POV Edward

2 anos depois

            – Edward Masen Cullen, se você não descer agora iremos nos atrasar e você sabe como odeio isso.

            A voz de Bella era tão alta que parecia preencher a casa inteira. Revirei meus olhos enquanto terminava de colocar minha camiseta e peguei minha mochila sem ao menos verificar se estava tudo lá dentro. Sai do quarto e desci as escadas apressado, ela estava sentada no último degrau mexendo no seu celular. Agachei o mais silencioso que conseguia tentando equilibrar a mochila no ombro e encostei meus lábios em seu pescoço.

            – Edward! – Ela gritou enquanto lançava o seu corpo para frente e se levantava. – Você ainda me mata de susto e de nervoso.

            – Adoro como você é bem humorada de manhã.

            Ela mostrou a língua em minha direção e sorri como sempre fazíamos. Bella veio em minha direção e me abraçou com toda a força que podia como se quisesse dizer algo com seu corpo, talvez “não vá embora”, mas depois de tanto tempo, acho que ela nem esperava mais que eu fosse. Encostei meus lábios no topo de sua cabeça enquanto ela se aninhava em mim.

            – Nós não vamos nos atrasar, mocinha? – Sussurrei em seu ouvido.

            – Só me deixa aproveitar mais um pouquinho antes de te perder para um monte de aulas de biologia, anatomia ou seja lá o que você faz de quarta feita.

            Dei risada e assenti. Não tentaria explicar para ela mais uma vez a minha grade, pois nem eu me lembrava muito bem. Era surreal demais ter consigo tudo o que conseguimos para se prender a meros detalhes como qual seria a aula do dia.

            Há quase dois anos, Bella ainda era apenas a nerd por quem eu era apaixonado. Hoje, ela é minha noite. E, sim, tudo aconteceu rápido demais, mas com nós era sempre intendo. Entre o dia que a humilhei na frente de todo mundo e descobrir que isso me fazia um bosta e não o fodão não passou muito tempo. Também não passou muito tempo até começarmos a namorar. E menos tempo ainda para decidirmos adotar Carlie. Carlie. A lembrança me fez sorrir e apertar a garota em meus braços um pouco mais.

            – Eu te amo, sabia? Depois de tudo e por causa de tudo, eu te amo.

            Ela levantou a sua cabeça e encarou meus olhos com os seus já lacrimejando. Era incrível a facilidade dela para ficar assim. Assentiu lentamente e encostou os seus lábios no meu, tão suave e terno que não tive coragem de intensificar.

            – Eu também te amo! Mas agora temos que ir de verdade ou vamos nos atrasar.

            Concordei balançando a cabeça e a soltando devagar. Bella correu para pegar a sua bolsa que estava sempre em cima do sofá ao lado de vários livros espalhados. Quem chegasse à nossa casa tinha que tirá-los de lá para conseguir sentar e talvez seja por isso que nenhum dos nossos amigos vem nos visitar, nossa casa fica uma bagunça, principalmente durante a semana.

            Saímos de casa e fomos para a garagem, entramos no meu carro e estamos na estrada a caminho da University of Forks.

            Depois que saímos do terrível ensino médio decidimos morar juntos, perto do campus, mas ao contrário de Jasper, Alice, Emmett e Rose, alugamos uma casa um pouco distante. Bella não é a maior fã de residências estudantis e a gente sabia que aproveitaria poucos as festas, por isso, não fazia muito sentido. Mas os quatro estavam se dando muito bem, eram vizinhos e a gente sempre se encontra quase todos os dias.

            Caramba, como as coisas tinham mudado. Alice minha irmãzinha agora estava estudando para se tornar a maior estilista do país, segundo ela mesma. Jasper ainda não tinha decidido o que queria fazer, espera escolher após o ciclo básico*, mas estava pendendo para algo como teatro ou cinema. Rosalie tinha seguido os passos da minha irmã e Emmett decidiu fazer educação física e queria ser o melhor técnico júnior.

