As Brasileiras escrita por Felipe Chemim


Capítulo 22
A Lenda De Tocantins


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem o último episódio da temporada. :)



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Brasil... Norte... Tocantins. Esse paraíso na Terra tem o nome baseado numa língua tupi e significa “bico de tucano”. Mas também tem uns urubus cobiçando as moças passando na rua. Antigamente, esse estado não existia e era a região norte de Goiás, só que por vários problemas, nasceu Tocantins, que hoje é mais um estado que enfeita nosso país. Esse estado tem uma área total de 277.620,914 Km² e uma população pra lá dos 1 milhão e 300 mil. Sua capital, Palmas, é a segunda capital mais segura do Brasil, perdendo apenas para Natal. Palmas também é a última cidade totalmente planejada do século XX e bela sua beleza, faz justiça ao nome: Palmas. Que é o que esse estado merece...  Se você for para lá, poderá ouvir sobre a misteriosa história da heroína de hoje,
A Lenda De Tocantins  

(aparece um pouco de terra voando com o vento e então uma casinha pobre, com uma mulher lavando roupa num tanque velho. Ela esfrega com todas as forças umas roupas de crianças para deixar bem branquinhas. Ela limpa um pouco de suor da testa, abre a torneira, fecha e volta a esfregar as roupas)
Essa é a casa de Maria no meio do sertão nordestino há muitos anos atrás, uma mulher trabalhadora que quer um futuro bom para os filhos...
(de repente uma mão magra pega seu ombro e vira a mulher)
Dagmar: Pelo amor de Deus me ajuda!
(Maria vê uma mulher magra, muito desnutrida e obviamente com fome. Mas apesar desse aspecto, seus olhos azuis claros e intensos se destacavam em seus rosto magro. Ela carrega uma criança no colo)
Maria: O que foi?
Dagmar(olhando para trás e para os lados freneticamente): Eles estão me perseguindo... Eles querem me pegar e pegar meu bebê...
Maria: Eles? Eles quem?
Dagmar: Por favor... Cuida do... Cuida do meu bebê...
(a senhora tinha uma certa dificuldade para falar devido a falta de água)
Maria: Calma, entre... Vou cuidar de vocês...
Dagmar(colocando a criança no colo): Não! Eu estou... Prestes a morrer... Peço... Peço que cuide da minha criança... O nome dela é Lua... Tú vai conseguir sustentá-la e sustentar todos seus outros filhos... Eu sei... Eu sei disso...
Maria: Não minha senhora... Entre...
Dagmar: Antes de eu morrer... Preciso que saiba que daqui há uns anos uma descendente minha vai sofrer o mesmo que eu sofro...
Maria: Você não vai morrer... Não agor...
(Dagmar cai aos pés de Maria)
Dagmar(ofegante): Ai...
Maria(tentando equilibrar o bebê e levantar Dagmar): Não, por favor, levanta...
(aparece a pequena criança Lua e as duas mulheres por uma câmera de cima. E se ouve o choro do bebê...)
E a Dagmar foi viver lá no Paraíso do Céu...
E sua “profecia” se realizou... Depois de um tempo o marido de Maria chegou e disse que havia sido promovido do trabalho dele... Então os dois se mudaram do nordeste para Tocantins e lá faturaram tanta grana que eram chamados de Reis da Cocada Preta...
A pequena Lua cresceu como uma pessoa normal e sua geração foi aumentando, até que chegou em Celeste...
(aparece uma linda moça vestida com calça jeans e blusa florida com uma bolsa de couro ao lado do corpo. Ela anda pela rua e para numa barraquinha)
Celeste: Bom dia seu Ederson...
Ederson: Bom dia minha linda Celeste! O que vai querer hoje?
Celeste: Um café, dois pãeszinhos e...
(ela fica fazendo o pedido enquanto o narrador fala)
E Celeste era tão bonita que a rapaziada só de olhar já queria fazer o cometa deles entrar na atmosfera dela...
(Celeste agradece, dá o dinheiro para Ederson e cruza a rua correndo)  
E se você parar de reparar e babar pelo corpo dela, vai perceber que seus olhos são azuis e intensos como os de Dagmar, como viu no começo da história...
