Dark Paradise escrita por NothinBetter


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

(deu um probleminha quando postei, então resolvi postar de novo. ok, tem uma coisinha a mais no fim, mas só)
Não me matem, por favor. Eu sei que faz mais de um mês que não posto Open your heart to me e eu peço sinceras desculpas para quem acompanha a história. É que minhas provas só acabaram semana passada e eu tentei escrever a outra, mas a ideia desta história aqui não me saía da cabeça porque eu vi no tumblr essa música (dark paradise - lana del rey) que combinava com faberry e eu decidi colocar em palavras. E agora eu tenho que ficar correndo atrás do meu aniversário e tal, comecei a traduzir uma fic (que postarei logo depois disso. PS: é Deus Ex Machina, que eu já postei, deem uma olhada no meu perfil, se quiserem) e eu sei, eu tento abraçar o mundo com as mãos e não consigo. Minhas notas também estão um lixo, então nada contribui muito (tá, eu não estudo, mas que seja!), nem tenho lido as fics que eu mesma acompanho, então... Vou tentar terminar logo as fics porque eu tenho uma mania feia de começar as histórias e ficar com preguiça para ir até o fim, mas isso não vai acontecer, eu prometo! Pode demorar, mas vou acabar todas.
Bem, espero que gostem dessa aqui. Pode ter algum erro porque eu não revisei, fiquei ansiosa pra postar logo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216304/chapter/1

“Ela está morta.”


Lá está ela, seus olhos fitando os meus profundamente. O rosa do vestido contrasta com sua pele suave de marfim. Seu cabelo loiro e curto molda perfeitamente em seu rosto angelical. Uma linda visão. Ela se aproxima de mim lentamente, tão lentamente que chega a ser torturante. Eu tento me mexer e chegar mais perto, porém alguma força maior me impede de esticar os braços e tocar aquela criatura perfeita.

Consigo sentir seu perfume de onde estou. O mesmo aroma delicioso que eu sinto toda vez que ela se aproxima. Algo doce e delicado, o cheiro dela. Seus olhos âmbar permanecem grudados aos meus. Ela parece ainda mais bonita agora.

A imagem dela é a única coisa que posso enxergar, todo o resto está escuro. É como se ela emanasse uma luz própria que me fizesse olhar somente ela. Impossível não ficar hipnotizado. Sempre fora assim. Ela está cada vez mais perto, quase consigo tocá-la. Entretanto, aquela força ainda me prende e não posso alcançá-la. Assim que ela fica a centímetros de mim, nossos narizes se tocam levemente e sinto sua pálida, porém quente mão acariciando minha bochecha hesitantemente. Inclino a cabeça na direção da carícia e ela parece ganhar coragem para imitar o próprio gesto em minha outra bochecha. Seus lábios macios encontram os meus e, em um contato delicado, ela une nossas bocas em um beijo suave. Os lindos olhos nunca deixando os meus.

É o paraíso.



Abro os olhos com relutância. A verdade é que eu gostaria de nunca mais conseguir abri-los. Não se esses tipos de sonhos que vêm me atormentando há seis meses se repetissem todas as vezes que eu adormeço. Suspiro. Seis meses. Já faz tanto tempo assim? Ou eu deveria dizer que só se foram seis meses? Não sei.

A escuridão do quarto me lembra o sonho que brinca ainda lúcido em minha memória. O mesmo sonho todas as noites e nunca me canso dele. Nunca contei a ninguém sobre ele, mas deve fazer uns cinco meses que vem acontecendo.

Viro-me na cama vazia. Ela poderia estar ao meu lado agora. Meu maior arrependimento é ter sequer cogitado me casar com Finn. Isso é loucura! Eu nem ao menos o amava. Ainda não o amo. Meu coração sempre pertencerá a ela, não importa o que aconteça. Às vezes até penso se eu tenho alguma razão para continuar vivendo. Ela é o amor da minha vida, não tem lógica em continuar procurando outra pessoa igual, sendo que nunca encontrarei. É inútil. Viver tornou-se inútil sem ela aqui. Se eu não tivesse aceitado aquele maldito pedido de casamento; se eu não tivesse mandado as mensagens...

