Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 10
Dez - Cato


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a todas que não fizeram um boneco vudu meu pelo último capítulo, e continuaram lendo até aqui, rs.



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“CLOVE! CLOVE!” gritei alto. “Clove, por favor, eu te imploro. Agüente, vamos. Eu sei que você consegue superar isso. Você não pode me deixar aqui sozinho, eu te peço. Fique aqui comigo”.

Insisti por várias vezes, mas ela não reagia. Mesmo eu tendo chegado a tempo de segurar o braço de Thresh e amortecer a queda, isso não parecia ter sido o suficiente para mantê-la a salvo. Sua cabeça mantinha a forma natural, mas estava rasgada profundamente, sendo possível ver seu crânio através do corte enquanto o sangue jorrava pela abertura. Como a situação poderia ter chegado a isso tão rápido? Num minuto eu havia deixado a cuidando de torturar Katniss, e no minuto seguinte a D-12 tinha sumido e o garoto enorme do distrito 11 estava a um passo de matar Clove. Depois de acertar o golpe, ele me ignorou e levou as mochilas com os números 2 e 11 para seus domínios da floresta. Eu o deixei ir porque ele não era a prioridade. Cansado e rouco de tanto gritar, tombei em cima do tronco de Clove, com lágrimas nos olhos. Ofeguei por um longo tempo, até que diminuí a freqüência e consegui perceber uma leve respiração. Coloquei o ouvido em seu peito e escutei ao fundo, bem de leve, um coração batendo.  Clove estava viva. Ela poderia ser salva.

Eu tinha que ser rápido, se não estancasse logo aquela ferida ela poderia falecer por falta de sangue. Carreguei Clove com agilidade e corri para o lago, já que minha vida dependia disso. Lavei sua ferida e ela se manteve desacordada. Consegui enrolar uma atadura em sua cabeça e conter o fluxo de sangue. Onde estavam os patrocinadores agora? Porque não mandaram nada durante todos esses dias? Porque ainda não tinham nos enviado um paraquedas com os medicamentos que ela precisa com tanta urgência?

Eu estava perdendo a cabeça. Oscilava entre preocupação por seu estado e felicidade por ela ainda estar viva. Andava de um lado para o outro impaciente, esperando pela ajuda que deveria chegar. Dei um soco numa árvore próxima a fim de descontar toda minha raiva pelos patrocinadores lerdos. Minha mão voltou sangrando e fiquei menos alvoroçado agora que tinha outra dor para a qual canalizar meus sentidos. Será que era isso que a Capital queria, nos deixar morrer de insanidade? Talvez eles só quisessem igualar os casais, já que o Lover boy também deve estar á beira da morte. Se fosse isso eles estariam encrencados quando eu saísse daqui. Quando nós saíssemos, porque eu jamais deixaria Clove para trás.

O dia foi passando sem nenhuma melhora. O quadro de Clove parecia ter estagnado, mas ela ainda não respondia os meus chamados. A noite pareceu infinita, sem alimento e nem companhia. Passei todo o tempo instigando sobre os motivos da Capital. Aquilo estava cada vez mais próximo da minha alucinação de antes, provocada pelas teleguiadas. Amanheceu e continuei sem pregar os olhos por um estante sequer. Por fim cansei de esperar pelo que já soava como improvável.

Resolvi que era hora de cumprir a vingança. Não conseguiria continuar neste estado enquanto Thresh tinha me roubado não só a comida, mas também uma das razões para sobreviver. Escondi Clove entre folhas e a deixei, com o coração aflito. Nós teríamos pouca ou nenhuma chance de sobreviver se continuasse assim, eu velando seu corpo enquanto dele era sugado todo o movimento.

Todos sabiam aproximadamente onde Thresh se escondia. Era na parte mais escura da floresta, de mata fechada e difícil acesso. Nenhum de nós teve interesse em tentar enfrentá-lo em seus domínios por questão de lógica, já que ele tinha mais conhecimento do lugar e teria, portanto, uma grande vantagem. Mas eu estava pouco me importando.

A corrida até seu esconderijo durou pouco mais de meia hora, e o sol ainda reluzia forte. Quando cheguei, ele estava sentado no chão em frente á uma cabana de folhas vasculhando na mochila que deveria ser minha. Empunhei a espada e avancei sem medo. Eu já estava metade morto mesmo.

Ele se levantou rápido e não recuou. Assumiu a posição de ataque e tentou me derrubar desarmado. Ele era ágil em combates corpo a corpo, mas eu ainda tinha a vantagem da espada. Minha lâmina cortou-o fundo no braço, mas ele continuou lutando como se tivesse apenas arranhado. Ele me jogou no chão e pisou em minha perna direita, fazendo com que meu joelho estralasse. Virei-me rápido e decepei sua mão direita, ele urrou de dor. Furioso, ele levantou meu corpo no ar e atirou contra uma montanha de pedras, e eu deixei cair a espada entre nós.