(ela entra no shopping e depois na loja onde trabalha. Mais no interior da loja, ela guarda seus pãeszinhos e o café para comer depois num armazenamento. Depois, tira uma camiseta do uniforme da loja e troca pela que estava vestindo. Uma colega de trabalho entra na loja.)
Lucicreide: Oi Celeste...
Celeste: Oi Luci...
Lucicreide: O chefe quer falar contigo... Tá lá na sala dele... Vem chumbo grosso...
Celeste: Sei bem o chumbo dele...
(Lucicreide volta para a área externa da loja, enquanto Celeste se encaminha para a sala do patrão)
Na verdade, o chumbo do chefe de Celeste era pequeno e nada grosso... Mas não vamos entrar em detalhes...
Você só precisa saber que ele se achava o Cauã Reymond de Tocantins mas na verdade não passava nem longe...
(Celeste entra na sala)
Celeste: Me chamou seu Augusto?
(Augusto era gordo, com nariz vermelho igual de um macaco e umas sobrancelhas de taturana)
Augusto: Sim chamei sim...
(ele se levanta e fica perto das costas dela)
Celeste: E o que o senhor deseja...
Augusto: Bem, queria conversar...
Celeste: Diga...
Augusto: Todos esses anos como uma funcionária exemplar e você nunca pediu um aumento...
Celeste: Sim... Acho justo o salário que ganho pela minha função...
Augusto(chegando perto dela): Mas você sabe que pode ganhar o que quiser, não sabe? Até mesmo um aumento...
(ele pega em sua cintura e começa a levantar sua camiseta)
O que ele queria aumentar não era o salário de Celeste, mas outra coisa... O que era bem dificíl de acontecer na idade em que ele estava...
Celeste(tirando a mão de Augusto dela e se virando): Olhe aqui seu Augusto, eu quero  trabalhar dignamente e se o senhor...
Augusto: Olhe aqui você Celeste... Não sei se você sabe... Mas eu escondia uma câmera lá no vestiário e tenho fotos suas nada elegantes... Então é bom a senhorita fazer o que eu mandar...
Celeste: Como é que é...
(de repente, Celeste paralisa, assim como toda a cena. Seus olhos azuis ficam cada vez mais brilhantes e a câmera se aproxima de seu olho completamente. Então mostra Celeste tendo uma visão: Lucicreide correndo desesperada pela rua e depois um homem numa cama de UTI)
(seu olho volta ao normal, a câmera volta ao normal e a cena descongela)
Augusto: É isso mesmo! Se você não...
(Celeste sai correndo da sala)
Augusto: Hey! Volta aqui agora!
(Lucicreide vê Celeste correndo nervosa até o estoque e vai atrás dela)
Lucicreide: Amiga, o que foi?
Celeste(chorando nervosa): Eu vi de novo...
Lucicreide: Viu o que?... Ah não... Você teve mais uma...
Celeste: Sim! Mais uma visão aterrorizante...
Lucicreide: Conta o que foi?
Celeste: Era o seguinte: você e...
(de repente, um barulho de carro freiando desesperadamente e um baque daqueles. Celeste e Lucicreide saem para ver o que aconteceu e ao chegar na rua Lucicreide sai correndo gritando desesperada)
(Celeste anda calmamente já sabendo o que havia acontecido. Ao passar ao lado do carro vê que na sua frente está um corpo caído. Ela coloca as mãos na boca)
Celeste: Ai meu Deus...
Um dos problemas das visões é que elas não avisam se aquilo vai acontecer daqui há cinco anos ou cinquenta segundos....  
(a câmera mostra que o homem caído é Augusto)
(a cena muda mostrando uma parede de hospital e então Celeste e Lucicreide chegam)
Lucicreide: E por quê é que você não me disse antes?
Celeste: Eu ia dizer bem na hora que aconteceu!
Lucicreide: É! Mas agora ele tá lá numa cama de hospital e...
Celeste: E o que você ia fazer pra impedir?!
(elas quase trombam com um médico)
Médico: Bom dia... Algum problema?
Celeste: Er... Nós viemos ver o Augusto...
