Like I Loved You Yesterday. escrita por desert_sky


Capítulo 1
one-shot


Notas iniciais do capítulo

Não, o MCR não me pertence obviamente u.u mas como a fic é minha eu posso fazer o q eu quiser com eles o/ *insira risada maligna aqui*
—*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-
Essa fic é o meu presente de amigo secreto pra Bia o/



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São Paulo - Brasil, 17 de setembro de 200618:32h 


      A maçaneta girou solitária no pequeno apartamento de sala e quarto do 17º andar, a moça que surge e adentra é só cansaço, solta a bolsa no pequeno sofá que cai sobre um rosto masculino desenhado em papel vegetal, senta-se no chão e retira os All Star, por um instante fica observando as páginas de desenhos espalhadas pelo chão, passa as mãos por entre os cabelos castanhos, o peso do mundo todo parece estar sobre seus ombros, não se levanta, deitada mesmo retira a calça jeans e a camiseta, rasteja até a banheira, livra-se do que resta com o mesmo ar de insolvência física, abre as duas alavancas de água e deixa a cabeça cair pra trás, finalmente abre os olhos percebe que não acendeu a luz, ótimo, pensa e dorme.


Verona – Itália, 17 de setembro de 2006-12-1623:32h (ao mesmo tempo)

Todos da banda saíram antes que Gerard desse conta, estava ainda sonolento, passara assim toda a tarde, era efeito das pílulas vermelhas que vinha tomando, serviu-se de uma doze generosa de vodka e acionou um controle remoto, as persianas fecharam-se automaticamente enquanto uma música quase inaudível tocava, cumprindo tal encanto tecnológico a iluminação esmaeceu até o alaranjado das velas, encarou o próprio rosto no espelho do bar.

-Você está um lixo cara!

Espalhou os cabelos, de um só gole esvaziou o copo e largou-se no tapete.

  

São Paulo – Brasil, 17 de setembro de 2006.
19:10h

Nas órbitas os olhos denunciam atividade frenética sob o rosto da moça dos cabelos castanhos, um leve sorriso, a pele muito branca, impossível não notar sua felicidade, dorme e sonha, parece flutuar na banheira, as mãos bóiam e os dedos acariciam a água transparente e morna que a envolve, ou talvez desenhem um rosto por entre as bolhas da espuma. Uma das mãos sutilmente se eleva, parece acenar enquanto a boca quase se libera num sorriso. Subitamente, os braços se voltam para o peito e abraçam um ao outro, as sobrancelhas negras crispam entre os olhos que agora correm de um lado para o outro, a respiração acelera e a cabeça balança numa negativa tosca, há incredulidade e medo em cada poro, em cada centímetro de pele, o coração é um cavalgar pulsante sob os seios, na testa a primeira gota transpira, corta a pele e é seguida por outras. Contraem os músculos todos, apertam-se os da boca.

- Não!- rompe com o silencio, senta-se bruscamente e abraça os joelhos, abre os olhos procurando amparo no azulejo frio, jorra água fora da banheira, as torneiras ainda abertas inundaram tudo ao redor, no ladrilho bóiam os desenhos encharcados, o rosto masculino de papel a encara compenetrado numa indagação.

-Quem é você? - Pergunta ao retrato com a voz embargada e irrompe num choro compulsivo, antes ainda pode-se ouvir novamente a pergunta feita ao retrato;

-Quem é você? 

  

Verona – Itália, 17 de setembro de 2006.
00:10h

-Não!

Gerard senta como que num salto, o próprio grito o assusta, quase rasgando arranca a camiseta passa as mãos pelo rosto e pelos cabelos muito negros, todo ele estava encharcado de suor, em busca de alivio vai à janela, está ofegante,

-Meu deus, o que ta acontecendo comigo?

 No bolso, o celular vibra tão inesperadamente que assusta, apanha o aparelho e vai até a cozinha.

-Alo?! Ah! Oi, dormindo, mais ou menos, é, pelo menos tentando... nada, nada...é, foi aquele sonho novamente...sei lá....já te contei, é a mesma coisa toda vez que durmo, já faz dias...já te disse, eu estou numa estação de trem, há a florista, é num dia do passado, uso um terno estranho, como daqueles gangster do cinema. Mas, é tudo tão real....não no começo é dez... Como assim? No começo estou feliz, acho que vai chegar alguém que espero ansiosamente....é, é uma garota, alguém muito especial, o trem que encosta é amarelo, é o dela, coloquei muitas rosas dentro da caixa de violino que carrego.... não, esse sonho é diferente, é bem real, real demais, há o apito do chefe da estação, há o relógio, o sorriso da florista, o trem amarelo que desliza ainda, uma felicidade me invade posso vê-la pelo vidro da janela, é linda, quer dizer, a garota é muito diferente... parece alguém que conheço, mas... não sei de onde, entende? É conhecida, especial, inexplicavelmente especial, sei lá, não dá pra entender. Tenho, tenho certeza de que a conheço, mas....claro que não sei... alguém do passado...seu sorriso pelo vidro, o trem quase parando, os cabelos e o vento, o sorriso, ela acena para mim, olho o relógio da estação, de repente tudo pára, o ar congela, as pessoas não mudam mais os passos, só eu me movimento, corro pra porta aberta do vagão, a caixa de violino com as rosas escondidas balançam nas mãos, meu paletó de riscado abre-se ao vento, não cabe tanta felicidade em meu peito, há muita saudade e surpresa em mim...e aí? E aí olho o relógio, é como se soubesse que ia acontecer algo de ruim, de repente...