            Quando estávamos no colégio era impossível pensar que chegaríamos tão longe, acho que nenhum de nós acredita nisso ainda. Tínhamos sonhos, medos e alguns preconceitos que não faziam o menor sentido. Se Bella era nerd, Jasper estranho e Emmett desengonçado, nada disso importava. Rosalie era muito mais do que a garota fútil que todos viam e eu era muito mais do que o popular. Esse título, aliás, não me ajudou em nada e ao pensar nele só consigo lembrar daquele dia.

            Talvez fizesse menos tempo do que parecia, mas quando humilhei a Bella na frente de todo mundo não imaginava que terminaria ao seu lado dentro de um carro caminhando para a universidade. Nunca pensei seriamente nessas coisas e achava impossível que fossem acontecer de verdade, mas aconteceram. Esse momento é real.

            Quando nos aproximamos, quando descobri a história dela, quando oficializamos a nossa relação, todos esses momentos pareciam surreais enquanto aconteciam. E pensar que tudo começou de um jeito horrível, com ela ficando doente por minha causa. Claro, sei que não era apenas por minha causa, mas preciso assumir a culpa do que fiz, a culpa do que causei. E assumo.

            Tudo isso nos levou até a nossa menina, Carlie. Carlie Elizabeth Cullen segundo os novos registros dela. Filha de Carlisle e Esme.

            – Edward. – A voz de Bella quase me fez largar o volante. – Você passou da rua. – Ela apontou para a direção em que eu deveria ter virado. – Tá pensando em que?

            Fique desconcertado por alguns segundos até entender o que tinha acontecido. As linhas retas de Forks às vezes eram um problema, minha mente estava tão concentrada nas lembranças que me esqueci do presente. Ainda bem que não causei nenhum acidente, Carlisle me mataria. Ajeitei-me no banco e virei no primeiro retorno agora prestando atenção. Podia sentir o olhar de Bella tentando compreender o que tinha acontecido e me lembrei que não tinha respondido.

            – Ah, nada... na verdade, estava pensando em nossa vida e em tudo que passamos.

            Olhei de relance em sua direção e vi um pequeno sorriso surgir em seu rosto.

            – Você sabe que não pode mudar o passado, não é?

            – Sei, mas não é isso que eu quero quando penso no que aconteceu, na verdade, eu gosto de pensar que se não tivesse feito tudo o que fiz, não estaríamos aqui agora.

            – Fico feliz em saber.

            Sorri para ela e ficamos em silêncio até chegarmos na universidade. Estacionei meu carro ao lado de Emmett que estava se pegando com Rosalie de um jeito que não gostaria de ter presenciado.

            – Eu nunca vou me acostumar com isso. – Resmungou Bella saindo do carro.

            Ela bateu a porta tão forte que me fez lançar um olhar de repreensão em sua direção, mas isso serviu para os dois se afastarem.

            – Alguém acordou de mau humor, hein? – Rosalie disse enquanto se virava de frente para nós. As mãos de Emmett automaticamente foram para a sua cintura, segurando-a.

            – Não sou obrigada, logo cedo, a ver esse as suas relações sexuais ao vivo, Rosalie. – Bella se aproximou dando um beijo na bochecha dos dois. – E estou de excelente humor hoje.

            Emmett olhou em minha direção e sorriu. Ele sabia o valor daquelas palavras pra mim. “Excelente humor” era um estado que não vi minha namorada ter por muito tempo e alguns dias continuam sendo difíceis para ela que agora faz terapia uma vez a cada quinze dias.

            Encostei-me no carro observando eles conversarem. Poderia fazer isso a vida inteira. Estar com meus amigos, meus verdadeiros amigos, e a melhor pessoa do mundo pra mim antes de uma aula chata – pelo menos chata o suficiente para esquecer o nome da matéria – e sentir que tenho tudo o que precisava desse momento.

