Minha própria casa me assombra.

Em qualquer lugar que olho sempre há um espelho.

E sinceramente,

Não gosto do meu reflexo.

Na verdade,

Não gosto do que vejo além do meu mero reflexo.

Sei que isso pode parecer criancice,

Mas eu tenho medo do escuro.

Porém,

Tem vezes que eu gosto do escuro.

Afinal,

No escuro não dá para ver meu reflexo.

Mas é no escuro,

Que ela aparece.

E isso me perturba.

Perturba-me a ponto de eu simplesmente querer desaparecer,

Para que ela desvaneça.

Às vezes eu chego até a pedir que ela suma,

Mas ela sempre fica em silêncio.

Esse maldito e desconfortável silêncio!

Porque ela não fala nada?

Porque ela simplesmente não para de me desnortear?

E a pergunta a qual sempre me perturbou,

Porque ela me persegue?

Porque justo a mim?

Eu nunca fiz mal a ninguém,

Nunca matei ninguém,

Eu tenho meus erros!

Mas eles não são tão horríveis a ponto de uma 'alma' me perseguir.

Então porque ela continua em meu encalço?

E esses malditos espelhos!

Continuam refletindo o seu rosto às vezes taciturno,

Às vezes sádico.

Ela se diverte com meu medo,

Com meu sofrimento,

Com minhas lágrimas,

Com meus gritos.

Afinal ela se alimenta do meu desespero.

Porém,

Às vezes penso que ela é solitária,

Que ela é melancólica.

Só de vê-la passar,

Meu coração se sente abatido e medroso.

Sua languidez me amedronta.

Seu olhar solitário me desalenta.

Por isso que só por algumas vezes,

Vejo que ela não quer me aterrorizar,

Mas sim que quer apenas uma companhia.

Uma alegre companhia.

Ela já se cansou de ser solitária.

Mas então,

Porque ela introduz medo?

Talvez deva ser porque gostamos de sentir medo.

Eis aqui uma dúvida.

Gostamos ou não gostamos de sentir medo?

“Medo é algo psicológico. Se nós o sentirmos, cabe a nós decidir se é prazeroso ou não...” – Happy and Alice Margatroid.