Gerard senta-se sobre a pia de mármore.

-Há um garotinho que atravessa em meu caminho, somente eu ele e a garota conseguimos nos mover, todas as outras pessoas estão como estátuas de cera, se solta da sua mão do menino um balão de gás, uma dessas bexigas de festa, e.

Gee faz uma breve pausa, parece mais estar falando consigo mesmo que pra alguém na outra ponta da linha.

- Bem, e aí; tudo de repente explode. Tudo explode a minha volta, no mesmo instante gritam todas as vozes de desespero, a morte voando pela estação, posso sentir no ar o cheiro do sangue.

Na mente de Gee a cena do desastre está viva e se repete fazendo-o tremer; a sua frente o vagão amarelo levanta-se no ar como uma pipa gigante se contorce, voam pedaços de ferro por todos os lados, latas implacáveis que fatiam pessoas como fossem pedaços de bolo, correm todos sem sair do lugar, não há tempo, tudo congelou, o tempo parou.

Gerard pára de falar.

- E aí cara, e aí?

Pergunta a voz estridente de Frank. Fecha os olhos e revê aquele rosto, os cabelos ao vento, o aceno e as rosas embebidas no sangue, espalhadas no cimento, o gosto de sangue na boca, a chuva de vidro quebrado inundando o chão, os últimos sons, o silêncio, o fim.

- Gee você ainda esta ai? E aí cara, e aí?

- Aí, tudo dura um milésimo de segundo, eu acho, os vidros estilhaçados voando pelo ar, o som da ferragem, há sangue por toda parte... sei que morri ali, posso ver a desgraça espalhada, o caos, estranhamente posso ver, mas não consigo me mover, é como se estivesse congelado, sei que meu corpo está completamente destruído...não, não sei....é como se...apenas sei, vejo as rosas espalhadas a minha volta, meu rosto esta no chão e há um peso enorme sobre o que resta de mim. É isso, acordo. Acordo, e, bem sentindo um vazio imenso, desespero, dor da perda, a dor de quem perdeu alguém, bem, alguém muito especial...cara é a garota mais...psiquiatra o cacete, tá achando que estou maluco, vai se foder cara!...é já sarei sim, se estou te xingando é sinal que já sarei....tá, vou tentar, melhor, sei que não vou conseguir dormir, isso está acontecendo quase toda noite ultimamente...compor, é pode ser que faça alguma música disso, mas....bem, um clipe certamente já tenho em mente...tá, boa noite Frank, até.


Sometimes I see flames. And sometimes I see people that I love dying.


São Paulo, 18 de setembro de 2006.08:30h

Beatriz sentou-se, parecia uma gata acuada entre o braço do divã e meu olhar inquisitivo.

- Tudo bem Bia?

- Se você considera não dormir há um século estar bem, então sim, estou ótima!

- O sonho persiste?

- Sim.

Observei seus dedos trêmulos, as olheiras enormes, o olhar que insistia em se arrastar pelos desenhos do tapete. O que eu tinha a propor para a jovem paciente a minha frente era então minha especialidade, muitas vezes contestada por colegas psicanalistas. Torcem o nariz para hipnose.

- Ainda bem que você não tem dormido.

- Você é a única pessoa da sala que concorda com isso.

- Vou te por pra dormir.

- Se você conseguir prometo que pago a consulta em dobro.

- Bia, o que vou lhe propor requer entrega absoluta da sua parte e muita confiança.

- Pôoxa! Não vai nem me pagar um jantar antes?

- Se tudo der certo você que vai pagar o meu jantar. Deite-se e relaxe.

- É sério?

- Serio! Vou hipnotizá-la. É preciso que você relaxe.

Beatriz estica-se no divã com os próprios pés descalça-se, ia dizer alguma coisa, mas foi interrompida pela aproximação do terapeuta, que se levantou e passou a caminhar lentamente pela sala, ora encobrindo com o corpo a única fonte de luz do ambiente, um abajur nanico, cada vez que o terapeuta passava o ambiente se escurecia, o silencio inundou o pequeno gabinete, Bia percebeu um perfume adocicado no ar...

- Quando eu contar até três você irá dormir profundamente, você só ira despertar quando ouvir meus dedos estalarem assim.

