Sonhos Reais - Tudo Pode Mudar... escrita por Claudinha Kiste


Capítulo 5
Capítulo 5 - Inesperado




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Eu estava na cama da minha mãe quando acordei. Ela já havia levantado, olhei no relógio e eram onze horas da manhã de domingo. Eu precisava seriamente começar a dormir mais cedo.

Levantei, ainda com sono e cansada, e fui cambaleante até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. Me sentia péssima , toda parte do meu corpo doía, e tudo só piorou quando eu me olhei no espelho.

Gemi de pavor, como é que eu ia sair com essa cara. E estava realmente horrível, meus olhos estavam esbugalhados e as íris roxas, tinham enormes olheiras que também estavam meio arroxeadas. Vasculhei no banheiro de minha mãe em busca de algum tipo de maquiagem, mas nada. Mamãe sempre escondeu as maquiagens dela para que eu não pegasse. Então escovei os dentes, lavei o rosto e fui buscar a minha maquiagem no outro banheiro. Eu estava mesmo péssima. Tive que passar a base, e depois aplicar o pó para cobrir as olheiras, e ainda sim ficaram um pouco escuras. Eu nunca gostei muito de usar maquiagem, mas não iria gostar nem um pouco se minha mãe ficasse tagarelando uma hora sobre o sonho e como eu estava horrível, me perguntando se eu estava me sentindo doente, tentando me reconfortar de algo que não havia a menor necessidade. Resolvi que ia sair. E só Deus sabe pra onde. Talvez eu fosse ao shopping. Estava mesmo precisando fazer compras. Poderia passar no super-mercado e comprar alimentos também. Tenho certeza de que minha mãe ia adorar se eu tirasse esse peso dela, ela odiava fazer compras. Sorri comigo mesma. Passei um pouco de blush, bem pouquinho, rímel e um gloss cor de pele que minha mãe me dera no último verão.

Abri a gaveta de minha pequena cômoda mas não havia nada que me interessasse lá, fui então até o meu armário ver se havia algo lá. E acertei bem em cheio. Dei de cara com o meu vestido favorito. Um meio comprido que chegava perto dos joelhos. Eu amava esse vestido, pois era como se eu estivesse usando uma saia e uma blusinha. A “blusinha” tomara que caia, toda franzida, com duas únicas faixas bem finas pretas, uma de cada lado do corpo, que iam até a cintura. A “saia” era toda rodada, com pequeninas rendas nas pontas. Ao todo o vestido era branco, ou quase branco, já que a estampa de flores rosas e pretas cobriam a maior parte dele. Vestí-o e coloquei uma sapatilha bege. Soltei meus cabelos e fui para baixo.

Chegando lá, minha mãe e meu irmão estavam sentados a mesa da cozinha, um estava inclinado para o outro.

– Você acha que poderemos esconder isso dela por quanto tempo? Um dia, ela vai ter que saber! – Bruno disse com uma voz afiada.

– Mãe? – disse ao entrar na cozinha – Tudo bem?

Eu os encarei.

– Ah, oi filha – ela rapidamente se endireitou ao me ver. Isso me deixou um pouco ressentida, o que ela estava escondendo de mim? – Está se sentindo melhor?

– Sim estou – desse me sentando na cadeira ao lado de meu irmão, que continuava paralisado na mesma posição de quando o encontrei falando com a minha mãe. – Bom dia Bruno!

– Bom dia mana.

Fez-se silêncio por alguns minutos – sem essa, dessa vez eu não ia quebra-lo. Da última vez eu fiz o maior papel de boba tentando falar com eles. Peguei um pedaço de pão, e passei manteiga e requeijão. Fui até a pia, peguei um copo limpo e enchi-o até a metade com leite. E, sem mais nada para fazer, comecei a comer. Os minutos se arrastavam lentamente quando finalmente o silêncio foi cortado, e não fui eu a fazer isso.

– Liss, eu…ontem a noite…você se lembra com o que sonhou? – perguntou Bruno.

