Rubro Como A Lua escrita por Shynio


Capítulo 4
Capítulo 4 - Agora eu sei




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O dia amanheceu quente na Baía da Liberdade, deixando tudo muito mais bonito. Tão quente quanto o sol, naquele dia, estava também o coração do druida Kyo, que tinha a doce druidisa Alice deitada em seu peito. Era bela, tão bela quanto os lírios de Ab’dendriel. Bela como nenhuma outra – pois era bela não só por fora, mas também por dentro.

A sensação de ficar tão somente admirando sua maravilhosa companheira era ótima, mas algo o incomodava. Algo faltava, algo estava pela metade. Sentia como se estivesse esquecendo-se de algo. Sentia como se estivesse em dívida... E realmente estava. Estava em dívida com o rei. O rum ainda não havia chegado nas mãos de vossa majestade. Alarmou-se ao lembrar-se da entrega que ainda estava por fazer e tocou o braço de Alice, balançando-o devagarzinho.

– Acorde, coração. – disse Kyo, apressado.

– Hm, hmpf... Oi, Kyo; bom dia... O que há? – indagou Alice, espreguiçando-se inteira.

– O rum do rei! Esquecemos de levar. – Kyo mostrou-a a garrafa de rum enquanto levantava-se.

– Ah meu Deus, é verdade! Papai ficará furioso... Mas tudo bem, eu estava pronta para isso. – disse ela enquanto levantou-se e ajeitou suas roupas e cabelos com as mãos.

– Bom, vamos logo antes que fique ainda mais tarde. Vem, me segue. Utani gran hur. – ditou o feitiço e correu para fora do farol, tomando o píer da baía como rumo.

– Tudo bem. Utani gran hur. – repetiu o feitiço de Kyo e foi para trás dele.

Foram direto para o barco da baía e navegaram para Thais o mais rápido que foi possível. Aumentaram mais uma vez sua velocidade ao chegar ao porto de Thais e foram de uma vez para a sala do trono.

– Vida longa ao rei. Saúdo-lhe, vossa majestade. – saudou Kyo ao rei, reverente e prostrado.

– Velho desalmado... – sussurrou Alice.

– Meça suas maneiras, réles plebéia! – disse um dos guardas pessoais do rei que não deixou escapar o insulto da garota e cortou o vento com seu machado, buscando partir o lindo e tão bem desenhado corpo de Alice em dois.

– Utamo vita. – disse Kyo, que empurrou Alice com sua vara, tomando o lugar da garota e chocando seu livro de encantos contra o machado do guarda costas do rei.

Um feixe de luz azul surgiu, levando consigo toda a mana de Kyo embora, porém, protegendo-lhe de quase todo o dano daquele insano ataque. Seu livro foi cortado ao meio, e seu braço ganhou um corte profundo. Nada fatal, mas era o suficiente para causar bastante dor. O guarda preparava-se para mais um golpe, quando o rei tirou-lhe o machado das mãos.

– Já basta! Como ousa atacar um servo meu?

– Mas senhor, o primeiro ataque não era para ele e...

– E o segundo? De qualquer forma, cale sua boca. Não me retruque nunca mais! – disse o rei com sua voz de trovão.

– Sim, meu rei. – disse o guarda, voltando para seu posto.

– Perdão, majestade – disse Kyo enquanto bebia um fluído de mana. – Exura gran. – suspirou ao que a ferida em seu braço fechou-se, e com ela, a dor foi embora.

– Meu rum?

– Aqui, vossa alteza. – disse Kyo enquanto ofereceu a garrafa ao rei.

– Muito obrigado, pequeno Kyo. Você demorou, mas trouxe. Nem sei por que ainda dou missões para esta insignificante garota. Ela não faz nada direito. Mas por que você demorou tanto? Teve problemas no caminho?

– Na verdade, meu rei, demorei cinco minutos.

– Mas então... – pensou o rei enquanto olhou para Alice, que estava emburrada – Ahh. Agora eu entendo. Então foi por isso que demorou.

– Ela sente sua falta, alteza. – disse Kyo, sem despregar seus olhos do chão.

– Como é?

– Deixa ele, Kyo. Ele não vai entender. Ele prefere mimar aquela vadiazinha que encontrou no mato do que dar um pouco de atenção pra filha dele de verdade.

– Alice... – disse Kyo em tom de repreensão – Eu sinto muito por isto, meu rei.

– Eu... – disse o rei, e nada mais proferiu.

