Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 2
Dois - Cato


Notas iniciais do capítulo

Resolvi alternar as narrações para aumentar o número de pontos de vista :)



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Por essa eu não esperava. Foi muito mais divertido do que imaginei ver aquela garota saindo em disparada pelo corredor. Mas de certa forma é compreensível, já que esse costuma ser o efeito que eu causo nas pessoas. Essa Clove parece lidar melhor com armas do que com pessoas, e vai ver é por isso que estava completamente despreparada para a minha aproximação. Ela é firme, mas ainda assim não me despertou interesse. Um pouco presunçosa ela é de achar que pode ganhar uma competição tendo a mim como rival. Eu sim sou o melhor representante que o Distrito 2 poderia ter: Uma combinação de força, habilidade e beleza que julgo ser quase impossível de superar.

Assim que fecho a porta do quarto pulo na cama e fantasio sobre o dia de amanhã, que será sem dúvida memorável. Mal posso esperar para ver meu rosto na TV, me oferecendo para os Jogos como um Herói olímpico enquanto aquele outro garoto sorteado chorava igual uma mulherzinha esperando por salvação. Não que eu quisesse salvá-lo, seria muito interessante vê-lo morrer logo no banho de sangue, já que os não-carreiristas são os mais fáceis de lidar. Queria salvar meu distrito, que afinal de contas há anos tem mandado só os melhores. Minha família toda ficou super orgulhosa e meus treinadores já tinham me considerado o melhor aluno para esse ano. Além da minha colheita também anseio para ver os demais tributos sorteados, saber se são tão medíocres quanto os dos anos anteriores. Sem perceber sou tomado pelo sono enquanto as horas vão passando lentamente.

Pela manhã nossa treinadora nos dá conselhos de sobrevivência dispensáveis na hora do café e depois nos dirigimos para a sala, onde na televisão estão sendo transmitidas as colheitas. Na tela aparecem fichas com foto e idade de todos os 24 tributos e com a imagem pausada consigo analisar alguns competidores. A garota do distrito 1, Glimmer, é realmente bonita, mas não parece ser assim tão competente. No D-11 o garoto, Thresh parece ser um adversário à altura, enquanto sua colega de distrito Rue tem apenas doze anos e não transmite perigo algum. O distrito 12 também teve uma voluntária chamada Katniss, mas ela não parecia saber muito bem o que estava fazendo. Saio do aposento confiante, já que a extrema maioria não me apresenta a menor ameaça. Fomos todos então para a preparação dos Jogos, onde os estilistas nos mostraram nossos figurinos para o desfile e nos deram dicas para as entrevistas. Confesso que até o momento me senti entediado, mas percebi que o marasmo só cessaria na arena e resolvi continuar agindo como se tudo tivesse alguma importância.

O desfile teria sido perfeito se não fosse pelos babacas do Distrito 12 que resolveram ir com roupas flamejantes, e tiraram toda a atenção da platéia. Mas ainda assim, me garanti na entrevista. Caesar me fez algumas perguntas sobre família e intenções de jogo, e acho que me saí muito bem. Clove Ruthless também foi bastante aplaudida, ela estava num vestido com babados que a deixava até bonita, mas por algum motivo não combinava com sua natureza hostil. O garoto do D-12 revelou em rede nacional que estava apaixonado pela sua companheira de distrito, o que para mim pareceu fraqueza, mas levou o público à loucura. Na volta, Enobária comenta por alto que “um romance sempre cai bem”, e me manda ficar de olho nas alianças para não perder as chances de vitória.

