Por muitas e muitas vezes, nessas noites que parecem longas de mais, perdi o sono imaginando como seria quando Rach e eu nos reencontrássemos. Imaginava que daríamos um abraço longo e cheio de carinho, nossos olhos transbordaria emoção, eu diria a ela o quanto a amava e que queria ficar com ela para sempre, e Rach apenas me calaria com um beijo. O que a mane aqui não imaginou e com certeza deveria, era que talvez ela não ficasse assim tão feliz em me ver, que talvez ela ainda estivesse magoada por todas as coisas ruins que fiz a ela no passado e não foram poucas, e que talvez essa fosse à reação mais lógica. Advinha qual das imaginações aconteceu? Nenhuma das duas. Rachel conseguiu ser muito mais ignorante, grossa e hostil do que eu, mesmo não tendo, poderia imaginar.

Não tiro a razão dela, afinal como já disse, ela tinha motivos de sobra para me tratar daquela maneira, mas já estava com quase oito meses e pensando no bem estar do meu bebe, resolvi que era melhor não me estressar. Esperaria o tempo que fosse necessário para Rach acalmar toda aquela raiva que sentia de mim, e então mostra-la o quanto mudei e que merecia uma segunda chance, mas enquanto esse momento não chegasse, não dava pra ficar no mesmo cômodo que ela.

Acordei bem cedo, passei pela cozinha e tomei rápido o café que os berrys deixaram sobre a mesa, torcendo para não trombar com Rach e começar meu dia discutindo atoa. Então peguei minha bolsa e fui caminhando para o jornal, mesmo sabendo que Santana não me deixaria trabalhar.

Cheguei e me deparei com aquela correria que eu amava. De longe vi Sant sentada em frente ao computador, como sempre distraída com alguma matéria e nem um pouco apressada quanto o resto do pessoal. Entrei na nossa sala e sem tirar os olhos da tela, Sant já mandou o intimado.

– Acho que não preciso dizer que você não vai trabalhar.

– Tudo bem Sant, eu não encosto na câmera, mas preciso passar um tempo aqui.

– Aqui não é uma colônia de férias Quinn, aqui ou você trabalha ou vai embora. Como é obvio que você não vai trabalhar, tchauzinho beijos te vejo mais tarde.

– Por favor Sant, Hiram e Leroy estão no trabalho, não posso ficar “sozinha” naquela casa agora.

– Por que não? Não vejo nenhum motivo para isso.

– Não vê? Você estava no mesmo jantar que eu ontem a noite? – Sant finalmente me deu atenção.

– Verdade, foi tao constrangedor, a amiga da Rach é completamente louca.

– Ah claro vamos falar da amiga da Rach, como se ela tivesse normal.

– Pra alguém que perdeu a namorada, o emprego, quase foi presa, teve que voltar pra cidade que prometeu nunca mais passar perto e ainda encontrar a ex-namorada morando na sua casa, ate que ela estava surpreendentemente bem.

– É realmente surpreendente ela não ter me dado um tiro.

– A propósito já pensou em como vai mudar essa situação?

– Não faço a mínima ideia.

– Quinn quando ela foi embora você me prometeu naquele aeroporto que um dia acertaria as coisas, então se você ainda não sabe como é melhor começar a descobrir.

– Olha Sant eu, mais do que qualquer pessoa, quero consertar as coisas com ela, mas se não percebeu ela meio que me odeia, e pra mim é meio impossível ficar perto da Rach agora, quer dize Rachel Berry. – antes que Sant fizesse o serviço pra Rach e me matasse de raiva, Zach que apesar de ter nossa idade já era o chefe e o apresentador do jornal na tv Lima News, entrou na sala extremamente empolgado.

– Eu ouvi você dizer Rachel Berry? A garota que saiu de Lima para Nova York, estudou na Julliard, que estava na Broadway com aquele musical perfeito Spring Awakening e que ate uma semana atrás estava em todos os jornais por ter agredido um colunista? Essa Rachel Berry?

