My Dear Devil escrita por ana_christie


Capítulo 36
Capítulo Especial 01 - Ponto de Vista de Hotaru


Notas iniciais do capítulo

Hoje teremos algo diferente! Eu sei, aposto que todas estavam querendo o capítulo refente ao festival. Eu mesma tinha ficado ansiosa por ele. Mas aqui vai um capítulo diferente do normal, sob outro ponto de vista, mas mesmo assim ótimo! Espero que apreciem! Eu mesma adorei!



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- Prometo que, quando voltar... nós vamos continuar a dançar... - ela estava de joelhos enquanto falava diretamente para mim. Eu assenti, apesar de estar me sentindo triste ainda. Gentilmente ergueu minha franja e beijou minha testa com todo carinho.

Eu a amava tanto…

Mas eu nunca tive a oportunidade de dizer isso.

Mamãe se afastou e seus olhos azuis brilhavam junto com o seu sorriso.

Ela sorria para mim...

Levantou-se e colocou a sua mão sobre minha cabeça, e fechei os olhos, corando um pouco.

A sua mão é tão quente...

Quando abri meus olhos... vi meu irmão encostado na porta do meu quarto, olhando para mim com o seu cenho franzido.

Eu sei...

Ele tem inveja de mim...

Quando está com inveja, Mamoru me olha desta maneira. Eu o entendo, entendo quando ele me provoca, entendo quando ele foge com uma das minhas bonecas e as jogas na piscina, entendo por que ele puxa meu cabelo.

É criancice dele, mamãe que me disse, já brigou com ele várias vezes para parar de me provocar, mas cada vez que ela sai… ele faz tudo de novo... e provavelmente vou perder mais uma boneca hoje...

Apesar disso... eu não odeio ele...

Já chorei várias vezes por perder minhas bonecas, mas não o odeio...

Por alguma razão, eu consigo entender a raiva que ele tem de mim.

Mamãe cuida mais de mim do que dele, e vejo o seu olhar triste quando ela me beija, ou acaricia minha cabeça.

Como naquele momento em que ele me olhava bravo da minha porta.

Mas eu sei...

Que ele faz isso para chamar a atenção de mamãe... porque, quando chega a noite, ele vem para o meu quarto e segura minha mão.

Ele acha que estou dormindo, mas muitas vezes eu finjo...

Mamoru sussurra para mim pedindo desculpas pelo o que ele faz comigo...

E depois sai…

Ele sempre faz isso...

Só que não sei por que... ele não percebe que eu o entendo...

Quando tento me aproximar dele, Mamoru me empurra falando para me afastar dele. E isso me deixa triste...

Ele é meu único onii-chan, é a única pessoa que está comigo quando mamãe ou papai não estão.

Eu me sinto sozinha tantas vezes...

Como agora...

Mamãe vai sair novamente…

E papai provavelmente está trabalhando.

Só tenho minhas bonecas para me acompanhar...

Naquele dia em que mamãe saiu, os amigos de Mamoru estavam em casa. Eles brincavam na sala, porque chovia muito lá fora. Então eu desci as escadas com minha boneca e me aproximei da sala para bisbilhotar atrás da porta…

Só que, dessa vez, eles não estavam ali…

E eu sabia que estariam no salão de jogos do papai. Mamoru sempre ia para lá com eles. Então passei pelos corredores, indo na direção do salão.

Mamoru sabe que é proibido vir para cá, mas ele insiste em fazer isso. Sei também o quanto ele gosta de fazer essas coisas às escondidas.

Quando olhei por trás da porta do salão, ele realmente estava lá com seus amigos.

Estava em cima do bar com uma garrafa de bebida e tomava dali mesmo, passando para os outros meninos.

Suspirei.

Ele sabe que vai apanhar novamente...

Por que ele insiste em fazer coisa errada?

Eu fico com medo por ele...

Se papai souber disso, Mamoru vai apanhar de novo.

Quantas vezes eu vi ele apanhar de papai, quantas vezes ele foi humilhado na frente dos amigos do papai...

Mas, mesmo assim, Mamoru continuava a fazer isso.

Ele é meu onii-chan, meu único irmão... e eu gosto tanto dele...

Não quero que ele apanhe de novo...

- Mamoru... - abri a porta do salão e o olhei. Eu abraçava minha boneca.

Ele me olhou com chateação e olhou para o outro lado, voltando a beber.

- Sai daqui, Hotaru... - ele murmurou, e os meninos riram. Menos Mike... ele não participava da rebeldia de Mamoru. E ele era o único ali que não estava bebendo.

- Papai vai chegar logo... - falei o olhando triste. Se pelo menos ele saísse dali, ele não apanharia... não apanharia hoje.

- EU FALEI PARA SAIR! - ele falou bem alto apontando para fora. E apertei forte minha boneca.

Por que ele não entende que eu só quero ajudar...

Continuei ali, abraçada à minha boneca, e, nervoso, Mamoru desceu do balcão, vindo em minha direção. Mike tentou fazer alguma coisa, mas ele o empurrou e arrancou a boneca da minha mão.

- Mamoru! - falei sentindo lágrimas nos olhos enquanto tentava alcançar minha boneca favorita.

Ele correu com ela até a janela e a jogou lá fora, na chuva.

Eu chorei muito ao ver a cara de raiva e satisfação no rosto de Mamoru, e saí correndo.

Passei pela cozinha e fui em direção à porta dos fundos.

E chovia... Chovia forte ali fora...

Mas tudo que eu queria era pegar minha boneca...

Ela era minha favorita...

Porque fora Mamoru que me dera quando eu nasci...

Chovia muito mesmo, e eu não conseguia enxergar onde ela estava... e eu era tão pequena...

E então tudo ficou escuro...

Quando acordei estava deitada com outras roupas e uma coberta sobre mim. Eu ouvi gritos vindos do escritório do papai e levantei, indo na direção dali.

A porta estava entreaberta, e vi Mamoru com a cabeça baixa e seus olhos cheios de raiva. Papai gritava com ele, o xingava... dizia coisas terríveis para ele...

Eu estava quente...

Minha testa estava muito quente...

Mas... eu não podia deixar Mamoru ali..

