Chegando em casa, minha mãe tratou de me mandar vestir roupas mais "decentes" para a ocasião. Para a minha sorte, ainda tinha no fundo do meu ármario um vestido rosa claro na altura do joelho com algumas rendas, o dia estava ensolarado e minha mãe fez questão de jogar meu all-star longe, no fim das contas acabei com o tal do vestido rosa e um salto branco (que achei muito bonito, posso não gostar muito de usar saia, mas amo um salto bem alto, apesar de incomodar).

O motorista já nos esperava, com sua cara de sono de todos os dias. Podia estar parecendo uma boneca, mas minha mãe sempre arranjava algum defeito:

- Por favor filha, sente-se direito. Não encurve as costas! Você vai gostar de lá, o almoço vai ser ao ar livre, sei que você gostar de ficar fora de casa, todos os dias sai de casa dizendo que vai dar uma passeada...

Chegamos no tal almoço. Era na casa de uma das amigas da minha mãe. O lugar era uma mansão, nos fundos havia um lugar com um teto inteiro de vidro e na frente tinha um imenso labirinto de arbustos, igual quando via nos filmes americanos. Todos estavam vestidos praticamente da mesma maneira: mulheres de vestidos e saltos e homens com seus ternos pretos e cinzas. Ainda não tinha avistado ninguém que tivesse menos do que 30 anos.

- Filha - minha mãe disse, me puxando pela mão - Quero que conheça alguém e, por favor, seja educada pelo menos uma vez na vida!

Logo pensei que fosse algum tiozão de 50 anos, mas não. Era um rapaz alto e tinha uns olhos azuis lindos, mas familiares. 

- Helena, esse é o Robert - Isso! Robert! Aquele rapaz do time de futebol da escola que veio falar comigo no meu primeiro dia de aula! - Robert, essa é a minha filha, Helena.

- Muito prazer. - Ele me disse, com um ar cínico, estava usando um terno cinza. - Tenho certeza que nos vamos dar muito bem.

- Acho bom. - Minha mãe disse - Vou deixar vocês dois conversarem, adeuzinho.

Estávamos andando lado a lado, e o silêncio estava mais constrangedor do que nunca. Será que ele se esqueceu de mim?

- Poxa... - ele começou, depois de alguns minutos - Então essa é a verdadeira Helena por baixo daquela maquiagem preta?

- Na verdade aquela é a verdadeira Helena por baixo desta saia rosa.

- Mas que pena... achei a Helena de saia rosa muito mais simpática. E seu namorado, como vai?

- Namorado? - Engoli em seco - Não tenho namorado.

- Sim, lá no colégio você me disse que tinha um namorado... Aquilo foi mentira?

- Bom... hm, terminamos.

- Não, não terminaram. Você só inventou esse Brian para não sair comigo. Fala sério, não me interesso em garotas falsas que nem você.

- E eu não me interesso por garotos estúpidos que nem você. Aliás, não vejo nada em você além de um monte de músculos sem nenhum conteúdo.

- Olhe aqui, sou muito mais esperto do que você imagina. Ninguém te perguntou sobre o que você acha de mim - nós já estavamos nos perdendo no labirinto de arbustos - E sabe o pior de tudo isso? Nós vamos ter que passar a imagem de sermos melhores amigos para nossos pais, eles são sócios agora, sabia?

- Ah, ótimo. Minha mãe arruinando minha vida mais uma vez, mesmo que seja de um jeito indireto. Olha, tenho mais o que fazer, então fique longe de mim durante o resto do dia. - Tentei me afastar, mas ele agarrou meu braço muito forte e de um jeito nada agradável. Ele olhou nos meus olhos e disse:

- Detesto você.

- Eu detesto você primeiro.

Quando disse isso, ele continuou olhando para mim, mas de um jeito mais agradável. Ele estava me puxando para mais perto dele e meu nariz estava quase encostando no dele. E me beijou, mas durou pouco menos de 10 segundo, porque eu o empurrei, já não sabia o que estava acontecendo ou o que estava sentindo.