O terapeuta fez o gesto e a onda sonora, como uma pedrinha caída na água, onda após onda reverberou nos ouvidos de Bia. A pequena onda avolumou-se e juntou-se com outra e tomaram a consciência da paciente como faria a maré.

- Um. Dois... Três.

 

-Bia onde você está?

A voz era só uma pluma que pairava ao redor divã. Um sorriso iluminou o rosto de Beatriz.

- Onde você está? Me diz o que você está vendo?

- Ta balançando.

-O que está balançando?

- O trem. É tão lindo, tudo tão antigo.

- Como você está vestida?

- Uso um chapéu. Tirei, não gosto de chapéus, muito menos desta cor, o coloquei na mesa a minha frente.

- Tem outras pessoas onde você está? Diga-me tudo que vê ao seu redor.

- Tem muita gente, deve ser o vagão-restaurante, minhas mãos estão sobre a toalha de linho muito branca, as pessoas estão tomando champanhe, um homem fuma cachimbo, há um lustre enorme de cristal, os pingentes parecem taças invertidas.

Calou por um breve instante, parecia abstrair-se em algo.

Agora o sorriso amplia-se no rosto de Beatriz, o terapeuta ajoelhado ao seu lado percebe a alteração.

- Feliz?

- Muito! Finalmente vou poder estar com ele. Já está quase chegando. Tenho vontade de gritar de tanta felicidade, nossa, vejo um castelo, uma cidadezinha antiga, casas velhas, portas altas.

Parecia admirada com o que se apresentava, ele sabia que devia tocá-la mais para a frente dentro da paisagem.

- Muito bem Bia, seu trem agora está parando na estação, me diz o que você vê.

- Não posso esperar o trem parar, já posso vê-lo na plataforma, ele está lindo, nunca o vi tão radiante, o que é aquilo nas mãos dele? São flores?

- Quem é esse ele?

- Meu amor. Meu deus ele já me viu! Vem correndo. Que doido, será vai subir com o trem andando?

De repente a respiração de Beatriz acelerou repentinamente, a cabeça girava na busca de uma explicação, não conseguia transformar em palavras o que acontecia diante de si a seguir.

- Diga-me o que você vê? Mantenha a calma.

Beatriz só conseguiu pronunciar...

- O relógio e o balão vermelho.

O terapeuta percebeu que haviam ido até onde se podia por hora e estalou os dedos no ar.



Guarulhos – Brasil, 26 de setembro de 2006.
09:35h

Assim que o 767 da Alitalia decolou do Aeroporto Internacional de Guarulhos, Beatriz resolveu trocar de lugar, ao seu lado um gordo curioso havia se instalado, alem de que, viajar sobre as asas definitivamente não transmitia, digamos, bons fluidos. Divertiu-se ao pensar que se continuasse a viagem sentada ali e sonhasse novamente, o que certamente aconteceria, e gritasse feito louca, seria o maior barraco, quem sabe o gordo se borrace todo. Riu dele ao pedir licença pra passar, o gordo pensou que rira para ele - Melhor mesmo mudar de assento – Numa simulada incursão ao banheiro notou que a poltrona 27 estava vaga, inacreditável, era janelinha e nos fundos da aeronave, e ainda sem ninguém ao lado, um achado. Ao se instalar na nova poltrona uma aeromoça gentilmente trouxe sua bagagem de mão:

- Agora está mais confortável, tudo bem?

- Ah! Sim, é que eu sempre fui da turma do fundão!

Antes de reler tudo que descobrira sobre Arezzo e sua estação de trem, Bia recordou dos pais na despedida, o abraço macio da mãe, os olhos molhados do pai. O instante que lançou um último aceno e leu na boca da mãe “Te amo” e na do pai “Liga o foda-se e vai”. Subiu a escada rolante de costas, com a mão acenando e um sorriso estúpido aberto pela piada do pai.

- Liga o foda-se e vai!

Ninguém ouviu, o medo nos aviões faz com que as pessoas permaneçam todo tempo presas dentro de si próprias.

Finalmente Beatriz relaxou, livrou-se do All Star estalou o dedo para comissária de bordo e pediu, uma coca-cola,  retirou umas páginas impressas que trazia dentro do seu diário, uma agenda de capa negra, com o Coelho Branco da Alice, aquela do País das Maravilhas, Bia mesmo havia desenhado.

– Que caos dona Beatriz – Recriminou-se pelo estado amassado das folhas da pesquisa que fez na internet. É certo que pesquisou às pressas, pra variar. Rápida como quem rouba, porque estupidamente usou o computador da agencia de propaganda onde trabalhava, após ter pedido demissão - Bia, estúpida, por que não pediu as contas depois de fazer tudo que precisava com calma? – Recriminava-se enquanto via São Paulo cada vez mais longe diminuir na paisagem de um dia que começava.