Médico: O Augusto Ferreira?
(elas concordam)
Médico: No estado dele só visitas de familiares...
Lucicreide: Como assim no estado dele?
Celeste: Nós somos familiares...
(o médico levanta um sobrancelha, em sinal de dúvida)
Celeste: É que ele puxou o lado mais branquinho da família...
Médico: Tudo bem... Uma enfermeira vai acompanhá-las...
(aparece um homem todo enfaixado deitado numa cama. Ao lado dele há uma espécie de cortina de pano. Então, essa cortina se abre e entram Celeste e Lucicreide. Celeste põe a mão nos olhos e se vira)
Celeste: Ai meu senhor Jesus!
Lucicreide: O que foi? Está tendo outra visão?
Celeste: Não... Quero dizer, agora que minha visão tá completa!
(ela tira a mão do rosto e aponta para Augusto)
Celeste: No final da visão eu via um homem todo enfaixado numa cama)
Lucicreide: Eta! O negócio tá feio bichinho...
(de repente o homem enfaixado começa a resmungar algo)
Lucicreide: Ai meu Deus, é o espírito de Augusto!
Celeste: Que espírito o que Lucicreide! O Augusto não morreu ainda...
Lucicreide: Ainda? Como assim? Você previu que ele vai morrer?
Celeste: Claro que não sua tonta... É que todo mundo vai morrer um dia...
(Celeste começa a tirar a faixa do rosto e então grita)
Celeste: AHHHHHHHHHH!
(o homem que estava enfaixado - e que não é Augusto - também começa a gritar)
Homem: AHHHHHHHHHHH!
(a enfermeira aparece, toda ofegante)
Enfermeira: Senhora... O seu Augusto está naquela cama ali...
(ela aponta para uma cama do outro lado da sala)
Celeste: Desculpa meu senhor, pelo amor de Deus!
(ela sai e fecha a cortina)
(aparece então Augusto deitado numa cama com um gesso na perna inteira e segurando um garfo. Ele começa a coçar a perna com o garfo na hora que Celeste, Lucicreide e a enfermeira entram)
Enfermeira: Hãã... Com licença...
(ela sai apressada)
Augusto: Oi meus amores...
Lucicreide: Que bom que você está bem Augusto...
Celeste: ...É, porque agora quem vai te matar sou eu!
(Celeste parte para cima de Augusto e tenta alcançar seu pescoço, mas ele segura seus braços)
Lucicreide(tentando puxar Celeste): Celeste, para com isso Celeste!
Às vezes o destino leva tudo ao pé da letra...
(a cena paralisa. A câmera se move para mostrar o rosto de Celeste. A cena é: tudo paralisado, Augusto com uma perna engessada e com um garfo enfiado levantada, Celeste quase esganando-o e Lucicreide gritando e puxando Celeste. O olho de Celeste brilha intensamente... Ainda mais intenso do que antes...)
(a cena descongela e Lucicreide e Augusto voltam a se mecher. Apenas Celeste não se meche. Ela para, então, olha para os lados e sai de perto da cama, roendo a unha)
Lucicreide: Celeste? O que foi Celeste?
(Celeste olha para Lucicreide, tensa)
Celeste: Algo muito ruim vai acontecer...
Para Augusto isso não soou muito bem, mas Lucicreide sabia que quando ela falava isso, o circo ia pegar fogo...

*** Augusto: Como assim algo ruim vai acontecer?
Lucicreide: Não, ela disse que algo muito ruim vai acontecer...
Augusto: Ah, melhora muito...
Lucicreide: Vem Celeste!
(Lucicreide sai, puxando Celeste)
Augusto: Hey, não vão nem querer saber como foi meu acidente?!
(a cortina se fecha)
(aparece Celeste e Lucicreide na sala do hospital)
Lucicreide: Tá, diz logo!
(Celeste, nervosa, coloca a mão na cabeça e vira de costas para Lucicreide)
Celeste: Outra visão...
Lucicreide: Sobre...?
Celeste: Uma bomba...
Lucicreide: Uma bomba?... Uma bomba? Uma bomba tipo: PUFT...
(ela faz uma pequena “explosão” com uma mão)
Celeste: Não...