– Sim, mas a conhecemos apenas como Rach.

– Vocês a conhecem?

– Ela é minha melhor amiga, crescemos juntas. E a Quinn... – Sant olhou pra mim que devia estar implorando pra que ela completasse aquela frase com qualquer palavra que não fosse ex-namorada. – Bom a Quinn e ela moram na mesma casa.

– Isso é ótimo! Sabem o quanto nossa audiência pode aumentar? O primeiro jornal a ouvir a versão dela da historia. Precisamos de uma entrevista, precisamos de Rachel Berry ao vivo. – será que só eu achava aquilo ridículo?

– Não acho uma boa ideia Zach. Ela acabou de chegar na cidade tentando fugir de todo o tumulto, provavelmente a ultima coisa que ela quer é contato com a impressa.

– Faça com que ela queira, tenho certeza que você consegue convence-la com esses lindos olhos cor de avelã . – era cedo, muito cedo para receber uma cantada do meu chefe.

– Se a ultima coisa que a Rach quer é contato com a impressa, a penúltima é contato com a Quinn. – Sant respondeu com um imenso tom de deboche, mas não fiquei chateada por que pelo menos ela fez Zach tirar os olhos de mim.

– Não tem problema, é só vocês me levarem ate a casa da Quinn e eu mesmo converso com ela sobre a entrevista . Alem do mais quero muito conhece-la pessoalmente. Então Lopez o que me diz?

– Eu concordo com a Quinn. – pelo menos uma vez na vida. – Não é o melhor momento. – Sant já tinha dado o assunto como encerrado, mas aquele mauricinho irritante não era quase dono do jornal atoa, ele não parava ate conseguir o que queria.

– E se eu aumentar 50% do salário de vocês? Ainda irão achar não é o melhor momento?

– Não precisamos de mais dinheiro Zach. – respondi completamente ofendida. Como assim ele acha que pode nos comprar ou coisa do tipo? Achei que Sant agiria da mesma forma e daria uma resposta a altura, mas não. Ela levantou da mesa e segurou meu braço me puxando para um canto da sala.

– Ficou louca Quinn, como assim não precisamos de dinheiro? Você vai ter um filho e eu moro de favor na casa da minha namorada, é obvio que precisamos de dinheiro.

– Desculpa Sant, mas não acho isso uma coisa legal, então se quiser fazer, faça sozinha. – Sant ficou pensativa e por um momento achei que realmente ela mudaria de ideia, engano meu.

– Tudo bem eu faço. – ela me largou la no canto da sala e voltou para Zach dando um aperto de mão. – No horario do almoço passamos por la e você conversa com ela.

– Perfeito. – Zach respondeu sorrindo saindo da nossa sala, mas acabou voltando. – A e Quinn, se eu encontrar com você nesse jornal mais uma vez nos próximos 5 meses, considere-se demitida. – é claro que Zach não podia demitir uma grávida, mas já estava cansada de ser expulsa daquele lugar, então peguei minha bolsa e fui embora nervosa com Santana.

Cheguei em casa, fui ate a cozinha e resolvi tomar um café com um pouco mais de calma. Parecia que ultimamente não estava comendo por dois mais por um batalhão. Tentava não fazer barulho para não acorda Rach, que se bem me lembro, costumava acorda bem mais tarde, mas ao contrario de antigamente, ela apareceu na cozinha vestindo roupas de ginástica e visivelmente sem graça com minha presença.

– Não precisa se preocupar, já estou saindo. – disse levantando da mesa segurando um prato de biscoitos para comer no meu quarto, mas Rach me impediu.

– Não por favor, fique a vontade, vou só pegar uma garrafinha de água. – ela abriu a geladeira e pegou a garrafa, enquanto eu me sentava lentamente com medo dela atirar a garrafa em mim – Alias queria aproveitar e pedir desculpas pelo jeito que te tratei no jantar de ontem. Foi infantil da minha parte. – desculpas? Por essa eu não esperava.

