Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara
Eles caminharam silenciosamente e o doutor se lembrou que havia feito mesmo percurso com Umi. Mas, a lembrança era boa de mais para ser maculada e por isso agiu no meio do corredor.
_ Como você conseguiu os endereços dos meus pacientes, Asuka! – ele foi duro ao pegar o rapaz pelo colarinho e encostá-lo contra a parede.
_ Não sei do que está falando – Asuka conseguiu se desvencilhar.
_ Não minta. Eu sei que você procurou pelo menos dois de meus pacientes. O que pretende fazer? Não faça nada que perturbe a recuperação deles ou parto você em dois.
Asuka estava surpreso, pois era a primeira vez que via Kenzo nii-san fora de si. Era verdade que ele havia extrapolado roubando os endereços, mas nunca imaginou uma reação tão humana de alguém sempre centrado.
_ Tem certeza? – refugiou-se no sarcasmo. – Você fez um juramento. Deveria curar e não agredir, não acha?
_ Fique longe dos meus pacientes. Se eu souber que você procurou mais alguém... Ou vou esquecer que um dia fomos quase irmãos. Entendeu?
_ Se você quer assim... – Asuka explodiu e virou-lhe a costa deixando Kenzo para trás.
_ Vai valer à pena? – o doutor gritou dando um murro na parede.
_ Vou fazer valer à pena... – o rapaz sussurrou entristecido para si mesmo.
Asuka só parou do lado de fora do portão. Ele retirou do bolso o papel amassado de tanto manusear. Fechou a mão sobre ele... Não precisava mais daquilo. O endereço estava decorado, mas seria correto? Talvez...
_ Asuka! – gritou para que ele a ouvisse – Nossa! Está frio aqui fora. Já está indo embora?
_ Sim. Acho que já abusei demais da hospitalidade.
_ Você é abusado mesmo. – ela riu de um jeito angelical e entregou um pequeno embrulho passando-o pela grade.
_ O que é isso?
_ Vai saber quando abrir – fez mistério.
_ Obrigado seja lá o que for.
_ Por isso não – ela acenou tímida – até.
_ Até, Mona. – ele colocou as mãos na jaqueta e caminhou para fora de sua visão.
x-x-x
Umi voltou para dentro da casa correndo, mas em vez de ir diretamente para o quarto seguiu pelo corredor que a levaria até a estufa. Desde que recebera a corrente com o crucifixo, não conseguia deixar de tocá-lo de vez em quando. Já tinha virado uma mania.
Ela entrou silenciosa e aspirou o aroma inebriante das flores exóticas. Sentou-se na cadeira onde eles estiveram conversando. Na quietude daquele lugar, ela podia reviver com calma cada detalhe pequeno do outro dia. Corou. Sentiu a testa aquecer ante a lembrança e desenhando o contorno de seus lábios com sua própria mão sonhou com um final diferente.
Era só uma fantasia, mas gostava de alimentar a esperança de que ela tinha alguma chance. O doutor era um homem adulto e ela era só uma garota órfã. Algum dia, ela seria adulta também. Até lá aprenderia o máximo que pudesse na universidade.
_ Sonhando acordada “pequena rosa do mar”? – ele saiu das sombras assustando-a.
_ Do-doutor – procurava se recuperar.
_ Desculpe. Não queria assustá-la.
_ Ah! Eu estava aqui pensando nas coisas que eu vou aprender na universidade, nos amigos que vou fazer...
_ Nos namorados que vai arranjar... – ele arqueou a sobrancelha enquanto cruzava os braços.
_ N-não. Não estava pensando nisso – sentia-se corar violentamente.
_ Tem certeza? Por um instante pareceu que sim.
_ Ninguém se interessaria por mim – ela baixou os olhos.
_ E por que não? – ele levantou o queixo dela.
_ O senhor se interessaria? – ela esperou uma eternidade, mas a resposta não veio de imediato. – Está vendo?
_ Você é encantadora, Umi.
_ Encantadora... Isso soou como um prêmio de consolação – riu sem graça e se levantou. – O que realmente uma mulher deve fazer para interessar o doutor?
_ Seria ótimo se houvesse uma que não me chamasse de doutor ou de senhor. Tenho me sentido um velho caquético na sua presença – eles simplesmente riram.
_ Então estamos quites. Eu me sinto um bebê de fraldas.
_ Eu digo que está na hora dos bebês dormirem – ele olhou propositalmente para o relógio.
_ É uma deixa para me expulsar?
_ Não. Uma deixa para que se vá antes que o velhinho alugue uma bengala.
_ Você não é um velho.
_ Nem tão pouco você é um bebê. Boa noite, Umi.
_ Boa noite. Eu já estou indo.
Ele pegou um cigarro do bolso e acendeu o cigarro, tragando uma quantia generosa de seu vício.
_ Um médico não deveria estar denegrindo a saúde que ele tanto preza. E depois o cheiro é desagradável – ela se voltou antes de fechar a porta delicadamente.
Kenzo olhou para o cigarro quase intacto e determinado apagou-o no cinzeiro da mesa.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Daremos um salto de alguns anos no próximo capítulo.