Samantha Roberts - Guerra Fria escrita por Duda Chase


Capítulo 2
Revendo alguns conceitos




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Eu estava preparada. Eu iria conseguir fazer isso. A única coisa com que eu me preocupava era meu pai.

Assim que Queen jogou a bomba, fomos pegar nossas coisas. Eu dei uma geral no quarto de Jenny enquanto ela preparava sua mochila. Meus deuses, é muita bagunça! Com esforço, consegui juntar todos os papéis de desenho e folhas pautadas, por algumas coisas no lugar, a roupa no cesto de roupa suja, essas coisas que a Jenny pensa que não precisa fazer. Ela arrancou uma folha da última página do caverno e escreveu um bilhete para Alison, falando para que ela tomasse café da manhã conosco em minha casa.

Vesti meu casaco novamente, para me proteger do frio de lá fora. Andamos os quarteirões jogando mais conversa fora. Queen havia entrado na aula de violino, então logo achamos um bom assunto para passar o tempo. Depois Jenny ficou se gabando que sabia tocar violão, guitarra, baixo e teclado e que nós éramos principiantes ainda. Ela não compartilhava muito bem nosso gosto por instrumentos eruditos, fazer o que?

Tirei minhas chaves de meu bolso para abrir a porta de meu apartamento. Os primeiros raios do sol do dia estavam entrando na sala pela janela. Com os raios, dava para ver as partículas de pó que subiam do tapete flutuando no ar.

Joguei minhas chaves no rack da sala e convidei-as a entrarem no meu quarto. Ele era bem arrumado, com cheiro de perfume de tecido que comprei e não vivia com música ligada vinte e quatro horas por dia, ao contrario do de Jenny. Eu tenho mania de organização, sei lá, é muito mais fácil de achar tudo e o quarto fica mais bonito esteticamente. Minhas roupas no armário eram distribuídas por cor. No sapateiro, eu colocava os sapatos que eu menos usava no fundo e os que eu mais usava na frente. Os livros em minhas prateleiras estavam arrumador por ordem alfabética, e sempre tiro pó deles. Se você jogasse uma moeda em minha cama, ela com certeza quicaria. É de suma importância que minha escrivaninha esteja impecável; é lá que eu estudo, faço lição de casa, preparo estratégias de guerra, essas coisas. A única coisa desarrumada é meu mural de fotos, porque eu achei que ficava mais legal colocar as fotos uma por cima da outra e num ângulo meio torto.

Jenny pulou em minha cama, coisa que eu não aprovei muito, não. Disse a elas que ficassem em meu quarto matando o tempo, e fui para a cozinha fazer o café da manhã para nós. Fiz outra rodada de chocolate quente e preparei panquecas para comermos. Esquentei a calda de chocolate para jogar por cima das panquecas, a Jenny é muito alérgica à mapple.

Enquanto eu servia a mesa, Alison tocou a campainha, o que fez meu pai acordar. O clima durante o dejejum não era o dos melhores.

– Então, por que esse café da manhã especial? – Alison perguntou a mim.

– Queríamos ter um tempo com a família antes de ir para o acampamento. – respondi, limpando minha boca com o guardanapo.

– Acampamento? – meu pai pareceu incrédulo – Mas já?

Assenti tristemente.

– A guerra já irá começar, Sr. Roberts. – Queen explicou. – Precisamos da Sam no acampamento. Ela é a estrategista e também a derrota de Sócrates é algo que Sam mais quer agora.

Meu pai olhou para mim com aquele olhar desaprovador.

– Minha filha, quantas vezes eu tenho que te falar que esse seu sentimento de vingança só faz mal a você mesma? Pare com isso!

– Ele matou minha irmã. – eu disse friamente. – Merece a morte também.

Engoli o resto de minha panqueca e fui para meu quarto, preparar minha mochila. Troquei de roupa também. Vesti uma calça jeans, a blusa do acampamento e meu casaco. Acho que eu não precisava de roupas mais pesadas, iria estar sol no acampamento. Pus meu cinto e peguei a adaga de Briana, que estava no fundo da gaveta de criado-mudo. Embainhei a adaga e verifiquei meu colar em meu pescoço, como sempre.