.

Vi Mamoru tentar dizer algo, e papai acertar um tapa em seu rosto.

Senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Eu sabia que isso aconteceria, como em todos os dias...

Papai não parava de gritar com Mamoru... e chamá-lo para enfrentá-lo...

Ele o empurrava e esperava que Mamoru fizesse algo...

Mas…

Mamoru não fazia nada.

Ele mantinha sua postura séria, seus olhos para o chão e suas mãos apertadas às suas laterais.

Onii-chan...

Papai era tão cruel com Mamoru...

Sempre foi cruel com ele...

Mas mamãe... muitas vezes o salvava…

Ela dava atenção para Mamoru apenas quando ele apanhava de papai...

E apenas nesses momentos...

Era por isso que eu sabia o porquê de Mamoru ter tanta inveja de mim...

Por que ele amava mamãe mais do que ninguém...

E perceber o amor de mamãe ser dado agora apenas a mim... isso era terrível para ele.

Por isso não o culpo...

Mas se pelo menos ele me deixasse aproximar dele...

Naquela noite, mamãe chegou e me viu escondida ali. Ela saiu correndo para proteger Mamoru das agressões de papai, mas, quando ela foi defendê-lo, papai lhe deu um tapa no rosto também.

Nunca vou esquecer aquela cena...

Mamãe falou para Mamoru sair dali e olhou temerosa para papai.

Eles sempre brigavam também…

Apesar de eu ser criança naquela época... eu não entendia por que papai estava tão furioso com mamãe e com Mamoru.

Ele a acusava de sair com outros homens e que Mamoru não era seu filho...

Mamãe fechava a porta então para que não pudéssemos mais ouvir o que papai falava.

Eles ficavam por horas discutindo dentro daquele escritório.

Minhas pernas tremiam, e meu corpo também.

Eu estava com medo daquilo tudo...

Lembro-me de Mamoru também ao meu lado, ouvindo a brigas deles, e seus olhos tristes para a porta.

Eu sabia o quanto ele se segurava para não chorar, e o quanto as acusações de papai o afetavam. Mas, como sempre...

Ele se mantinha forte.

Ouvindo em silêncio as brigas...

E, apesar disso… tudo que eu queria...

Era afastá-lo dali…

E vi o quanto ele estava sofrendo ao ouvir tudo aquilo... vi que o canto da sua boca estava começando a sangrar, por causa do tapa do papai, e seu rosto estava vermelho. Suas mãos estavam apertadas, e eu poderia adivinhar o quanto que ele se sentia um fraco por não poder fazer nada.

Ele era pequeno, assim com eu...

Então... triste e assustada…

Eu apertei suas mãos com a minha.

Mamoru me olhou surpreso por isso, e eu apenas solucei algumas vezes.

Ele sofria tanto...

E tudo que eu queria... era vê-lo feliz... e que ele não me odiasse...

Naquele dia chuvoso, Mamoru não se afastou de mim, mas pude vâ-lo segurar mais as suas lágrimas.

Eu sei que, por ele ser meu irmão mais velho, queria demonstrar que era forte...

- Onii-chan... - sussurrei sentindo mais lágrimas.

Mamoru fechou os olhos e voltou a abri-los, olhando diretamente para mim... e um sorriso se formou em seu rosto.

Não era um sorriso triste...

Era um sorriso... quente...

Como se me dissesse que tudo iria acabar bem.

Pisquei, e algumas lágrimas caíram, e eu assenti, fechando meus olhos.

Mamoru colocou a sua mão sobre a minha cabeça...

E parece que todo o meu medo e toda a minha tristeza desapareceram…

Naquela noite...

Mamoru se tornou meu amigo.

########

No dia que minha mãe morreu... eu me senti perdida.

Era como se o meu mundo tivesse sido arruinado...

A pessoa mais importante para mim... tinha ido embora...

Para sempre...

E eu tinha apenas 6 anos…

Lembro quando estávamos no velório... Eu e Mamoru, e ele estava ao meu lado...

Minha mente estava em branco... e tudo que eu enxergava...

Era mamãe logo a frente...

Ela estava tão perto... mas tão difícil de ser alcançada...

Ela era minha amiga... era a pessoa que eu mais amava...

Mas... eu nunca tive a oportunidade de dizer isso para ela…

Eu era muito pequena...

Em meu peito parecia que, aos poucos, um buraco se abria...

Vi Mamoru ir à frente primeiro e depositar uma, e apenas uma rosa vermelha sobre o túmulo de mamãe. Ele se virou e foi embora, me deixando ali.

Ele não estava chorando...

Sua face estava muito séria, tanto que jamais vi Mamoru daquela forma.

Eu me senti sozinha quando Mamoru me abandonou...

Em minhas mãos havia duas rosas brancas... as favoritas de mamãe.

Mas... eu não conseguia me mexer... ir até ali e colocar as rosas sobre o túmulo de mamãe, parecia algo muito difícil de se fazer...

As minhas lágrimas não caíam... e meu peito estava pesado.

Fora então que senti alguém segurar minha mão.

Num toque gentil e quente...

E esse simples toque... me fez despertar para a realidade...

Quando olhei ao lado... Mike estava ali, olhando para frente... Sua face era séria...

Eu o fitei por algum tempo e voltei a olhar para frente... ele me puxou para me aproximar do túmulo… para que, assim, eu pudesse colocar as rosas sobre a fria e escura lápide.

Não... consegui chorar.

Em nenhum momento…

Naquele dia... Eu me separei de Mamoru.

Os pais de Mike me levaram para a sua casa.

E, quanto a Mamoru... eu não soube o que aconteceu com ele.

#############

Comecei a morar com os Sagatta.

Não vi mais Mamoru... e Mike se tornou alguém muito próximo de mim...

Tudo que eu fazia naquela casa...

Era ficar na cama.

Eu lembrava os momentos felizes que tive com minha mãe.

O dia em que ela começara a me ensinar balé...

Mas eu não gostava... eu odiava balé... porque eu sabia que ele tinha roubado vários momentos entre mim e minha mãe...

Ela era uma dançarina profissional... muito famosa... e querida por todos.

