Aquele beijo era tentador demais para mim, assim como seu dono. Seus cabelos de um negro profundo e escuro, combinavam perfeitamente com os olhos cor de azul anil. A pele alva estava vermelha à alguns minutos atrás. As gotas de chuva escorriam pela sua face molhada e eu ainda podia ouvir sua respiração ofegante lá fora, acompanhada pelo som da chuva jogada do céu. Ele realmente estava me deixando louca.

This time, this place,
Misused, mistakes
Too long, too late
Who was I to make you wait?
Just one chance, just one breath
Just in case there's just one left
'Cause you know, you know, you know...
Este tempo, este lugar
Esses desperdícios, esses erros
Tanto tempo, tão tarde
Quem era eu para te fazer esperar?
Apenas mais uma chance, apenas mais um suspiro
Caso reste apenas um
Porque você sabe, você sabe, você sabe...

Suspirei cansada quando notei que estava sem minha bicicleta, pois a mesmo havia ficado lá na sorveteria. Hesitando um pouco, abri a porta novamente e comecei a correr tentando chegar à tempo de ninguém ter pego minha bicicleta antes de mim. Marcos não estava mais ao lado de fora e eu não sabia se isso era bom ou ruim, apenas continuei correndo. Não me importei em me molhar mais, eu ia mesmo acabar pegando uma gripe forte depois dessa chuva.

Por sorte ela ainda estava lá, do mesmo jeito que eu havia deixado. Peguei-a e me dirigi de volta pra casa, ao mesmo tempo que meu celular vibrou no bolso da minha calça. Observei o visor antes de atender e puder ver que era uma ligação dele. Hesitei em atender e disfarcei a voz chorosa, para ele não notar meu constrangimento.

I love you
I loved you all along
I miss you
Been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
And you'll never go
Stop breathing if I don't see you anymore
Que eu te amo
Eu sempre te amei
E eu sinto sua falta
Estive afastado por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora
Paro de respirar se eu não te ver mais

- Oi Edu. - Minha voz ainda era trêmula.

- Você... Você está chorando também? - Notei que sua fala saia pausadamente e muito baixa.

- Por que... Por que também? - Perguntei estranhando tal palavra do meio de sua frase.

- Má... Meu pai... - Ele hesitou.

- O que tem seu pai? - Minha voz saiu rapidamente de tanto nervoso.

- Meu pai está doente. - Meu amigo disse monotonamente.

- Como assim, doente? - Franzi o cenho, mas ele não podia ver.

Por um momento eu parei para raciocinar. Não poderia ser algo grave, pois o Fernando era um homem forte, eu sabia disso e nunca tinha o visto com uma gripe se quer antes. Tinha alguns cabelos grisalhos e olhos razoavelmente verdes, os quais meu amigo herdou. Sua musculatura não era magra nem gorda, atlético seria a palavra perfeita. A face cansada já mostrava o estrago feito pela idade, mas mesmo assim ele era um homem bonito e extremamente legal - eu o adorava.

- Leucemia.

A palavra me fez estremecer por dentro e por fora do corpo. Minhas conclusões estavam absurdamente erradas e eu sabia que se algo pior acontecesse, o Eduardo não iria agüentar tanta dor de... De perder um pai. Eu conhecia aquela doença e ela faria sua vítima sofrer do pior jeito possível, até encontrar a morte.

- Mas... Mas não há ninguém compatível com ele? - A esperança permanecia em minhas palavras.

- Pode até ter, mas acho que... Que... Que não há mais tempo de achar essa pessoa. - Mesmo ele estando do outro lado da linha, não conseguia disfarçar o choro e sua voz começou a sair trêmula.

- E você, Eduardo? Ele é seu pai, vocês têm o mesmo sangue! Você pode ser a chance de dar à ele uma vida nova! - Tentei animá-lo, sem saber aonde aquilo ia chegar.

On my knees, I'll ask
Last chance for one last dance
'Cause with you, I'd withstand
All of hell to hold your hand
I'd give it all
I'd give for us
If anything give I won't give up
'Cause you know, you know, you know
De joelhos, eu pedirei
Uma última chance para uma última dança
Porque com você, eu resistiria
A todo o inferno para segurar sua mão
Eu daria tudo
Eu daria tudo por nós
Dou qualquer coisa, mas não desistirei
Porque você sabe você sabe, você sabe...

O loiro não disse mais nada, e eu continuei a andar, segurando minha bicicleta com a outra mão. Nem a chuva me constrangia mais, nem o vento gelado que batia contra meu corpo me fazia tremer de frio - eu estava horrorizada com a notícia e não conseguia acalmar o garoto, tentando tranqüilizar sua dor, seu sofrimento.

- Não resta mais tempo, Marcela. São só alguns meses e talvez alguns dias. - Agora sua voz era seca e cortava meu peito quando entrava em meu ouvido como um sussurro.

- Eu... Eu... - Tentei desembaralhar as palavras dentro da minha cabeça, procurando por alguma resposta que não me deixasse sem reação - Eu sinto muito. - Essas foram minhas últimas palavras antes de ouvir o ‘tu, tu, tu...’ ecoar no outro lado da linha.

Eu não tinha concentração suficiente para decorar minhas poucas falas da peça musical. Seria o primeiro teatro que faríamos na escola de Romeu e Julieta com dança e quase nenhuma fala. Acho que iria ser legal, tirando o fato de que meu par romântico não era tão agradável para mim. Decidi calçar minhas sapatilhas e com elas deslizar pelo espaço do meu quarto arrumado. Tentei completar alguns passos que eu aprendera alguns anos atrás.

 I love you
I loved you all along
I miss you
Been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
And you'll never go
Stop breathing if I don't see you anymore
Que eu te amo
Eu sempre te amei
E eu sinto sua falta
Estive afastado por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora
Paro de respirar se eu não te ver mais

Com as pontas dos pés acariciei o chão em sensíveis toques. Curvei a coluna para trás fazendo com que meus cabelos beijassem o chão. Voltei para a posição normal rapidamente e ergui uma das pernas, levando os braços para cima e rodopiando delicadamente, mas perdi o equilíbrio e acabei caindo de bunda no chão. Encostei a cabeça no carpete e fitei o teto, pensativa. Logo rolei os olhos para debaixo de minha cama e notei ter uma papel amassado jogado lá. Não hesitei em pegá-lo para perceber que era uma carta do Eduardo que ele havia escrito para mim no começo do ano, quando soube que iria mudar de cidade. Demorei um pouco, mas lembrei o porque dela estar jogada como se fosse um lixo, em um canto qualquer. Na época eu tinha ficado com muita raiva ao saber sobre a notícia que acabei amassando-a e esquecendo dela. Meus olhos cor de mel correram por cada linha, lendo cada palavra que ele havia escrito e a frase que me chamou mais a atenção fora aquela: “Não importa o que acontecer, eu vou te amar sempre”. Desamassei o papel e o coloquei ao lado de uma foto minha e do Du.

- Não importa o que acontecer, eu vou te amar sempre! - Disse para mim mesma, repetindo a frase, como um sussurro, dedilhando aquela nossa fotografia que ficava em cima do meu criado-mudo, ao lado da cama.

 Fim do Décimo Primeiro Capítulo.

Desculpa a demora amores, mas tá aqui mais um capítulo *o* espero que tanham gostado e ficarei feliz com as reviews :DD Beeijinhos :* <3