Eu já estava saindo pela porta de meu quarto quando algo me segurou. Bufei de frustação por não ter conseguido vencer uma guerra contra mim mesma. Andei lentamente até minha cama e, de baixo dela, peguei uma caixa onde eu guardava algumas fotos. Procurei uma das poucas que havia restado de Nick, aquela que eu considerava a mais especial: nossa primeira foto, a que tiramos no quarto de Susana. Guardei a foto dentro da mochila e fui para a sala.

Jenny e Alison estavam abraçadas, Alison com lágrimas nos olhos. Ah, despedidas. Como eu sou péssima nisso. Olhei para todo mundo, pedindo com os olhos para que deixasse a meu pai e a mim a sós. Elas assentiram e foram descendo para o carro.

Sentei ao lado de meu pai no sofá. Ele suspirou e sorriu com o canto da boca.

– Sabe, pais costumam a manda seus filhos homens, já com mais de dezoito e formados, para a guerra – meu pai disse. -, não suas filinhas.

– Acho que já estou grandinha, papai.

– Não, você sempre será minha filinha.

Acho que nunca dei valor suficiente ao meu pai. Muitas pessoas dariam tudo para ter um pai tão bom como o meu. Ele me criou sozinho, mas nunca reclamou disso. Nunca precisei ficar de castigo, ele sabia como conversar comigo e fazer me arrepender do que fiz. É do tipo pai protetor, mas que não marcava tão em cima. Meu pai era o melhor, queria ter dito isso para ele mais vezes.

– Pai, se eu não voltar, eu queria...

– Ei, ei, ei. Como assim não voltar, Sam?

– É uma guerra, papai. Pessoas morrem em guerras, isso é normal. E você sabe disso.

– Difícil é se conformar.

– Se vou morrer, vou querer morrer como heroína, pai. Mas também vou fazer de tudo para voltar para casa, juro.

Vi que meu pai não estava mais aguentando a ideia e o dei um abraço apertado, que papai retribuiu me apertando mais.

– Eu te amo, filha.

– Também te amo, papai. – sussurrei.

Depois entramos no carro, prontos para ir para o acampamento.

Estávamos passando pelo Empire State, olhei para seu topo, desejando conversar com minha mãe. Mas ela não podia, não agora. Forcei a mim mesma a desistir dessa ideia que não iria acontecer tão cedo.

Logo chegamos ao estreito de Long Island. Papai parou o carro em frente a Colina Meio-Sangue. Todos nós subimos a colina. Era estranho. Atrás do grande pinheiro, que era o limite do território do acampamento, a neve não tocava o chão. Era, como sempre, verão no acampamento. O aroma dos morangos subia de acordo com o vento. Era possível ver alguns campistas jogando vôlei, pregando peças um nos outros. Ei, aquela é a Alex! Mais abaixo, era possível ver uma partida de pinochle, a pessoa de costas devia ser o Sr. D. e, pelo jeito que gesticulava, Quíron devia ter ganhado dele de novo.

Começamos a descer a colina, mas demos uma última olhada para trás para dar tchau para papai e Alison, que estavam abraçados e acenando para a gente, com um sorriso no rosto. Demos tchau e continuamos a descer. E eu me forçava a colocar no pensamento que eu tinha que voltar para casa. Voltar pelo meu pai.

Fomos bem recebidas no acampamento. Alguns campistas, que eu não conhecia, apontavam para mim e cochichavam algo como: Ah, deve ser ela! Ela voltou! Isso me deixava meio desconfortável, mas, só com um olhar de morte, Queen conseguia expulsar qualquer indivíduo de que ela não gostasse de sua presença.

Queen foi a primeira a entrar em seu chalé, o de número treze. Eu tive que ajuda-la a passar removedor no mármore negro das paredes de seu chalé o último verão inteiro, depois de ter confessado que eu fui a mandante dessa peça com ela. Uma pena, o chalé dela nunca ficou tão fofinho.

Jenny praticamente pulou em cima de seus irmãos, que a receberam com quentes abraços. Vi que Ned estava me encarando com um sorriso aberto no rosto. Quando ele percebeu que eu também estava o olhando, acenou, meio sem graça. Retribui o gesto com outro aceno e fui para meu chalé.

Quando eu entrei, tudo estava na mais perfeita ordem. Respirei fundo ao sentir o cheiro de biblioteca que meu chalé tinha. Oh, aquilo era bom demais. Joguei minha mochila em meu beliche de sempre.