Faz seis meses que não vejo mais a Quinn. Nunca mais a verei. Exceto em meus sonhos e memórias, onde ela permanece viva. Sinto muita falta dela. De seu sorriso, de seus olhos, sua boca, sua voz, sua sobrancelha, até seu jeito arrogante de quando ela ainda estava nas Cheerios. Pergunto-me se eu deveria sentir falta dela. Eu fui a culpada pela sua morte, sei disso. Acho que nem direito de sentir falta eu tenho.

A porta se abre com um barulho terrível que sempre me assusta. Meu pai entra e caminha lentamente até minha cama. Os óculos pendem de seu nariz de um jeito que, há seis meses, eu acharia engraçado. Mas não mais.

– Rach? – ele sussurra para ver se estou acordada. Ele sabe que estou. Sempre estou acordada na calada da noite, sempre pensando em Quinn. – Rach, querida, tente dormir. Há meses você não tem dormido direito, meu amor. Eu e seu pai nos preocupamos com você.

– Eu sei – murmuro, virando-me para olhar o homem diante de mim. Eu realmente não gosto que meus pais sofram junto comigo, mas também não consigo ao menos fingir que estou bem. No começo de tudo, eu fiquei abalada como todo mundo, só que todos voltaram a viver suas vidas eventualmente. Eu, não. – Desculpa, pai – meu olhar cai para a gola de seu pijama azul claro. Não tenho coragem de encarar seus olhos.

– Não diga isso, bebê – meu pai senta-se na cama e me envolve em seus enormes braços. Antigamente, o simples abraço me faria sentir segura, porém agora, nada disso parece funcionar, para meu desespero. Tudo o que eu mais queria neste mundo era sentir-me segura. Quem sabe se Quinn estivesse aqui... Quinn domina meus pensamentos de novo.

Não consigo relaxar meu corpo e papai percebe. Vendo que não iria conseguir com que eu me sentisse melhor, ele suspira e levanta, depositando um leve beijo em minha têmpora antes de sair do quarto e fechar a porta com o barulho horrível.

Nós mudamos de casa. Ou melhor, de cidade. Papai achou que seria melhor se fôssemos para outro lugar, na tentativa de me fazer esquecer o que aconteceu aqui em Lima. Uma tentativa em vão, diga-se de passagem. Aliás, acho que a mudança piorou as coisas. Parece que estou fugindo do que eu mesma fiz. Eu matei Quinn. Eu matei Quinn Fabray. A garota que eu amava. E agora ela nunca saberá que meu coração era todo e exclusivamente dela. Eu fui uma idiota e esperei ela fazer alguma coisa, pois pensei que meu sentimento fosse recíproco. Mas nunca aconteceu. E ela ainda apoiou o casamento! Aquela droga de casamento! Eu suspiro tentando afastar as lágrimas que inundam meus olhos toda vez que penso em Quinn. Eu realmente sinto falta dela.

A Califórnia não é ruim. Viver à beira-mar pode ter suas vantagens. Levanto-me, vou até a janela do quarto e sento-me na poltrona que fica ali. A brisa que vem do mar funciona como um calmante para meus pensamentos e aquela angústia que me atormenta, rapidamente vai embora com a maré.

Eu ainda não sei se existe vida após a morte, mas como eu gostaria que existisse! Talvez Quinn esteja lá. Talvez eu pudesse encontrá-la. Talvez ela esteja com muita raiva de mim. Mas algo me dizia que ela gostava de mim do mesmo jeito que eu gosto dela.

Fecho meus olhos por um instante enquanto o vento suave me cerca num abraço gelado. Um arrepio percorre minha espinha assim que sinto uma mão em meu ombro e imediatamente abro os olhos, vasculhando o quarto escuro em busca da pessoa que provavelmente provocou o toque. Ninguém está no quarto, apenas eu. Estranho. Acho que foi só uma impressão. Retorno à poltrona e fechou os olhos novamente. Algo mais frio que a brisa marítima da janela se arrasta pela minha bochecha e por minha boca. Sinto o mesmo arrepio de antes, contudo, dessa vez eu não abro os olhos, apenas fico ali, imóvel.