Lucicreide: Tá... Então uma bomba tipo: BOW...
(ela faz uma “explosão” um pouco maior com as duas mãos)
Celeste: Não...
(ela se vira para a amiga)
Celeste: Uma bomba tipo: BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOW!
(Celeste ergue os braços para simbolizar uma grande bomba)
Lucicreide: Ai meu Deus...
(Lucicreide senta-se no banco branco atrás dela)
(aparece Lucicreide nervosa tomando um copo d’água e Celeste também nervosa andando de um lado para o outro)
Lucicreide: Isso não pode ser verdade...
Celeste: Por quê você tá nervosa? Fui eu que tive a visão....
Lucicreide: É verdade... Mas é que eu, você e todo o Tocantins vai morrer se isso acontecer!
Celeste: Eu não tinha uma visão tão séria desde os meus 14 anos...
Lucicreide: Quando previu que seu gatinho Pimpão ia morrer...
Realmente, a morte de um gatinho aos 14 anos abala qualquer um....
Celeste: Não! Quando eu tive aquela visão assustadora da minha vó na escuridão na frente de uma fogueira, com alguma pessoa de seu lado e com outro alguém atrás dela com uma faca...
Lucicreide: É... Mas isso não aconteceu...
Celeste: Não aconteceu ainda...
Lucicreide: Ai, credo Celeste! Vira essa boca pra lá!
(ela faz um sinal da cruz e bate no banco)
Celeste: Falando nisso, vou voltar pra casa, já tá tarde...
(aparece uma rua toda escura e Celeste andando, com a cabeça um pouco baixa)
(ela para e levanta um pouco a cabeça e dá para ver que seus olhos azuis estão brilhando)
(ela volta a andar e ao passar para uma árvore, se vira e diz)
Celeste: É bom nem tentar... A não ser que gostei de levar uma facada...
(um homem todo de preto sai de baixo da sombra da árvore e sai andando, nervoso)
Ladrão: Desculpe moça...
(Celeste volta a andar)
(ela entra numa casa)
Celeste(trancando a porta): Vó?
(silêncio)
Celeste: Vó, tá aí?
(ela coloca as chaves em cima de uma mesinha)
(ela anda e vê a vó dormindo no sofá)
Celeste: Ô vózinha...
(aparece Celeste colocando a senhorinha em cima da cama, já dormindo)
Celeste: Ai, ai...
(Celeste sai do quarto, mas antes coloca um cobertor em cima da vó)
(aparece Celeste sentada no sofá, procurando algo na televisão)
(a tela começa a escurecer. Quando clareia, mostra Celeste em frente ao espelho terminando de se arrumar. Ao se virar para a janela, olha o sol e seus olhos brilham)
(mostra-se Lucicreide terminando de atender um cliente na loja)
Lucicreide: Obrigada... Volte sempre...
(ela se vira para terminar de arrumar as coisas e vê Celeste arrumando)
Com a cara triste de Celeste que parecia uma viúva, até mesmo a tapada da Lucicreide descobriu que o buraco da premonição era mais em baixo...
Lucicreide: Que cara é essa amiga? Aconteceu mais alguma coisa?
Celeste: Só fiquei pensando na visão... E uns sonhos estranhos comigo e com minha vó...
Lucicreide: Nossa... A propósito, você nem me contou direito o que viu!
Celeste(puxando a amiga para o vestiário): Vem...
(aparece as duas entrando no vestiário)
Lucicreide: Pronto, pode dizer...
Celeste: Eu vi uma grande bomba... Um grande bomba estava voando... Acho que num avião bem grande, então algum erro acontece e a bomba se solta caindo aqui... Com o impacto, a bomba explode e devasta tudo...
(Lucicreide se senta no banco)
Lucicreide: Isso é ruim...
(ela olha para Celeste)
Celeste: Isso é péssimo!
Lucicreide: E agora?
Celeste: E agora que eu tô muito nervosa... O que eu vou fazer? Fechar os aeroportos do mundo?
Lucicreide: Se a gente conseguisse... Justo agora que aconteceria a festa da loja...
Celeste: Calma, como você sabe, minhas visões não avisam quando vai acontecer...