E ela tinha pouco tempo para mim, pois se apresentava em vários países...

A sua última apresentação fora na Alemanha… mas também não lembro muito bem desse tempo.

Apenas me lembro de seus passos... como se ela estivesse voando naqueles palco...

Todos ficavam maravilhados com a perfeição da sua dança...

Mas...

O que eu pensava...

Era que ela poderia estar comigo... e não dançando para todas aquelas pessoas.

E eu odiava por ela dar mais importância àquela dança que a mim.

Quantas vezes eu fugi com as suas sapatilhas e as escondi para que ela não achasse e ficasse mais tempo comigo?

E essas lembranças machucavam meu coração...

Tanto tempo…

Tanto tempo que eu perdi para ficar ao lado dela... mas nunca isso era possível.

Ela sempre estava atrasada... sempre tinha que viajar...

Eram poucos momentos para ficarmos juntas...

Tão poucos...

Quantas pessoas a conheciam...

Quantas festas aconteciam em nossa casa…

Tudo por culpa do balé!

Eu odiava isso.

###########

Passaram-se três anos, e eu ainda vivia com Mike e sua família.

Os meus dias na casa dos Sagatta eram normais.

Eu levantava, comia, ia para a escola... voltava, comia e ficava em minha cama.

E também eram três anos da morte de minha mãe...

Todo esse tempo teve de passar para que eu finalmente entendesse... o quanto o balé era importante para ela.

Quantas coisas eu fiz para que ela perdesse a hora de ir aos ensaios do balé...

Quantas besteiras eu fiz para que ela faltasse e ficasse comigo...

Eu não queria que ela saísse...

Não queria que ela fosse embora...

E tudo o que mais culpei... foi o balé.

A dança que ela mais amava…

O balé, para minha mãe, era a sua vida.

E me odiei mais ainda por ter feito isso com ela.

Não tê-la respeitado enquanto ela ainda era viva...

E durante todo esse tempo depressivo de minha vida…

Mike continuou ao meu lado, me apoiando.

Mas eu achava tão irritante vê-lo todos os dias... pois ele sempre vinha sorrindo para mim... com qualquer coisa que eu dizia... acariciava minha cabeça…

E, de alguma forma, isso me irritava. Por que, eu não entendia!

Como ele podia sorrir daquela maneira?

Eu estava sofrendo... e ele vinha debochar de mim, mostrando o quanto feliz ele era?

Mas, certo dia, não foi possível aguentar... fui indelicada com ele. Eu me sentia tão amarga, não conseguia entender o porquê de ele insistir em vir falar comigo.

Ele era amigo de Mamoru... mas, mesmo assim, ele só vinha para mim. Josh, Nathan e Zack nunca vieram falar comigo... então por que ele insistia em vir?

Mas, quando finalmente disse isso para ele… Mike apenas sorriu e sentou ao meu lado, dizendo que eu era importante para ele, e que prometeu tanto para o túmulo de meus pais quanto para Mamoru que me ajudaria a me libertar das lembranças do passado e a continuar vivendo.

Ele ainda disse que Mamoru estava muito preocupado comigo, pois... ele sabia que eu não saía do quarto e evitava muito as pessoas.

Suas palavras me atingiram forte no peito…

Porque...

Eu não estava vendo isso...

Não sabia que tinha mais alguém preocupado comigo.

Eu estava tão perdida nas memórias de minha mãe que minha vida não era importante para mim... eu só gostava mesmo de ficar em meu quarto lembrando de todos os momentos em que estive com ela... e simplesmente eu esqueci que existiam outras pessoas.

Mas...

Ficar sozinha era… tão bom...

E as memórias do que eu passei com mamãe eram tão importantes para mim...

Eu disse isso para ele, e Mike entendeu... mas, quando ele disse que mamãe não acharia certo o que eu estava fazendo comigo, porque isso não era vida... Meus olhos se abriram.

Pois eu sabia...

Minha mãe adorava a vida... adorava viver...

Se ela estivesse presa dentro de um quarto como aquele… ela não suportaria.

As lembranças dela entrando em meu quarto e abrindo as janelas com um enorme sorriso apareceram em minha mente.

- Hotaru! Olhe que dia lindo! E você ainda está deitada? - ela dizia enquanto me olhava com aquele lindo brilho em seus olhos. Seus cabelos negros balançavam com o vento, e ela sorria gentilmente para mim.

E, depois de todos esses anos... eu finalmente tinha entendido.

Eu estava me matando por dentro...

Naquele dia eu finalmente chorei.

Chorei muito enquanto Mike me abraçava para me consolar.

Os soluços eram tão doloridos...

Eu...

Eu tinha medo...

Eu tinha medo de me esquecer dela...

Tinha medo que o tempo se passasse e minhas lembranças com ela desaparecessem.

Por isso havia me trancado...

Trancado minhas emoções...

E só agora eu tinha entendido.

Mike me abraçou bem forte enquanto eu chorava em seu ombro.

Depois de todos esses anos, as lágrimas finalmente tinham saído...

Quando me controlei, Mike se voltou para mim sorrindo... e, ao ver seu rosto perto de mim... eu corei.

Porque eu percebi...

Que, pouco a pouco...

Começara a amar essa pessoa.

Naquela mesma tarde, Mamoru apareceu.

Disse que estava me levando de volta para casa.

Ele não me contara naquele tempo o porquê de nós nos separarmos, mas quando eu o encontrei...

Mamoru estava ali, com um sorriso, e sua mão, estendida para mim...

E, vê-lo depois de três anos...

Sem que eu realmente tivesse sabido por onde ele esteve... me fez sentir novamente triste.

Ele sofreu mais que eu...

E, mesmo assim... ele tinha um sorriso no rosto.

#############

Aquele fora o primeiro de muitos outros dias em que vi Mamoru daquela forma...

Não era ele...

Eu estava com 12 anos na época, e meus olhos estavam arregalados enquanto eu me escondia atrás do poste.

Tinha acabado de sair de BlackMoor e virado numa esquina, quando o encontrei ali.

Mamoru agredindo um rapaz ferozmente, dando socos e mais socos no rosto do rapaz caído.

Eu segurei minha respiração.