A sensação fria continua em meu rosto e a sinto também em meus braços. Meu coração, por algum motivo, começa a bater mais rápido e descompassadamente. Um cheiro delicioso inunda minhas narinas. Uma fragrância doce e delicada. Como a de... Quinn! Exatamente como a de Quinn! Abri os olhos rapidamente e a sensação gelada se foi, assim como a brisa. Aquilo não podia acontecer, podia? Quinn estava ali comigo, eu sei que estava. Eu sinto que estava.

O toque do meu celular ressoou pelo cômodo, me assustando. Fui até a escrivaninha e o peguei, vendo que se tratava de uma ligação de Santana.

Rach? – a voz rouca da latina soou do outro lado da linha. Não respondi de imediato, ainda estava em choque pelo que havia acontecido. – Rachel, você está aí? Diz alguma coisa Rachel, está me deixando preocupada.

– Ela esteve aqui.

O quê? Quem esteve aí, Rach? Do que você está falando, pelo amor de Deus! - Santana não tinha muita paciência, nunca teve.

Hesitei por um segundo antes de resolver contar o que acontecera. Todos já me achavam louca pelo jeito como reagi à morte de Quinn, um pouco mais de loucura não faria mal.

– Quinn. Ela esteve aqui no meu quarto. Faz uns segundos apenas. Eu a senti, Santana, eu sei que a senti! Não estou maluca! – minha voz foi aumentando conforme eu falava. – Ela Tocou meu rosto, meus braços e minha boca. Eu senti! Foi a melhor sensação do mundo, San. Me diz que você acredita em mim, por favor – uma lágrima escorreu por meu rosto e pude sentir o gosto salgado em minha boca.

Rach, eu... – Santana começou com um suspiro na voz. – Eu não sei o que dizer. Já se passaram seis meses, Rae, e você ainda não seguiu sua vida normalmente. Eu também sinto falta dela, mas... Ela está morta, Rae.

Sacudi a cabeça veemente, tentando não ouvir as palavras que Santana dizia. Eu ainda não acreditava que Quinn estava morta.

– Eu a amo – sussurrei.

Eu sei, Rae, eu sei – a voz da latina era suave, ela estava tentando me reconfortar. – Tente dormir um pouco, por favor? São três da manhã, eu sabia que você estava acordada, por isso liguei. Eu te amo, Rach. Agora, durma.

Eu sabia que se não concordasse com ela, Santana nunca desligaria, então assenti e coloquei o celular no mesmo lugar de onde o peguei.

Santana é uma boa amiga. Agora. Antes do acidente, nós não nos entendíamos tão bem assim. Por algum motivo, vendo o jeito como fiquei devastada após a morte de Quinn, ela se aproximou de mim e tornamo-nos grandes amigas, até confidentes. Ela ainda me liga todas as noites, ou pelo menos me manda alguma mensagem. Eu sei que ela se preocupa comigo e me odeio por isso. Todos ao meu redor parecem querer apenas o meu bem, mas eu juro que não consigo melhorar! Eu acabei com a brilhante vida que Quinn poderia ter pela frente. Talvez até ao meu lado! Por que eu não disse que a amava? Agora este sentimento ficará apenas em minha mente.

Mas eu a senti! Eu juro. Nunca senti aquela sensação fria antes, e algo me diz que ela estava aqui comigo, tentando, de algum modo, me reconfortar e dizer que tudo ficaria bem. Seria o fantasma dela? Ou sua alma? Só sei que preciso sentir aquilo novamente.

Deito-me na cama para pensar mais no assunto. Não sei quanto tempo se passou enquanto eu digeria o que aconteceu, mas ainda estava escuro lá fora quando uma brisa gelada envolveu meu corpo embaixo dos lençóis. Olhei de relance para a janela, me certificando de que ela estava fechada. E realmente estava. No mesmo instante, meu coração começa a bater mais rápido, como se me avisasse o que estava acontecendo. Era Quinn novamente. Eu sei que é.