(Celeste se aproxima do armário mas dá meia volta, indignada)
Celeste: Droga, esqueci a chave do meu armário... Tá tudo aí: uniforme, maquiagem...
Lucicreide: Relaxa amiga... O Augusto vai ficar em casa um mês, o comando é nosso! Vai pegar a chave lá na tua casa...
Celeste: Valeu... Eu já volto!
(aparece Celeste entrando em casa)
(ao passar pela sala, ela toma um susto. No canto da sala, numa cadeira de balanço, está sua vó Lurdes se balançando. Com seus olhos azuis iguais aos de Celeste, ela olha fixamente para a parede de entrada)
Celeste: Vó? Aconteceu alguma coisa?
Lurdes: Estava te esperando minha querida...
Celeste: Me esperando? Como assim?
Lurdes: Eu sei que tem algo lhe preocupando...
(Celeste começa a caminhar, tensa, até a vó)
Celeste: Como... Como assim?
Lurdes: É a visão que você teve, não é?
Celeste: Como a senhora sabe que essas visões voltaram?
Lurdes: Minha querida, você ainda tem que descobrir muito sobre as suas raízes...
Celeste: Minhas raízes... A senhora nunca fala das minhas raízes... Por quê nunca contou sobre meus pais? Por quê nunca fala nada da nossa família?
Lurdes: Você só deve saber na hora certa...
Celeste: Só devo? Como assim? Minha vida toda está medida por acaso?
(Lurdes fica em silêncio)
Celeste: Só vim pegar minhas chaves da loja...
(Celeste sobe as escadas com um pouco de raiva)
Lurdes: ESTÁ NA ÚLTIMA GAVETA DA SUA CÔMODA!
(aparece Celeste entrando em seu quarto. Seguindo reto, na parede, havia um grande espelho. E em baixo uma pequena cômoda branca decorada com desenhos de flores rosas)
(Celeste se abaixa para pegar as chaves. Ela as pega e quando levanta, toma um susto. No espelho, ela vê um reflexo de algo muito estranho...)
(parecia um vulto de uma pessoa... feita de fumaça... uma alma...)
(ela se vira rapidamente e não vê nada)
Celeste: Não estou entendendo mais nada...
(ela olha para o lado e rapidamente parece ter visto o vulto sair pela janela)
Celeste: Mais nada mesmo...
(aparece Celeste entrando na loja novamente. Então ela vê Lucicreide no telefone, gritando com alguém)
Lucicreide: NÃO SUA BESTA! COMO É QUE EU VOU QUERER O PRODUTO UM DIA DEPOIS DA FESTA? SÓ SE FOR PARA ESTOURAR BEM EM CIMA DA SUA CABEÇA!
(Celeste para em sua frente e levanta os braços, para dizer que não estava entendendo nada. Lucicreide coloca o telefone no ombro para a pessoa não ouvir e cochicha para Celeste:)
Lucicreide: É o organizador da festa... Teima em dizer que só pode trazer os balões e bujões de gás um dia depois da festa ter acontecido...
(ela coloca o telefone novamente na orelha)
Lucicreide: Oi... É claro que eu tava te ouvindo...
(Celeste consegue dar um sorrisinho e então vai para o vestiário, se trocar)
(lá, ela tira a blusa, abre seu armário para tirar a camiseta do uniforme, então vê que seu Augusto entrou)
Celeste: Você de novo? Não era para estar em casa?
Augusto: E você acha que eu ia ficar longe de uma gostosura feito você?
Celeste: Olha, a última vez que você fez isso quebrou a perna!
Augusto: Hey... Eu quebrei a perna justamente porque fui atrás de você!
Celeste: Como é que é?
Augusto: É isso mesmo... Eu pensei que você havia fugido e fui atrás de você... Nisso, o carro me atropelou...
Celeste: Ai droga...
(ela veste a camiseta do uniforme rapidamente, fecha o armário e vai sair)
Augusto: Hey, não vai ficar? Bem que sua vó disse mesmo que você ia trair sempre as pessoas...
(Celeste volta)
Celeste: O que você disse sobre minha vó?
Augusto: Bah, bobagem...