Kyo contou brevemente para o rei o que havia acontecido na Baía da Liberdade, que facilmente percebeu o perigo que sua filha corria. Pela falta dos pais, era uma garota incerta, insegura e desanimada. O que poderia ter acontecido caso Kyo não tivesse ido atrás daquele rum, aquela noite? Bastarda ou não, Alice tinha sangue real em suas veias. Mesmo que ela fosse fruto de uma única noite de bebedeira e luxúria, ainda era filha dele. Ainda precisava dele. Ao reconhecer isto, o rei de fato faria algo a respeito. Afinal, já era hora.

– Eu... Bem, ao que tudo aparenta, vocês são um casal, agora. Afinal, que outra razão alguém teria para colocar-se na frente de um machado por uma mulher, não é? – disse o rei para Kyo, tentando descontrair o ar tenso. – Sendo assim, eu tenho algo para vocês. Vocês dois.

– Algo? – disse Alice, sem muito acreditar.

– Sim. Uma promoção. A partir de hoje, vocês farão parte do meu grupo de exterminação. Sempre que alguém de algum lugar tiver problemas com exceço de criaturas, vocês serão aqueles que irão dar um jeito nisso.

– Seu anseio é muito mais do que uma ordem, vossa alteza. – disse Kyo, reverente como sempre.

– Por que está fazendo isso? Você nunca fez nada por mim, e agora quer me promover? A única pessoa aqui que merece uma promoção é o Kyo, porque eu, como você disse, querido papai, não faço nada direito. – disse Alice quase aos gritos enquanto a emoção tomava forma em seu rosto.

– Alice... – disse o rei enquanto aproximou-se dela.

– Já chega! Eu não suporto mais ser ignorada por você! Eu não agüento mais isso, seu velho sem coração!

– ... Eu peço o seu perdão, minha filha. – disse o rei, tomando a garota aos braços num abraço de urso.

– A-ahn? – balbuciou Alice, estática.

– Eu realmente te ignorei todo este tempo, e realmente dei muita atenção pra quem talvez mereça menos que você, mas... Eu achei que talvez você conseguisse lidar com isso. Afinal, você é parecida com a sua mãe.

– Não existe ninguém que goste de solidão, papai.

– Eu sei, minha filha. Agora eu sei. Tudo vai ser diferente, eu prometo. Você vai ter o seu lugar. O lugar que você merece. E tudo começará nesta promoção.

Kyo sorriu e, sorrateiro, deixou a sala do trono para que o rei pudesse ter seu momento paterno com Alice. O druida sabia que a garota esperava por aquilo há muito tempo, e, agora que ela havia conquistado o que mais almejava. Não havia razão para atrapalhar seus minutos de triunfo. Foi para o porto, a fim de ficar próximo das águas e ver o belo visual do começo da tarde que o mar oferecia, junto do sol. Sentou-se sobre o chão de pedras e puxou o ar profundamente.

– Awn, que cena linda, mestrinhooo. – disse Tesha, toda animada.

– Nossa, Tesha. Você passou o dia inteiro calada. Tinha até me esquecido que você falava.

– Ah, mas estava tão bom assistir toda aquela novelinha... Eu não queria atrapalhar.

– É, faz sentido. – disse Kyo, distraído.

– Ainda bem que tudo deu certo, né?

– É, é.

– Iiih, olha só quem vem lá.

– Hm? – Kyo olhou para trás, e viu Alice correndo em sua direção. Parecia feliz.

– Oi, Kyo! – disse ela, com um largo sorriso nos lábios.

– Oi, Alice. Deu tudo certo?

– Deu sim! Olha o que eu ganhei! – tocou o colar que usava, agora, no pescoço. Um pingente de ouro desenhado num “T” era bastante chamativo.

– Uuuh... Tibianus?

– Sim! O que achou?

– Realmente bonito. Meus parabéns.

– Eu não teria conseguido isso de jeito nenhum se não fosse você, Kyo.

– Haha, que nada, meu anjo. Você conseguiu tudo por si só.

– Aliás, obrigada por ter me protegido... Como está seu braço?

– Ah, já está bem. Aquilo não foi nada.

– Você é realmente um cavalheiro. – disse ela, tocando as mãos nos ombros de Kyo.

– E isso te agrada? – perguntou Kyo enquanto suas mãos tocaram a cintura da garota, trazendo-a para um abraço aconchegante.

– Vindo de você, isso me conquista. – sussurrou ela, e foram as últimas palavras ditas antes que os lábios deles juntassem-se em amor mais uma vez.

O sol aquecia forte a cidade, as flores cresciam bonitas nos campos, e os corações daqueles jovens tornavam-se, finalmente, um.


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