– Tu tudo bem, não tem prob problema. – ficamos nos encarando, Rach com um sorriso tímido no rosto e um eu devia estar com a feição de uma pessoa que tentava dividir 346 por 13.

– Então o que esta fazendo acordada tão cedo?

– Eu tentei ir trabalhar, mas como já esperava, Santana me mandou de volta.

– Sabe que ela esta certa não é? Afinal você já esta com quantos 7 meses?

– É quase 8. Tudo bem eu entendo que tenho que ter mais cuidado, mas você faz ideia do quanto é ruim não poder fazer o que mais gosta?

– Sim, faço sim. – imbecil claro que ela fazia ideia, ela estava em Lima exatamente por causa disso. Melhor mudar de assunto.

– Bom e você? Não me lembro de você gostar de acorda cedo.

– Fui obrigada a mudar isso quando me mudei. Alex e eu corríamos quase todos os dias. – Rach fez uma pausa como se relembrasse aquilo com os olhos cheios de lagrima – Ela dizia que NY era linda de mais pra desperdiçar as manhas na cama. Acabou que virou um vicio. – ficamos naquele silencio chato por alguns segundos.- Bom acho melhor eu ir, antes que o sol fique mais forte. Te vejo mais tarde?

– Não posso ir a lugar nenhum. – Rach deu mais um daqueles sorrisos tortos que havia esquecido o quando adorava, e uma piscadinha que me deixou completamente perdida antes de sair da cozinha para fazer sua corrida.

Aquilo foi uma piada certo? É uma pegadinha. Cadê as câmeras, isso não pode estar certo. Primeiro ela me trata como lixo e agora vem com sorrisinhos e piscadinhas? Essa garota quer me deixar doida. Definitivamente, agora mais do que nunca eu precisava trabalhar, ocupar minha cabeça com qualquer coisa por que a noite de ontem ou essa manha não existiram.

Subi para meu quarto, que ate alguns minutos temia chamar de meu, e resolvi trabalhar em um dos meus projetos fora do jornal. Tinha um vídeo de formatura para editar a tempos, e era hora perfeita de colocar essa pendência em dia. O problema é que não conseguia me concentrar e sem duvida aquele não estava ficando o melhor dos meus trabalhos. Precisava relaxar, esfriar a cabeça, dar uma pausa daquele turbilhão que minha vida ficou desde que Rach voltou e não tinha nem 24 horas.

Comecei a me distrair vendo alguns “inocentes” vídeos na internet. Acabei me distraindo de mais a ponto de não perceber as horas passaram, ou a porta da sala abrir, os passos na escada e muito menos alguém entrando no quarto.

– O que você esta fazendo? – o susto foi tão grande que quase entornei um copo de água que estava em cima da mesa no meu notebook. Virei rapidamente me deparando com Rach.

– Trabalhando.

– Estou vendo. – Rach continuava olhando para tela do computador enquanto tentava desesperadamente fechar a pagina, claro que não tive sucesso.

– Não, não, não. É serio, estava apenas fazendo uma... Pesquisa?

– No lestube.com? – já que não conseguia fechar a pagina, acabei fechando o notebook.

– Eu realmente estava trabalhando em um projeto.

– Tudo bem, não estou julgando. – Rach parecia se divertir com o quanto estava envergonhada. – Mas então você faz trabalhos fora do jornal?

– Sim. Comecei fazendo propagandas de campanhas, sendo fotografa em alguns eventos, aniversários, essas coisas. Mas agora estou começando a trabalhar com criação de videoclipes.

– Posso ver algum?

– Claro. – procurei um dos últimos trabalhos que tinha feito, o clipe de uma pequena banda de Lima. Enquanto o vídeo passava, Rach se aproximou ate ficar do meu lado e agachou se apoiando nos tornozelos. A diferença de altura acabou me deixando com uma visão privilegiada do seu decote e não sei dizer se eram hormônios da gravidez ou o que, mas aquela visão estava me enlouquecendo, e ficou ainda pior quando percebi uma pequena gotinha de suor que descia do seu pescoço fazendo caminho ate seus seios.