Celeste: Diz agora!
Augusto: Tudo bem... Anos atrás eu fui lá na sua casa para ver se você estava e a porta estava aberta... Então eu tomei a liberdade de entrar e acabei ouvindo a conversa da sua vó... Só que o assustador é que não tinha nenhuma outra pessoa... Parecia que ela conversava sozinha...
Celeste: Mas o que ela falava?
Augusto: Ela dizia que havia visto algo terrível... E que um dia você, Celeste, iria trair a expectativa de todos...
Celeste: Droga... Então tudo aquilo faz sentido!
(Celeste sai apressada)
Augusto: Hey, o que faz sentido?
(aparece Lucicreide ainda discutindo com o homem no telefone)
Lucicreide: NÃO QUERO SABER SUA ANTA AMBULANTE!
(ela desliga o telefone com raiva)
(Celeste aparece, apavorada)
Lucicreide: Nossa, o que foi Celeste?
Celeste: A minha vó...
Lucicreide: Como?
Celeste: Lembra que eu contei que havia tendo uns sonhos em que eu estava numa fila e das minhas costas saía uma corda azul que entrava na barriga da minha vó?
Lucicreide: Você não explicou direito, mas lembro que falou de sonhos...
Celeste: Então... Esses sonhos é para explicar aquela minha visão da minha vó com uma fogueira e também explica todas as outras visões da minha vida!
Lucicreide: Que?
Celeste: A visão que eu tive de alguém atrás da minha vó com a faca... Eu sei quem é a pessoa que está... Ou melhor, estará com a faca...
Lucicreide: Quem?
Celeste: Eu mesma!
Lucicreide: Oi? Ficou maluca de vez?
Celeste: Agora eu entendi essas visões que eu tive durante a minha vida... Eu só tenho essas visões por causa da minha vó... E é por isso que ela não diz nada sobre o meu passado... Ela me interliga com algo que me dá essas visões...
Lucicreide: Isso quer dizer que para você parar com essas visões você terá que matar sua... Sua avó?
Celeste: É isso... Deu uma dentro Lucicreide...
Lucicreide ainda ficou na dúvida se essa era a melhor maneira de resolver os problemas familiares...
*** Lucicreide: Mas uma coisa não se encaixa... Se você é a pessoa da faca, quem é a outra pessoa ao lado dela?
Celeste: Só há um jeito de descobrir...
Lucicreide: Você não vai mesmo...
(Celeste balança a cabeça dizendo que sim)
Para falar a verdade, Celeste ficou semanas pensando se mataria mesmo a vó ou se a bomba mataria antes...
Até que um dia, decidiu o que iria fazer...
(aparece a rua da casa de Celeste e então ela chegando. Ela se vira, respira fundo e entra)
(ao chegar lá, vai para a cozinha e abre tensamente uma gaveta)
(no meio da escuridão da casa, a faca brilhava dentro da gaveta)
Celeste: Ai...
(ela respira, tensa, e então pega a faca, fecha a gaveta e se encaminha até a sala)
(aparece a mão de Celeste segurando a faca e então ela vai andando e a câmera vai mostrando ela caminhando pelo corredor. Tentando não fazer barulho)
(ao chegar na sala, está tudo como na sua visão. Sua vó, de costas para ela, uma pequena fogueira à sua frente fazendo apenas um pouco de iluminação. Ao lado dela, Celeste parece ver um vulto)
(ela dá mais alguns passos. Agora ela caminha mais com medo do que com coragem. Então o rosto de sua vó vira de lado e ela olha a neta pelo canto do olho)
Lurdes: Você vai mesmo fazer isso?
Celeste: É o que o destino preparou, não é? Não tem como fugir... Alguma hora vai ter que ser realizado, cedo ou tarde...
(Lurdes vira o rosto para frente novamente)
Celeste(olhando para o vulto): O que é isso ao seu lado?
Lurdes: É o espírito da morte... Você o viu rondando essa casa várias vezes, não viu?
Celeste: Então alguém vai morrer mesmo...
Lurdes: Não se preocupe... É o que temos que fazer... O espírito diz isso...
Celeste: Mas na minha visão não mostrava você morrendo... Então não quer dizer que vou matá-la...