Foi uma disputa de agilidade. Quem fosse mais rápido teria a vitória. Rastejamos simultaneamente até minha arma e ele tocou na lâmina ao mesmo tempo em que toquei na bainha. Ele segurou meu ombro e antes que pudesse me golpear afundei a espada em sua garganta. Ele morreu na hora. Sua massa enorme tombou ao meu lado e levantei por reflexo. Avaliei sua imagem. Ele estava de olhos esbugalhados e com a boca aberta, além de um vão enorme no pescoço. Peguei impulso para trás e desci o braço com vigor, decapitando-o de uma só vez. Sua cabeça rolou alguns metros e parou escorada na mochila de número 2. Chutei-a para longe e coloquei a mochila nas costas, guardando os alimentos que Thresh tinha espalhado pela clareira. Avaliei então o local. Tirando pelo cadáver ao centro, era até um bom lugar para se ficar. Fui amadurecendo a idéia de mudar nosso acampamento para lá enquanto percorria a trilha de volta para o encontro de Clove. Atrás de mim soou o tiro de canhão que alertada a morte do 6º último participante dos Jogos Vorazes.

Clove estava intacta no local onde eu a havia deixado. Seus sinais vitais continuavam quase inexistentes, mas dessa vez ao carregá-la senti que ela persistiria um pouco mais. Ela estava lá, mesmo não respondendo ou abrindo os olhos. Quando chegamos na antiga morada de Thresh o corpo dele já tinha sido removido e agora só restava um rastro de sangue em algumas folhagens. Coloquei Clove dentro da cabana e fui calcular o que tínhamos a nossa disposição. Ao todo possuíamos duas mochilas com comida (a nossa e a de Thresh), mais três mochilas com kits de primeiros socorros, algumas armas pequenas e uns biscoitos, além de três cantis de água. Era bem uma fortuna em comparação ao que os outros participantes deveriam ter agora. Coloquei mais comida nas mochilas reserva (já tinha aprendido na explosão que é sempre bom carregar o necessário por perto) e comi algumas frutas que estavam transbordando da mochila 11.

Preparava-me para dormir quando um paraquedas minúsculo apareceu vindo do céu. Ele prendeu num galho baixo de uma planta e corri para ver o que trazia. Era remédio! Finalmente aqueles patrocinadores preguiçosos e imprestáveis resolveram se mover e fazer algo. Destampei rápido a embalagem e entrei na tenda. Desenrolei a tala da cabeça de Clove com cuidado e passei uma grande quantidade do medicamento, tampando toda a ferida. Ela soltou um murmúrio quase inaudível de dor, sem mudar a face. Refiz o curativo e pela primeira vez em dias consegui dormir um pouco melhor.

Acordei com o barulho de alguém gemendo e ao me virar avistei a fonte do som. Clove tinha aberto os olhos e tentava respirar mais rápido com muita dificuldade. Seus olhos estava quase para fora de órbita, provavelmente em reflexo à dor que ela deveria estar sentindo agora. Fui ligeiro em sua direção e ordenei que ficasse quieta, para não atrapalhar na recuperação. Avaliei sua ferida, que agora estava com um terço do tamanho e um quinto da gravidade inicial, e suspirei aliviado. Os remédios vindos da Capital surtiam efeito quase que de imediato e até o fim do dia aquele rombo não passaria de uma cicatriz acima da orelha esquerda. A primeira coisa que fiz foi colocá-la sentada e hidratá-la, gastando nesse processo dois cantis de água. Por volta do meio dia ela já conseguia mexer de leve os braços e as pernas. Separei alguns pedaços de frutas, que ela mastigou vagarosamente. Ela se assemelhava á uma boneca com as pinhas fracas. Tentou me dizer algo por diversas vezes, apontando para vários lugares, mas sua voz ainda não saía. E eu estava contente como se tivesse ganhado um prêmio. Mesmo que houvesse alguma seqüela, ela estava viva e era isso que importava. Ainda iríamos vencer, nem que para isso eu precisasse lutar por nós dois. À tarde me permiti tirar um breve cochilo enquanto Clove tentava fazer com que sua voz voltasse. Quando despertei, encontrei-me sozinho na tenda, e saí assustado. Ela estava lá fora, completamente diferente. Estava de pé, caminhando de um lado para o outro, testando suas habilidades com facas, que não haviam se alterado em nada. Ela não percebeu minha presença e continuou atirando  adagas mais alto e mais longe, sorrindo para cada acerto. De tempo em tempo tocava a bandagem na cabeça, para conferir se estava tudo bem, e então retomava a euforia. Testou a capacidade visual e auditiva, e depois foi comer, agora com voracidade. Ela continuava a mesma, perfeita. Sem nenhum vestígio sequer do ataque que havia sido vítima pouco tempo atrás. Fui a sua direção e lhe roubei um beijo ao mesmo passo que erguia sua silhueta no ar. Clove se surpreendeu de início, mas depois se deixou guiar por meus avanços e cruzou as pernas em volta da minha cintura. Eu subi a mão para tocar em seus cabelos e ela estremeceu a cabeça, ainda devia doer um pouco. Passei meus lábios por suas bochechas e sua testa, beijando-a sem parar. Ela riu, mas para minha surpresa não emitiu nenhum som. Afastei seu rosto e encarei-a com a expressão confundida. Ela apontou para a garganta e negou com a cabeça.