            Às vezes olhando para essa cena eu me questiono se é justo. Depois de tudo que fiz, tanto sofrimento, será que merecia tanto? Pelo menos teve uma coisa que queria e não consegui, talvez isso fosse o suficiente para compensar tudo. Ou talvez, algum dia, ainda pagaria por isso. Um arrepio passava pelo meu corpo toda vez que pensava nisso. Será que a gente realmente é perdoado pelas pessoas ou pelo universo? Será que a gente realmente muda? Ou aquele Edward ainda irá aparecer para assombrar essa relação tão saudável que construímos?

            Como se o universo não quisesse me dar a resposta, Alice e Jasper chegaram cantando pneu. Eles realmente não conseguiam ser discretos.

            Alice desceu do carro com seu cabelo espetado, a sua nova moda e um sorriso enorme. E Jasper saiu como Jasper. Ela correu até onde estava e me abraçou. Sempre vivemos tão juntos, brigamos feio apenas uma vez e agora viver longe dela estava sendo uma experiência bem diferente.

            – Como está, irmãozinho? – Os seus dedos foram diretos para o meu cabelo que, até então, estava perfeitamente alinhado. Bufei. Novas rotinas com velhos hábitos.

            – Muito bem e você? – Beijei sua bochecha.

            – Com saudades. – Ela retribuiu. – Você vai na mamãe hoje, né? – Assenti. – Ok, nos vemos lá, vem Bella e Rose, quero conversar algumas coisas com vocês.

            Alice pegou a mão das duas e saiu puxando sem me dar tempo de me despedir, apenas acenei para uma Bella que virou rapidamente para me mandar um beijo.

            – Temos sorte, né? – Emmett falou.

            – Temos. – Respondi ao mesmo tempo de Jasper.

—______________ [...]_______________

            – Chegamos! – Gritei ao passarmos pela porta dos meus pais.

            – Estamos na cozinha. – Minha mãe gritou de volta.

            Segurei a mão de Bella, ela parecia nervosa, tinha falado o caminho toda sobre a sua aula de inglês e parecia estar evitando o assunto que surgia todas as vezes que visitamos os meus pais. Não falei nada, na verdade, não tive tempo, pois o assunto correu até nós se jogando nos braços dela e me fazendo soltá-la rapidamente.

            – Tia Bella! –  A voz fina de Carlie demonstrava toda a sua animação.

            –  Oi meu amor, como você está?

            – Muito boa! Agora me deixa ir com o tio Edward.

            Carlie se jogou em meu colo e a enchi de beijos. Bella olhou para emocionada, mordendo o seu lábio inferior como tinha costume de fazer. A nossa pequena disparou a falar e a levei para a cozinha enquanto contava o seu dia na escola.

            Meus pais estavam andando na cozinha com vários pratos na mão tentando ajeitar a mesa, mas pareciam não se decidir sobre alguma coisa, pois minha mãe colocava e meu pai tirava. Dei risada da cena chamando a atenção deles.

            – Oi filho, oi Bella. Minha nora querida, você pode vir aqui convencer Carlisle que esses pratos que ele escolheu não combinam com minha decoração?

            Bella foi até meus pais enquanto continuei minha conversa com Carlie.

            Era incrível ver o quanto ela tinha crescido e o quanto ela estava feliz. Há dois anos meus pais tinham decidido adotar Carlie para ela ficar com a gente, afinal, não iriamos conseguir adotá-la por termos apenas dezessete anos, mas se dependesse unicamente do nosso amor por essa menina maravilhosa, ela seria nossa filha.

            Mas durante o processo de adoção que durou um pouco mais de um ano percebemos que isso não daria certo. Apesar das intenções serem boas, a filha adotiva dos meus pais nunca seria a minha filha adotiva. E eles amaram Carlie do mesmo jeito que nós quando a conheceram de verdade. Foram muitas noite em claro, muitas noites de choro e muitas sessões de terapia para entendermos o que estava acontecendo e o que seria melhor.

            E foi assim que decidimos que meus pais deveriam ser felizes e que a gente não poderia pedir para eles adotarem todas as crianças que nos afeiçoarmos. Além disso, segundo a terapeuta, para Bella a Carlie era uma representação dela ou algo assim, por isso a conexão tão forte. Eu sei que com o tempo as coisas foram se ajeitando e fomos aceitando a vida como ela tem que ser e não como dois adolescentes impulsivos gostaria que fosse.