Lurdes: Felizmente você não viu o que aconteceria depois da sua visão... Diferente da minha bisavó...
Celeste: O que aconteceu com sua bisavó...
Lurdes: Sente-se minha querida...
(Celeste larga a faca e se senta ao lado da vó)
Lurdes: Minha bisavó teve o mesmo dom... Ou talvez a mesma maldição que nós duas: o de prever o que vai acontecer...Ela também via esses espíritos...
Celeste: E o que aconteceu?
Lurdes: Certo dia ela previu que teria que matar um garoto... Depois uma família... Depois a própria família... O marido... E até a própria filha...
Celeste: E ela realizou todas essas mortes?
Lurdes: Não... Ela era uma alma muito boa e não conseguia matar nem um inseto... Logo, os espíritos da morte começaram a assombrá-la... Nos sonhos, na vida... Ela não aguentava mais... Os espíritos mesmo começaram a matar quem deveria ter morrido... O marido dela... Logo queriam matar a filha dela... Aí... Aí ela não aguentou mais e fugiu... Veio lá do nordeste e no meio disso encontrou uma família simples, humilde, mas de bom coração...
Celeste: Sua bisavó foi adotada?
Lurdes: Sim... Felizmente ela encontrou a família certa e entregou-lhes o bebê... Por falta de comida, água e muitas doenças, acabou morrendo lá mesmo... A família não tinha nenhum dom sobrenatural e por isso não via os espíritos, que continuavam a assombrar a criança... Mas ela acabou crescendo e não desenvolveu nenhum dom... Mas então ela teve uma filha, a minha vó, que acabou desenvolvendo essa maldição e assim vai repassando em nossa família...
Celeste: Isso quer dizer que os espíritos vão te matar ou matar a mim?
(Lurdes olha para o lado e depois para a neta)
Lurdes: Veja, o espírito não está mais aqui... Quer dizer que não sou mais importante...
Celeste: Se você não é importante... Quem é?
(Celeste anda até a janela e vê vários vultos marchando para o centro da cidade)
Celeste: Ah não... Meu Deus!
(ela sai correndo)
Lurdes: Tome cuidado minha filha...
Celeste: Não se preocupe... Vou ter que cuidar dos outros...
(aparece Celeste correndo pela cidade, até chegar na loja em que trabalha, que estava aberta e luminosa, pois era o dia da festa)
Celeste: Como eu suspeitava...
(a câmera mostra vários espíritos em volta da loja. Muitos gruniam e rosnavam para o ar)
(Celeste entra correndo)
(todos os convidados estavam bem vestidos, menos ela)
(ela tenta achar a amiga Lucicreide, mas é muita gente)
(ela avista um colega de trabalho)
Celeste: SANDRO!
Para a sorte de Celeste, parecia ter caído um anjo da guarda chamado Sandro, que tinha a cara mais boa do que vilão de novela fingindo ser o amor de todos...
(Sandro anda até ela. Ele usava uma calça e terno roxo, junto com uma camiseta azul e também uns óculos escuros)
Sandro: Sim, Celeste?
Celeste: Você tem que me ajudar...
Sandro: São os espíritos, não são?
Celeste: Como é que...
(Sandro tira os óculos e revela seus olhos intensos)
Celeste, que diferente das outras mulheres, não havia reparado nele e nos seus olhos...
Celeste: Você também é...
Sandro: Não... Não prevejo o futuro... Mas vejo os espíritos...
Foi aí que Celeste sacou que Sandro havia vindo lá do nordeste e que o nordeste era uma fábrica de videntes...
Celeste: Toda essa gente vai morrer se não sair daqui...
E adivinha quem chegou para melar tudo?
(Lucicreide aparece)
A DE-BI-LÓI-DE!
Lucicreide: O que vocês vão fazer?
Celeste: Vem aqui Lucicreide...
Sandro: Hey, as mulheres eu consigo espantar...
(Sandro sobe num palco improvisado e chama a atenção do povo)
Sandro: Atenção, atenção... Quero declarar que o esgoto lá da rua acabou enchendo, vazando e essa loja... Essa loja aqui onde estão pisando, foi INVADIDA por ratos, baratas e outros animaiszinhos que vocês adoram...