Concentrou-se na leitura:

“O expresso solar, assim batizado devido ao impressionante efeito que causava ao tingir de amarelo os campos, vinhedos e trigais da Itália da década de trinta. Vinha das cidades do oriente italiano e exibia a força e o vigor da “Queen of the world”, locomotiva inglesa, supra-sumo da tecnologia de então, estava para a época como o trem bala está pra hoje, cruzava duas vezes ao dia a paisagem da Europa. Em 27 de setembro de 1927, precisamente às 14h30, o Expresso Solar fez sua última entrada triunfal na estação de Arezzo, cidade histórica das mais antigas da Itália. Deslizou sobre os trilhos na perfeição do aço e parou. Exatamente às 14h32 daquela manhã de outono, foi colhido por uma locomotiva desgovernada, morreu a maior parte das pessoas que estavam no local. Até hoje, não se explica porque a locomotiva solitária não efetuou o devido desvio ou diminuiu sua marcha, adentrou com velocidade máxima na área da plataforma de embarque e desembarque e chocou-se na traseira da composição. As pessoas não haviam sequer desembarcado do Expresso Solar quando o choque fez descarrilar todos os vagões, pior ter acontecido no interior da estação. Foi um banho de sangue. O pandemônio destrutivo foi de tamanha ordem que roubou mais de uma centena de vidas. Uma fotografia do “Correio de Arezzo” estampa na primeira página o relógio da estação com seus ponteiros parados no exato instante fatal. Emblematicamente ao fundo da foto pode se distinguir um pequeno balão de gás, percebe-se o barbante, imagina-se balançando, como faria com a cauda um cachorro feliz.” - . Assim descrevia a cena a matéria jornalística.

A principio as coincidências de detalhes relatados pelo texto e seus sonhos a chocaram, mas também lhe deram as coordenadas do local exato que ela deveria procurar. – Encare, procure e reviva, expurgue isso de você, encare seus fantasmas-, foram estas as palavras do psicanalista.

Ele achava que se tratava de uma memória induzida, ou falsa memória. Explicou que é quando se absorve um fato de outro e passa a acreditar que é uma vivencia própria, ou seja, uma pessoa lê uma situação num livro, ou assiste no cinema ou tv, ou mesmo alguém conta-lhe uma história, e, fica registrado no subconsciente, e, não se sabe o porquê acontece, mas tempos depois, quase sempre muitos anos depois, passa a aceitar conscientemente como sendo uma história vivida por si.

Uma vez que se identificou o local dos sonhos recorrentes de Bia, o psicanalista aconselhou que ela fosse até lá, poderia constatar que nada daquele lugar era memória dela, talvez recordasse de onde tirou as cenas que lhe atormentavam as noites, e, se livraria dos sonhos, os guardando em outra gaveta qualquer da memória.

Agora, horas depois, ainda sobre o atlântico, Beatriz lia e relia o texto impresso, tentando em vão achar uma explicação lógica de como ela poderia lembrar de algo que aconteceu antes mesmo dela nascer. Um livro, um filme antigo, uma história de alguém, mas de quem. O homem que corria para ela na plataforma tinha um estojo de violino nas mãos, era o cara mais bonito que ela já havia visto (n/a: Hell yeah!!), até aí era o melhor sonho que já havia sonhado, a parte horrorosa começava quando o ponteiro saltava de 02:31 para 02:32, aí começava o pesadelo, sentia as dores pelo corpo, morria toda noite, era horrível, tinha que se livrar daquilo.


The hardest part is letting go all your dreams.


Sobre o Atlantico

Quando o 767 aterrissou, Lisboa entrava pelo início de noite. A lua cheia surgiu de repente tão logo a aeronave ganhou novamente o céu, branca e impassível, a lua fez-lhe companhia até Paris, ali fez-se uma curta escala técnica. Em Roma, muitos desembarcaram, poucos ficaram

- Senhores passageiros – era a voz do comandante que irrompia num jovial inglês, certamente não era o mesmo que decolou em Guarulhos. Ainda bem, divertiu-se Beatriz, se não eu ia achar que o cara dormiu também o tempo todo.– A Alitalia agradece a honra de tê-los a bordo, esperamos brevemente poder estar juntos novamente. Bem vindos a Florença, aterrissaremos em 5 minutos no aeroporto Amerigo Vespucci. Em Florença a temperatura é de 15° C a noite é agradável e são 21:25h. Tenham todos um excelente desembarque.

Surpresa, a jovem apanhou as chaves da mão do recepcionista, aptº 1927 leu em alto e bom som, exclamou no bom e velho português:

- Porra, 1927 que sina!

Entre olharam-se os recepcionistas com cara de agradável surpresa, sem terem ao menos entendido uma só palavra do que Bia falou.

- 1927, aqui vou eu então!