– Quinn isso esta muito bom. Você devia levar isso mais a serio - Rach virou o rosto praticamente me obrigando a encarar seus olhos. Precisei de alguns segundos para retomar minha consciência e tentar responder sem gaguejar.

– O o obrigada. – melhor se tivesse tirado mais alguns segundos.

– E sobre o que é esse projeto que você estava trabalhando agora?

– For forma tu tura.

– Serio? Bom eu nunca fui as minhas formaturas, mas já cantei em varias, será que posso te ajudar com esse projeto? Quer dizer não tenho nada pra fazer, é bom pra passar o tempo.

– Claro. – uma palavra inteira parabéns Quinn.

– Ok então vou tomar um banho preparar algo pra gente comer já que meus pais não vão voltar tão cedo hoje e podemos trabalhar no projeto. – antes que dissesse alguma coisa, Rach desceu o zíper da camisa, ficando apenas com o top e deixando amostra uma barriguinha de dar inveja as meninas, e deixar os homens completamente loucos. Eu me sentia um homem. Rach saiu do quarto levando junto o resto de heterossexualidade que me restava. Não sei o que estava acontecendo comigo, sempre fui controlada em relação a esses desejos, mas não era nem meio dia ainda e Rach já tinha me deixado completamente excitada e alguém pode me culpar? O barulho da campainha me despertou do meu pequeno sonho erótico. Desci as escadas para abrir a porta aliviada já sabendo que era Santana e que poderia desabafar com alguém sobre essa mudança repentina de humor da Rach, mas havia me esquecido que ela não viria sozinha.

– Sant, a oi Zach.

– Onde ela esta?

– Tomando banho, por que você não volta mais...

– Ótimo vou esperar. – Zach entrou mesmo sem ser convidado e foi direto para sala já sentando no sofá

– Quer alguma coisa?

– Um copo de água por favor. – meu chefe era de longe o cara mais folgado e inconveniente que conhecia, mas aproveitei a oportunidade para conversar com Santana.

– Ok, Sant vem comigo ate a cozinha.

– Ah Quinn eu sei que esse lance de gravidez deve ser muito complicado, mas buscar um copo de água não é assim tão difícil. – fiz um sinal com a cabeça pra ver se Santana entendia que aquilo não tinha nada a ver com um copo de água. – Mas adoraria ajudar.

Santana me seguiu ate a cozinha. Assim que entramos fui direto a geladeira pegar a água de Zach e Sant como sempre paciente disse cruzando os braços.

– Então o que foi dessa vez Quinn?

– Fala baixo ok. A Rach me pediu desculpas pelo comportamento de ontem à noite.

– A RACH O QUE? – realmente ser discreta não era o forte da minha amiga.

– Falar baixo, significa alguma coisa pra você?

– Desculpa, mas como assim, como isso aconteceu?

– Bom depois de você me expulsar do jornal quando voltei pra casa passei na cozinha para tomar café...

– De novo? Quinn tem certeza que você não esta esperando gêmeos?

– Isso é importante agora? – Santana balançou a cabeça e fez sinal para que continuasse a historia. – Enfim, eu estava na cozinha e ela apareceu. Pensei que já iríamos começar a brigar de novo, mas ao contrario de me xingar ou gritar comigo, ela me pediu desculpas e ficamos conversando.

– Espera você esta falando da mesma garota que queria te matar ontem à noite?

– Eu sei é completamente estranho isso não é? E não acaba ai. Eu estava no quarto trabalhando em um dos meus projetos...

– Vendo pornô lésbico de novo.

– Tra-ba-lhan-do em um pro-je-to, e ela chegou de surpresa...

– Foi surpresa por que você estava vendo pornô lésbico.