            – E foi tudo isso que aprendi. – Carlie finalizou a sua longa fala tão animada que me senti culpado por não ter ouvido tudo.

            – Eu te amo, sabia? – Respondi olhando no fundo dos olhos dela.

            – Sabia e eu te amo um montão, sabia?

            – Sabia!

—______________ [...]_______________

            O corpo de Bella estava tão grudado no meu que conseguia sentir o seu coração batendo. Sua cabeça estava encostada no meu peito e seus dedos passavam pelo meu corpo. Estávamos deitados no meu antigo quarto na casa dos meus pais após um almoço maravilhoso com nossos amigos que já tinham ido embora. Foi uma bagunça completa e Carlie recebeu toda atenção como sempre.

            – Edward?

            – Fala.

            – Você acha que fizemos a escolha certa? Com Carlie e, bem, com tudo?

            Respirei profundamente tentando achar as palavras certas para responder.

            – Sim, tenho certeza que sim. Porque não seriamos bons pais, não tanto quanto Carlisle e Esme, porque sempre fomos impulsivos e um tanto irresponsáveis.

            Ela riu e escondeu seu rosto no meu peito. Passei minha mão pelo seu cabelo e senti sua perna entrelaçando a minha.

            – É, eu nunca deveria ter acabado com o cara que me humilhou na escola.

            Bella olhou em minha direção e mordeu os lábios. Nunca sabia se ela estava falando sério quando soltava essas frases, mas mesmo se estivesse, entendia o seu lado.

            – Eu nunca mais vou ser aquele cara, ok? E eu estava completamente errado quando fiz aquilo e nunca vou me perdoar por isso...

            Ela me interrompeu encostando um dedo em meus lábios e logo substitui ele pelos seus lábios.

            – Não importa mais, foi a decisão que tomei e foi a mais certa naquele momento. Eu já te amava Edward e apesar de tudo, você me ama também e nós amamos a Carlie mesmo estando um pouco longe dela e talvez tivéssemos que passar por tudo aquilo. Hoje eu não sou mais a Bella nerd e você não é mais o Edward atleta e desde que a gente saiu da escola é uma vida nova, né?

            – Sim, é uma vida nova.

            Não falamos mais do assunto, encostei meus lábios nos da Bella mais uma vez e dessa vez ela se ajeitei para que o nosso beijo fosse mais profundo. As suas mãos no meu cabelo e minhas mãos em sua cintura indicavam que tudo estava certo.

            Tudo iria acabar certo no final porque aprendemos a ter um ao outro, aprendemos a nos amar sem barreiras a sermos nós mesmos, sem máscaras, sem mentiras e com muito amor entre nós.

            A porta do meu quarto abriu em um estrondo e Bella quase se jogou da cama. Foi impossível não rir da situação e Carlie fez a maior cara de culpada que podia.

            – Desculpa por assustar tia Bella, não sabia que era tão forte.

            Bella soltou uma gargalhada e se ajeitou ao meu lado na cama. Carlie segurava um livro e já sabíamos o que era queria. Minha namorada era a melhor contadora de histórias e podia encantar essa menina por horas com suas leituras.

            Nenhuma palavra precisou ser dita, abri meus braços e Carlie se jogou em cima de mim enquanto entregava o livro para Bella. 

            – Então vamos lá... Era uma vez...

            E assim foi o resto da nossa tarde.

            E o resto da nossa vida.

            Entre os beijos, as histórias, os almoços em família, cursar medicina e cuidar da Carlie eu tinha apenas uma certeza: eu estava completamente errado quando humilhei a Bella, mas estava totalmente certo em me apaixonar por ela.

Então me diga como viver neste mundo
Diga-me como respirar e não sentir dor
Diga-me, porque eu acredito em algo
Eu acredito em nós

— Us, James Bay