No elevador notou o carregador, um cara grande e silencioso, sua mochila que nas costas de dela pareciam conter um elefante, naquelas mãos parecia apenas uma mochila escolar de tão pequena ficava. Saiu na frente de Beatriz e fez um gesto indicando o 1927. Bia agradeceu e sorriu ao estender a mão com algumas moedas de gorjeta.

- Onde fica a estação de trem, por favor?

- Umas quatro quadras daqui, senhorita, é bem perto mesmo, vê-se do Portal Al Prato.

- Muito obrigada e boa noite.

- Sempre as ordens.

- Ah!

- Sim, senhorita.

- Que horas são, por favor?

- 22:30.



Verona – Itália, 26 de setembro de 2006.
22:30h

- Oi Marc, sou eu Gee.

Do outro lado da linha Marc Webb, diretor do novo clipe (n/a: Campanha Volta Marc) respondeu aos gritos - Oi Gee!!! Abaixa essa musica caramba!

- Quem ta ouvindo Smiths ai tão alto?

- O resto da banda...

- Cambada de viados! Essas bichas tão ai ainda? Eu falei pra eles dormirem cedo pra filmagem amanhã.  Me coloca no viva voz que eu quero mandar eles todos tomar no cu de uma só vez!

Risadas foram ouvidas ao fundo e então a ligação tornou-se mais silenciosa, Marc retirou o fone do gancho e saiu para varanda. Gerard andava uma pilha de nervos, Marc o desconhecia ultimamente, primeiro viajou repentinamente e quando disse onde estava simplesmente na Europa, trouxe junto seu psicanalista, Marc já havia muitos anos trabalhava com bandas e sabia que os grupos separam-se assim, é o cabeça que primeiramente se dispersa, o MCR sem Gee não existiria, seria como os Stones sem Mike Jagger.

- Gerard fique tranqüilo, sei que você está ansioso com as filmagens.

- Quero que tudo saia perfeito. Terá muita gente no set de filmagem, não quero que a coisa desande.

- Nada vai desandar, a estrutura que montamos é perfeita. Cada figurante foi escolhido pessoalmente por mim e os meus melhores cinegrafistas estarão comigo, considerei tudo que você me disse e pesquisei bastante sobre o acidente.

- Tomara que você esteja certo.

- Alem do mais Gee, a estação de Arezzo está toda restaurada, cada tijolo é original, até mesmo o trem que hoje trás os turistas é replica perfeita.

- E quanto aos figurantes?

- Serão mais de cinqüenta, estão treinando a mais de uma semana comigo lá no local, cada um sabe exatamente onde deve ficar.

- O figurino ficou legal?

- Uma perfeição, cara, você pode jurar que voltou no tempo.

- Serio?

- Você se decepcionou com Helena?

- Não Marc, claro que não, você captou o espírito do My Chem como ninguém.

- Ae! Então relaxa. Amanhã tudo vai sair de perfeito.

- Pra eu deitar feliz diga mais coisas, conta uma histórinha mamãe.

- Ta, Lá vai. Tem soldados e moças que abraçados desembarcam do seu trenzinho, tem velhinhas com sombrinha coloridas, tem mulheres com chapéus floridos, um mundo feliz de gente sorridente desfilando pela plataforma, contratei ainda um bando de crianças que vão passar chupando sorvete e o garotinho dos balões é um barato. O pessoal dos efeitos especiais já fez em estúdio a parte deles, o acidente ficou show , e,...Gee, você ainda está ai?

- To sim. Marc.

Um silêncio passou feito brisa pela linha telefônica, os dois homens estavam cada qual dentro de suas próprias cabeças construindo como podiam esse mundo do passado. Gerard sentiu o frescor da florista, ouviu as risadas das garotas que acompanhavam os homens de uniforme, os olhos da moça do vidro, seu sorriso, a brisa agitando seus cabelos, as mãos elevadas no ar, os dedos finos e brancos pressionando o vidro da janela.

- Marc.

- Oi.

- Confio em você.

- Então até amanhã.

- Boa noite.

Gerard desliga e fica olhando para o nada, sentado sobre as próprias pernas, como um buda sobre a mesinha de centro da sala, vestido com seu pijama preto com ossos de caveira desenhada. (n/a: XD) Conta duas das pílulas vermelhas e as atira na boca como se fossem Skitles, engole em seco.

- Deus se eu dormir essa noite sem sonhar a parte ruim do sonho eu prometo que nunca mais jogo o Mikey com o saco de dormir na piscina.

Gee dormiu quase instantaneamente ao deitar-se nesta noite, e não sonhou com nada que pudesse se lembrar na manhã seguinte. Mas acordou cedo demais, era 04:40h quando sentou-se na varanda com uma enorme caneca de café nas mãos assistiu um sol laranja romper a noite e declarar que o grande dia havia chegado.