Vi os olhos de Mamoru escuros... e, em sua face, satisfação enquanto acertava o menino.

Os seus amigos estavam à sua volta... e não faziam nada para acabar com aquilo, simplesmente o apoiavam a bater mais. Vi a mão de Mamoru começar a ficar vermelha... pelo sangue do menino.

Meu coração estava batendo tão rápido, e eu não conseguia fazer nada…

Era Mamoru?

Definitivamente não era...

Era alguma outra pessoa parecida com ele, pois eu não o conhecia...

De onde vinha toda aquela raiva?

- Mamoru! - ouvi a voz de Mike, e ele correu até mim. Mamoru parou de bater, e seus olhos se voltaram para mim.

Seus olhos estavam impregnados de ódio... e, em seu rosto, havia prazer.

Ele respirou aceleradamente, como estivesse um pouco cansado, e se voltou para o rapaz, erguendo novamente sua mão.

Os dedos de Mike cobriram meus olhos, e ele me puxou, me afastando dali.

Ouvi apenas os barulhos enquanto Mike me afastava.

- Mi-Mike? – murmurei, tocando sua mão em meus olhos, mas ele continuou em silêncio.

- Suba, Hotaru... - ele afastou seus dedos, e me empurrou para sua moto.

- Mike? - sentei no banco, e Mike colocou um capacete em minha cabeça. Sentou na minha frente, puxou minhas mãos para sua cintura e partimos.

Mike me levou direto para casa.

E eu apertei mais meus olhos quando ele desligou sua moto, afastei minha cabeça de suas costas e fiquei perdida, olhando para baixo.

Ele logo se levantou e ficou ao meu lado, esperando que eu descesse também.

- O-o que Mamoru... – perguntei, ainda perdida, não entendendo tudo aquilo.

Mike gentilmente tirou meu capacete e ficou parado, me olhando, como se pensasse no que responder.

- Seu irmão está descontrolado esses dias - não havia entendido suas palavras. - Ele só está nervoso...

- Mas... por que ele está fazendo isso com aquele rapaz?

Mike suspirou.

- Ele faz com qualquer um que o chateie, Hotaru... - suas palavras me assustaram. - Ele comprou a escola e agora a comanda.

Quando comecei a estudar em BlackMoor, não entendia no começo o porquê de todos se afastarem dele e, até mesmo, o idolatrarem.

Mas, quando Mike me falara isso... tudo começou a fazer sentindo.

- Desde quando? - murmurei sem desviar meus olhos dos calmos de Mike.

- Já faz um bom tempo - e eu nunca soubera disso. - Não era para você ver... - ele tocou meus cabelos, colocando atrás de minha orelha.

Depois daquele dia, eu fiquei com medo de Mamoru.

E Mike vinha sempre em minha casa ficar comigo e cuidar de mim.

E, nessa época...

Foi minha vez de me afastar de Mamoru.

Cada vez que eu me encontrava com ele em casa, eu me afastava dele, como se ele fosse alguma pessoa desconhecida...

E, quando ele tentava falar comigo... minha voz ficava trêmula... e eu não conseguia olhá-lo nos olhos.

Minha atitude o magoou muito...

Mas... eu não via mais o meu irmão...

Eu estava vendo meu pai em Mamoru...

E aquilo me assustava.

E, a cada dia, mais eu me aproximava de Mike...

Ele cuidava de mim... estava presente quando eu queria contar sobre o que havia acontecido na escola…

E chegou um momento em que ficou insuportável só olhar para ele, pois eu o estava amando demais...

E, numa noite em que Mamoru não estava em casa...

Eu o beijei...

Mike pareceu surpreso quando fiz isso, mas ele fechou os olhos e correspondeu ao meu beijo.

E foi maravilhoso...

Senti-me feliz no começo por saber que meus sentimentos eram correspondidos e, aos poucos, puxei Mike para se deitar comigo.

Lembro-me de meu coração bater tão rápido pela sensação de estar sendo beijada por ele e sentir o peso do corpo dele sobre o meu...

Mas logo percebi...

Que aquilo tudo...

Não estava certo.

E, como se adivinhasse meus pensamentos, Mike parou de me beijar, olhando-me diretamente nos olhos.

Sorrindo ainda...

- Agora entende? - essas suas palavras continuaram em minha memória por vários anos. Lembro-me dele com o seu olhar carinhoso para mim, seus olhos claros brilhando à luz do abajur.

E, naquele instante, eu vi... que não o amava daquela forma.

Ele era importante para mim...

Muito importante...

Mas...

Não daquela forma que eu gostaria que fosse…

- Desculpe... – lembro-me de falar bem baixinho para ele, e, mesmo assim, ele balançou a cabeça, pedindo para eu não me desculpar.

- Gosto muito de você, Hotaru, muito mesmo... mas seus sentimentos por mim... são somente amizade... - suas palavras me deixaram tão triste...

Mike podia me ler perfeitamente, ele sabia tudo sobre mim… e eu o tinha magoado.

Eu me senti tão embaraçada naquele dia que pedi novamente desculpas para ele, mas, gentil como Mike é... ele continuou sorrindo e me abraçou fortemente.

Eu era sozinha...

E, por Mike ser tão próximo de mim, eu confundi os sentimentos que nutria por ele.

Minha vontade era tanta de amar alguém que achei que meus sentimentos por Mike eram verdadeiros... por isso me enganei por alguns anos, pensando que realmente o amava, mas, na verdade, eu o amava como um querido amigo.

E, depois de algum tempo...

Eu consegui entender Mamoru.

Ele também era sozinho...

E tinha muita raiva de nosso pai.

Quando ele era pequeno... ele não era forte o suficiente para aceitar o desafio de papai, então acumulou toda a raiva e o ódio que ele sentia e começou a livrá-los nas outras pessoas.

Porque ele estava crescido agora... e estava mais forte…

Então...

Ele podia...

Ele podia fazer o que bem quisesse de sua vida... e sabia que não tinha limites.

Voltei a falar com ele, e perguntar sobre tudo isso que estava acontecendo, mas Mamoru parecia muito bem consigo mesmo... e disse para eu não me preocupar com nada.