Abro os olhos e, desta vez, a sensação congelante não vai embora. Fico mais tranqüila. Os pelos de meu braço se eriçam, fazendo com que um delicioso arrepio passe por todo meu corpo. Minha boca torna-se fria de repente. Ouço uma respiração suave em um de meus ouvidos. A respiração é tudo o que consigo ouvir no silêncio de meu quarto escuro. Não ouso me mexer, ela pode sumir se eu o fizer e a última coisa que eu quero no momento, é Quinn longe de mim. Prefiro não arriscar.

O cômodo fica completamente em silêncio. Tudo parece parar no tempo.

– Eu te amo.

Não resisto e movo a cabeça para olhar em volta. De onde veio aquilo? O fôlego prende em minha garganta. Aquela era a voz de Quinn. A voz que não ouço há seis meses. A voz que eu daria tudo para ouvir de novo. Mas eu ouvi! Sussurrando em meu ouvido direito, a voz mesclando-se a sua respiração. Tenho ainda mais certeza de que Quinn realmente está aqui ao meu lado.

Fecho os olhos por um momento e tento me acalmar. Respiro fundo. Se eu não estiver ficando louca ou ouvindo coisas, Quinn disse que me ama. Ela me ama! Quinn Fabray, a garota que eu amo, matei e agora voltou em forma de fantasma, me ama de volta! Um sorriso começa lentamente a se formar em meu rosto. Meu coração ainda está acelerado, é como se ele fosse explodir de tanta felicidade. Sinto lágrimas caindo de meus olhos e, sem perceber, eu estava chorando. De emoção? De saudade? Não sei.

Deitei a cabeça no travesseiro, a brisa fria ainda me inundando. Uma calma repentina tomou conta de mim e, em menos de cinco minutos, eu adormeci como há tempos não fazia.





O dia seguinte amanheceu chuvoso. Depois do que aconteceu ontem, esperava que o sol estivesse radiante e todos os pássaros cantassem, mas eu nunca vira um dia tão escuro assim. Incrivelmente, apesar do vento gelado que vinha da janela semi-aberta de meu quarto, eu não estava com frio. Eu sabia que aquela brisa não era Quinn. Meu coração não palpitava e arrepios não percorriam meu corpo.

Já que ninguém acreditaria em mim, resolvi pegar o diário que não usava há meses e escrever o acontecimento. Havia uma caixa cor-de-rosa no alto da prateleira do armário de meu quarto. Levei um tempo para conseguir alcançá-la, porém, após esticar todos os músculos de meu corpo e ficar na ponta dos pés, o pequeno caderno com a capa preta finalmente estava em minhas mãos. Era uma sensação estranha tê-lo novamente comigo. Eu costumava escrever sobre Quinn, sobre como eu a amava e desejava que ela soubesse. Suspiro. Bem, continuarei a escrever sobre ela, mas de um jeito totalmente diferente agora.

Há algum tempo não escrevo aqui. Olhando as páginas antigas, sinto como se a vida que eu descrevia não me pertencesse mais. Talvez não me pertença mesmo.

Sinto falta de Quinn. Muita. A falta que ela me faz chega a ser física. Se antes eu já morria de amores por ela, imagine agora. Morrer de amores. Dizem que as pessoas mortas ficam em algum lugar se preparando para outras vidas. Será que elas podem visitar os vivos? Quinn me visitou ontem. Disse que me ama.

Se os mortos realmente ficam nesse segundo plano, um plano espiritual ou o que quer que seja, quer dizer que algum dia ainda encontrarei Quinn. Pode demorar a eternidade. Pode ser agora. Eu realmente espero que nossas almas possam se encontrar e, eventualmente, ficarem juntas. Eu já tinha certeza. Agora estou ainda mais certa disso.

