Andrew Martel envolvera-se muito com o caso, afinal a mulher em questão era Sally Daves, sua companheira todas às vezes que se sentia sozinho. Todas as noites ele assistia a algum dos antigos filmes dela, e em seu subconsciente sabia que Sally Daves pedia sua ajuda e isso era mais importante do que qualquer outra coisa, ele já não se importava com família ou amigos, a única coisa que ele desejava desse mundo era a cabeça de Jonathan em uma bandeja de prata.

         O sumiço de Sally Daves fora algo que os jornais não noticiaram, desde que se casara com Jonathan ela não fazia mais filmes, seriados ou comerciais, de celebridade passou a mulher devotada ao marido e de mulher devotada ao marido transformou-se em mais uma mulher comum que não vendia jornais.

         Hollywood era uma terra estranha, uma hora tudo parece maravilhoso na outra você já foi substituído, mas Sally nunca se importara, seu talento e sua beleza eram incomparáveis e ela nunca seria superada. Martel sabia tudo sobre ela de sua infância até seu assassinato.

         Sally Sheldon nasceu no interior do Arizona, seu pai um lavrador, sua mãe dona de casa mas Sally não compartilhou do mesmo destino. Aos dezoito anos sua beleza loura chamou atenção de um olheiro e ele a convenceu a ir para Los Angeles, então as coisas começaram a fluir. Sally estreou no cinema em uma pequena participação em um terror de baixo orçamento mas foram os comerciais que a fizeram famosa, no começo seu rosto apareceu em todo o território americano mas depois o céu foi o limite e em menos de dois anos ela já havia protagonizado três filmes o que a levou ao status de celebridade. Ganhou um Oscar e um Emmy, todos na mesma categoria: melhor atriz. Com o sucesso de seus filmes e de seu seriado o dinheiro veio rápido e em grandes proporções Sally então montou uma produtora com a ajuda de seu ex-namorado, Gary Lancaster, nada parecia estragar aquele bom momento de sua carreira. Foi assim até entrar em cena Jonathan Daves, o herdeiro.

         O pai de Jonathan havia morrido recentemente depois de dez anos de luta contra o câncer, havia deixado para o filho uma fortuna em ações a maioria proveniente de um canal de tevê paga que o pai tirara do buraco. Jonathan foi a Hollywood tomar posse do que era dele então conheceu Sally.

         Casaram-se cinco meses depois e Jonathan a levara para Nova York onde Sally foi condenada ao esquecimento. Um sacrilégio, pelo menos era o que Martel achava. Phillip Maya era sócio de Jonathan, o mais próximo de amigo que ele tivera.

Existiam coisas que não saiam nos jornais mas Martel sempre soubera que Sally e Phillip estavam tendo um caso, eles sempre estavam juntos demais.

Ele saiu da delegacia, calmamente e como era seu costume entrou na locadora de dvds, pegou o primeiro filme de Sally Daves que achou na prateleira e colocou no balcão.

-         Muito boa essa Sally Daves, faz tempo que eu não a vejo na televisão mas soube que quando ela voltar de viagem será com um novo filme no currículo.

-         O que disse? – perguntou Martel, não havia ouvido nem uma só palavra da garota.

-         Que Sally Daves vai voltar à ativa depois da viagem que está fazendo.

Martel pegou o pacote, pagou a mocinha e antes de sair suspirou melancólico.

- Que pena que Sally Daves não possa voltar dessa viagem...