– Santana da pra ouvir a historia. – mais uma vez ela fez sinal para que eu continuasse. – Ela chegou, viu um dos meus vídeos e simplesmente adorou. Eu comentei com ela que estava com dificuldades nesse ultimo projeto e ela disse que queria me ajudar. Ela e eu sozinhas ,uma tarde inteira dentro de um quarto muito, muito próximas.

– E o que você respondeu?

– Que não, pelo menos na minha cabeça eu disse não, mas acho que saiu um sim da minha boca. Definitivamente isso não é coisa boa não é? Ontem a noite ela queria praticamente me matar, e agora quer me ajudar com trabalho? Isso é muito estranho.

– Com certeza é estranho, mas talvez ela tenha realmente percebido que foi infantil noite passada, não se lembra da época do colégio vocês viviam brigando e no dia seguinte estava tudo bem.

– Sant, não tenho certeza de muitas coisas na minha vida, mas uma das que tenho é que ela não é a mesma Rachel Berry de quatro anos atrás.

– Quinn! – falando dela escutamos Rach gritar da sala. Santana e eu voltamos para ver o que era e nos deparamos com uma cena um tanto engraçada. Zach segurando a mão de Rach e balançando como uma criança que conhece o papai Noel, enquanto ela não entendia absolutamente nada.

–Não acredito que estou de frente com Rachel Berry, eu sou seu fã. Fui em uma de suas apresentações quando estive em NY e fiquei completamente encantado com seu talento, e é claro com sua beleza, mas de perto você é infinitamente mais bonita. É um prazer conhece-la.

– Queria muito dizer o mesmo, mas não faço ideia de quem é você. – Sant tomou a frente desgrudando a mão de Zach da de Rach.

– Esse é Zachary Lens, o apresentador do Lima News e infelizmente meu chefe. Ei Rach – Sant deu um abraço nela. – Esta tudo bem com você? – senti que a pergunta tinha muito mais a ver com nossa conversa na cozinha do que por pura cordialidade de Santana.

– Sim, perfeitamente bem. Vou deixar vocês sozinhos, devem ter coisas do jornal pra discutirem.

– Na verdade viemos falar com você.

– Comigo?

– Sim, Zach gostaria de te fazer uma proposta.

– Proposta? Qual proposta?

– Queríamos que você participasse de uma entrevista pra o nosso jornal. – Rach ficou visivelmente desconfortável com aquela proposta, como eu já previa que iria acontecer.

– Desculpa, mas não acho que agora é o melhor momento, na verdade eu vim pra Lima exatamente para fugir da impressa.

– Sei disso Srta. Berry, mas pense por esse lado, a sua saída repentina da peça, o julgamento por causa da agressão, a morte da sua namorada. – Santana deu um cutucão em Zach. – ai, enfim depois de tudo que aconteceu encare isso como uma chance de mostrar o seu lado da historia. Então o que você acha?

Rach continuava com o mesmo semblante e eu a entendia, afinal foi tudo tão de repente, e quando esperava ouvir um sonoro não da boca dela, ela olhou pra mim e abriu um sorriso.

– Eu aceito fazer essa entrevista, com uma condição. Quero que Santana e Quinn participem.

– Desculpa como? – Zach estava surpresa, Sant estava surpresa, eu estava surpresa.

– Quero que Santana e Quinn participem.

– Não vejo isso acontecendo.

– Pois eu sim, quer saber como? Santana é a rainha dos questionamentos poderia muito bem ser a entrevistadora, e Quinn faz um ótimo trabalho com as câmeras.

– Só tem um pequeno probleminha. Eu sou o apresentador do jornal, não a Santana. E nossa querida grávida aqui não pode trabalhar.

– Sinto muito, mas são essas as minhas condições senão nada de entrevista. Foi um prazer te conhecer Zachary. – Rach virou decidida caminhando em direção a cozinha, quando vi pela primeira vez Zach perder uma discussão.

