Quatro chamadas não atendidas de Quinn Fabray. Oh, Nate Archibald estava atrasado, muito atrasado e bem enrascado. A garota havia lhe convidado para a reunião do Clube Cristão e não era exatamente o que ele achava interessante, entretanto, com a bomba a respeito da tentativa de suicídio de um antigo estudante e conhecido dos garotos do coral não teria alternativa. As vésperas das Regionais, a atitude abalou a maioria dos adolescentes e não poderia apenas se manter indiferente. Por isso, praticamente corria pelos corredores atrás da sala indicada pela última mensagem de texto.

— Eu ainda não entendo como ele chegou a esse ponto tão devastador. – a voz de Sam é ouvida.

— Todo mundo está comentando no Facebook. Uns caras do colégio de Karofsky lhe viram com o Kurt antes da festa do Dia dos Namorados e postaram comentários bem malvados. Além disso, avisaram todo mundo que ele era gay. – a explicação de Mercedes também é captada a distancia.

— Como ele está? Vai sobreviver? – o tom estranho deveria ser do novato Joe Hart.

— Ele ainda está no hospital, mas, seu pai lhe encontrou a tempo. – novamente a negra.

O rapaz revela que não atendeu a nenhuma das ligações de Karofsky na última semana e que poderia ter ajudado se soubesse da imensidão dos problemas. Responsabilidade. Culpa. Remorso. Kurt possuía uma boa dose de todas essas sensações e não sabia como refrear a vergonha que sentia de si mesmo.

— Passar por algo parecido não lhe torna especialista nisso, Kurt. É lamentável que isso tenha acontecido e ele tenha se sentido solitário, mas, ninguém ousaria lhe culpar... Remoer o passado não melhora nada, e bem, ele está se recuperando, certo? Você não pode voltar atrás, mas, pode fazer a diferença a partir de agora.

O conselho do nova-iorquino restabeleceu algum equilíbrio emocional ao garoto e contribuiu de forma decisiva para que o foco retornasse para a preparação às Regionais. Shannon Beiste detalha a animosidade que perdurou por meses entre Karofsky e o Clube Glee, especialmente, com relação ao garoto gay do grupo. Cooter rebate com a triste realidade que o preconceito era algo latente nos bastidores esportivos e que muitos preferiam somente ignorar do que tomar alguma atitude. Nate permanece apático durante o jantar e se retira tão logo esvazia o prato. Algo estava perturbando profundamente o jovem Archibald.

— Eu quero que vocês pensem em coisas que querem fazer. Coisas importantes. – Will opta por uma espécie de terapia de grupo antes do ensaio geral para a competição.

— Eu quero ter dinheiro suficiente para comprar uma casa para minha família e ter certeza que jamais ficaremos na rua. – relata Sam Evans.

— Estou muito ansiosa para conhecer os filhos de Rachel Berry. – a negra quebra a tensão com uma singela piada.

— Eu quero estar lá para ver os primeiros passos dos meus filhos. – deseja Artie.

— Eu quero estar a primeira sessão de Sex and the City 3. – palpita Sugar levanto todos as risadas.

— Fico com vergonha, mas, quero mesmo me formar no ensino médio. – confessa Puck.

— Quero me graduar em Yale como melhor aluna da minha turma. – relata Quinn, praticamente entrelaçada aos braços do nova-iorquino, que lhe sucede.

— Quero conquistar as coisas na vida graças ao meu esforço e não ao meu sobrenome. – confessa o rapaz recebendo um sorriso sincero da loira.

— Eu estou ansioso para a minha dança no Carnegie Hall. – exalta Mike Chang.

— Eu ficaria satisfeita com uma única música. – Tina descontrai com o simples pedido.

— Honestamente, eu espero ser amiga de todos pelo resto da minha vida. – a fala de Rachel finaliza a pequena corrente e o maestro convoca o grupo para repassar a coreografia.

A preparação é em clima muito mais ameno do que o esperado. Risadas surgem nos momentos mais improváveis, Mike e Nate executam passos ridículos e escapam por pouco de serem espancados pelas respectivas namoradas, Sugar diverte os colegas de coral errando grotescamente a letra do solo destinado a judia, que acha graça e tenta imitar o tom desafinado da ricaça. Rory e Finn acertam os movimentos mais complicados e são ovacionados e no intervalo, Puck apanha um violão qualquer e arranca notas a esmo. O loiro é estimulado pela negra e se apodera da guitarra para arriscar alguma improvisação. O asiático desafia o nova-iorquino a expor suas habilidades no piano tão alardeadas pela loira e é praticamente empurrado em cima do instrumento. O ritmo agradável das canções de Bruno Mars invade o auditório ocupado pelo Novas Direções e o hit Lazy Song é entoado pelo inusitado trio.