Vi várias e várias vezes ele brigando... mas o que eu podia fazer era ficar quieta... e esperar que tudo acabasse.

Quando Mamoru estava assim, ele parecia ficar cego e surdo... ninguém conseguia afastá-lo... ninguém conseguia fazê-lo parar.

Não acho certo o que Mamoru faz... mas não sei como segurá-lo...

Não existe nada que possa segurá-lo...

###########

Mamoru então me mudou de escola, me colocando num colégio só para garotas, dizendo que, dessa forma, eu não precisava mais ver o que ele fazia e, pelo menos, não ficaria com medo dele.

No começo eu não queria...

Porque tive medo que ele machucar ainda mais pessoas.

Mas... eu não podia fazer nada.

Mamoru não me ouvia...

Foi então que ele começou a sair com várias garotas ao mesmo tempo...

Era o tempo todo atendendo o celular e, em seguida, saindo de casa... e sempre voltando no outro dia.

Fiquei triste ao vê-lo fazer isso consigo mesmo...

Era uma garota a cada dia... a cada hora.

E não foi apenas Mamoru que mudou desta forma...

Seus amigos também... Josh era fácil de entender, pois ele já era um galanteador; já tentara se aproximar de mim, mas acabara apanhando de Mamoru.

E, naquele dia, Mamoru dissera que, se algum de seus amigos se aproximasse de mim, apanharia dele. E não pude deixar de corar, porque... eu e Mike tínhamos nos beijado.

Quando o olhei de soslaio... ele tinha uma cara de culpado, e não pude de deixar de rir.

Nathan também, de um garoto comportado passara a ser namorador e começara a sair com várias garotas, agindo da mesma forma que Mamoru, batendo em quem quer que se aproximasse.

Zack foi o único que se manteve com seriedade no grupo, dedicando-se somente aos estudos e futuramente entrando para a faculdade de Medicina. Ele chegara a sair com apenas uma garota, que não me lembro do nome... mas parece que estão juntos até agora.

Mas quem me chocou... foi Mike.

Ele nunca achara certo a forma como Mamoru agia, mas, depois de algum tempo, não parecia mais ser o mesmo. Ele saía com várias garotas também... mas havia uma em particular que era completamente doida por ele.

Ela também estuda na Sakura.

Em certas situações, encontrei os dois juntos... o que me chocou por um momento. Pois nunca havia visto Mike com outra menina. Ele mesmo parecia incerto com ela a cada vez que nós três nos encontrávamos. O ambiente parecia um pouco pesado, mas, mesmo assim

Não deixei que isso interferisse em nossa amizade.

Quando comecei a estudar na Sakura, várias meninas tentaram fazer amizade comigo, mas, na verdade... o que elas queriam eram se aproximar de meu irmão.

Todas sabiam que eu era Hotaru Chiba... irmã de Mamoru Chiba... e essa aproximação das garotas se tornou incontrolável…

Então... novamente me isolei.

Passaram-se outros quatro anos quando algo de diferente aconteceu em minha vida...

Mamoru me obrigou a fazer algo.

Nunca briguei tanto com ele como naquele dia.

Mas todos os meus esforços foram em vão...

Ele havia me matriculado em uma escola de balé.

E, apesar dessa minha relação de amor e ódio pelo que ele estava propondo…

Eu aceitei, mesmo assim, praticar outra vez.

E ele me matriculou na mais cara e melhor escola da cidade.

A vantagem era que o estúdio ficava num local isolado... e ninguém me conhecia ali.

Porém, ao praticar aquela dança… todas as lembranças voltaram à tona.

E então… resolvi não fazer amizade com nenhuma menina no estúdio.

A minha solidão era o suficiente…

Pelo menos, quando eu dançava… eu me lembrava de minha mãe.

E isso me confortava… de certo modo.

Era só o que me importava.

Foi quando…

Ela... se aproximou de mim.

No começo achei que, se eu fosse fria, ela se afastaria de mim, como todas as outras.

Mas...

Foi totalmente ao contrário.

Ela insistia em querer saber sobre mim... e eu achava tão estranha e desrespeitosa a sua atitude comigo que realmente a tratei mal por dois dias.

Mas, no terceiro dia...

Ela... me surpreendeu.

Eu estava com uma forte câimbra na perna e tive que deixar o salão de dança para me sentar.

E, dentre todas aquelas meninas...

Ela foi a única que se preocupou comigo, querendo saber o que eu tinha.

Sentou-se ao meu lado e pediu minha perna.

Fiquei surpresa pelo que me pedira... e não entendia o que se passava na mente daquele garota.

Achei que, se a ignorasse, ela iria embora...

Mas foi então que, sem minha permissão... ela puxou minha perna, dizendo que iria me ajudar... e começou a fazer uma massagem.

Não pude deixar de corar quando ela sorriu para mim gentilmente.

Seria estranho descrever isso... mas... ela era como se fosse uma vela acesa...

Apenas estar perto dela...

Me fazia sentir quente e não mais tão sozinha assim.

Ela, então, com seu imenso sorriso, esticou a sua mão para mim.

- Meu nome é Tsukino Usagi... mas pode me chamar de Usagi-chan!

Eu me senti nervosa com a sua atitude... como podia existir alguém assim?

Que, só por apenas estar por perto...

Pode lhe fornecer tanta alegria...?

Timidamente eu a cumprimentei, dizendo somente meu primeiro nome, porque achei que, se dissesse o nome de minha família, ela buscaria minha amizade apenas por causa de meu irmão.

Ela não pareceu se importar por só saber meu primeiro nome, e apertou forte minha mão.

- Então você seria... - ela olhou para cima como se estivesse pensando e se voltou para mim abrindo mais um sorriso. - Taru-chan!

Dessa vez não pude deixar de corar...

Era a primeira vez que alguém inventava um apelido para mim...

##########

Os dias tristes, o passado triste… pareciam que haviam sido evaporados para sempre. A amizade com aquela garota fez meus dias parecerem mais alegres.

Apesar de nos encontrarmos poucas vezes, praticamente apenas no estúdio, nós conversávamos bastante, e Usagi me ensinou o que era se divertir.

