Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara


Capítulo 10
Capítulo 10 - Sermão




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Eles caminharam silenciosamente e o doutor se lembrou que havia feito mesmo percurso com Umi. Mas, a lembrança era boa de mais para ser maculada e por isso agiu no meio do corredor.

_ Como você conseguiu os endereços dos meus pacientes, Asuka! – ele foi duro ao pegar o rapaz pelo colarinho e encostá-lo contra a parede.

_ Não sei do que está falando – Asuka conseguiu se desvencilhar.

_ Não minta. Eu sei que você procurou pelo menos dois de meus pacientes. O que pretende fazer? Não faça nada que perturbe a recuperação deles ou parto você em dois.

Asuka estava surpreso, pois era a primeira vez que via Kenzo nii-san fora de si. Era verdade que ele havia extrapolado roubando os endereços, mas nunca imaginou uma reação tão humana de alguém sempre centrado.

_ Tem certeza? – refugiou-se no sarcasmo. – Você fez um juramento. Deveria curar e não agredir, não acha?

_ Fique longe dos meus pacientes. Se eu souber que você procurou mais alguém... Ou vou esquecer que um dia fomos quase irmãos. Entendeu?

_ Se você quer assim... – Asuka explodiu e virou-lhe a costa deixando Kenzo para trás.

_ Vai valer à pena? – o doutor gritou dando um murro na parede.

_ Vou fazer valer à pena... – o rapaz sussurrou entristecido para si mesmo.

Asuka só parou do lado de fora do portão. Ele retirou do bolso o papel amassado de tanto manusear. Fechou a mão sobre ele... Não precisava mais daquilo. O endereço estava decorado, mas seria correto? Talvez...

_ Asuka! – gritou para que ele a ouvisse – Nossa! Está frio aqui fora. Já está indo embora?

_ Sim. Acho que já abusei demais da hospitalidade.

_ Você é abusado mesmo. – ela riu de um jeito angelical e entregou um pequeno embrulho passando-o pela grade.

_ O que é isso?

_ Vai saber quando abrir – fez mistério.

_ Obrigado seja lá o que for.

_ Por isso não – ela acenou tímida – até.

_ Até, Mona. – ele colocou as mãos na jaqueta e caminhou para fora de sua visão.

x-x-x

Umi voltou para dentro da casa correndo, mas em vez de ir diretamente para o quarto seguiu pelo corredor que a levaria até a estufa. Desde que recebera a corrente com o crucifixo, não conseguia deixar de tocá-lo de vez em quando. Já tinha virado uma mania.

Ela entrou silenciosa e aspirou o aroma inebriante das flores exóticas. Sentou-se na cadeira onde eles estiveram conversando. Na quietude daquele lugar, ela podia reviver com calma cada detalhe pequeno do outro dia. Corou. Sentiu a testa aquecer ante a lembrança e desenhando o contorno de seus lábios com sua própria mão sonhou com um final diferente.

Era só uma fantasia, mas gostava de alimentar a esperança de que ela tinha alguma chance. O doutor era um homem adulto e ela era só uma garota órfã. Algum dia, ela seria adulta também. Até lá aprenderia o máximo que pudesse na universidade.

_ Sonhando acordada “pequena rosa do mar”? – ele saiu das sombras assustando-a.

_ Do-doutor – procurava se recuperar.

_ Desculpe. Não queria assustá-la.

_ Ah! Eu estava aqui pensando nas coisas que eu vou aprender na universidade, nos amigos que vou fazer...

_ Nos namorados que vai arranjar... – ele arqueou a sobrancelha enquanto cruzava os braços.

_ N-não. Não estava pensando nisso – sentia-se corar violentamente.

_ Tem certeza? Por um instante pareceu que sim.

_ Ninguém se interessaria por mim – ela baixou os olhos.

_ E por que não? – ele levantou o queixo dela.

_ O senhor se interessaria? – ela esperou uma eternidade, mas a resposta não veio de imediato. – Está vendo?

_ Você é encantadora, Umi.

_ Encantadora... Isso soou como um prêmio de consolação – riu sem graça e se levantou. – O que realmente uma mulher deve fazer para interessar o doutor?

_ Seria ótimo se houvesse uma que não me chamasse de doutor ou de senhor. Tenho me sentido um velho caquético na sua presença – eles simplesmente riram.

_ Então estamos quites. Eu me sinto um bebê de fraldas.

_ Eu digo que está na hora dos bebês dormirem – ele olhou propositalmente para o relógio.

_ É uma deixa para me expulsar?

_ Não. Uma deixa para que se vá antes que o velhinho alugue uma bengala.

_ Você não é um velho.

_ Nem tão pouco você é um bebê. Boa noite, Umi.

_ Boa noite. Eu já estou indo.

Ele pegou um cigarro do bolso e acendeu o cigarro, tragando uma quantia generosa de seu vício.

_ Um médico não deveria estar denegrindo a saúde que ele tanto preza. E depois o cheiro é desagradável – ela se voltou antes de fechar a porta delicadamente.

Kenzo olhou para o cigarro quase intacto e determinado apagou-o no cinzeiro da mesa.


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Notas finais do capítulo

Daremos um salto de alguns anos no próximo capítulo.



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