Pensando bem, foi bom. Lembro-me de nós, você me puxando para entrar no mar, e eu gritando dizendo que não entrava de jeito nenhum. Você que mudava a minha opinião com um beijo. Você que fazia o que queria de mim e depois dizia que sabia que eu também queria. E era verdade, sempre foi verdade. Você que tanto dizia que me amava. Você... Só você.

Porque isso só acontece comigo? Eu era uma garota, atrapalhada, deprimida, angustiada. Então eu vi você, que sempre me olhou diferente, com outros olhos. Olhos pretos e profundos que analisavam até o fundo da minha alma e que me procuravam em meio à multidão. Olhos que eu olhava bem de perto, antes de fechar os meus.

Você me mudou, me deu uma razão pra não pensar e me deu lembranças para recordar. Deu-me a chance de sentir novamente, sentimentos de verdade, com uma pessoa de verdade. Você que sempre foi tão especial, que me levava a conhecer novos mundo e novas sensações, agora me deixou na escuridão, sozinha. De novo.

E o que fazer? Esperar? Só esperar? Esperar que você não me esqueça, que se lembre de alguém que talvez te amou um dia? Sim porque eu te amei um dia... Eu ainda amo, e pelo que sinto... Sempre vou amar. Você sempre brigava comigo, eu não acreditava no que você acreditava, e você falando, que Deus iria mudar nossas vidas, porque foi ele que nos deu as nossas vidas. Mas agora, cadê o seu Deus? Cadê, todas aquelas promessas, que um dia eu ouvi, que você me prometeu e falou bem baixinho no meu ouvido só pra eu ouvir?

Você prometeu. E eu acreditei. Como uma criança ingênua, que aceita qualquer doce de um estranho, eu aceitei você.

Queria que você visse o meu estado nesse momento, sim é deplorável. Deitada no chão do meu quarto, esperando alguém entrar pela porta, mais precisa que você entre por aquela porta, e diga que foi um engano, e que nunca vai acontecer novamente. Que você me ama, como sempre falou, e que agora ficaremos juntos. Mas não isso não vai acontecer, porque era tudo mentira.

Não entendo porque, mas... Você vem, muda toda a minha vida, muda meu eu, e se marca na minha alma, para depois fingir que nada aconteceu? Não entendo, e não vou entender. Só sei que preciso de você na minha vida, agora.

Posso te mostrar que não sou mais a garota que você conheceu, porque não sou mais realmente. Mas não sei como chegar em você, como falar com você, era tão simples, era meu "oi" que te fazia sorrir, mas agora nem eu sei mais.

Me levanto com a minha garrafa de vodka na mão, estou tonta, com a minha maquiagem totalmente borrada. Vou ao banheiro e olho minha imagem no espelho. Aquela não sou eu. E o que me vem na cabeça? Você, somente você. Tudo se trata de você. Quebro meu espelho com a mão, sinto o sangue saindo de mim, e vejo agora minha imagem distorcida no que sobrou do espelho.

De repente vejo, por um pedacinho que sobrou do espelho, aqueles olhos. Viro-me, lá está você, me olhando me encarando, com olheiras profundas. Olhava-me de um jeito que nunca tinha me olhado. Eu sentia meu coração pulsar mais forte, meus pensamentos se esvaziarem, e nós só nos encaramos, como se simplesmente olhar fosse falar tudo aquilo que estava guardado em nossas mentes, e em nossas almas. Apaguei.

Acordei com você estava tirando minha roupa, eu ainda meio tonta não estava entendo nada. Olhei minha mão, enfaixada. Você me pegou no colo e me levou pro box. Estava só com a roupa íntima, a cueca box preta que eu havia te dado de aniversário. Ligou o chuveiro e eu senti a água gelada como um choque, agora eu realmente tinha acordado. Via você tentar me deixar de pé, enquanto eu só prestava atenção em seu rosto. Como você era perfeito. Como você era perfeito pra mim. Sempre foi.

Me vejo naquela situação, eu ali tão vulnerável a você. Estava sem roupa nenhuma, e você não conseguia me olhar, tinha a impressão que se me olhasse, alguma coisa dentro de você iria explodir. Sentia alguma coisa, ele estava me dando banho, por quê?

Lembrei-me da garrafa de Vodka e comecei a procurá-la queria mais, muito mais. Ele não me olhava, não me encarava, tentava me evitar, mas estava ali comigo, não estava? Então porque eu me sentia tão distante dele ainda? Comecei a chorar novamente, eu estava de frente pra ele eu o olhei uma última vez antes de me jogar no chão e começar a chorar desesperadamente. Ele me segurou, ele era meu ponto em comum com a realidade, meu porto seguro.

- Porque tudo isso? Não venha se não quiser me ver, não faça se não quiser fazer, mas também não mexa comigo se não for pra ficar.

Olhei para ele mais uma vez, agora ele que chorava. Me agarrei ao seu pescoço, nós estávamos chorando. Cometemos erros. Nós dois cometemos. Mas aquilo não era pra ser assim.

- Eu vim, porque eu queria te ver. Eu fiz, porque eu queria fazer. E eu mexi com você, porque eu pretendia ficar. E ainda quero.

Ele estava me convencendo de novo. A água ainda caia sobre meus ombros. Senti ele chegar mais perto. Senti os seus lábios nos meus. Seus lábios tão esperados que eu conhecia tão bem. Ficamos ali mais algum tempo só nos beijando. Eu ainda tonta, ele desligou a água. Me enxugou enquanto eu via as paredes rodar, e me focava novamente em seus olhos.

Ele me colocou de lado na cama. Deitou-se do meu lado. Mexia no meu cabelo. Eu não me mexia, era melhor nas minhas condições. Como terminar isso agora? Não era pra terminar, mas tinha.

- Porque você voltou?

- Porque você, é a dona dos meus pensamentos, enquanto caminhava para longe só me aparecia você, e você, e você. Tudo só se tratava de você.

- Não posso viver sem você.

- Não consigo viver sem você, eu te amo.

- Eu te amo.