Algumas vezes antes de ir para minhas aulas, Usagi me levava para comprar sorvete por ali perto, ou passear num parque, ou até mesmo jogar num fliperama.

Aquele mundo que ela me mostrava era tão diferente do meu...

No meu...

Eu estava presa às lembranças do passado, às ordens de Mamoru, às aulas em que ele me colocara… então realmente não achava que tudo que ela me mostrava existia.

Ter uma amiga...

Não sabia mesmo que era tão ótimo assim...

E... acho... que, com o convívio com ela, comecei a mudar...

Comecei até a gostar um pouco mais de balé…

E eu não mais me isolava...

E ficar em casa... parecia se tornar algo que não era tão bom assim..

Lembrei novamente de minha mãe parada à frente da janela falando sobre o dia…

E vejo o quanto ela estava certa.

Os dias eram sempre tão bonitos...

Como eu podia ficar deitada?

Quando Mamoru me perguntou sobre o que estava acontecendo comigo, eu contei a verdade.

Contei tudo que eu sabia sobre ela.

#########

Não havia um dia em que eu não falava sobre Usagi para Mamoru. Eu vi que, para ele, não era tão interessante o que eu lhe falava, mas ele me ouvia, mesmo assim, porque era o seu papel.

Ele era meu irmão mais velho... me dizia... e falava também que sempre estaria ao meu lado para me ouvir e cuidar de mim…

Mas, apesar de suas palavras desinteressadas...

Eu percebia que, quanto mais eu contava sobre ela, Mamoru ia ficando mais interessado.

Fiquei até com medo quando ele me disse uma vez que gostaria de conhecê-la.

Porquê…

Mamoru gostava de ficar com qualquer menina.

E, se ele conhecesse Usagi...

Talvez ele a roubasse de mim.

Foi meu pensamento egoísta que falou mais alto, dizendo a mim mesma que talvez fosse melhor isso não acontecer.

Mas um dia... foi inevitável.

E Mamoru finalmente a conheceu.

Eu percebi a maneira como ele a olhava, e tive medo que Usagi fosse agir como as outras, mas... eu estava enganada.

Naquele dia, antes de conhecer Mamoru, ela disse que seria melhor não ser apresentada para ele, porque ela não gostava muito dele.

E pode parecer egoísta dizer isso...

Mas...

Eu fiquei feliz.

E foi naquele mesmo dia que conheci o rapaz de quem ela tanto falava.

Mando-chan.

Quando o vi pela primeira vez, me assustei, realmente não tinha achado antes que fosse Matsukaze Demando, mas, ao perceber a forma como Usagi agia com ele...

Ela aparentava gostar muito dele…

Tive medo quando Mamoru se encontrou com ele. Seu corpo ficou rígido... e ele falou algumas coisas más sobre o pai de Matsukaze.

Eu sabia o que tinha acontecido entre a nossa família e a família de Matsukaze.

Mamoru me contou quando completei 14 anos. Por isso me senti nervosa ao vê-lo à nossa frente.

Mamoru me disse...

Que o pai de Matsukaze fora o culpado da morte de nossos pais...

E, enquanto eles estavam discutindo, Matsukaze disse algo para Mamoru que fez com que ele começasse a mudar.

Seus olhos ficaram negros... e ele ficou terrivelmente sério.

Tive medo que ele batesse em Matsukaze na frente de Usagi, então eu o segurei…

E, por um momento, parece que ele voltou ao normal.

Quando eles se afastaram, Mamoru tinha seus olhos grudados em Usagi... e achei que provavelmente ele estava bolando algo.

##########

No dia em que Usagi visitou minha casa, eu me senti péssima.

Por minha culpa... ela se machucara.

Mas… eu queria tanto vê-la dançar...

O jeito como ela dança me fazia feliz...

Porque...

Ela me lembrava minha mãe.

Mamoru achou estupidez da minha parte quando falei que Usagi era parecida com mamãe, e disse para eu esquecer essa besteira toda.

Mas eu não podia esquecer...

Não somente pela atitude gentil de Usagi, mas a forma como ela dançava, o amor que ela transmitia pela dança...

Lembrava muito minha mãe...

E aquele vazio que estava em meu peito parece que foi preenchido pela amizade de Usagi.

Fiquei feliz quando ela disse que realmente era minha amiga.

Naquela noite, enquanto eu me culpava pelo ocorrido, eu saí do quarto e vi a luz do quarto de Mamoru acesa.

Ele estava se comportando muito esquisito desde que levamos Usagi para a casa dela.

E, no instante em que olhei pela porta entreaberta, vi um Mamoru muito diferente.

Ele estava sério...  sentando naquela poltrona dele, ao lado da janela…

E tocava gentilmente sua testa.

Mas logo trouxe as pontas de seus dedos até seus lábios e as beijou solenemente.

Naquele momento eu não entendera o que acontecia com ele, pois seus olhos estavam tão perdidos... e tão pensativos...

Eu nunca o vira assim...

No dia seguinte ele aparecera com uma marca vermelha no rosto, e mesmo assim ele tinha um sorriso.

Mamoru jamais sorria daquela maneira.

Onii-chan...

Estava diferente...

E eu não sabia o que... ou quem estava fazendo isso com ele.

Mas, de alguma forma...

O estava deixando… feliz.

Foi então que descobri certo dia.

Tinha acabado de sair do banho e vestido meu roupão. Abri a porta do banheiro e encontrei Mamoru ali, ao lado da minha cama, mexendo em meu celular novo.

Eu me arrepiei ao vê-lo.

Seus olhos fitavam seriamente o celular.

E, por um momento, achei que ele apenas estava vendo como funciona, mas por que ele se preocuparia com isso?

Era como se procurasse por algo…

Talvez...

O número de alguém…

- O que você está procurando? - quando falei isso ele se assustou, não parecia aquele Mamoru que todos conheciam, o adorado da escola, o playboy. Ele parecia... com o Mamoru que eu conheci quando era pequena.

Seus olhos estavam bem abertos, e ele me olhavam como se estivesse fazendo alguma coisa errada. Demorou um tempo até ele me responder, voltando àquele jeito “cool” dele, com um sorriso de lado.