– Humm…não – menti, ele com certeza ia querer saber sobre o sonho e eu não queria falar sobre isso. Não com ele. – Na verdade, nem me lembro direito o que foi que aconteceu – minha mentira foi pouco convincente, mas pelo que percebi, eles acreditaram. – Por que?

– Por nada, é só que você estava meio estranha. E você falou umas coisas, tudo bem, foi só um sonho. Fico feliz que esteja bem – ele disse com um tom que me pareceu ser de sinceridade. Será que estava mentindo para mim? Será que ele sabe sobre o Derek? E mais, será que os dois são inimigos?; milhares de perguntas, nenhuma resposta. Dei um leve e imperceptível suspiro.

– Obrigada.

– Filha, você vai sair? – mamãe disse ao me olhar direito.

– Ahn, sim eu vou até o centro, se – eu não queria pedir permissão, mas me senti rude, então acrescentei – não houver problema.

– Não, tudo bem. Vá…e divirta-se – ela disse com um sorriso fofo. Eu sempre achei minha mãe melhor pessoa do mundo, além de linda.

– Obrigada mamãe. Ah, e eu decidi que já que vou sair, bem, se você quiser eu posso passar no mercado e fazer as compras da casa por você, tudo bem?

– Oh, claro – ela suspirou de alívio, eu não estava brincando quando disse que ela não gostava de fazer compras – obrigada, Lilo.

– De nada – disse com um sorriso.

Não queria fiar mais em casa, então assim que terminei o café, lavei o prato e o copo, arrumando rapidamente a mesa antes de sair. Dei tchau aos dois e fui para fora. Também não menti quando disse que ia no centro, eu realmente precisava de roupas novas, então tomei o primeiro táxi que ví e fui para a casa de Bia. No caminho, tratei de ligar logo para ela e avisá-la de que ela tinha que se aprontar.

Assim que cheguei no condomínio pude avistá-la sentada no banquinho do jardim da frente. Como é que ela se arrumou tão rápido?; fazia apenas três minutos que eu havia ligado, e no entanto ela já estava toda arrumada.

Uma súbita lembrança me declarou o que era óbvio, ela é uma vampira, dã; pensei melancolicamente.

Acenei com a mão, ao baixar o vidro, para que ela viesse para o carro. Bia estava o mais linda possível. Usava uma saia jeans e uma blusinha roxa básica, e um all star que combinavam perfeitamente. Ela estava bastante pálida, porém, sua pele contrastava com o vestido, o que a deixava fascinante. Seus cabelos estavam de um brilho deslumbrante, e seu andar, duas vezes melhor – Bia nunca foi desajeitada, ao contrário de mim, que não consigo pegar um copo de vidro sem quebrar, ou andar de salto sem torcer o pé – , ela definitivamente estava perfeita. Ao entrar no carro pude perceber que ela usava lentes, o que quer dizer que os olhos dela estavam diferentes o suficiente para serem percebidos. Bia também estava cheirosa, parecia ter se perfumado, mas o cheiro era um tanto incomum. Era muito bom, e muito familiar também. Mas como sempre eu não me lembrava de onde.

– Olá Lili – ela disse com um belo sorriso.

– Oi Bia, como vai?

– Na verdade, muito bem – ela sorriu. – Tenho tanta coisa para falar. Mas e você? Tudo bem?

– Tudo sim – respondi com um sorriso –, também tenho muita coisa para falar.

Agora que ela estava mais perto, prestei mais atenção em seu rosto. Ela, além de linda, estava diferente. Ela parecia cansada, mesmo tendo um deslumbrante sorriso no rosto. Seus olhos tinham leves olheiras arroxeadas e suas íris também estavam em um tom de roxo. Observando melhor, percebi algo que me deixou confusa e meio desnorteada, seus olhos. Eles estavam verdes, e Bia tinha olhos castanhos escuros, iguais aos meus.

Bia percebeu que eu a examinava e sorriu, convidando-me a falar.

