrar de tudo que vivemos juntos. Arrisco dizer que muitos casais que ficam juntos durante cinquenta anos não vivem o que vivemos em dois anos.

Cada memória preenche meus pensamentos. Eu sinto sua falta de uma maneira que chega a sufocar.

– Ei, amor. O papai vai ir ver a tia Brooke, ok? Prometo que eu volto para casa assim que puder. - Falo enquanto dou mamadeira à ela, que me encara com uma carinha curiosa de quem pouco entende sobre o que estou falando. Deixo um bilhete para Peyton explicando que precisei sair para esfriar um pouco a cabeça e que a noite estaria de volta.

Já dentro do meu carro, imagino se não estou sendo imprudente demais. Não falo com ela faz tanto tempo e sequer sei onde ela está morando, a não ser que é em Tree Hill.

Havia uma pessoa que poderia me auxiliar sobre o paradeiro de Brooke e essa pessoa é minha melhor amiga.

– Obrigado, Hales. Até hoje você me salva de todas maneiras possíveis. - Deposito um beijo em sua testa e na de Jamie, que me olha com um sorriso torto e olhos de admiração.

– Eu prometo voltar mais vezes para visitá-los. Diga ao Nathan que deixei um abraço para ele e... Eu amo vocês. -

– Também te amamos, Luke. Boa sorte com a Brooke. - Haley é de longe a pessoa mais altruísta e genuína que eu conheço.

Seguindo o endereço que me foi dado, paro exatamente em frente à antiga casa de Brooke. Aquela a qual nos resultou em tanta história.

"A garota por detrás da porta vermelha".

Desci cautelosamente do carro, ajeitando minha jaqueta de courou e esfregando as mãos nervosamente pela minha calça. Eu estou suando frio depois de todo esse tempo.

Bati na porta de forma desajeitada e no fundo sem esperar que alguém viesse atender. Um lado meu queria apenas fugir dali e de toda essa confusão que ainda morava em minha cabeça.

Ao abrir a porta, me deparo com aquela figura tão conhecida e de olhos ainda penetrantes. Por detrás daquele olhar era possível ler toda a alma que habitava seu corpo.

Ficamos nos encarando por uns minutos até que ela fez menção de abrir a boca com a intenção de falar algo, mas apenas conseguiu soltar um ruído.

– Também é bom te ver, Brooke Davis. - Minha voz era fraca e meu sorriso o mais encantado possível.

– Lucas, é você mesmo? Não acredito que você está aqui... Quero dizer, cadê a Peyton e a Sawyer? Isso está mesmo acontecendo? -

Aquelas perguntas e aquele ar típico de indignação eram típicos dela. Nem com o passar dos anos mudaria. E sinceramente, acho isso de extremo encanto.

– Sim, eu estou aqui. Peyton e Sawyer ficaram em casa. Eu meio que vim escondido. - O receio tomando conta de mim assim que pronunciei a última palavra.

A sequência dos acontecimentos foi espontânea. Ela me englobou em um abraço desejeitado e que foi tornando-se cada vez mais apertado. Cheio de saudade.

– Eu sinto tanta falta de vocês. Por favor, entre. Como está a Peyton e a Sawyer? - Brooke ainda parecia atordoada com minha aparição.

– Elas estão bem, obrigado. Tenho certeza que se soubessem da minha ideia teriam vindo juntas. -

– E por quê você não as trouxe? - Sua pergunta me pegou de surpresa e subitamente resolvi mudar de assunto.

– Sentimos muito por não ter vindo antes para conhecer seus filhos. Mas recebemos sua carta com as fotos deles. São lindos. Jude e Davis, certo? - Sem perceber, fui corando agressivamente na medida que despejava as palavras ao encarar uma Brooke Davis exuberantemente linda.

– Sim! Olha, eles estão ali no quarto. Venha vê-los, Luke. -

O quarto dos meninos é decorado por um azul bebê, dois berços, vários brinquedos em volta e fotografias deles com os pais.

– Esse é o Jude. Ei, Jude... Dê oi pro titio Lucas, bebê. - Jude sorriu em minha direção e logo em seguida continou brincando com sua bola de pelúcia.

– Esse é o Davis. Davis, quer ir no colo do tio Lucas, garotão? Ei, aproveita! Ele veio especialmente nos visitar. -

Segurei o menino extremamente loiro em meus braços enquanto Brooke retirava Jude do seu berço.

– Eles têm os seus olhos. E esses cabelos loiros me lembram os da Sawyer. Tão fofos. - Brinquei com os cachos de Davis. Era impossível não ficar encantado pelos garotos.

– Estou tão feliz que você está aqui. Até agora não acredito. -

Criei coragem para perguntar o que mais temia.

– Onde está o Julian? - E a resposta veio de forma entusiasmada e distraída.

– Ele está trabalho no estúdio dele. Volta somente às 20h. -

Brooke me convidou para almoçar e não fui capaz de recusar. Eu realmente preciso desse tempo ao lado dela.

Conversamos animadamente sobre nossas vidas, rotinas e filhos. Ela ria de forma contagiante à medida que em dava almoço para os meninos.

Sentamos na varanda da casa admirando a vista que nos previlegiava ali. O silêncio cômodo se instalou no ar e não fizemos questão de interrompê-lo. Davis parece verdadeiramente ter gostado de mim. Ele não para de passar sua mãozinha no meu rosto.

– Como você sabia que eu estou morando aqui? -

– Haley me deu seu endereço. Achou mesmo que eu viria até aqui sem antes visitá-la?! Que decepção, Brooke. - Comentei em um tom brincalhão, o que acabou resultando em uma expressão contida da parte dela.