- Nada demais... – ele fechou meu celular e o colocou em cima da minha cama.

Na verdade, eu não acreditei muito em sua palavra, mas, quando ele saíra do quarto, eu mexi no celular.

Era um celular novo... e o único número que tinha ali era o da Usagi.

Eu me assustei com a ideia de que, talvez, Mamoru estivesse fazendo alguma coisa com ela, mas eu precisava investigar um pouco mais.

Nessa mesma noite acordei de madrugada com muita sede, desci as escadas e peguei um copo de água.

Tivera um pesadelo novamente com mamãe, e estava suando muito.

Mas quando caminhava de volta para o meu quarto, algo pareceu me atrair ao quarto de Mamoru.

Não sei ao certo o que estava acontecendo, mais bisbilhotei pela fresta da porta. O silêncio era predominante ali, e Mamoru estava deitado em sua cama olhando para o seu celular.

Ele parecia calmo, seus dedos tocavam as teclas do celular lentamente, mas ele respirava de uma forma angustiada.

Parou de digitar e pareceu pensar, então apertou outro botão e colocou seu celular no ouvido.

Ele estava tão esquisito...

O silêncio era tanto... mas, mesmo assim... ouvi a voz do outro lado do telefone dizendo “moshi-moshi?”, mas Mamoru não falava nada, ele mordia os lábios, nervoso.

Acho que nunca vou conseguir entender meu onii-chan...

Não sei o que se passa pela mente dele...

A voz repetiu mais algumas vezes e falou alguma coisa que fez Mamoru sorrir.

Então acho que desligou, porque Mamoru respirou angustiado e fechou seu celular. Colocou o braço sobre seus olhos, como se estivesse cansado.

Algo o afligia...

Eu não gosto de vê-lo dessa forma...

Eu tive medo de perguntar...

Mas...

Eu tinha que saber…

Ele estava muito estranho...

E tudo isso começara a acontecer quando ele conhecera minha amiga...

Abri a porta de seu quarto devagar e fiquei olhando para ele. Mamoru não notou minha presença, mas logo suspirou e olhou para mim. Ele piscou algumas vezes e se sentou na cama.

- Está dormindo? - disse bem baixinho, como se estivesse com medo de me acordar se eu estivesse numa crise de sonambulismo, mas sorri e neguei.

- Para quem você estava telefonando? - a minha pergunta fez com que ele ficasse surpreso, e ele olhou para o lado. - Mamoru, é uma hora da manhã! Para quem você estava ligando?

Ele sorriu de lado novamente e olhou para mim.

- Assunto meu, Hotaru... - sua voz me fez tremer, ele não iria me contar. Então precisava falar algo que o atingisse, assim saberia se era verdade ou não.

- Você não deveria ficar ligando há essa hora para Usagi-chan, e ainda não falar nada!

- Hotaru, eu posso ligar para quem eu quiser, é assunto me... - ele finalmente notou o que eu falei, e eu pisquei surpresa.

- Então foi para Usagi que você ligou?

Por estranho que parecesse, Mamoru começou a ficar vermelho, e isso me assustou.

Era para ela?

- Argh... Hotaru! - ele se levantou da cama e me empurrou para fora de seu quarto, fechando a porta.

- É verdade, Mamoru? – falei, batendo na porta, esperando que ele falasse algo, mas ele nada disse.

Quando eu e Usagi saíramos àquela tarde, ela me contara sobre um filme sobre um rapaz que perseguia uma moça, mas, naquele momento, eu não fazia ideia que talvez isso fosse com ela.

Ela estava tão envergonhada ao contar para mim aquilo, e realmente não sei como não pude notar antes.

Seria Mamoru o tal rapaz?

Eu me senti triste de repente...

Mamoru... a estava roubando de mim?

Lágrimas vieram aos meus olhos.

Eu iria perder a amizade dela?

###########

Quando éramos crianças...

Mamoru roubava os presentes que eu ganhava e jogava em outro lugar, para que eu não os encontrasse… mas, mesmo assim, como eu disse antes...

Eu não o odiava por fazer isso.

Eu sabia o que ele passava, e tinha que deixá-lo fazer isso comigo.

Os presentes não eram tão importantes assim... e eu me preocupava tanto com ele! A única forma de ele se livrar daquela raiva era descontá-la em mim.

Odiava vê-lo ser espancado por papai todos os dias, e ver seus olhos sempre tristes...

Sei que ele passou por situações piores que qualquer coisa que eu já possa ter sofrido, e não posso culpá-lo por agir daquele modo violento com as outras pessoas.

Mas... ele estava passando do limite.

E, desde que Usagi entrara em nossas vidas, parecia que Mamoru mudara drasticamente.

Seu comportamento ficara diferente...

Ele não saía mais com tantas garotas assim, suas mãos não estavam mais machucadas por ele bater em alguém...

Eu fiquei com ciúme ao pensar que talvez fosse Usagi quem o estava mudando dessa maneira.

E não queria acreditar...

Eu estava com medo da verdade...

Minhas dúvidas foram esclarecidas naquele dia em que ele chegara todo machucado em casa, como se tivesse apanhado de alguém. Ele não me contou o que acontecera, mas, quando perguntei para Mike... ele me disse...

Que fora por causa de Usagi...

Matsukaze e Mamoru haviam brigado por Usagi...

Quando ouvi Mike dizer isso, eu me assustei.

Mamoru jamais brigara por uma garota sequer.

Ele não precisava... as garotas vinham até ele.

E, então, percebi...

Que... ela... era alguém especial para Mamoru.

Eu fiquei com tanto ciúme...

Tanto ciúme por saber que Mamoru estava atrás de Usagi...

E eu não sabia o que fazer...

Ela era minha amiga... minha única amiga... depois de todos esses anos, eu tinha uma verdadeira amizade.

E agora... Mamoru a estava tirando de mim...

Usagi era muito importante para mim.

E... por algum motivo, ela me lembrava muito minha mãe.

Porque... eu sentia falta daqueles dias em que mamãe estava comigo, e quando conheci Usagi, tudo aquilo voltou para mim...

Toda aquela alegria…

Eu sei que Usagi não é ela, sei disso...