“Você perdeu a voz?” Perguntei inebriado. Ela levantou os ombros em resposta, mostrando que não tinha certeza se sim ou se não. Olhou para mim de lado e levantou as sobrancelhas como quem diz “você se importa?” de um jeito quase descontraído. Eu sabia que para ela estar viva já era um milagre e tanto, assim como para mim. Eu preferia tê-la muda para sempre do que não tê-la de jeito nenhum.

“Não me importo” respondi “Vai ser até melhor não precisar ouvir as suas reclamações toda hora: Cato, faça isso, Cato, faça aquilo, Cato você sempre estraga tudo, bla bla bla” Imitei sua voz tentando fazê-la sorrir. Ela colocou as mãos na cintura e olhou para mim com falsa reprovação, apertando a boca para não sorrir. Virou o rosto, e me inclinei para beijá-la na bochecha, mas ela se virou de volta rapidamente e me beijou na boca. Tínhamos quebrado o muro que antes nos separava. Nenhum de nós estava inseguro ou receoso sobre os sentimentos do outro, já nos conhecíamos bem. Clove puxou minha blusa com força e conseguiu tirá-la sem muita demora. Meu sangue parecia ter sido trocado por fogo e eu a deitei na grama, passando a mão por sua perna enquanto ela me beijava no pescoço e arranhava minhas costas. Mordi o lábio e voltei a beijá-la na boca, enquanto minha mão tentava sutilmente remover sua camiseta. Estávamos ofegantes, sedentos por uma proximidade maior. As distâncias ente nossos corpos pareciam sempre grandes demais. Suas mãos circulavam por entre meus cabelos e eu estava prestes a rasgar sua camisa quando senti o cheiro de sangue no ar. Afastei-me de imediato e observei que sua ferida tinha se rompido, agora já parecendo um leve corte. Ela passou a mão na testa e tentou me puxar de volta, sinalizando que estava tudo bem, mas me mantive firme e coloquei-a ao lado. Ela cruzou os braços e revirou os olhos, irritada.

“Você tem que melhorar cem por cento antes de tentar me atacar, Ruthless. Eu não posso me sentir confortável se você não estiver totalmente curada. Vamos ter que deixar esse tipo de coisa para outra hora” Constatei. Ela olhou para mim indignada céu como se eu tivesse acabado de dizer que ela não era desejável ou algo do gênero, e ficou fazendo caretas enquanto eu passava um pouco mais de remédio no machucado quase cicatrizado. Eu mesmo não poderia estar mais descontente com a interrupção daquele momento, mas sua melhora era prioridade agora. Teríamos tempo de sobra para mais intimidade quando saíssemos da arena.

No dia seguinte já tínhamos retomado nossa tarefa primária de caçar os demais tributos, que agora eram apenas três. Passamos a tarde procurando por eles, mas a ruiva do 5 era esperta e o casal do 12 provavelmente tinha se escondido em algum lugar. Clove ainda estava meio irritada comigo porque jurei não tocá-la enquanto ela não sarasse por completo, mas ainda não emitia som algum. Pela noite nos deitamos do lado de fora da cabana e ficamos admirando o céu estrelado. Falei com ela sobre minhas inquietações em relação à Capital de maneira discreta para não chamar a atenção dos gamemakers, e o sono veio lentamente. Bocejei e virei a cabeça de lado, para admirá-la. Ela estava de olhos fechados então voltei os olhos novamente para a cima.

“Eu amo você” disse-lhe baixinho, crente que ela já tinhacochilado..

“Talvez eu ame você também” foram as primeiras palavras que ela disse em dias, antes de se virar e dormir.


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Notas finais do capítulo

Viram? viram? eu não sou uma gracinha por não ter matado ninguém ainda? podem falar. hahahaha - N