– Tudo bem, Santana pode fazer a entrevista e Quinn participar da gravação, mas eu vou elaborar as perguntas e você terá que responder a todas. Gravamos amanha?

– Por mim tudo bem. – os dois deram um aperto de mão

– Ate amanha então. Vamos Santana, temos que voltar agora para o jornal e começar a preparar tudo. – Santana não parecia tão empolgada quanto meu chefe que saiu correndo para o carro.

– Olha Rach apesar de ganhar um aumento as custas dessa entrevista,você não precisa fazer nada que você não queira ainda mais por nossa causa. – Rach segurou a mão de Sant.

– Eu quero fazer isso, ok? Ele esta certo, também sinto que devo uma explicação pra quem acompanhava meu trabalho. – as duas se abraçaram. – Agora se me der licença, vou fazer algo para comermos. Quinn tudo bem se eu preparar o almoço?

– Claro.

– Te manha então Sant. – Rach foi sorridente para cozinha. Santana parecia tão confusa como se eu não tivesse contato a ela sobre a mudança de humor de Rach.

– Você me falando parecia estranho, mas ver essa cena é inacreditável. Quer dizer que ela realmente esta de boa com você?

– Não te disse.

– Okay Quinn isso é estranho, muito estranho. Sei que a Rach sempre foi uma idiota por você, mas isso foi incrivelmente rápido.

– Eu sei, mas e agora o que eu faço? – Zach começou a buzinar apressando Santana.

– Mas que merda, já estou indo. Olha eu vou ver se consigo descobrir alguma coisa, enquanto isso você deixa as coisas indo, vê aonde isso vai dar.

– Não sei se vou aguentar ver ate onde isso vai dar Sant.

– Calma Quinn, você já esta convivendo com esse tesão reprimido a 4 anos não deve ser difícil por mais alguns dias. Vai ficar tudo bem. A gente se vê amanha e você me conta o que aconteceu. Pode ser? Acha que consegue? – não.

– Sim.

Me despedi de Santana e respirei fundo antes de me virar e seguir para a cozinha onde encontrei Rach já colocando as panelas no fogão. Mesmo aquilo sendo um sonho, tentei me concentrar nas palavras de Santana, aquilo era estranho, muito estranho.

– Quer ajuda? – melhor acompanhar o processo de perto, vai que ela resolve colocar veneno na comida.

– Não, não precisa. Eu adoro cozinhar, foi uma das muitas coisas que aprendi em NY. As vezes fugia do teatro e ia pras aulas de culinária. Infelizmente a maioria das coisas eu não comia, mas – Rach deu um sorriso triste. – Alex adorava quando cozinhava.

– Sinto muito por ela.

– Obrigada. – a campainha tocou novamente

– Deixa que eu atendo. – deixei Rach preparando a comida e fui atender a porta. Fiquei de certa forma feliz ao ver que era a amiga louca de Rach, afinal com Lauren por perto era mais fácil lidar com ela.

– Oi Lauren.

– Oi Quinn.

– Entra ai a Rach esta na cozinha.

– Na verdade eu vim falar com você?

– Comigo?

– A Santana esta aqui?

– Não.

– Então sim, quero falar com você. Queria pedir desculpas por qualquer atitude minha noite passada eu não estava em perfeito estado. – era possível aquele dia ficar ainda mais estranho?

– Tudo bem não precisa se desculpar.

– Na verdade preciso sim, não queria que você tivesse uma ma primeira impressão minha, ainda mais que você tendo uma historia com a Rach e eu sendo a melhor amiga dela, pensei que seria legal se fossemos amigas também. O que você acha?

– Hum tudo bem. – Lauren deu um largo sorriso. Será que as pessoas de NY são assim, doidas?

– Ótimo. Então onde mesmo você disse que a Rach esta?

– Na cozinha, preparando o almoço. – Lauren estava entrando na casa, mas parou e voltou para o lado de fora.

