Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 8
Oito - Cato


Notas iniciais do capítulo

Galera, voltei! Lá em São Paulo foi ótimo e vi um menino na rua igualzinho o Cato (quase morri do coração), rs. Enfim, aí está o capítulo novo, espero que gostem.



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Era um ringe que luta gigantesco, os tributos estavam todos vivos duelando apenas com as mãos, feito animais. Em volta o público exuberante da Capital gritava e torcia freneticamente. Dessa vez não havia para onde correr ou se esconder. Os corpos foram sendo empilhados num canto, alguns tão mutilados que mais pareciam papéis amassados. Matei alguns, mas ainda restava por volta de uma meia dúzia de pé. Estava dando conta de dois garotos quando ouvi um grito e me virei, gélido. Uma garota enorme estava com outra tributo na mão, segurando-a com força para que uma terceira pudesse espancar a segunda até a beira da morte. A garota presa era Clove. Sangrava pelos olhos e pela boca, além de conter escoriações negras por toda pele à mostra. Ela gritava de dor enquanto suas rivais quebravam-lhe os dedos, um a um. Corri até seu encontro com o intuito de matar as garotas da forma mais cruel possível, mas fui segurado por três homens da Capital vestidos de terno preto. Eles me acorrentaram a uma das laterais no ringue, me obrigando a assistir àquele circo de horrores passivo. Tentei me libertar enquanto gritava, ordenando que soltassem Clove. Um apresentador da Capital entrou na cena e começou a narrar a situação, em meio às risadas dos espectadores à sua volta. Pressenti a vida saindo de mim quando as garotas jogaram Clove no chão e chutaram veemente. Como golpe final, deram juntas um impulso para pular em suas costas, pisando com toda a força. O barulho alto de doze costelas sendo quebradas ricocheteou por toda a estrutura, e Clove deu um gemido baixo, fechando com força os olhos, esperando pela dor que não veio. O que senti em meu dorso, no entanto era além do descritível. Eu havia rompido as correntes e conseguido chegar a tempo, me posicionando entre Clove e suas torturadoras. O apresentador focou a câmera em meu rosto, chegou próximo e me perguntou “Para que interferir? É só uma diversãozinha boba”.

“Eu não vou deixar que ela morra”. Falei alto, mais para mim mesmo do que para ele. Era bem simples de entender, afinal. Ela ficaria viva e ponto. Minha existência dependia disso.

Assim que me dei conta disso, como num passe de mágica, sumiram todos a minha volta, e ficamos sós eu e Clove agora num imenso estádio vazio. “Provavelmente morremos os dois” Divaguei. Curiosamente me lembrei dos Jogos e das vespas mutantes, e reconheci a possibilidade de que tudo isso não passava de um pesadelo. Fechei fortemente os olhos na esperança de que todo esse episódio fosse irreal e passageiro. Abri os olhos e qual não foi a minha surpresa ao encontrar Clove adormecida em meus braços.

Tentei não me movimentar demais para não desperta-la, mas ela tem o sono suave e levantou logo a vista para mim. Piscou algumas vezes para focalizar a cena e me percebeu admirando-a. Não houve briga ou susto, nem tentativa de distanciamento. Ficamos sem dizer nada por um longo tempo, estáticos apenas apreciando a vista, que devo dizer era linda. Ela deu um longo suspiro e cerrou os olhos novamente, enquanto se alinhava melhor contra meu corpo. Recobrei a consciência de que estamos nos jogos vorazes e que Marvel e Filos provavelmente estavam próximos de nós agora. Não tive vontade de tirá-la de perto, continuava questionando a mim mesmo se era tudo real ou se eu ainda estava sob o efeito do veneno nas teleguiadas. Se fosse o segundo caso só ansiava que ainda houvesse o suficiente desse para me manter nesta situação por mais tempo. Passei a mão pelos fios soltos em seu cabelo e deslizei-a para baixo, afagando aquele rosto angelical. Seus olhos verdes se levantaram para mim e quase perdi o juízo, ainda sem desviar o olhar. Clove sorriu desconcertada com o canto da boca, um espetáculo que nunca tinha tido a oportunidade de ver.

“Você ainda está aqui” Eu lhe disse.

“Você sabia que eu estaria”

“Não. Só desejava mais do que tudo que você estivesse.”

“Eu não tenho a menor noção sobre o que acontece aqui, Cato” Ela confessou.

“Tampouco tenho eu. Mas a gente devia ter previsto que isso iria acontecer. Acho que nunca existiram pessoas tão parecidas quanto eu e você”

“Que exagero. Nós dois sabemos que eu sou muito mais inteligente.” Caçoou ela.

“E que eu sou muito mais bonito” Brinquei de volta.