Florença – Itália, 17 de setembro de 2006.
4:40h

Bia conseguiu dormir por algumas horas, não sonhou com nada, a cama era  maravilhosa embora o hotel tenha sido o mais barato em que conseguiu reserva, deixara a janela aberta, sentou-se na cama e assistiu o nascer do sol, as construções ancestrais que rodeiam Piazza Via Veneto pareciam feitas de ouro velho vistas nesse instante único do dia. Qualquer exercício de imaginação a levaria a crer ter voltado no tempo. Despiu-se da camiseta do Mickey que há anos usa pra dormir, com uma orelha descorada completamente, Mickey parece estúpido e sem o menor carisma. Tomou aum banho, ligou a pra casa de deu noticias, os pais fizeram tantas perguntas e recomendações e a todas elas apenas respondia com tas e sorrisos, esperou que eles desistissem da conversa por causa do preço da ligação. Ligou a tv e ficou ensebando até ser vencida pelo estomago.

Aproveitando dispunha de algumas horas antes de seu trem encantado partir, saiu a caça de um casaco longo, sempre quisera ter um daqueles, preto, muito quentinho, com o corte que só vira nos filmes europeus.

Parecia ter nascido naquela cidade quando saiu pra calçada novamente, vestia seu sobre-tudo negro e amava cada pedra daquele chão, estranhamente sabia que ali seria feliz pra sempre, isso é, se ali morasse um dia, ou se para sempre pudesse existir.

O Hotel Ala Manni está a uns cem anos na Piazza Via Veneto, de lá, seguindo as indicações do recepcionista as 11h40 uma Bia saltitante feito colegial seguiu até o Portal Al Prato, de lá avistou as torres da Estação Central Novelle. O vento agitou seus cabelos enquanto absorvia cada centímetro da paisagem da Viale Rosselli, a temperatura era feita de um friozinho agradável e seu casacão era lindo e funcional.

A M.S Novelle é toda feira de ferro e duma cor desmaiada, cor de areia de rio, tem o frenesi dos grandes terminais urbanos, um barulho infernal de gente e trem saindo e chegando.

Assim que localizou a bilheteria que procurava, estranhamente notou que a fila era maior do que esperava, percebeu também que muitas pessoas vestiam-se com roupas antigas, reparou nos cartazes fixados nas paredes e finalmente entendeu que aquela linha de trem era uma linha turística, o Expresso Solar era uma linha turístico-temática, provavelmente tem gente que se veste à caráter para o passeio, pensou. Pagou 30 Euros pela passagem, a transação foi rápida, saiu com o bilhete na mão, sequer olhou para ele, distraiu-se logo em seguir as pessoas da fila em direção a plataforma, transpôs uma roleta quando o trem inconfundível vinha diminuindo a marcha, as outras composições pareciam diminuir ante a nobreza que entrava. Os comentário dos passageiros sobre a beleza daquela máquina do tempo que bufava enchia o ar do presente com as fumaças do passado. Todo polido, as imagens próximas refletiam-se nas chapas amarelas, as letras do seu nome “EXPRESSO SOLARE” no mais vivo vermelho. O Expresso Solar estava ali de portas abertas.

Conferiu seu bilhete, ao contrario do que esperava, não era o 1927 ou 19, nem mesmo era 27 o número da sua poltrona, e sim 999, vagão 10. Antes de entrar fez como a maioria dos passageiros, caminhou ao longo do trem. Embarcou pelo ultimo vagão e seguiu pelos requintados corredores. Quando finalmente encontrou seu assento surpreendeu-se ao perceber que não tinha nada a ver com o lugar onde deveria estar sentada, completamente oposto e diferente de onde vivia seu sonho. Este, o 999, ficava a direita de quem vai, lado exatamente oposto de quando se pára na plataforma de Arezzo, presumia Bia que a plataforma de Arezzo, na vida real, seja na mesma disposição da de seu sonho, alem de que, o lugar que esperava encontrar tinha uma mesa, coberta com uma toalha alva.

Alguns minutos se passaram antes que a Queen of the World anunciasse sua partida o perímetro urbano florentino logo ficou para trás. Em vinte minutos estavam já entre vinhedos e campos floridos, atenta a cada detalhe Beatriz avistou San Gimignano com suas catorze torres medievais espetando o céu. A parada ali foi curta, ninguém desceu. As paisagens da toscana exerciam sobre Bia a magia da sensação de que já havia conhecido aquilo tudo antes, uma certeza transcendia o senso lógico e Beatriz por alguma maneira, que não sabia explicar, tinha certeza que já havia vivido em algum ponto daqueles campos.

 Resolveu levantar-se e caminhar pelo trem, queria descobrir onde exatamente estivera sentada durante tantas noites em sonho, existiria realmente um acento com mesa e toalha branca, foi quando chegou ao vagão restaurante que teve a certeza de ser ali. Parada no limiar da porta permaneceu por um instante observando, reparou as mesas todas ocupadas, as pessoas brindando o momento com champanhe, máquinas fotográficas trabalhavam em todas as mãos, de fundo um violino solava nos braços de um homem vestido como cigano, “será que o homem dos seus sonhos teria sido um violinista, talvez trabalhasse no trem acidentado? Quem sabe?? afinal ele trazia um estojo desse instrumento nas mãos.

