POV Agatha

Não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido quando finalmente acordei. O desconforto me fez abrir os olhos e querer me levantar… Da cadeira.

   - Vem cá, porque você fez isso? – Perguntou Emily.

   - O que aconteceu? – Perguntei zonza.

   - Eu acho que é tolerância a Mundo Inferior. – Respondeu Nico, que agora tinha uma michila nas costas. Já disse o quanto eu fico desconfortável com isso? Pois é, eu estou quase jogando Nico e Emily no Tártaro pra ver se eles começam a se agarrar de novo. Será que faria efeito? Acho que é melhor eu parar com os pensamentos homicidas antes que a mãe de Emily me escute.

   - Eu desmaiei? – Indaguei.

   - Por sete minutos. – Respondeu Emily. – Você esta bem?

   Me levantei e arrumei minha bolsa.

   - Só vou ficar bem quando acharmos ele. – Falei tentando não desabar novamente.

   Nico bufou.

   - E pra onde nós vamos?

   - Por que quer ir? – me virei pra ele com um olhar homicida. Não me culpem, eu simplesmente estava confusa. E a relação dele com a Emily, como é que fica?

   - Jake é meu amigo. E eu quero ir. – Ele falou como se fosse obvio.

   E eu amo a Emily, provavelmente ele tenha dito isso mentalmente, mas era difícil saber com aquela mascara que ele usava.

   Bem, Emily estava tão desconfortável quanto eu. Mentira, ela estava triplamente mais desconfortável. Não tem nem comparação, a coitada estava sendo forçada a se manter em pé e a uma distancia boa, em que ela não podia tocar no Nico. E eu sabia que um simples toque deles seria como uma faísca em liquido inflamável. Anotei mentalmente que esse dia chegaria e eu não queria estar perto quando acontecesse. Ah, que boa irmã eu sou!

   - Nico, não precisa se preocupar. – Tentei soar casual. – Eu dou conta. Não sei nem se Emily continua comigo…

   - Não adianta. – Ele falou. – Não vou deixar Jake na mão.

   Me senti ofendida. Extremamente ofendida. Mas apenas bufei em vez de dizer pronunciar todo o meu Dicionário de Palavras Feias em Grego Antigo.

   - Você quem sabe. Só vê se não atrapalha. – Eu disse indiferente.

   Alguém reparou que a Emily não abre a boca?

   - Pra onde vamos? – Nico repetiu.

   - Bem, eu não faço a mínima ideia. – Falei. – Onde fica a nova toca de Helius?

   - Por que quer saber? – Perguntou Emily curiosa.

   Será que é a presença do Nico que deixa ela lerda, ou eu só fui perceber que ela nasceu desse jeito agora?

   - Emily, meu amor. - Falei lentamente. – Jake foi sequestrado. Nos fizeram pensar que ele estava morto, mas ele não esta. Por que ele foi sequestrado…

   - Agatha, larga de ser irritante! Eu entendi essa parte, mas acontece que eu não sei o que Helius…

   - A Agatha esta tentando dizer que Helius quer vingança. – Nico a interrompeu casualmente, o que eu estranhei porque achei que ele diria algo do tipo: “Caramba sua retardada, você não sacou que isso aqui é um jogo? Quando foi que ficou lerda?”. Mas ele foi tão doce…

   - Exato. – Confirmei. – Jake me disse que depois que Oceanus nos ajudou, ele nunca mais veio falar com Jake. E ele achava que isso era porque Helius estava tentando localizar seu pai ou algo do tipo, já que ele nos ajudou. Provavelmente, o nosso titã do Sol armou uma armadilha nessa tal missão secreta do Jake.

   - Mas porque? Ele não esta atrás de Oceanus? – Emily insistiu na lerdeza.

   - Sim. Com Jake como refém ele consegue qualquer coisa de Oceanus, eu estou te falando, o pai dele pode querer me matar, mas é um pai melhor que Poseidon. Fora que Jake era o líder da missão quando fomos atrás da lira de Apolo. – Contei.

   - Agora entendi a parte da vingança. – Emily assentiu pensativa. – Mas, e aí? Para onde vamos?

   Uma coisa me veio a mente. Um lugar…

   - Condado de Bradford. Nós fomos pra lá na missão antes de sermos aprisionados na Ilha.

   Nico bateu os pés no chão.

   - Pensilvânia. Gosto de lá. – Ele falou assentindo lentamente. – Mas eu não posso leva-las até lá por Viagens nas sombras…

   - Leve a Emily se ela quiser. – Dei de ombros. – Mas eu vou pegar um trem. Chego lá em cinco… Seis horas. – Corrigi quando me lembrei que ainda tinha que sair do Mundo Inferior.

   Emily respirou fundo, irritada com minhas palavras. Tentei não rir. Nico foi até uma das prateleiras da sala e pegou três pedrinhas azuis brilhantes, entregando-nos logo depois.

   - Pedras de Persefone? – Adivinhei.

   - Sim. É mais rápido. – Ele falou.

   - Por que não podemos ir direto para Bradford? – Emily indagou evitando olhar para Nico. Ela olhava para TODOS os lugares menos para Nico. Nossa, como sou observadora, não?

   - Existe um limite nisso aqui. Condado de Bradford é domínio de um titã, então, não esta nos limites. – Nico respondeu no mesmo tom indiferente de Emily.

   Resolvi abrir a boca antes que aquilo explodisse de desconforto.

   - Ah, entendi. A mãe da Emily não tem casos com Titãs, então, é desnecessário expandir a possibilidade de teletransporte desse negocio, não é? – Coloquei a pedrinha no chão. – Emily, sua mãe não vale nada. Sem ofensas, Emily.

   - Ah, não, eu não me ofendi, Agatha. – Ela disse irônica enquanto colocava a pedra no chão. – Espero que minha mãe não de falta dessas pedras quando voltar.

   - Alguém vai ter que proteger o Nico da ira dela. – Falei maliciosa.

   Lembra a sensação de desconforto que falei? Pois é, ela desapareceu. Sinto muito, mas percebi que esses dois ainda tem muita coisa pra viver juntos. E acredite quando eu digo que vão ser pilhados a viagem toda. Eu iria irritar Emily e ainda poderia descontrair o clima (pra mim, claro, porque assim eu conseguiria ficar calma e não sutar toda hora pensando no que Jake esta passando…)

   Ah, pra que eu fui falar nisso! Logo as lágrimas inundaram meus olhos novamente e eu comecei a me perguntar porque eu tinha brigado com ele…

   - Vamos logo. – Falei. – Estação de trem, na quita Avenida.

   Os dois assentiram e nós pisamos nas pedras. Senti meu corpo congelar e logo estava no meio de varias pessoas andando de um lado para  outro.

   - Vou comprar as passagens. – Emily se apressou.

   Eu andei até um dos bancos da estação e me sentei. Nico me acompanhou. Ficamos em silencio enquanto Emily voltava com os tickets na mão.

   - Três passagens para Bradford. São quatro horas e meia de viagem e o trem chega daqui a uns dez minutos. – Ela disse.

   - Ótimo. – Me levantei e peguei a carteira de sua mão. – Vou comprar alguma coisa pra comer porque estou morta de fome.

   Me levantei e comecei a andar rapidamente antes de Emily me seguir. Comprei minha comida e quando voltei o trem já estava estacionando. Logo eu estava em minha cabine com a cara contra a janela dormindo feito um anjo enquanto Emily e Nico apreciavam o silencio.