A porta do armário se fecha de repente e me sobressalto, virando a cabeça na direção do som e colocando uma mão sobre o coração. Reparo que a janela abriu por inteiro e dela vinha uma brisa suave que envolvia todo meu corpo. Quinn estava aqui.

Eu não sabia o que fazer. Nunca sentira um espírito antes, embora eu seja bastante sensitiva, como todos sabem. Eu já li alguns livros e assisti filmes que falam sobre essas coisas, mas é tudo clichê de Hollywood. Todas as criações dos autores juntas não se comparam ao que eu sinto agora.

Pensei melhor e, ao sentir o ar gélido em meu rosto como se fosse uma carícia, comecei a sussurrar. Qualquer tom de voz mais alto que aquilo parecia totalmente inapropriado para a situação.

– Quinn? Eu sei que está aqui – falei fitando o ar a minha frente. Não sabia onde ela estava, não tinha para onde olhar, contudo, de algum modo, eu sabia que ela estava ali em frente a mim. – Pode me ouvir? Eu acho que sim – minha cabeça se abaixou e por um momento pensei que Quinn não conseguia me escutar. Foi quando senti algo puxando meu queixo para cima. Sorri intensamente. – Acho que é um sim. Primeiro, queria dizer que sinto muito. Muito mesmo. A culpa é toda minha, eu sei. Segundo, eu acho que somos especiais. Nós duas. Somos especiais juntas, sabe – sem saber direito o que falar, meio que comecei mais um de meus monólogos sem fim. – Quinn... Você acredita em vidas passadas? Dizem que algumas pessoas estão sempre com você por toda sua vida. Acho que é isso o que acontece conosco – aquilo fazia sentido? – E apesar de tudo o que passamos, eu amo você e sempre amarei. Não importa o que aconteça, ou o que tenha acontecido. Estou muito feliz pelo destino ter nos colocado juntas. Quanto mais cedo, melhor. E é cedo. Temos a vida inteira nos esperando. Ou até melhor: temos a eternidade só para nós.

Quando acabei de falar, o silêncio pairou no cômodo. Já estava quase perdendo a esperança de que ela pudesse me ouvir. Fechei os olhos e respirei fundo. A última coisa que eu não precisava agora era perder minha sanidade. Abri os olhos e tornei a fechá-los. Estou ficando louca, só pode.

Bem vagarosamente, abri um olho e depois o outro. Quinn estava ali. E dessa vez eu não só conseguia senti-la. Ela estava bem ali, na minha frente. Eu podia ver. Enxergava seu cabelo loiro e liso enquadrando seu rosto pálido, o chamativo vestido cor-de-rosa que as madrinhas usaram em meu quase casamento com Finn, o leve cardigã branco cobrindo seus braços finos, o batom rosa claro naqueles lábios que pareciam ser perfeitamente esculpidos por algum artista renomado. Quinn nunca me pareceu melhor.

Tive de rir mentalmente quando notei que sua imagem era um pouco translúcida. Clássico. Talvez eu estivesse sonhando.

Assustei-me quando ela se aproximou de mim, estendendo os braços e tocando meu rosto com as mãos. A sensação fria que eu senti em minha pele. Eu conseguia sentir a carícia em minha bochecha, como se ela realmente fosse de carne e osso. Pegando-me de surpresa, seus lábios roçaram-se aos meus. O beijo foi melhor do que eu poderia imaginar em meus sonhos mais vívidos.

Tão logo quanto apareceu, sumiu.

O contato entre as bocas desapareceu e é como se um vazio tomasse conta de meu corpo. Caí na cama desarrumada e ali passei o resto do dia. Não escrevi em meu diário, nem ao menos dormi. Só conseguia pensar em Quinn e como eu a vira, bem ali diante de mim, na forma de um fantasma.