A mesa onde deveria estar era ocupada por uma garota de longos cabelos castanho-avermelhados, pena, lamentou Beatriz, foi com espírito de passar bem devagar junto a mesa e observar o mais que pudesse que seguiu pelo corredor, da moça adivinhava que a idade regulava com a dela própria, quem sabe pudesse falar com ela, talvez fazer  uma dessas amizades que nascem de breves encontros em viagem, com isso se convidar a sentar, de todo vagão aquela era a única mesa ocupada por uma só pessoa, experimentou mais uns passos e não pensava em nada inteligivel que pudesse dizer, de costas, a garota da mesa parecia com ela própria, é certo que os cabelos eram longos e a cor diferente, também distinguia dela pela postura perfeitamente ereta que a desconhecida mantinha, Bia adiava cada passo, amarrava as pernas, mas tão curta era a distancia que num nada achegou a um misero metro, fez-se atrapalhada com o balançar do trem e parou, lá estava a toalha alvíssima, ela vestia um vestido branco de pequeníssimas florzinhas vermelhas, era sem dúvida a mesa, a sua mesa, ainda parada adiando o próximo passo notou que haviam outros esperando uma mesa vagar, um garçom desviou-se dela atraindo o olhar de Bia, quando novamente ateve-se no seu objetivo a garota simplesmente já havia se levantado, a moça de vestido da década de vinte sorriu enigmaticamente e com um gesto quase imperceptível cedeu a mesa para Bia, como se estivesse sentada ali por longo tempo guardando para ela aquele lugar. Foi o átimo de Beatriz sentar e não mais viu a moça, ela simplesmente desapareceu, evaporou

 

Uma sombra colorida chamou sua atenção, no reflexo da janela viu sobre a mesa a sua frente o chapéu feminino vermelho, com um véu curto que encobria apenas os olhos,  fez menção de levantar-se com ele nas mãos, e, sair pelo trem a procura da garota, mas alguma parte de si a desestimulou de fazê-lo, obedeceu essa intuição e ficou onde estava, algo no seu intimo dava conta de que a dona daquele chapéu havia a muito tempo partido. Sobre a toalha branca o chapéu vermelho compunha com o bilhete nas mãos de Beatriz a certeza de que o universo conspirava a empurrando para dentro de seu próprio sonho.

Já iam quase duas horas de viagem quando chegaram a Montepulciano ultima parada antes de Arezzo, daí para frente o coração de Bia só fez acelerar, o Expresso parecia voar nesse final de percurso, na paisagem as cores se misturavam, Bia repassava cada segundo de seus sonhos, ele estaria na plataforma? Foi ai que Bia se deu conta de uma matemática da qual passivamente participava, parecia um arranjado, um jogo de cartas marcadas, e a seguinte questão sentou-se a sua frente, o que aconteceria quando chegasse a Arezzo, haveria novamente o acidente? Ela havia atravessado um oceano para novamente morrer ali?



Arezzo, ao mesmo tempo.

A manhã havia sido muito produtiva, todas as tomadas haviam sido feitas com precisão, o material que já possuíam era mais que suficiente para recriar o sonho de Gee, muito seria feito em animação gráfica, não há mais limites para o cinema. Muito menos para Marc Webb, ele era realmente um gênio na direção, montara o cenário, transportara do sonho para o real como se houvesse penetrado na cabeça de Gee.

Pela estação uma parafernália de equipamentos disfarçados captava cada suspiro, cada ínfimo movimento, havia microfones e refletores, caixas de som tocando a musica tema do clipe.

Gee havia chegado cedo, antes mesmo de Marc, três horas antes do resto da banda, pessoalmente ajudou a esticar fios, mudar de lugar o que poderia aparecer estranho ou desnecessário, conversava com Marc e alteravam figurantes de posições a todo instante, foram horas de trabalho intenso, Gee e Marc não aceitavam nada menos que a perfeição, com base na música, estabeleceram um ritmo que sincronizava o deslocamento dos figurantes pelo sete. Todas as cenas haviam já sido registradas, só faltava a chegada do Expresso.

Por puro prazer Frank, Ray, Bob e Mikey continuavam tocando. Sua parte a muito haviam concluído, sabiam que lá fora os fãs do My Chemical Romance gritavam desesperadamente a letra da musica, esses fãs sentiam falta da voz de Gerard. Gerard que compulsivamente fumava seu quadragésimo sétimo cigarro (n/a: NOT cool!! u.u).

- Nosso trem está chegando- disse Marc

- Sério? Será que temos câmeras o suficiente?

- Ta me tirando? Não bastasse todas as câmeras espalhadas aqui ainda tem o helicóptero fazendo tomadas do trem desde Montepulciano.