(as mulheres, com todos seus vestidos luxuosos, começam a correr de um lado para o outro, tentando fugir dos falsos animais)
(Sandro desce do palco e começa a beber um wisky num pequeno copo)
Aí foi a correria da UCP...
Ah, não sabe o que é UCP? Unidas por Coisas Peruísticas...
(os homens corriam juntos atrás das mulheres...)
Homem 1: Hey, cara, que sacanagem foi essa?
Homem 2: É! Espantou a mulherada toda...
Sandro: Calma, não se preocupem... Aquilo foi pra afastar a mulherada... É que agora o papo é sério... Queria declarar que tudo isso aqui é um assalto!
(ele arranca um pistola de brinquedo e ameaça os homens)
Sandro: É bom vazarem daqui...
(os homens restantes saem correndo)
(Sandro sai, bebendo e girando a pistola de brinquedo)
Sandro: Ai ai... Graças ao Paraguai...
(na rua Celeste e Lucicreide estavam nervosas)
Lucicreide: Como assim a bomba é a loja?
Celeste: A visão não era de uma bomba no avião... A bomba é os bujões de gás...
Lucicreide: Mas não tem nada ligad... Peraí, o fogão com o jantar acabou deixando ligado...
Celeste: O que?
(as duas olham para a loja no momento em que ela explode, voando cacos para todos os lados)
(destroços saem para todos os lados. Celeste e Lucicreide vão para o chão)
(um nuvem de chamas sobe ao céu e fica pairando)
(Celeste dá uma última olha ao redor da loja, antes de desmaiar, e vê os espíritos fugindo loucamente)
(ela fecha os olhos e desmaia)
(ao acordar, está na cama de hospital)
Celeste: O que aconteceu?
(em volta dela está Lucicreide, Sandro, vó Lurdes e Augusto)
Lucicreide: Nós desmaiamos... Eu já me recuperei, mas por algum motivo, você ainda vai ficar um bom tempo aí...
Sandro: Bom, só passei para ver se está tudo bem...
(Sandro olha para Celeste, dá uma piscadinha esperta e sai)
Augusto: Apesar de ter explodido minha loja e expulsado meus cliente, estou feliz por você estar bem...
Lurdes: Será que vocês podem me deixar a sós com ela?
Augusto: Ah claro...
Lucicreide: Eu ia comprar um refri mesmo...
(Lucicreide e Augusto saem)
Lurdes: Que bom que no final tudo deu certo...
Celeste: Tudo não... Só eu e minha mania de querer desvendar tudo...
Celeste havia se tocado que ela havia salvado as pessoas antes do acidente acontecer por sua causa...
Complicado? É a psicologia feminina...
Lurdes: Você é uma boa garota...
Celeste: E que sempre vai estar ligada com sua vó...
(as duas sorriem)
(Lurdes tira um papel velho e dobrado de sua bola)
Lurdes: Aqui está tudo sobre sua história... Minha bisavó fez... E assim foi repassando de família em família...
(Celeste pega o papel)
Lurdes: Vai ler?
Celeste: Prefiro deixar o passado no passado...
(Celeste rasga o papel com facilidade e o joga num cesto de lixo ao lado da cama)
(Lucicreide aparece detrás da parede que separava os paciente)
Lucicreide: Poxa, por quê não leu?
Celeste: Você não ia comprar um refri?
Lucicreide: Aé... Hã... Tava em falta...
8º pecado capital feminino: a curiosidade...
(as três riem e então dão um abraço uma nas outras)
(a câmera vai girando até mostras a janela. Então ela vai andando e ao chegar na janela sobe, mostrando o céu estrelado)
Assim, Celeste decidiu deixar o passado no passado, viver o presente e que o futuro que Deus cuide... A história dela foi repassando entre as gerações graças ao dom da fofoca, especialmente em Lucicreide... E as pessoas contam que Celeste viveu feliz, e que quando morreu, subiu ao céu literalmente e virou uma estrela, ou até uma constelação... Mas afinal, já estava escrito em seu nome celestial: Celeste...  


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que leram. :)



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