– Desculpa, é que... Você se afastou tanto de nós que jamais pensei que voltaria aqui um dia. - Seu rosto demonstrava amargura e tensão.

– Sinto muito, Brooke. Minha vida virou uma completa bagunça. Mal tenho tempo para mim. Meu trabalho está de cabeça para baixo. Não escrevo algo decente há tantos meses... - Por um segundo pensei em continuar as reclamações mas resolvi olhá-la nos olhos.

– Eu sei como é. -

– Mas você parece tão feliz. -

– Eu estou feliz, Luke... Eu tenho tudo que eu sempre sonhei. -

– E tudo o que mereceu também. -

– É, mas sempre falta algo. - Sua resposta pairou no ar por um instante, até que recobrei meu juízo e fiz uma pergunta direta à ela.

– O que te falta, Brooke Davis? -

– Eu me tornei uma pessoa melhor com o passar do tempo. Amadureci, dei a volta por cima, ganhei uma amiga para o resto da vida, abri outra linha de roupas, me casei e tive dois filhos perfeitos. Então por quê sinto como se algo estivesse faltando? - Minha vontade de abraçá-la foi um instinto que demorei a segurar. Não pensei que ela ainda pudesse ser tão frágil e forte ao mesmo tempo.

– Lembro de quanto estávamos na escola. Éramos você, Haley e eu. Até que ela conheceu o Nathan e eu conheci a Peyton... - Não sei se ela notou meu tom de arrependimento.

Ao invés disso, ela apenas entrou dentro de casa com Jude ainda à tiracolo e no minuto seguinte voltou com um álbum de fotos em mãos.

– Isso foi no 2º ano, lembra? - E lá estávamos nós três novamente. Um mais sorridente que o outro. Brooke e eu tínhamos completado 1 mês de namoro e Haley fez questão de nos presentiar com um passeio no lago.

– Claro que eu lembro. Você ainda não sabia nadar e ficou no meu colo durante todo o trajeto de barco. - Não controlei minha gargalhada ao lembrar daquilo.

– Você é um idiota, Lucas. - Ela socou de leve meu ombro, voltando sua atenção às outras fotos.

De repente, uma foto cai no chão e sem muito esforço a pego na mão e vejo qual foto é essa.

Meu espanto e incômodo no estômago se fazia presente mais uma vez. Era uma foto minha e dela.

– Você ainda tem essa foto... - Meus olhos enchiam-se de lágrimas e arfei longamente até que fui capaz de olhá-la novamente.

– Guardo... É uma boa lembrança. O que você esperava? Que eu tivesse queimado tudo que me lembrasse você? É, eu queimei boa parte, diria que 90%. - Ela estava nervosa e falava tudo isso em um ritmo só, como se ansiosa para logo não precisar mais dizer nada.

Me aproximei dela e toquei sua mão. Jude e Davis nos olhavam inocentemente enquanto acariciei de leve a bochecha da mãe deles.

– Eu guardo muita coisa sua, inclusive todas suas cartas. Leio todas elas novamente a cada mês. -

Brooke não pareceu processar bem minha informação e afastou sua mão da minha, já sabendo o rumo que aquela conversa tomaria.

– Lucas, não. Por favor, apenas... Não. Você foi meu primeiro amor e é normal que eu guarde alguma recordação. Apesar de eu ter sofrido muito por sua causa, você também me trouxe alegrias incomparáveis. -

– Julgo que você pense ser normal eu lembrar de você todos os dias e pensar no quanto me arrependo de não ter ficado com você, certo? - As minhas palavras a atingiram em cheio.

– Acho que está na hora de você ir. - Brooke tremia assim como eu.

– Um dia você disse que me amaria para sempre, Brooke. Se você pudesse mudar algo hoje em dia, o que mudaria? - A essa altura ela já chorava languidamente, de uma forma que causaria desespero em qualquer um.

– Eu teria ficado com você, Lucas. Isso que eu mudaria. Mas veja bem, Julian é um ótimo homem e me presentiou com o Jude e o Davis, então não posso ser tão egoísta ao ponto de achar que ele não me deu o bastante. Agora você volta do nada e acha que tem o direito de bagunçar todas minhas estruturas novamente?! Uma vez é suficiente. Nós nunca teríamos dado certo e você sabe disso. Infelizmente, nós dois sabemos... -

– Brooke, eu sinto tanto... Eu queria poder voltar atrás e mudar as coisas. Eu juro que faria diferente. Estando com a pessoa errada notamos em dobro a falta que a pessoa certa nos faz. -

– Eu preciso que você vá embora agora. E por favor, não volte mais se for para me magoar de novo. Você já fez isso muito bem da primeira vez. -

E então eu devolvi Davis aos braços da mãe e desci os degraus da casa em direção ao meu carro. Foi um erro voltar ali. Foi um erro me achar no direito de mexer com a vida dela mais uma vez. Se hoje não estamos juntos foi por consequência das minhas escolhas.

– Eu falei que um dia você mudaria o mundo e eu estava redondamente certo. Você mudou o mundo de todas as pessoas que tiveram a oportunidade de se tornar próximas a você. Mas você mudou, principalmente, o meu mundo. Uma dessas noites você vai se dar conta disso. Eu sou o cara para você, Brooke Davis. Você verá. - E então não olhei mais para trás e sequer percebi quando deixei a mulher da minha vida aos prantos e mais uma vez com o coração partido.


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