A florista interrompeu a conversa.

- Lá vem ele! Posso ouvi-lo.

Marc Webb apontou seu megafone para todos:

- Atenção... todos em suas marcas.

Os figurantes silenciaram e permaneceram em suas marcas, a música reiniciou dos primeiros acordes. O Expresso Solar cresceu diante dos olhos de todos, não precisaria de efeito especial algum.

Instintivamente Gerard abre o estojo de violino que tem nas mãos, a florista repete o gesto que já havia treinado repetidas vezes, o sorriso, o agradecimento, as rosas em seu lugar, antes que o trem parasse Gee corre pela plataforma e todos os figurantes deslocam-se ao ritmo da musica. As câmeras giram em torno deles, o megafone de Marc pede que a musica diminua de intensidade, o expresso faz os últimos movimentos, luzes adicionais são acesas na porta do vagão 27, a porta esta aberta e a escada se oferece, as pessoas de 1927 saltam entre Gee  e a janela envidraçada.



Um minuto antes no Expresso Solar.

Foi depois do vale que Arezzo se apresentou aos olhos de Beatriz, um amontoado de casinhas amarelas com janelas azuis rodeavam um castelo muito alto, não tem mais volta Bia, disse de si para si mesma. Não parecia dona de sua própria vontade quando se levantou e ficou olhando aquele homem correndo em sua direção, o terno negro riscado, era o homem dos seus sonhos com o violino na mão, o sorriso da florista, os soldados e as moças risonhas atravessando pela plataforma. Ele chegando entre a fumaça do trem.



Na estação: Beatriz e Gerard.

O Expresso Solar deslizou na perfeição do aço e colocou Beatriz diante de Gerard. Instintivamente sorriram, uma brisa suave agitou os cabelos da moça, os olhos dele penetraram através do vidro e uniram-se aos dela, o tempo parou, não ouvia-se som algum a musica existia tão naturalmente como o ar. Cumprindo tantas vezes o ritual sonhado o garotinho soltou da mão da mãe cruzou a frente dele e deixou escapar o balão vermelho, eles olharam ao mesmo tempo para o relógio que marcava 02:31h, a aflição invadiu e explodiu dentro deles, Beatriz levantou sua mão e num tênue aceno colou os dedos no vidro, Gerard balançou a cabeça numa negativa tosca, ela o acompanhou  no mesmo sentimento, não queriam que o ponteiro se deslocasse para o minuto seguinte, mas os segundos passavam inexoravelmente, tinham apenas uns poucos segundos para o fim, olharam-se compreendendo a verdade, eram escravos do tempo, estavam repetindo e repetindo aquele enredo e solução não havia. O balão subindo, o barbante dançando, o ponteiro de segundos saltando para a próxima marca, 02:31h e 57 segundos, mais um degrau para o final de tudo. A respiração se prendeu na frenética tentativa de estancar o momento, o som dos corações, a musica ao fundo, o destino em câmera lenta, o amor era uma linha entre ele e ela, os olhos corriam rápidos como eles só entre o ponteiro dos segundos e o rosto do amante, 02:31h e 58 segundos, a ultima chance, há uma chance? Uma esperança, há uma esperança? Há o último dos segundos. A mão de Gerard atira-se para cima, estica-se todo, os pés sustenta o corpo pela ponta dos dedos e apanha pela ponta do barbante o balão vermelho, o ultimo olhar antes que o ponteiro gire, a ultima respiração, o ultimo adeus, o ponteiro se joga para o futuro, atingi a marca final, são 02:32 em Arezzo, é 27, de setembro de 2006, como em 1927.

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(n/a: Tortura baby!! Yes, I’m mean! x)!)

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Arezzo, 14:32h.

O ponteiro saltou para a marca e cravou-se sobre o risco negro do mostrador cumpriu seu eterno rito.

E... Nada aconteceu, novamente saltou em busca da marca seguinte, nada aconteceu, o destino se descumpriu, regenerou-se, a maldição estava desfeita, os escravos libertos. Abriram os sorrisos, uma lágrima brotou em Beatriz, a música fez-se maré e invadiu toda estação. Desconcertado, emocionado, feliz, Gerard saltou para dentro do vagão como fosse o ultimo ato de sua vida, antes de abrir os braços diante de sua amada colocou sobre a mesa o estojo de violino aberto ao lado do chapéu vermelho, retirou do meio das rosas brancas a única carmim e a Beatriz ofertou seu coração. Partiu dela o salto e o beijo. Giraram beijando-se apaixonadamente enquanto o expresso solar partia aos rufos e fumegadas.

             

Arezzo, a hora já não importa.
           

A câmera instalada no helicóptero continuou seguindo a composição, tão logo o expresso ganhou os campos novamente, da janela do vagão 27, desprendeu-se um pequenino balão de gás vermelho, as lentes não o perderiam jamais, subiu ansiosamente para o céu anil e iluminado


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