Mas só pelo fato de estar com ela, eu me sinto dessa maneira...

Por que Usagi é feliz. Apesar de ter perdido o seu pai, ela teve muito amor dele enquanto estivera vivo e de sua mãe... e agora parecia que ela passava esse amor para as outras pessoas.

E ser amiga dela... é muito bom!

Mas…

Me lembro dos olhos de Mamoru...

Eles se tornaram mais gentis... e tudo isso foi acontecendo desde que ele conheceu Usagi.

Para mim... foi difícil admitir...

Mas talvez...

Mamoru precisasse mais dela... do que eu.

Sei que ele faz muitas coisas bobas, tem uma atitude difícil... mas... ele é meu irmão... e quero o melhor para ele.

E tenho certeza que Mamoru jamais irá me dizer o que sente por Usagi, mas posso ver a sua angustia cada vez que chega em casa.

Era como se ele precisasse todos os dias estar com ela.

Eu estava sendo tão egoísta por querer a amizade de Usagi só para mim... Mamoru finalmente estava mudado e... eu não queria isso para meu irmão?

Apesar de ele aparecer algumas vezes com o rosto vermelho, como se tivesse levado um tapa, andando engraçado, como se tivesse se machucado... ele... parecia estar feliz!

E acredito que tudo isso que está acontecendo com ele... é por causa de Usagi.

Então…

Um pensamento me ocorreu...

Se Mamoru ficasse com ela...

Se os dois ficassem juntos...

Não seria...

Ótimo?

##########

Eu menti para Usagi.

Menti pela primeira vez...

A convidei para vir em casa dizendo que Mamoru tinha viajado a negócios... mas era mentira.

Ele não sabia nada disso também... pois tinha saído depois de uma ligação de Matsukaze. Fiquei nervosa quando ele disse que estava indo falar com ele, então liguei para Mike e pedi para acompanhá-lo.

E então menti para Usagi para ela ficar a noite comigo em casa.

Fiquei tão nervosa com medo que ela rejeitasse...

Mas, no fim, ela veio.

Aquele dia fora divertido, mas, quando Mamoru apareceu, percebi o quanto Usagi ficara branca ao ouvir a voz dele.

E pensei...

Que talvez...

Ela gostasse dele também... só que ainda não soubesse disso.

E... eu me senti feliz por isso.

Seria muito bom se as duas pessoas que mais gosto, ficassem juntas...

E, enquanto jogávamos Detetive...

O ambiente de casa tinha mudado.

Mamoru estava se divertindo ao lado de Usagi... e fiquei feliz ao ver isso. Acho que, por ele estar tão perto, Usagi ficava muito vermelha, e tive que esconder meu sorriso atrás das cartas várias vezes. Mamoru também, e nem para disfarçar na minha frente! Ele não parava de olhá-la!

Era tão óbvio que havia algo entre os dois...

Talvez minha ideia não fosse tão ruim assim...

Os dois pareciam se dar tão bem...

########

Nesta noite eu olhava pela janela do meu quarto, esperando pelo carro de Mamoru chegar, e todas essas lembranças fluíram nesse momento.

Eu sorria.

Porque hoje Usagi me dissera que estava finalmente gostando do carinha perseguidor, e parecia que ela tinha medo de me dizer que era Mamoru, mas iria esperar até quando ela estivesse pronta para me contar.

E realmente fiquei tão feliz quando ouvi isso…

Mamoru estava demorando...

Queria saber como ele estava, e queria algumas explicações.

Usagi estava tão triste... e tudo era por culpa dele.

Não entendi o porquê de ela me dizer que Mamoru não correspondia a seus sentimentos...

Mas é claro que ele correspondia!

Eu o via ele aqui em casa olhando para o teto como um tolo! Sabia que ele pensava nela todos os dias!

Ahh…

Mas parece que essa besta do meu irmão está fazendo tudo errado...

Fico feliz por ter conhecido Usagi e por ela ter se tornado minha amiga...

E vou ficar mais feliz ainda... se um dia meu irmão ficar ela...

Mas primeiro... esses dois precisam se entender...

Vi o carro de Mamoru entrando, e sorri feliz.

Eu me afastei da janela e corri para fora do quarto.

Passei pelo corredor e olhei as escadas logo à frente.

Ouvi o barulho da porta de abrindo.

Desci correndo as escadas e vi Mamoru entrando.

Ele parecia cansado...

Mas meus pés logo pararam... quando vi aquela outra garota o seguindo logo atrás.

Meu coração se acelerou.

Quanto tempo que eu não a via...

E, aliás...

- O que ela está fazendo aqui? - apontei para a garota morena, e os olhos de Mamoru se viraram para mim.

Hino se voltou para mim e sorriu de lado.

- Olá para você também, Hotaru... - a sua voz era intensa e seus olhos eram penetrantes.

- Fora de minha casa! - falei séria, e Rei quase faltou cair pelo que eu falei.

- Continua simpática como sempre, Hotaru... – ela disse cansada.

- Mamoru... como você pode trazer ela para cá?

Mamoru apenas sorriu de lado e vi seu rosto abatido.

- Não implique com Hino, eu já vou levá-la para casa... só esqueci de pegar uma coisa... - e ele fora em direção ao corredor andando com um pouco de dificuldade.

Olhei de soslaio para Rei, e ela continuava me olhar.

- Não gosto de você... - mostrei a língua e corri atrás de Mamoru.

Mamoru procurava por algo em seu escritório, e eu o olhei, nervosa.

- Por que ela está aqui, Mamoru!? - era isso então que Usagi falara!

- Ela nasceu aqui, Hotaru... ela tem direito de estar aqui...

- Mas não na nossa casa!

Ele suspirou e pegou umas chaves.

- Daqui a pouco eu volto... - passou por mim, e eu apertei minhas mãos.

Droga, Usagi deve estar pensando tudo errado agora!

- Amanhã tem festival no meu colégio, Mamoru. Você precisa ir!

Ele olhou para mim surpreso e assentiu, cansado, continuando a andar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E, poe favor, meninas, comentem! Estamos loucas para saber o que vocês acham!
Bjs da Ana e da Naonix