Após o cumprimento das atividades diárias voltamos para nossas instalações ainda sem trocar nenhuma palavra, e fomos para o centro de treinamento, onde um idiota tentou roubar a faca que eu estava usando para treinar. No centro agi como um rei, e a maioria dos tributos rivais me observavam com uma mescla de medo e inveja, o que para mim já era como parte do prêmio. Fiquei quase todo o tempo na área de prática com espadas e socializei com Marvel e a garota bonita do D-1, Glimmer, além dos carreiristas do D-4. Clove parece perceber a aliança se formando e vem se juntar a nós, mas depois de uma breve conversa volta para a área de atiramento de facas. Lembro-me dos dizeres de Enobária e forço meu corpo a ir a sua direção. Não posso dizer que estava confortável com essa coisa de unir forças nem nada, mas parecia estar dando um ibope bem alto no distrito 12, então não custava nada tentar pelo menos uma conversa saudável.

“E então Ruthless, o que achou deles?” Pergunto tentando ser educado. Ela se surpreende e atira uma faca no olho do boneco-alvo antes de se virar e me fitar com a expressão nebulosa.

“Cansou de babar na Distrito 1? Para mim são todos meio panacas.” Ela diz antes de se virar e continuar tacando facas. Uma, duas, três acertam no centro dos alvos. Eu diria que ela está com ciúmes, isto é, se ela fosse capaz de sentir alguma coisa. A verdade é que eu me lembrava dela desde o começo, lá onde a gente morava. Fazendo jus ao nome* ela nunca demonstrava nenhum tipo de sentimento a não ser talvez um prazer imenso em matar coisas. Era provável que ela não fosse inútil na arena no fim das contas, e não seria má idéia mantê-la controlada, mas sinto na obrigação de me defender.

“Babando? É talvez eu estivesse reparando nela um pouco, já que é a única menina bonita por aqui”

“Que ótimo que você veio para arranjar uma namorada, você está no lugar certo. Desse jeito os Jogos Vorazes vão acabar se transformando num encontro de casais” Ela ironiza. Penso em dar alguma resposta à altura, mas antes que eu pudesse abrir a boca ela lança uma última adaga no coração do boneco mais distante e vai para a área de arco e flecha, não sem antes me lançar um olhar frio. Resolvo relevar e vou carregar uns pesos até o fim do horário. As avaliações individuais começam e somos os segundos a ser liberados. Pouco tempo depois já sai o resultado das notas. Ganhei um 10, assim como Clove. A garota do distrito 12 conseguiu um 11, o que me deixou um pouco irritado. Talvez essa estratégia de casais realmente dê algum retorno.

Voltamos para nosso andar e começo a sentir a adrenalina pelo meu corpo. Em menos de vinte e quatro horas estaríamos em um aerobarco partindo para a tão almejada arena. Antes de ir dormir resolvo irritar um pouco a Ruthless e encontro-a no caminho para a sala

“Preparada para amanhã?”

“Desde os doze anos eu venho sendo preparada para esse dia, você ainda tem alguma dúvida?”

“Talvez esses anos não tenham sido o suficiente. A julgar pelo seu tamanho, não parece que se passou tanto tempo assim”

“como se você fosse muito alto!”

“não, é só que você é muito baixa”

“Estou começando a achar que você será o primeiro a morrer, Cato”

“Como se você fosse capaz de ser a primeira a matar alguém na arena!”

“Você quer apostar isso?”

“Com certeza”

Ela então olha para mim e sorri. Mas não de uma maneira gentil. Daquela maneira perversa com a qual ela olha para todas as coisas, como se fossem os brinquedos dela. Esse é o ponto fraco de Clove, e o ponto forte. Ela sente satisfação em desafios, em jogos letais, e eu não posso julgá-la quando sinto o mesmo. Tudo fica mais divertido quando há certa maldade na trama. E percebo que essa é a expressão que mais lhe cai bem. Olhando para mim dessa forma desafiadora, ela quase parece bela. Ficamos por segundos encarando um ao outro quando caio em mim e resolvo ir para meu quarto. Para mim os Jogos Vorazes já começaram.

* Ruthless: termo em inglês cuja tradução varia entre implacável, cruel e impiedoso (a).



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