“É verdade” Clove rebateu espontaneamente, corando no mesmo instante. Balancei a cabeça negativamente e lhe disse “É mentira”. E nos beijamos. No momento certo, de maneira perfeita, por iniciativa de ambas as partes. Suas mãos subiram pelo meu pescoço até meus cabelos, me fazendo arrepiar. Segurei seus quadris e ela estremeceu, me puxando para mais perto com tanta força que me surpreendi, sem hesitar ao toque. Ela segurou a gola da minha camisa e percebi sua vontade de tirá-la. Fiz o que pude para recuar, mas quem é humano sabe que em certas situações a mente deixa o controle do corpo para o instinto. Levantei o tronco do chão com Clove ainda em cima de mim e removi a fita que prendia seus cabelos num rabo alto. Eles caíram longos por seu rosto e precisei interromper nossos beijos para que pudesse contemplá-la com a devida atenção. Sua blusa estava levantada até o umbigo e minhas pernas estavam presas por entre seus joelhos. Era a primeira vez que eu a via com suas madeixas castanhas livres, caindo pelos ombros até pouco acima da cintura. Ela interpretou minha interrupção brusca como rejeito e tentou enrolar o cabelo com as mãos, ofendida. Não pude conter o riso. Então ela realmente não fazia ideia do quanto eu a queria de todas as maneiras, e principalmente daquela. Segurei seus pulsos impedindo que ela mudasse de posição e disse “Você é perfeita”.

Senti o ódio subindo por minhas veias quando ouvi a voz de Marvel dizer a uma curta distância “Você tem razão, ela é realmente perfeita.”

Virei meu pescoço em sua direção enquanto calculava quanto tempo gastaria para me aproximar e reduzi-lo a pó, mas Clove foi mais rápida que eu e saiu puxando-o para longe enquanto se recompunha apressadamente. Pude vê-los discutindo de longe ela voltou pouco depois bufando enquanto Marvel ria baixo atrás dela.

“Posso matar ele agora?” Perguntei ainda sentado no saco de dormir.

“Não, eu mesma quero fazer as honras quando chegar a hora. Vamos acordar o Filos e terminar a emboscada logo” Ela disse como se nada tivesse acontecido a minutos atrás. Ela me explicou sobre a idéia dos explosivos e em pouco tempo já estava tudo enterrado em volta da pilha de alimentos. Percebi que Clove tratava Filos com menos austeridade agora e fiquei me perguntando o que teria acontecido enquanto eu dormia, mas tentei não tirar o foco do meu ódio de Marvel, que se fez distante por segurança. Um pouco mais tarde avistamos uma trilha de fumaça no céu, e deixamos Filos de guarda enquanto fomos procurar pelo outro idiota que resolveu arriscar a vida a essa altura do campeonato. No caminho ficamos todos em silêncio até que Marvel resolveu tentar mais alguma gracinha.

“Você devia ficar mais tempo de cabelo solto Ruthless, faz bem para a sua imagem” Ele disse para Clove, que não desviou o olhar da trilha. Percebi sua mão se fechando em volta de uma das adagas em seu cinto, mas mesmo assim ela não reagiu. O que será que eles tinham conversado? Ela nunca aceitaria uma gracinha dessas sem derramar ao menos um pouco de sangue. Resolvi intervir

“Pensei que você achava a Glimmer mais bonita”

“Bem, ela não deve estar muito bela agora, não é mesmo? Consegui dar uma olhada nela antes de fugir das teleguiadas, e era só um grande amontoado de carne inchada disforme.” Ele argumentou. Vi Clove esboçando um sorriso ao ouvir a definição dada à última imagem de Glimmer, até que Marvel completou “Agora só temos a atiradora de facas aqui de menina no nosso grupo, pelo jeito vamos ter que tirar na sorte”

“Ela não é algo que está disponível para ser rifado, Marvel” Respondi imediatamente.

“Sei disso sei disso. Mas ela tem opções para escolher. E não falo só por mim, ainda tem o Filos também. Ela tem tratado ele bem melhor depois das teleguiadas, e foi ele quem cuidou dela esse tempo todo...”

“Ela jamais escolheria ele quando pode ter coisa muito melhor!” Retruquei ofendido

“Tem jeito de vocês pararem de falar de mim como se eu não estivesse aqui ou eu vou ter que cortar a garganta de um por um?” Clove encerrou a discussão assim, sem me lançar ao menos um olhar, tal qual tinha feito o dia todo depois do flagrante de Marvel. Estávamos quase na fonte da fumaça quando ouvimos um barulho gigantesco de explosão. Corremos de volta o mais rápido possível, e ao chegarmos lá nos deparamos com todos os mantimentos despedaçados pela arena. Filos estava agachado num canto, tremendo de medo. Tive tanto ódio daquela figura patética. Ele não era nem capaz de guardar um lugar por vinte minutos. Era impossível que ela estivesse interessada nele quando a única coisa que ele poderia despertar em outros era pena. Mas não em mim.