– Verdes? – levantei as sobrancelhas para Bia.

– Lentes – ela respondeu simplesmente, dando de ombros.

– Mas sua mãe...

Ela deu de ombros novamente. A mãe de Bia nunca foi muito de perceber as mudanças que a filha fazia.

Passamos o dia inteiro fazendo compras e conversando sobre todo tipo de assunto possível. Contei a Bia todos os detalhes do meu sonho e ela pareceu preocupada.

– O que foi? – me ouvi dizer.

– Nada, por que? – sua expressão era indecifrável.

– Você está meio estranha, eu disse alguma coisa? – disse com sinceridade.

– Ah, não é nada, eu só… - ela hesitou e depois continuou – eu só queria saber de uma coisa.

– Pode falar.

– Você acha que seu irmão é… mal?

Ela me pegou de guarda baixa. Mas para que ela ia querer saber do meu irmão. Foi então que a ficha caiu. Diabos, como eu nunca percebi isso antes. Bia gostava do Bruno. E por gostar, eu queria dizer gostar mesmo.

Lembrei-me do dia em que o Bruno chegou, antes dessa história toda de vampira e poderes especiais.

É tão óbvio; pensei.

Bia esperava por uma resposta e eu estava demorando muito para falar.

– Não Bia – comecei – na verdade, foi só um sonho. Você sabe que nenhum dos meus sonhos jamais se realizou.

Ela acenou em concordância, agora sorrindo.

– Então… vai me mostrar como seus olhos estão? – perguntei a Bia, sem conseguir olhar em seus olhos. Tinha certeza de que minha voz me trairia se olhasse naqueles olhos verdes.

– Bem… não acho que seja uma boa ideia, Liss – ela me olhava nos olhos ao falar. Ela também estava mais confiante com as palavras. No geral, havia vezes em que Bia era mais tímida que eu.

– Por quê? – soei meio suplicante.

– Porque – sua voz de repente se tornou dócil, devia ter sido algo que em meu rosto; pensei – Ok, tudo bem mas… hoje não – ela se rendeu.

Olhei para ela e sorri de triunfo.

– Certo, eu não vou esquecer!

Minha melhor amiga revirou os olhos para mim.

– Ok, ok - ela riu, o mais lindo som de sinos ecoando pelo ar.

Continuamos falando o dia todo, sobre todos os assuntos que se pudesse lembrar.

Enquanto eu fazia compras eu vi algo que fez meu coração parar. Literalmente. Ela parou e depois voltou a bater com batidas rápidas e sem ritmo.

Era ele, tinha que ser. Aqueles olhos, aqueles lindos olhos verdes, que eu sabia que não era natural. Que esse verde só podia surgir daquela cor. Roxo. Um leve e mais lindo tom de roxo púrpura. Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar do mundo, e Deus, eu estava certa, pois assim que eu pensei nisso, ele se virou e seu olhar encontrou com o meu. Mas algo estava errado. Ele olhou para além de onde eu estava. Sua expressão mudou. Ele não veio até mim. Ele foi embora, e eu não queria que ele fosse. E se ele sumisse? E se eu nunca mais voltasse a vê-lo? O que eu ia fazer, agora que eu sabia que ele existia?

– Bia – minha voz foi só um murmúrio antes da vertigem me atingir.

A última coisa de que me lembro é de várias vozes falando ao mesmo tempo, havia uma voz familiar, ele dizia o meu nome. Parecia preocupado. Ora, por que ele estaria preocupado, eu estava dormindo tão bem. E então as imagens inundaram a minha cabeça, oh merda. Eu desmaiei. Droga.Droga.Droga. Eu tinha que abrir os olhos, caso contrário a humilhação seria maior. Então lentamente eu fui abrindo os olhos.

O que eu ví quase me fez gemer de pavor, quase. Eu estava cercada. Por todo o lado que eu olhasse havia gente me olhando. Droga; pensei de novo.