– Ei, pessoas. – chamei. – Alguém em casa?

Foi então que percebi uma presença no beliche de Briana. Primeiramente, não a consegui ver muito bem. Ela estava com a cara enfiada em um livro, pelo jeito, Pequeno Príncipe. Ela abaixou ao ver que eu estava no chalé. A garotinha era novíssima para estar no acampamento. Seus cabelos castanhos eram longos e ondulados, com um brilho natural. O nariz dela era meio empinado, os traços de seu rosto bem delicados. Eu só a reconheci como minha irmã por causa de seus olhos, tão cinzas quanto nuvens de tempestade, como os meus.

Quando eu ia abrir a boca para falar algo, a porta do covil de abriu. Mary subiu as escadas, abriu um sorriso na cara e me deu um abraço muito gostoso. Ela tinha crescido muito nesses meses. Mary sempre era a menos do chalé, agora estava quase do meu tamanho.

– Quem é ela ali? – cochichei.

Ela olhou para mim, pedindo que eu esperasse. Mary deu a mão para a garotinha e se abaixou, para ficar na mesma altura que ela.

– Por que não vai desenhar lá embaixo? – Mary sugeriu. – Peguei mais umas folhas sulfite para você na Casa Grande.

A garotinha gostou na ideia e desceu as escadas, a porta do covil se fechou logo depois. Mary e eu nos sentamos na parte de baixo do beliche que dividíamos.

– Essa é a Amélia. – Mary me respondeu. – Foi reclamada como filha de Atena há quase um mês, duas semanas depois de ela ter chegado ao acampamento.

– Nossa, mas quantos anos ela tem?

– Fez sete semana retrasada. Ela perdeu o pai, a madrasta, e seu irmão postiço num ataque de Lestrigões a casa dela. A casa inteira foi incendiada, ela perdeu tudo o que tinha. Quíron pediu para que cuidássemos e a educássemos já que ela não tem mais mãe. Ela é bem legal. É super inteligente para a idade dela, diria até que uma superdotada. Não apresenta nenhum sinal de dislexia, mas evidentemente tem TDAH. É bem determinada. Um dia desses, inclusive, eu a vi tentando levantar uma espada para poder treinar conosco. Ela disse que lutar tão bem quando você. Mia está mega ansiosa para te conhecer.

– Bom – me levantei e amarrei meu casaco na cintura -, então vamos dar essa chance para ela. Assim que eu trocar de roupa, eu quero uma aula de combate direto. Vou ver se a arena está em uso.

Troquei a calça pelos shorts jeans, assim estava bem melhor. Falei com Quíron, eu poderia usar a arena à vontade. Dei um oi para o Sr. D., que fingiu que não sabia meu nome e me chamou de Samara, de novo.

Todos meus irmãos foram para a arena. Vestimos nossas armaduras completas e pegamos escudos. Empurrei todos os bonecos-alvos paro o canto da arena, para aumentar o espaço para a gente. Andei até Mia e sorri para ela.

– Oi, eu sou a Sam. – me apresentei.

– Eu sei! – Mia respondeu, agitada. – Me contaram tudo sobre você. Sobre Sócrates, a guerra, você lutando. Uau. Ah, eu sou a Mia.

– Eu sei. Também me contaram tudo sobre você. – ela sorriu ao ouvir isso. Hesitei um pouco e desembainhei a adaga que estava em meu cinto. – Olhe, pegue isto aqui. É uma adaga especial para mim, então tome cuidado. Depois eu vou até o arsenal e pego uma só sua, ok? Essa adaga tem o peso do cabo e da lâmina bem equilibrado, é perfeita para ser atirada e para se lutar com ela. Se treinar muito e souber a manusear do jeito certo, pode parar uma espada com ela. Também pode acertar alvos a grandes distancias. É uma ótima arma, boa para se esconder e tem várias utilidades. Está vendo aqueles bonecos ali? – apontei para os bonecos no canto. – Quero você treine com eles hoje. Segure firme no cabo da adaga e mande ver. Quero golpes rápidos e precisos, mais ou menos nos pontos onde estariam as brechas das armaduras. Entendeu?

– Claro que sim! E vou treinar agora mesmo!