“O que aconteceu aqui?” Gritei.

“Eu... Eu...” Ele gaguejou enquanto tentava se afastar. Clove e Marvel gritavam atrás de mim para que eu não avançasse, para que eu mantivesse a calma, mas não lhes dei ouvidos. A raiva acumulada era tanta que nem me dei ao trabalho de pegar a espada, ergui-o no ar e quebrei seu pescoço com minhas próprias mãos. Clove e Marvel tentaram me segurar pelo braço, mas já era tarde. Larguei-o de lado e de imediato vi Clove correndo em direção ao cadáver. Ela olhou dele para mim e me lançou o mais puro olhar de desprezo. Ela não é do tipo que se entristece com facilidade, mas pude ver que ela estava descontente por Filos ter morrido tão cedo. Será que ela realmente estava tendo algo com ele? Tive vontade de tê-lo vivo para matá-lo de novo quando pensei nessa possibilidade, mas ela não me deixaria pisar em seu corpo sem vida. Desvencilhei-me da mão de Marvel que me continha e fui procurar algo útil em meio aos destroços. Marvel disse que iria procurar por sobreviventes próximo dali, e me deixou sozinho com Clove, que ainda segurava Filos como se ele fosse um brinquedo sem pilha. Ela erguia o braço dele no ar e soltava, observando-o em queda livre. O barulho desse em encontro do chão foi me irritando ainda mais.

“Não importa quantas vezes você fizer isso, o resultado será o mesmo” Eu disse enquanto vasculhava uma pilha marrom de fuligem agachado. Ela não se deu ao trabalho de responder.

“Então, desde quando vocês viraram amiguinhos?” Tentei mais uma vez

“É realmente com isso que você se importa?” Clove se levantou, e agora caminhava em minha direção com a mão aberta. Ela me deu um tapa forte no rosto e eu levantei depressa. Pensei que fosse tentar lutar outra vez, mas ao invés disso ela balançou a cabeça e me deu as costas. Puxei-a pelo braço fazendo com que ela se voltasse novamente para mim.

“Me solta Cato, você já matou gente o suficiente do nosso grupo por hoje”

“Ele fez tudo errado! E ele nem era um carreirista. Não sei por que você está tão brava”

“Qual é o seu problema? Você ta apertando demais o meu braço!”

“O meu problema é você, garota! O que você está fazendo? E o que foi aquilo hoje de madrugada? E o que é isso agora? Pelo jeito não sou eu quem fico de joguinhos aqui, Clove.”

“Aquele menino que você acabou de matar cuidou de você durante dois dias inteiros a troco de nada, seu imbecil.” Ela disse se desvencilhando de mim. “Ele limpou cada ferimento, colocou cada curativo e nos protegeu por tempo mais que suficiente para ser digno de confiança. Não era afeto o que eu sentia por ele Cato, se é o que você quer saber. Era gratidão. Não sei você, mas eu não suporto ficar devendo as pessoas, e aquele cara ali no chão, me salvou duas vezes. Então obrigado por fazer com que ele morresse do nada antes que eu pudesse ao menos pagar a minha dívida.” Ela terminou de falar e deitou na grama de barriga para cima. Avaliei as informações que tinha acabado de receber e admiti para mim mesmo meu erro. Por algo idiota que Marvel disse acabei matando um tributo que poderia vir a ser útil mais tarde, e o pior, que eu estava em dívida com. Deitei-me ao lado de Clove e olhei para o céu, imitando-a.

“Eu sinto muito” murmurei

“Não há nada que se possa fazer agora.” Ela disse, mas não tinha mais raiva em seu tom de voz. Ela tinha se conformado com a partida dele. Tentei manter uma linearidade no diálogo, já que esse era o primeiro decente desde a manhã.

“Você disse que ele te salvou duas vezes. Quando foram elas?” perguntei discretamente

“Uma foi quando ele cuidou de mim. A outra foi quando ele cuidou de você”

Meu coração recebeu uma carga de eletricidade momentânea e acelerou a pulsação. Ela ainda olhava distante e não se virou para mim. Eu provavelmente teria feito algo se não tivéssemos escutado um grito alto vindo da mata. Parece que Marvel encontrou alguma presa.



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Notas finais do capítulo

MUITO OBRIGADA a todas as pessoas lindas que não em abandonaram mesmo sem eu ter postado nada por quatro dias. Vou fazer o possível para não deixar que esse tempo se repita :)
Agradecimentos especialíssimos à Dust in The Wind e à Charlie Ludwig G pelos textos de recomendações, fiquei super emocionada com a expressão de vocês e com o carinho que sentem pela fanfic :3