Mas meu irmão – era a voz dele a voz de minha lembrança – meu santo salvador irmão, me livrou das perguntas dizendo a todos que eu estava bem e que eles podiam voltar a fazerem o que estavam fazendo.

– Lili – era a voz de Bia – Lili, oh Lili, Graças a Deus, o que aconteceu? – ela me abraçou, quase derramando o copo com água que tinha em suas mãos.

– Lilo, você está bem, não quer que eu a leve a um hospital? – Bruno disse ao me ajudar a levantar.

– Não! – eu quase gritei – Digo, não há necessidade. Foi só uma leve vertigem.

– Liss eu…

– Não, tudo bem, eu prometo. Eu e a Bia vamos comer alguma coisa. Já estou me sentindo melhor.

– Quase tive uma síncope. Você quer o que, me matar do coração? Vamos você tem que comer alguma coisa agora – ela disse.

– Certo vamos lá. Humm, onde você estava Bruno? Você não disse que ia sair.

– Ahn, eu estava com uns amigos. Eles ligaram um pouco depois que você saiu – explicou ele – esperem só um minuto, que eu vou ali dar tchau para eles e eu já venho.

– Não, Bruno, eu… pode ir, vá se divertir. Anda – eu disse, acho que soei meio suplicante pois ele ergueu suas sobrancelhas para mim –, você quase não saiu desde que chegou aqui. Divirta-se. Eu só vou comer e já vou para casa.

Ele hesitou, enquanto Bia me olhava com curiosidade. Eu sei que ela queria que ele ficasse. Mas eu tinha que falar com ela, e por falar com ela, eu quero dizer a sós. Bruno não podia nem sonhar com a causa do meu súbito desmaio.

– Tudo bem – Bia disse –, qualquer coisa eu ligo. Vá e… divirta-se – ela parecia mal humorada. Pelo menos ela me ajudou.

– Hmm, eu não sei se devo…

– Vá – eu disse simplesmente. – Não se preocupe.

– Ok então. Te vejo daqui a três horas em casa – ele disse em um tom de ordem.

Segurei a minha vontade de dar uma de criança e mostrar a língua pra ele. Por quê ele tinha que me tratar como criança?

Fomos até a praça de alimentação do shopping em silêncio. Decidi que ia contar a ela somente depois que tivéssemos pedido. Bia me olhou durante o caminho todo. Sua expressão no início era de curiosidade, mas depois virou frustração. Quando contei a ela Bia me fez uma enxurrada de perguntas, mas eu não podia responder a nenhuma delas, eu estava muito confusa com o que havia acontecido.

Depois que jantamos fomos para casa. Ao chegar no condomínio e Bia, pedi para que o taxista esperasse, garantindo que pagaria o tempo a mais.

Bia me fitou com curiosidade.

– Bia, posso lhe fazer uma pergunta?

– Sim… – ela hesitou, mas depois acrescentou – pode.

– O que acontece quando você fica no sol?

Para minha surpresa; ela riu. O glorioso som da risada de uma vampira.

Os pêlos da minha nuca se arrepiaram ao pensar na palavra.

– Qualquer dia eu te mostro – ela respondeu brincalhona. – Agora acho que você tem que ir, senão as compras vão estragar – ela disse delicadamente.

– Sim, certo – eu olhei para baixo –. Vai para a escola amanhã, ou ainda está muito… - eu lutei para encontrar a palavra certa – complicado? – disse por fim.

Ela me fitou pelo que me pareceu uma eternidade.

– Bem… na verdade – ela estava pesando cada palavra com cuidado – sim, ainda é muito difícil para mim. Porém, eu consigo se estiver com outra coisa na cabeça, veja você, hoje eu estive tão entretida com nossas conversas, que nem tive tempo para pensar na... Sede – ela rapidamente me olhou para ver minha expressão. Ela suspirou e disse – amanhã nos falamos, ok?

– Então você vai pra escola amanhã?

Outro suspiro.

– Sim.

– Ok, tchau Bia. Vejo você amanhã.

– Tchau Lili.



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