E ela correu saltitante em direção aos bonecos-alvos. A observei um pouco, a garota era um prodígio. Ela se movimentava tão rápido, inventando cada vez alguns golpes novos, girava o corpo e cravava a adaga no boneco. Não sou o Oráculo, nem a Jenny, nem o Zack e nem o Apolo, mas eu previ que uma grande guerreira vendo aquela garotinha.

– Sofía! – Gritei e chamei a atenção de todos.

Meu colar se iluminou e se desintegrou. Essa mesma luz rodou pelo meu braço até se materializar em espada em minhas mãos.

– Prestem atenção. – pedi. – Vamos treinar simulação de combate em guerra agora. Hoje eu quero focar nossa defesa. Precisamos de mais vivos do nosso lado do que mais mortos do lado deles. Vamos nos separar em duplas. Um terá que aplicar sequências de golpes: Golpe frontal; jogo de pés; golpe ligeiro na diagonal no ombro, para fazer seu oponente levantar o escudo e abrir uma brecha na costela, onde a armadura não cobre bem; golpe final lateral. O que esta defendendo tem que ser mais rápido ainda, mesmo com a dificuldade do peso do escudo. O golpe frontal vocês devem desviar da espada, acompanhem o jogo de pés do adversário concentrados, e no golpe no ombro tentem defender com a espada ou colocar o escudo em um grau que cubra ombro e as costelas ao mesmo tempo. Não se esqueçam de sempre mantar a guarda alta, mas não tanto e, se o instinto mandar, façam. Podem escolher suas duplas.

Eu acabei ficando com o Clarck, que era um dos melhores espadachins que eu já vi e também meu companheiro de treinos.

Acabei começando com o ataque. Após de um tempo, eu me desligava do mundo enquanto lutava, só ouvia a batida de meu coração e da minha lâmina na dele. Às vezes ele até ria da minha cara de brava enquanto lutávamos, mas pagou por isso sendo imobilizado rapidamente.

Após a morte de Briana, Clarck acabou se tornando meu meio-irmão mais achegado. Nós carregamos o mesmo fardo juntos e, antes que eu percebesse, já estávamos inseparáveis. Ele era o típico irmão mais velho que eu esperei a vida inteira para ter. Mas, amor fraternal a parte, eu queria mesmo acabar com aquele sorrisinho vitorioso na cara dele.

Desci minha espada rapidamente em direção ao ombro de Clarck, que levantou o escudo um pouco demais, mais por reflexo para proteger a cabeça. Tive que praticamente jogar minha espada no chão para não o acertar de verdade, já que minha mão agia sem eu mandar enquanto lutava. Mas eu fiquei toda atrapalhada e acabei perdendo o equilíbrio com o peso da armadura, caindo e fazendo um grande barulho. Hora totalmente apropriada para meu lado desastrado vir à tona.

Clarck pôs o pé em cima de mim, rindo de minha cara.

– Numa guerra isso iria custar sua vida, avoadinha.

– Não enche. – mandei. – Eu teria te matado antes.

– Isso para mim é desculpa de perdedor. – Clarck disse enquanto estendia sua mão para me ajudar a levantar.

Agarrei seu antebraço e ele me puxou.

– Vamos ver quem é perdedor na próxima rodada. Vou te deixar no chão. – declarei.

– Agora é horário do chalé treze. Tente deixar a sua amiguinha no chão, quem sabe. Temos que ir para o chuveiro.

Não percebi mesmo o tempo passar. Finquei minha espada no chão e me apoiei nela, ofegante. Eu estava muito cansada e suada, mas quando que eu perco alguma luta com aquela emo, tumblr girl? Dispensei meus irmãos e pedi para que eles fossem para a aula de estratégia de guerra, eles iriam precisar prestar muita atenção nessa aula agora.

Arranquei toda aquela armadura de mim. Gostava de lutar sem nada. No máximo, com meu casaco para me proteger. Lutar é como dançar: você precisa estar solto, leve. Uma de minhas características de batalha é analisar rápido, pensar rápido, agir rápido. Na força, eu jamais ganharia uma luta. Se não fosse por essa habilidade que minha mãe deu, eu seria exterminada pelo filho de Ares, por exemplo.

– Ei, nerd. Você não cansa, não?