Como eu realmente sinto falta de Quinn, era inacreditavelmente maravilhoso que sua alma ou o que quer que seja estivesse comigo novamente. Entretanto, pelo mesmo motivo que era bom, também era ruim. Era ruim porque eu sabia que nunca poderia ficar com ela. Quinn, um fantasma e eu, uma pessoa viva. Cômico e clichê, eu sei. Pelo menos ela não era um anjo, já era meio caminho andado. Não conseguia deixar de pensar que, talvez, se eu morresse, poderia encontrá-la em outro plano. Mas e se não desse certo? Não sei. Só sei que se todas essas visões fossem mais uma parte dos sonhos que tenho tido desde que Quinn morreu, eu certamente não queria acordar nunca.





O vento frio fazia meus ossos tremerem mesmo com a quantidade de roupa que eu usava. O aroma do mar e suas ondas me acalmavam. Um pouco de tranqüilidade naquele turbilhão de pensamentos se passando dentro de minha cabeça. Algo me puxara para a beira do mar mais cedo, no pôr-do-sol. E ali fiquei até agora. Não tinha um relógio no pulso, mas algo me dizia que eram quase duas horas da manhã. Meus pais tentaram me levar para casa, porém eu disse que agradeceria se eles entendessem que eu precisava deste tempo a sós.

A areia não estava mais morna e sujava meu casaco, mas eu não me importava. Algo me dizia que eu precisava estar ali naquele momento e eu nem ousava me mexer. Quinn ainda não deixara meus pensamentos. Acho que nunca deixaria.

Fiquei observando a maré e como as ondas quebravam na areia e pedras da praia. Eu estava sozinha, até onde podia enxergar. Quem seria o louco de estar à uma hora dessas na praia com esse frio? Bem, eu já questionava minha sanidade há tempos mesmo.

Fecho os olhos por um momento, tentando afastar o frio de meu corpo. Quando os abro, uma força extraordinária me diz que devo levantar. Obedecendo a força, levanto-me e ela me puxa para o mar. Meus sapatos se arrastam pela areia fina e o frio aumenta à medida que me aproximo da água. É como se ali na água escura tivesse um imã e eu estava sendo atraída por ele.

À medida que eu mais adentrava o mar, mais a força ia me puxando para o fundo. Talvez eu pudesse controlar meu próprio corpo e voltar para a praia, mas a questão é que eu não queria. Eu não queria voltar. Não queria estar de volta em meu quarto, sozinha, pensando em Quinn e sentindo sua falta. Não queria alucinar novamente e pensar que Quinn realmente estava comigo. Cheguei a essa conclusão enquanto estava sentada na areia: eu não vira de fato Quinn, era tudo imaginação. Afinal, qual outra explicação eu teria? A de que Quinn realmente era uma alma e estava ali porque me amava? Eu não sou tão louca assim.

A água salgada já atingia meu queixo e eu continuava a nadar para o fundo.

Comecei a nadar quando o mar me cobria por inteiro. Nadei por alguns minutos até que meus braços e pernas ficaram fracos e moles de repente. Devia me desesperar e tentar ir à superfície, eu sei. Mas não tentei. Nem ao menos me importei com o fato de que eu estava me afogando. Lentamente, o mar puxava-me para o fundo, para a escuridão.

Fui ficando sonolenta e todo meu corpo parecia não ter mais força. Na água logo diante de mim, eu a vi. Quinn. Com o mesmo vestido rosa e o cabelo liso. Impecável. Minha Quinn. Se eu estava remotamente desesperada, agora nada me faria retornar à areia da praia. Quinn estava ali comigo. Ela me ama e eu a amo. É assim que deveria ser. Para sempre.

Minha visão começou a ficar desfocada, mas eu ainda conseguia distinguir o cor-de-rosa na água. Quinn estava mesmo ali comigo. Não tinha porque eu ter medo, Quinn me salvaria, eu sei que sim. Aconteça o que acontecer, nós vamos ficar juntas onde quer que seja.

– Me desculpe - ouvi a voz distante de Quinn.

E, de repente, tudo ficou escuro.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Eu estava pensando em fazer a versão da Quinn de tudo isso, mas sei lá. Eu realmente estou começando a achar que eu sou dramática e mato todo mundo no fim ou ninguém fica junto. Quase sempre. Mas, enfim, reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dark Paradise" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.