– Me diz que ela esta ajudando os pais a preparar o almoço.

– Não, os Berrys não estão em casa. O que foi não vai entrar?

– Não mesmo. A Rachel na cozinha é um perigo.

– Ela disse que adora cozinhar.

– Adorar cozinhar não significa saber cozinhar. Se você tem amor a esse filho nem experimente.

– Mas ela disse que a Alex adorava quando ela cozinhava.

– A Alex era louca por ela, se a Rach servisse pedra era comeria como se fosse chocolate. – fiquei um pouco chateada com o comentário de Lauren. Sentia medo de não conseguir amar Rach como Alex fez, na verdade fiquei mais chateada por saber que tive a chance e não o fiz. Isso estava tão escrito na minha cara que Lauren percebeu. – Enfim, vocês estão sozinhas na cozinha, com facas e objetos afiados. Isso não é perigoso?

– Não sei mais. Não sei o que aconteceu, mas aquela Rachel de ontem a noite se transformou em uma pessoa doce e atenciosa e ate me pediu desculpas por ter me tratado daquela maneira. Já que estamos nessa coisa de ser amigas, talvez você possa me ajudar. Você não acha estranho essa mudança?

– Estranho. Muito estranho. – Lauren parou e pensou melhor consertando sua frase – Alias estranho? Nãooooo, não é estranho. A Rach é assim mesmo, não consegue ficar muito tempo com raiva de ninguém. Bom como é obvio que não vou almoçar aqui acho melhor eu ir embora.

– Não vai mexer com ela?

– Não, diz pra ela que depois eu ligo. Te mais Quinn.

– Te mais.

Voltei para a cozinha onde Rach continuava concentrada no ,seja la o que for, que ela estava fazendo. Não vou mentir, depois da péssima propaganda que Lauren fez, fiquei com um pouco de receio de almoçar.

– Quem era?

– A Lauren.

– E cadê ela?

– Não quis entrar. Não depois que eu disse que você estava fazendo o almoço.

– Imagino que ela tenha falado super mal da minha comida, mas não acredite nela. Lauren é pior do que homem, só come porcaria e eu sempre fazia algo vegan para ela de propósito. Pode ficar tranquila não estou fazendo nada vegan para você. – não que não gostasse de coisas verdes e saudáveis, mas eu queria comida de verdade e consegui.

Realmente a propaganda de Lauren não procedia, e Rach fez uma maravilhosa lasanha vegetariana. Sentia como se finalmente meu filho estivesse satisfeito, pelo menos pelas próximas 2 horas.

– Rachel essa lasanha esta incrível.

– Te disse para não acreditar na Lauren. – Rach levantou da mesa recolhendo os pratos.

– Você já fez o almoço sozinha, deixe que eu lave os pratos.

– Não senhora. Você continua ai sentadinha e economize suas energias. Vamos precisar para acabar o seu projeto.

Nem quis discutir. Em poucos minutos ela já tinha acabado de arrumar toda a cozinha e deixado ainda mais limpa do que antes. Como Rach havia mudado, não só completamente de ontem para hoje, mas muito durante esses 4 anos. Sem duvida Rach deixou de ser aquela adolescente infeliz consigo mesma e se transformou em uma mulher que transbordava confiança.

Quando acabou de arrumar tudo, subimos para o meu quarto e começamos a trabalhar no meu projeto e com a ajuda dela ficou um dos melhores vídeos que já fiz. Como não tínhamos nada para fazer continuamos assistindo alguns dos meus vídeos e depois passamos a tarde inteira vendo coisas engraçadas na internet.

Estava tão incrivelmente feliz com o quanto queria aquilo por tanto tempo, sabe ficar sozinha com Rach, no meu quarto, na nossa casa, rindo juntas, que acabei me esquecendo de que aquela recente mudança de humor dela, era muito, mais muito suspeita.