Queen foi andando em minha direção, com aquele sorriso malicioso no rosto. Ela usava a parte de cima de sua armadura, um peitoral de material tão negro que eu podia me ver refletida.

– Está afim de engolir meu ferro estígio hoje? – Queen perguntou rodando sua espada na mão.

– Se achando demais, hell girl. Que tal deixarmos mais interessante isso hoje?

Ela riu.

– Quer apostar quantos dracmas, Srta. Wikipédia?

Ficou evidente que Queen imediatamente se arrependeu de suas palavras. Talvez tenha sido minha reação a elas. Não pude evitar. Só ele me chamava assim. Tive que afastar a angústia que queria voltar para meu peito, não queria tudo aquilo de novo.

– Ah, Sam.... Me desculpa, eu não...

– Não, tudo bem. Eu estava pensando... Você é muito poderosa, vou encontrar adversários como você na guerra. Quero um vale tudo. Um jogo de poderes agora, ok?

Ela pensou um pouco no assunto.

– Certo, mas sem telefragorium. – Queen pediu.

– Certo. E vê se não tenta me mandar direto para o Tártaro de novo.

Começamos a rir ao lembrarmos daquele dia.

– Fala sério. Você ainda se lembra daquela Caça a Bandeira?

– Se lembro? Eu fiquei pendurada pela mão em um buraco direto para o submundo!

– E nunca ninguém me arrancou tanto cabelo!

– Acho que você está tentando me distrair para não lutar. – eu disse. – Com medo?

– Eu sou o medo.

Ela se pôs em posição de luta, com aqueles olhos tão escuros quanto as próprias trevas. Se prepare, Queen pensou alto, para que eu pudesse ouvir. Estou pronta, respondi em sua mente.

Nesse momento, a terra da arena começou a tremer. Rachaduras profundas nasceram no solo, pensei por um milésimo de segundo que ela tinha desfeito o trato. Mas fiquei olhando para atentamente para elas e, para meu susto, um esqueleto subiu com a espada erguida em minha direção. Dei um paço para trás, para que ele não me atravessasse e desviei o golpe com a espada. Dei um chute preciso no esqueleto, que se quebrou.

– Fraco. – desdenhei. – Minha vez.

Entrei em suas funções motoras, eu tinha total controle sobre suas ações. Fiz com que ela jogasse sua espada bem a minha frente. Agora ela estava sem arma, hora de brincar. Fiz com que ela se dessa um tapa na cara e puxasse seu próprio cabelo, o que foi meio engraçado. Fiz com que ela se desse um soco de leve, não queria machuca-la.

Vacilei quando comecei a ver mortes, o Mundo Inferior, até mesmo Jenny, Queen e eu conversando. Ela tinha tanta força física quanto intelectual. Só uma pessoa sem ser ela havia conseguido retomar o controle sobre seu próprio cérebro: Sócrates.

De repente, vi Queen dando um grito de guerra e correndo em minha direção, tentando pegar sua espada diante de mim. Antes que eu tentasse chuta-la para longe, Queen havia se jogado no chão e agarrado sua espada. Ela puxou meu pé, na esperança que eu caísse, mas pulei com um pé só por cima de seu corpo.

Ela se levantou e se pôs em posição defensiva. Em um piscar de olhos, ela literalmente sumiu. Olhei para o lado, em sua procura, mas não vi nada. Então senti uma respiração por trás de minha nuca e só aí lembrei que ela podia viajar pelas sombras. Mas ela estaria cansada, eu podia usar isso contra Queen.

Me virei rapidamente e tentei lhe dar um golpe na diagonal com a espada, que ela desviou. Apliquei uma sequência muito rápida de golpes, um atrás do outro, ela andando para trás desviando e eu a empurrando para frente manuseando a espada. Por fim, consegui aplicar uma estocada nela. Girei minha lâmina na sua e a espada pulou da mão dela de novo. Ela pensou em um palavrão nada educado e cambaleou para trás, tentando avaliar sua situação nada favorável. Eu havia vencido de Queen.

Era o que eu pensava.