Today I don't feel like doing anything

I just wanna lay in my bed

Don't feel like picking up my phone

So leave a message at the tone

Cause today I swear I'm not doing anything

Mike se empolga e tira Brittany para uma dancinha divertida, Finn, Rory e Blaine reforçam o coro no refrão e as garotas gargalham tentando encontrar o tom exato para as palmas. Will aplaude o improviso dos alunos, entretanto, adverte que não admitiria nenhuma demonstração de preguiça ou corpo mole durante a performance. Os adolescentes zombam do professor. Afinal, ninguém pretendia correr o risco de ficar fora das Nacionais. Nos bastidores, os meninos terminavam de ajeitar a roupa, as garotas repassavam o número exclusivo e a loira desanda a rir sozinha. Nate estava, literalmente, apanhando para colocar a gravata borboleta.

— Não me diga que você foi contaminado pela leseira daquela música?

— Não, é que não to acostumado com esse tipo de gravata... – a garota se adianta e arruma facilmente o adereço – Ei, isso parecia bem mais complicado...Obrigado por isso e...Por toda a última semana. – ele leva a mão ao rosto dela.

— Você tem que ser mais especifico... A semana não foi exatamente agradável.

— É, mas, estávamos juntos! Isso fez tudo parecer diferente...E muito melhor. Então, eu estou realmente feliz em poder chamá-la de minha namorada. – ele sorri e lhe beija.

— Vocês podem esperar o fim da competição e arrumar um quarto? E carinha de Nova Iorque nem se atreva a repetir isso no palco! Da última vez, isso nos custou as Nacionais...E juro que ninguém vai me impedir de chutar alguns traseiros!

— Santana, por favor... Isso foi desnecessário. Já esclarecemos as coisas... E bem, foi um imprevisto que não se repetirá. Agora, eu e Finn gostaríamos de anunciar nossa mudança de planos...Bom, depois da vitória, vamos nos casar no Fórum Municipal e queríamos convidar a todos para a cerimônia. – o espanto é generalizado após a fala de Rachel.

— Sabemos que é em cima da hora... Mas, significaria muito se todos pudessem ir. – Finn reforça o convite.

— Sério? Eu adoraria comparecer, mas, vou sair correndo direto para o aeroporto... Sinto muito, mas, é a primeira vez que a minha mãe vai para a casa desde que começou o tratamento. Prometo que trago o presente de casamento de Nova Iorque!

­_ Oh! É uma pena, mas, entendemos, Nate. Família acima de tudo, não é? Eu quero o melhor presente que Nova Iorque pode me oferecer! – a judia abraça o novato e sorri.

— Vai deixa-lo viajar sozinho, Q? Essa não é a oportunidade perfeita para conhecer a família Archibald e entrar na elite do Upper East Side? – a latina debocha.

— Você soou exatamente como a Sugar. E definitivamente, estou satisfeita em nos levar a elite dos corais vencendo as Nacionais. – rebate a loira, sendo abraçada por ele.

— Sinceramente, planejo em apresentar oficialmente a minha namorada, por isso, vamos jantar com meu tio na minha volta, não é? – a menina confirma – Atualmente, ele e a esposa representam a minha verdadeira família.

I came to win, to fight, to conquer, to thrive

I came to win, to survive, to prosper, to rise

I think about it

Every night and day

Spread my wings and fly away

I believe I can touch the sky

Por isso, não foi surpresa alguma avistar Cooter Menkins e Shannon Beiste sentados ao lado dos pais dos outros colegas de coral. Nate permitiu que a sensação de bem estar lhe preenchesse durante a apresentação inteira. Mesmo nas finais de campeonato, os pais nunca tiveram tempo ou disposição para lhe prestigiar. Agora, o tio que mal conhecera estava lhe abrindo novas possibilidades e aceitando-o sem reservas. Nate queria visitar a mãe em Nova Iorque, certificar que a mulher estava genuinamente se reerguendo, trocar algumas palavras com os amigos e voltar para a casa. Voltar para Lima.

A vitória, a classificação, os abraços trocados, os votos de felicidade ao jovem casal e um interminável beijo com a namorada. Cooter precisou pigarrear quatro vezes para ser levado a sério pelo sobrinho. O casal se despede no aeroporto e exige receber ligações com freqüência do rapaz, que ficaria alguns dias na capital do mundo. “Acabei de embarcar e vou ter que desligar o celular. Você vai mesmo ao casamento, não é? Ligo assim que ajeitar as coisas em Nova Iorque. Sinto a sua falta”.

Quinn sorri ao terminar de ler a última mensagem recebida de Nate. Judy Fabray aparece, avisa a filha que precisava se apressar para a cerimônia e para repentinamente ao visualizar o uniforme de líder de torcida sobre a cama. A loira explica o retorno as cheerios, envia o SMS, dá uma olhada no espelho e apanha as chaves do carro. “Estou a caminho do cartório. Me ligue, quando puder. Tenho milhares de coisas para lhe contar!”.

Definitivamente, Nate ouviria milhares de informações sobre Lima assim que conferisse seu celular, pena que Quinn Fabray não estaria em condições de lhe contar absolutamente nada. Tão logo, o nova-iorquino se acomodou no antigo quarto, puxou o aparelho do bolso e se apertou o botão ligar. Uma mensagem de Quinn, três SMS de Mike Chang, quatro chamadas perdidas de Mercedes Jones e uma dezena de telefonemas não atendidos de Cooter Mankins. O que diabos teria acontecido?