Não percebemos o tempo passar e quando olhamos já eram quase 20:00. Sem nada mais para ver na internet, resolvemos assistir algum filme o que era tranquilo para mim ate Rach ter a brilhante ideia de colocar meus hormônios a prova.

– Deve ser ruim para você ficar muito tempo na mesma posição, por que não deitamos na sua cama?

Uma luzinha vermelha piscava dentro da minha cabeça. Perigo! Perigo! Cara eu já estava a quase oito meses na seca, oito meses sem absolutamente nada e agora vou ficar na mesma cama, cama de solteiro, com uma garota? E não é qualquer garota, mas sim Rachel Berry a garota que eu tento esquecer a quatro anos e não consegui. A única garota que já fiquei mesmo depois de me assumir. A minha garota. Não vou resistir a tanta proximidade, não vou conseguir ficar tão perto dela. Não posso mesmo.

– Claro vamos sim.

– Vou preparar uma pipoca pra gente então, enquanto isso você escolhe o filme.

– Tudo bem. – Tudo bem? Como assim tudo bem? Qual a parte de você não vai conseguir ficar tão perto dela você não entendeu?Qual o seu problema Quinn, ficou louca? Vai ser um milagre se você não agarra-la antes mesmo do filme começar.

Deixei meu corpo cair na cama enquanto pensava em como me livrar dessa. Me ajeitei na cama ficando bem na beiradinha tentando deixar o máximo possível de espaço para Rach o que com o meu barrigão não era muita coisa

Quando Rach voltou o notebook ainda estava em cima da mesa. Estava tão perdida que nem me lembrei de pega-lo e escolher um filme qualquer. Erro grave.

–Quer dizer que eu vou escolher o filme? – concordei com a cabeça mais uma vez me esquecendo de como minha pasta de filmes era “especial”. Rach deitou do meu lado ficando bem pertinho e começou a olhar a lista. – Elena Undone, I can't think straight, Lip Service. Caramba Quinn quando você ficou tão lésbica?

– Provavelmente entre o terceiro e o sexto mês. As coisas ficaram um pouco complicadas, se é que você me entende. – Rach e eu começamos a rir, e por um momento pensei que aquela situação poderia não ser tão embaraçosa.

– The four faced liar? Esse eu nunca vi. É bom?

– Ainda não vi também.

– Então acho que temos um vencedor.

Nos ajeitamos na cama e colocamos o filme para rodar. Assim que passaram os primeiros minutos, percebi que era melhor ter assistido ele antes, sozinha, jamais com Rach. Pra começar já era constrangedor de mais assistir aquele tipo de filme com ela, ainda pra piorar a situação uma das protagonistas do filme era um morena baixinha e a outra uma loira alta ate então hétero. Nada parecido com minha historia com Rach.

Comecei a ficar um tanto desconfortável quando as cenas esquentaram um pouco. Rach continuava tranquila como se estivesse vendo um filme da Disney. Pra ela era fácil, deve ter feito aquilo com Alex em todos os lugares de NY. Eu estava quase morrendo.

– Quinn esta tudo bem com você?

– O que? Por que?

– Você esta suando.

– É é que eu estou... – processa Quinn, rápido. – com muito calor.

– Aqui deixa eu te ajudar. – Rach pegou um gelo do copo de refrigerante que estava tomando e colocou na boca. Se aproximou de mim e começou a soprar no meu pescoço. Aquele friozinho que saia da boca de Rach me deu arrepios. – Melhorou? – ela perguntou tirando o gelo da boca e me encarando.

– Sim. – meus olhos não desgrudaram dos delas, sentia minha respiração acelerar, meu coração bater mais forte, quando Rach começou a se aproximar. Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ela foi se aproximando e quando fechei os olhos já esperando por um beijo Rach parou.

– Acho que é melhor irmos dormir, temos uma entrevista amanha cedo. – levantou da cama e saiu deixando o filme passando, deixando a pipoca em cima da cama e me deixando parada igual uma idiota.

Será que fui tão ruim assim pra merecer esse castigo?