Decidi dar uma pequena trégua para ela não cair de exaustão. Queen respirou fundo algumas vezes, para conseguir forças. Ela limpou o rosto do suor e ergueu a mão esquerda. Parecia que não havia mais sol lá fora. Uma massa negra começou a circular pelas laterais da arena. Eu nunca tinha visto algo parecido em toda minha vida, não sabia qual era o efeito que ela poderia causar. Essa massa veio até mim com tudo e começou a girar ao meu redor, como se fosse um tornado, arrancando todo o oxigênio que eu tinha.

A força centrifuga dela me puxou para baixo, fiquei apoiada por um joelho. Tentei levantar a cabeça, para ver o que era aquilo de fato. Só que não vi uma massa a minha frente, vi cenas, cenas horríveis. Vi uma tempestade de neve horrível e, depois, essa neve ficando vermelha. Parecia um Domingo Sangrento. Vi espadas contra espadas, amigos meus caindo em guerra. Também vi Jenny, liderando os arqueiros na guerra, depois ela caiu de joelhos, com uma espada atravessando seu peito. Por trás dela, Sócrates apareceu gargalhando. Vi a todos que eu amava morrer, um por um. Mas o que me doeu mais é que eles morriam pelas mãos de Nick, que tinha um olhar tão insano quanto o próprio Sócrates. Ele não era mais o meu Nick.

– Para! Para com isso, pelo amor dos deuses! – gritei desesperada. – Para!

A massa se dissipou e eu caí deitada no chão.

– O que foi isso? – sussurrei.

– Seus medos. – Queen respondeu. – Tudo aquilo que você morreria em troca para não acontecer.

– Nunca mais faça isso comigo, por favor. – pedi, com o coração a mil e a respiração acelerada.

– Claro.

Queen me ajudou a levantar. Fomos nos sentar no banco para repousarmos um pouco.

– Me diga que essas coisas que vi nunca vão se tornar verdade.

Queen balançou sua cabeça.

– São seus medos, não vão irão se tornar verdade, necessariamente. Mas podem, Sam. – Queen respirou fundo. – Você que irá decidir se eles são reais ou não. Está em suas mãos. É por isso que você está aqui.

– Não entendi. – confessei.

– Você sabe por que meu nome não é Q-u-i-n-n? Ficaria bem mais bonitinho se escrevesse assim, não é? Meu nascimento era proibido, mas não foi um total acidente. Meu pai não queria afrontar Zeus, ele queria mostrar que Zeus estava errado ao seu respeito. Hades não é todo mau, ele é...

– Incompreendido?

– É, pode se dizer isso. Ele foi traído e mandado para dominar num local horrível. Meu pai queria tirar essa sua imagem de mau, assim como a de seus filhos. Por isso eu nasci, por isso eu estou aqui. Meu nome é Queen porque meu pai queria que eu reinasse sobre os semideuses, fosse uma heroína. Uma filha de Hades que as pessoas gostassem, um legado seu que podia ser alguém mais. As Parcas nos mandam no tempo certo, no lugar certo, para fazermos nosso destino. E você, Sam, sabe por que está aqui?

– Eu estou aqui... Eu... Eu não sei.

– Então eu te digo, Sam. Você está aqui para parar o que está de errado. Está aqui para mostrar a aqueles que se sentem ninguém que são heróis, que nos importamos com ele e os amamos. Está aqui para unir uma família que estava à beira do fiasco, pois só unidos iremos conseguir vencer o que nos afligi. Nenhum ser pode retornar no Mundo Inferior, Sam. Você está aqui para mandar Sócrates para as profundezas do Tártaro, por que ele nunca mereceu pisar nos Campos dos Elíseos. Você está aqui para servir de inspiração para muitas gerações de meios-sangues que estão por vir. Olhe só a Mia, ela quer ser você. Para muitos, os filhos de Atena apenas eram os CDFs do acampamento, só serviam na hora da batalha. Você calou a boca deles. – Queen sorriu. – Qualquer um pode ser um herói do seu jeito, você nos mostrou isso. Está aqui para ser minha melhor amiga de um jeito meio bizarro, quando eu ainda sofria pela morte de minha última. Obrigada. Agora você sabe por que você veio, seu motivo por estar aqui. O que pode fazer com isso?

Engoli seco e escolhi as palavras.

– Vou matar Sócrates.









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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora. Criatividade zero, e ainda to escrevendo outra fic simultaneamente. Espero que tenham gostado desse capítulo



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